sábado, 22 de julho de 2017

RESENHA: O casal que mora ao lado

“Sua cabeça continua a mil e seus pensamentos se tornam menos racionais; sua mente vai longe. Não é que as coisas não façam sentido quando ela está assim: às vezes, fazem mais sentido. Fazem sentido da mesma maneira que os sonhos. Só quando o sonho termina é que percebemos como tudo era estranho e que, na verdade, ele não fazia sentido algum.” (LAPENA, 2017, p.156)

Sempre gostei muito de thrillers, mas de uns anos para cá desenvolvi um filtro para diferenciar livros que são “mais do mesmo” e livros que realmente vão me deixar vidrada. Classifiquei “O casal que mora ao lado” na primeira categoria, mas, por ser uma aposta forte da editora Record, decidi que valia uma chance. O que eu encontrei foi uma boa opção para curar a ressaca literária na qual eu me encontrava.

Anne e Marco foram convidados para um jantar na casa de seus vizinhos - Cynthia e Graham – mas, poucas horas antes, a babá que deveria ficar com Cora, sua filha de seis meses, cancela o compromisso. Cynthia faz questão de uma noite só para adultos, então levar a bebê está fora de cogitação e ficar em casa não parece ser uma opção já que se trata do jantar de aniversário de Graham e Anne e Marco são os únicos convidados. Então o casal organiza um esquema: a cada meia hora, um deles passará em casa para ver a bebê e, no restante do tempo, ficarão de ouvidos atentos à babá eletrônica. Não há perigo, afinal, eles estão na casa ao lado. Mas quando eles chegam em casa, se deparam com o tamanho do seu erro: Cora desapareceu.

O que me fisgou em “O casal que mora ao lado” foi a narrativa. Ao escolher conjugar os verbos no presente, Lapena conferiu urgência à trama, deixando o leitor ávido para ler mais e mais, afinal, tudo está acontecendo naquele exato momento. O resultado: quando você vê, páginas e páginas se passaram.

Algo que sempre me agrada são livros em que ninguém é vilão e ninguém é mocinho, o que é justamente o que encontramos aqui, em especial no casal protagonista. Tanto Anne quanto Marco comentem erros, mas ambos o fazem querendo acertar. Nenhum dos dois é especialmente carismático, mas o desespero de ambos em relação ao que possa ter acontecido com Cora soa verdadeiro para o leitor, mesmo que ambos estejam sob uma nuvem de suspeita. Teria a depressão pós-parto de Anne a levado a fazer algo tão terrível que ela nem mesmo se lembre? Estaria Marco protegendo a esposa? Teria ele feito alguma coisa com a filha? Seriam os dois cúmplices de um crime hediondo? Essas são algumas das suspeitas com as quais Lapena brinca, criando uma atmosfera de muita coisa mal explicada. Por isso, mesmo quando a autora esclarece alguns acontecimentos, ainda consegue deixar espaço para dúvidas. Os pais de Anne, que nunca aprovaram Marco como genro, e os vizinhos anfitriões da festa também têm comportamentos suspeitos.

Conforme a trama avança, o leitor se vê em posição favorável diante de alguns personagens, sabendo mais do que eles. Mas em outros aspectos está no escuro tanto quanto eles, o que mantém o interesse tanto em descobrir o que realmente aconteceu, quanto em saber o que os personagens irão fazer assim que descobrirem aquilo que o leitor já sabe.

Embora o ritmo tenha me envolvido (acabei lendo o livro em menos de 24 horas), a minha primeira impressão sobre “O casal que mora ao lado” não estava de todo errada. Mesmo que existam conflitos, não há aprofundamento psicológico em nenhum dos personagens (nem mesmo em Anne que seria tão promissora devido a sua depressão pós-parto e, principalmente, seus episódios de branco de memória). Como eu disse no início dessa resenha, encarei a leitura como um entretenimento rápido, por isso esse detalhe não chegou a me incomodar. Mas caso eu esperasse um thriller complexo, certamente teria saído decepcionada.

Algo que não gostei foi ver que a autora escondeu parcialmente o jogo a fim de surpreender no desfecho. Em uma trama em que todas as cartas estarem sobre a mesa era justamente o que a tornava interessante (afinal, o leitor nunca conseguia apostar todas as fichas em uma teoria já que todas pareciam plausíveis naquelas circunstâncias), revelar informações novas apenas nas últimas páginas para que elas viessem a responder todas as perguntas me pareceu jogo sujo, embora seja uma escorregada perdoável para um livro de estreia. A cena final, embora um tanto sensacionalista, caiu como uma luva na trama.

