“Há duas coisas que ele odeia, pensa, olhando para a pasta.
Uma é desistir de um caso, se afastar de corpos não identificados, estupros e
roubos não solucionados, casos de agressão e assassinato. A outra coisa que ele
odeia, embora de uma forma inteiramente diferente, é quando esses casos são
resolvidos, porque quando velhas perguntas são respondidas, raramente é da
forma que se desejaria.” (KEPLER, 2011, p. 417).
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Sabe quando você encontra um livro que tem tudo para lhe
agradar? É do seu gênero favorito, tem uma sinopse intrigante, uma capa
atraente, e foi recebido pela crítica com entusiasmo? Foi com esse espírito que
adquiri o livro e quando dei início à leitura tinha certeza de que não iria me
decepcionar com a obra. Doce ilusão.
Diz a sinopse que após o massacre de uma família, o detetive
encarregado do caso, Joona Linna, contata o médico Erik Bark, para que este
hipnotize o único sobrevivente do crime, um garoto de quinze anos, e assim descubra a
identidade do assassino.
Interessante, não? Se você, assim como eu, esperaria por uma
caçada eletrizante a um serial killer sanguinário e cruel, sinto em lhe dizer
que você está redondamente enganado. Evidentemente, não vou falar qual é a
verdadeira trama do livro, limitando-me a informar que esta não é tão atraente
quanto a “premissa falsa” descrita na sinopse.
Ainda assim, mesmo estando com a sensação de ter sido
enganado, eu queria gostar do livro. Os personagens eram interessantes e a “premissa
verdadeira” até que tinha potencial para uma boa estória. E qual foi o
problema? Acho que a melhor resposta é que não houve química. Entre vários
motivos, destaco apenas dois:
Primeiramente, devo reconhecer que os autores escrevem bem,
mas a narrativa deles não serve para livros policias. Uma das regras básicas
deste gênero é o uso moderado de descrições. Não que elas não possam ser
utilizadas, mas seu uso excessivo obstrui o ritmo inerente a tais livros. Alexander
e Alexandra descreviam absolutamente tudo. Para se ter uma idéia, até mesmo a
pétala da flor que cai na janela é descrita. Além disso, as sessões de hipnose
foram descritas com minúcias de detalhes irrelevantes. Confesso que, em alguns
momentos, eu pulava parágrafos inteiros por não agüentar tantas descrições.
Por outro lado, os autores se mostraram incapazes de fazer
um bom suspense. Quando o leitor entende o que está acontecendo, e são
apresentados os possíveis responsáveis pelo “caso paralelo-principal”, a
resposta é evidente. Sem surpresas, sem reviravoltas, tudo é completamente
previsível.
No fim da leitura, a impressão que tive era de que os
autores foram escrevendo o livro sem ter uma ideia clara do que iria acontecer e de
onde queriam chegar. A sensação era de em alguns momentos eles estavam tão perdidos
quanto os leitores, e não tinham domínio sobre os fatos. Acrescente-se que algumas
tramas paralelas serviram apenas para confundir o leitor, sendo que ao final
sequer tiveram uma resposta adequada.
Assim, resta-me dizer que nem mesmo uma premissa com
potencial ou personagens interessantes são suficientes para fazer um livro. As
descrições exageradas somadas a diálogos artificiais criaram uma narrativa
lenta, entediante e enrolada. Por isso, creio que se o livro tivesse sido revisado
e reduzido para, no máximo, trezentas páginas, a estória principal teria sido
melhor contada. E seria mais do que suficiente para criar um bom livro. Sim, às vezes, menos é mais. Acredite.
Título: O Hipnotista
Autor: Lars Kepler (pseudônimo de Alexander Ahndoril e
Alexandra Coelho Ahndoril)
N.º de páginas: 477
Editora: Intrinseca