“Ela sabia que um dia acabaria enlouquecendo. E essa seria a maneira de se libertar dos pensamentos sombrios que povoavam a sua cabeça (...)” (ADLER-OLSEN, 2014, p.121)
Merete Lynggaard faz o possível para resguardar a sua vida privada, mesmo que isso gere rumores e a force a se afastar de pessoas que poderiam se tornar importantes para ela. Bonita e no auge de sua carreira política, ela desaparece em meio a uma viagem com seu irmão mais novo. Quando as investigações se esgotam, ela é dada como morta e seu caso, arquivado. Anos mais tarde, o desaparecimento de Merete é escolhido pelo detetive Carl Mørck para ser o primeiro caso a ser investigado pelo Departamento Q, uma nova seção da polícia responsável pela investigação de casos antigos que permanecem sem respostas.
“A Mulher Enjaulada” é uma mistura de romance policial com thriller psicológico. De um lado temos o detetive Carl Mørck – ainda assombrado por ser o único sobrevivente ileso do incidente que matou um membro da sua equipe e deixou o outro no hospital à beira da morte – encabeçando uma investigação que segue rumos tradicionais, e do outro, temos Merete em seu cativeiro. Os momentos de tensão e agonia se dão pelo último, os ágeis e repletos de informação, pelo primeiro.
Narrado em terceira pessoa, a mistura funciona muito bem ao intercalar pontos de vista e momentos temporais – já que acompanhamos o cativeiro de Merete desde os primeiros dias e a investigação se encontra no presente, cinco anos depois. Com isso, sabemos mais que o investigador, mas também não sabemos tudo, pois não sabemos o que aconteceu com Merete. Só sabemos que ela não morreu como todos previam, mas o que lhe aconteceu, pelo menos até certa época, foi muito pior do que a morte.
O livro é interessante desde o começo, mas precisa das 100 primeiras páginas para engrenar de fato. Isso ocorre porque o Departamento Q - que dá título à série - ainda não está formado, então é preciso conduzir o leitor aos motivos de sua instituição, da escolha de Carl para chefiá-lo, da adequação da polícia a essa nova estrutura e outros aspectos. Além disso, nas primeiras vezes que nos deparamos com Merete, acompanhamos a personagem nas semanas que antecederam o seu sequestro, o que também é importante para fazer o leitor entender quem a personagem é, antes de vê-la jogada em uma situação que vai reduzindo-a aos poucos a um mero ser em busca de sobrevivência.
Com o início da investigação, surge também aquele que, para mim, é o melhor personagem do livro: Assad, o assistente de Carl. Assad é carismático, divertido – graças a sua inexperiência e pouco entendimento da língua de seu novo país -, eficiente e ainda consegue ser misterioso, pois pouco se sabe sobre o seu passado e sobre como adquiriu certas habilidades que seriam dignas de um verdadeiro detetive. Carl pode ser o protagonista, mas Assad é quem brilha.
Outro personagem que atraiu a minha atenção foi Hardy, ex-membro da equipe de Carl que está no hospital e é conhecido por pensar de maneira diferente. Embora pouco explorado neste livro, algo me diz que veremos mais de Hardy no decorrer da série (assim espero, pois ele me parece promissor).
As histórias desses personagens que cercam Carl e ainda de outros que surgem em seu caminho - como a bela terapeuta - deixam ganchos para os livros seguintes. Além disso, outros coadjuvantes como a ex-mulher, o enteado e o inquilino ajudam a dar forma ao protagonista, revelando que a intenção do autor é torna-lo humano e não só um personagem com uma investigação pela frente. A própria investigação do desaparecimento de Merete pode ser o cerne do livro, mas o acidente que matou seus pais é outro caso presente na história, assim como o incidente envolvendo a equipe de Carl e um assassinato atual que a polícia precisa investigar e que nada tem a ver com o Departamento Q. São eventos que compõe o universo dos personagens e o tornam verossímil. É por saber fazer cortes e mesclar plots de forma a deixar o leitor curioso que o autor não tem medo de dar as respostas quando ainda faltam 100 páginas para o final do livro.
Fica claro que nesse primeiro livro Adler-Olsen se preocupou em criar o universo dos seus personagens e acertar o tom de suas tramas. Bons personagens e uma boa história. “A Mulher Enjaulada” faz de “Departamento Q” uma série promissora.
