“ - Que estejamos há muito tempo no céu antes que o diabo perceba que a gente já foi embora.” (McDERMID, 2017, p.140)
Há anos, em uma época em que eu devorava quase todas as tramas policiais que surgiam na minha frente, li um livro de Val McDermid e gostei, embora não tenha sido marcante a ponto de eu me tornar fã. Tanto que apenas agora tive minha segunda aventura com a autora.
O psicólogo forense Tony Hill está criando uma nova força tarefa especializada em traçar perfis psicológicos dos criminosos, mas terá um grande desafio pela frente já que muitos policiais não levam a sério o seu trabalho. Em meio aos exercícios de treinamento, uma jovem policial encontra um elemento comum entre desaparecimentos de adolescentes nunca relacionados antes: todas as meninas estiveram próximas a Jacko Vance, um famoso apresentador de televisão, dedicado a causas sociais. Quando essa policial aparece morta, a equipe percebe que a teoria absurda que ela havia elaborado talvez não fosse tão absurda assim. Para resolver o caso, Tony irá contar com a ajuda de Carol, a detetive com quem trabalhou em um caso anterior e de quem tem tentado se manter afastado.
“Rastros de Sangue” é o segundo livro da série protagonizada pelo psicólogo forense Tony Hill e a detetive Carol Jordan. Há algumas menções ao caso anterior, em especial ao trauma sofrido por Tony, mas nada que interfira nesta trama ou mesmo dê spoilers da que a antecede. Outra coisa que podemos perceber é que paira um romance entre os dois protagonistas.
A trama se constrói em duas linhas de investigação, a principal sendo a formação da equipe especializada em perfis psicológicos, que levará à descoberta do caso das meninas desaparecidas que, por sua vez, levará à caçada de Jacko Vance. A secundária, encabeçada por Carol, é a investigação de uma série de incêndios criminosos. Devo dizer que essa segunda trama me pareceu desnecessária, apenas para justificar que Carol e Tony não estivessem trabalhando juntos no começo.
McDermid adota uma opção arriscada: sabemos desde o primeiro capítulo que Vance é o assassino das meninas (na verdade, estamos na frente da polícia que, até então, nem sabe que tal assassino existe). Dessa forma, a expectativa do leitor não é descobrir respostas e sim ver se a polícia vai conseguir encontrar as respostas que ele mesmo já tem e se conseguirá pegar o criminoso. É um livro que se faz totalmente pela jornada. Ao mesmo tempo em que acompanhamos a polícia, acompanhamos também Vance e, aos poucos, temos vislumbres de seu passado e de sua mente doentia (sempre através da narrativa em terceira pessoa).
Mas, apesar de perverso, Jacko Vance está longe de ser um vilão memorável, assim como Tony e Carol estão ali para conduzir a trama policial, não para serem as estrelas dela. É o tipo de história em que os personagens servem à trama, não o contrário (como acontece com os livros da série Harry Hole, por exemplo), o que não é uma falha, mas faz com que, com base em apenas um livro, o leitor não se sinta cativado pelos personagens, embora simpatize com eles.
“Rastros de Sangue” é um livro correto. Não cria expectativas exageradas, nem reviravoltas de tirar o folego. Não decepciona, mas também não entrega mais do que promete. Conta com personagens construídos na medida que a trama necessita deles, se mantém com um bom ritmo do início ao fim e mantém o interesse do leitor durante a jornada. O desfecho deixa um gostinho agridoce, de certa forma ousado por parte da autora ou talvez até promissor para livros futuros. Não é uma obra extraordinária, mas se você gosta do gênero não tem porque não gostar da leitura.
É uma pena que a edição conte com vários erros de revisão.
O livro, lançado em 1997, originou uma série de TV britânica ("Wire in the Blood") que teve 6 temporadas exibidas entre 2002 e 2008.
Autora: Val McDermid
N° de páginas: 433
Editora: Bertrand
Exemplar cedido pela editora
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