“O casal que mora ao lado” está longe de ser imperdível, mas cumpre o propósito de entreter o leitor.

Título: O casal que mora ao lado
Autora: Shari Lapena
N° de páginas: 294
Editora: Record
Exemplar cedido pela editora

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13 comentários:

Nessa disse...

Oi Mari
Logo que o livro foi lançado eu estava bem curiosa para ler, mas aí eu li uma resenha bem negativa que fez eu perder o interesse. Ainda sim o enredo me chama atenção, quem sabe um dia eu leia.

Beijinhos
https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Mari!
Pena que a autora perdeu a oportunidade de aprofundar mais sobre a depressão pós-parto, que é algo que acontece muito com as mulheres.
Beijos
Balaio de Babados
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Gabriela CZ disse...

A capa e o título me soam familiar mas não sabia do que se tratava. Todavia, fiquei impressionada com seus comentários, Mari. Pois mesmo com os pequenos deslizes da autora parece um bom livro pra se passar o tempo. Ótima resenha.

Beijos!

Márcia Saltão disse...

Oi.
Sempre que leio resenhas e comentários desse livro, geralmente não são totalmente positivos. A premissa me deixa curiosa, pois gosto muito desse gênero. Uma pena saber que o enredo e personagens não tem um aprofundamento maior, mas de qualquer forma, gostaria de ler!
Perfeita resenha.
Beijos.

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!!
Gostei muito do livro e adoro livros de suspense e mistério e fiquei bem interessada em saber quem sequestrou o bebê e por que?!!
Beijoss

Lana Silva disse...

Como não tenho costume de ler nada do gênero, acredito eu que se fosse bastante complexo talvez seria uma leitura que não iria me agradar, mas apenas como uma estória que entreter o leitor já e algo favorável a mim, principalmente porque a premissa deste suspense me cativou, e me deixou bastante curiosa ao ponto de querer desvenda-lo, e pelo jeito só saberei no final do livro quando o autor da todas as cartas a mesa. Enfim, acho que irei gosta e muito desta leitura.

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http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/

Casos Acasos e Livros disse...

Oi, Mari!
Faz tempo que eu quero ler esse livro porque só tenho ouvido elogios, como o seu.
Assim como você, eu também amo thrillers, mas às vezes me decepciono ao encontrar mais do mesmo ou um desfecho fraco numa história que tinha tudo para ser incrível.
Fiquei bem curiosa com a trama e o final e sinto que eu também não iria conseguir parar de ler, hehe.

Beijoooos

www.casosacasoselivros.com
www.livrosdateca.com

Felipe disse...

Oi Mari,
Há tempos que quero ler esse livro e ainda nao consegui... em breve vou ler!!
Blog Entrelinhas

Carolina Garcia disse...

Oi, Mari!

Fiquei curiosa sobre esse livro porque já havia visto muitos comentários positivos sobre a trama. Agora, com sua resenha, pude entender melhor a história e compreender porque é tão viciante! Hahahahaha

Vou ficar de olho nesse título! ;)

Bjs

http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

Unknown disse...

Oi Mari! Tudo bem?

Vi seu comentário no meu site e não resisti e dei um passadinha por aqui, nossa que blog maravilhoso, amei. Vou acompanhar sempre que puder.

Li muitas resenhas positivas sobre o livro e tenho sempre gostado do que vejo. Sinto muita vontade de ler o livro, mas ainda não tive a oportunidade de compra-lo. Parabéns pela resenha, adorei!

Grande abraço,
www.cafeidilico.com

Unknown disse...

Apesar de ter prós e contras eu fiquei curiosa para ler, pois a premissa me chamou a atenção e fiquei ansiosa para saber o desenrolar da história.

Gosto de livros neste estilo, e o título me lembrou de um filme que assisti recentemente.

RUDYNALVA disse...

Mari!
Que drama, hein?
Imagina ver seu bebê 'sequestrado' e a partir daí, vários segredos serem revelados e poder acompanhar todo trabalho policial para que seja encontrado. Nem imagino a angústia que essa mãe passou...
Deve ser um tremendo thriller psicológico, mesmo que autora tenha usado um artifício de 'esconder o jogo' para dar ápice ao final.
Bom final de semana!
“Ciência é conhecimento organizado. Sabedoria é vida organizada.” (Immanuel Kant)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE JULHO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

Ana I. J. Mercury disse...

Oi Mari,
não é muito o meu estilo, mas com tantooooos suspeitos. Tantas reviravoltas e dúvidas, fiquei com muita vontade de ler!
Gosto de livros com muitas segredos; por mais tristes que eles sejam.
Anotado aqui!
bjss

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