Autor: Jussi Adler-Olsen
Nº de páginas: 389
Editora: Record
14 comentários:
Ótima resenha, Mari!
O livro parece intrigante e desafiador e a sua resenha nos cutuca e dá vontade de lê-lo. Mais um para acrescentar a minha enorme lista. rsrsrs
Um Abraço!
Blog: legereoculis.blogspot.com.br
Eu não conhecia o livro e nem o autor, mas fiquei super curiosa pela resenha! Confesso que a trama não me chamou tanto a minha atenção, mas adoro o gênero, com certeza, darei uma chance para a história! Sem contar que o livro parece ter personagens ótimos.
Bjss
Pois é, Mari! Não apenas dos casos, propriamente ditos, cria-se um belo romance policial. E essas personagens que cercam o protagonista estão aí pra isso. Mas posso dizer que achei esse caso bem interessante. A série tem tudo pra dar certo, pois confesso que casos encerrados sem respostas, dão pano pra manga.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Adorei a sua resenha. Já li muitas coisas boas sobre esse livro e já estava com bastante vontade de ler ele
Sou apaixonada por livros assim, ainda mais quando intercalam os pontos de vistas. É bom saber que o livro é bom mesmo sendo meio lento nas primeiras 100 páginas, assim quando eu for ler não desisto logo no começo :P
Beijos!
Mari, sabe quando o livro chama a atenção assim, de cara? Pois é... a capa soou misteriosa para mim. A proposta também é muita boa, mas quanto a isso sou suspeita para falar, já que eu adoro um bom romance policial. Me desanima o fato de termos em pauta o início de mais uma série (tô correndo delas - literalmente), mas fico instigada só de saber que há uma boa preparação da trama, e que os personagens são o ponto alto. Para mim, eles são quesitos primordiais em uma narrativa. Excelente resenha!
Abraço.
http://universoliterario.blogspot.com.br/
Quando vi o livro entres os lançamentos da editora quase solicitei, mas como você viu na resenha lá do blog, eu ando desanimada demais por descobrir as respostas antes de serem reveladas :(
Só que você acabou me dando uma boa animada com a resenha. Acho que vou esperar os próximos volumes saírem, e ler o que vão falar sobre e me decido :D
Beijos
http://www.interacaoliteraria.com/
Quero muito ler esse livro, Mari. E minha curiosidade só aumentou com seus comentários. Tem tudo pra virar uma das minhas séries queridinhas. Ótima resenha.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Não conhecia esse livro
Mas ele parece ser bem interessante e intrigante
Ótima dica
Já estou seguindo *~
Beijos
|•| http://pocketlibro.blogspot.com.br
Oi, td bom?
Eu achei a história desse livro muito legal. Já adicionei na minha lista, adoro thrillers :D
Beijos!
Arrastando as Alpargatas
Não conhecia o livro. Não conhecia o autor. Mas chamou a atenção! Esse entrou para aquela lista nada pequena do "Vou Ler"! hahaha
Abraços!
Gente, confesso que achei que seria alguma besteira ou coisa sobrenatural não sei, mas não me passou na cabeça que seria um romance policial, que eu só li uma vez na vida!!!! e pretendo ler esse livro.
Apesar de gostar muito de livros com gêneros investigativos, devo confessar que esse não me atraiu, mas acho importante dar sempre uma oportunidade pra conhecer o livro melhor, pode ser que quando eu comece a ler a minha opinião inicial a respeito do livro mude, não é mesmo?
Olá, Mari! Tudo bem?
Eu não conhecia esse livro, mas já fiquei curiosa pelo título! Primeiro fico aliviada ao saber que a ordem de publicação está sendo acompanhada aqui no Brasil, nunca entendo o motivo de publicarem na ordem errada por aqui. Mas enfim, a trama de "A Mulher Enjaulada" me convenceu, me lembrou um pouquinho da série Cold Case e gostei disso! O livro foi para a minha lista de desejados e espero lê-lo logo! Bjs
Jéssica - http://lereincrivel.blogspot.com.br/
Eu adorei esse livro, Mari!
Concordo com você, o Assad rouba a cena haha
Achei muito angustiante toda a situação da Merete. Às vezes eu tentava me colocar no seu lugar apenas para imaginar por um segundo e já batia a agonia.
Gostei muito da forma como o autor conduziu a história. Com certeza é uma série que pretendo acompanhar!
Beijão
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