Há algum tempo li um post no qual a blogueira se propunha um desafio: por um determinado tempo ela só leria livros escritos por mulheres. Isso veio de perceber que sua estante era composta, predominantemente, por autores homens e que o mesmo se repetia nas estantes das livrarias. Então, concluindo que há uma espécie de desprezo e preconceito pela literatura feita por mulheres, ela se propôs tal desafio como forma de valorizar as autoras. Acho válido qualquer propósito que nos incentive a sair da nossa zona de conforto, descobrir novos autores e novos gêneros, mas fiquei me perguntando: eliminar todos os autores homens da sua lista de leitura a fim de incluir mulheres para combater o preconceito não é também uma forma de preconceito?
Da maneira como eu vejo, um autor ganha espaço na minha estante pelo livro que escreve, independente de ser homem, mulher, nacional ou internacional. Para mim, isso perde a importância diante da história que ele desenvolve, dos personagens que cria, dos conflitos que nascem deles e, consequentemente, do envolvimento que a trama provoca em mim. Não digo com isso que sou uma leitora livre de preconceitos, mas quando elimino um autor da minha lista é porque, por mais eclética que eu possa ser, alguns livros simplesmente não me interessam por seu conteúdo. Por exemplo, livros que giram em torno exclusivamente de histórias de amor não me atraem. É um tipo de trama com o qual eu não me conecto e por isso descarto, independente de quem a tenha escrito.
Me parece que ao radicalizar dessa forma, um leitor, embora esteja ganhando uma lista de autores maravilhosos para conhecer, também está se privando de outras leituras que podem ser sensacionais. Eu nunca parei para analisar se na minha estante há mais homens do que mulheres ou se meus livros favoritos foram escritos por homens ou mulheres. O que sei é que adoro Stephen King, Gillian Flynn, Agatha Christie, Carlos Ruiz Zafón, Jo Nesbø, John Green, Jennifer Egan, Raymond Chandler, Joël Dicker, Machado de Assis, J.K. Rowling, Dennis Lehane, Ernest Hemingway, Martha Medeiros e mais uma série de outros. Qual a contagem? Que time tem mais integrantes? Não sei. Por que eu deveria me importar com isso?
Não é justo que mulheres sejam discrimidas e ocupem menos espaço nas livrarias do que os homens. Mas também não é justo discriminar autores homens a fim de divulgar autoras mulheres, apenas por serem mulheres. É tentar eliminar um preconceito com preconceito. É tentar quebrar um clichê ressaltando o clichê.
O mesmo se aplica à literatura nacional. É inegável que vemos mais livros internacionais sendo publicados pelas nossas editoras e poderíamos iniciar toda uma outra discussão sobre os porquês disso (livros originários de outros países já foram publicados antes, portanto já tiveram repersusão, já passaram pelo teste. São apostas mais seguras da editora, já vêm com uma bagagem que ajuda na divulgação por aqui. Livro nacional, principalmente de autor estreante, é uma aposta no escuro. E por aí a conversa segue). É justo? Claro que não. Mas não me parece que a resposta seja: “vou deixar de ler livros internacionais para que os nacionais sejam publicados” porque não é isso que os fará serem publicados.
Essa semana me deparei com “O Sorriso da Hiena”, romance policial de Gustavo Ávila, autor até então publicado de maneira independente e que agora está prestes a ser lançado pela editora Verus. Fico feliz sempre que vejo novos autores nacionais ganhando destaque (e, como amante da literatura policial, fico ainda mais feliz quando é um autor do gênero), mas não foi a nacionalidade de Gustavo que me chamou a atenção e sim o potencial da obra. Caso tenha chance, lerei, mas não porque é um autor nacional e sim porque me parece um bom livro. Para mim, é isso que faz com que ele mereça espaço e, assim, quem sabe, possa abrir caminho para que outros autores tenham a mesma chance.
É preciso que se crie um espaço para que bons livros apareçam e ganhem sua luz aos holofotes, independente de quem os tenha escrito. Há muitos livros bons escritos por mulheres, há muitos livros bons escritos por autores nacionais e, sejamos sinceros, há muita porcaria escrita por ambos. Mas o mesmo se aplica a autores homens e internacionais. Por que não se aplicaria? A verdade é que o autor é uma coisa, a obra é outra. No fim, o livro deve ser analisado pelo seu conteúdo e deve se sustentar por si, porque é isso que vai garantir a ele espaço.
A arte existe para emocionar. Para abrir nossas mentes, para nos apresentar outros mundos, nos tirar da realidade e nos fazer viver coisas que, caso o contrário, não viveríamos. Arte deveria ser o oposto do preconceito. Por isso é realmente injusto que mulheres ganhem menos espaço nas prateleiras das livrarias, da mesma forma que é injusto que haja menos autores orientais (ou seja lá de onde) nelas se a razão para eles não estarem lá for apenas esta. Mas jogar no chão todo o resto não significa abrir espaço para o que não está lá. Um autor que merece espaço é aquele que cria algo vivo mesmo apenas impresso no papel. Seja lá o tipo de história que viva, seja lá quem a tenha escrito. Comigo, um livro conquista espaço por si, pela história que conta, pelos personagens que traz para minha vida. Simples assim. Se não é, me parece que deveria ser.
Da maneira como eu vejo, um autor ganha espaço na minha estante pelo livro que escreve, independente de ser homem, mulher, nacional ou internacional. Para mim, isso perde a importância diante da história que ele desenvolve, dos personagens que cria, dos conflitos que nascem deles e, consequentemente, do envolvimento que a trama provoca em mim. Não digo com isso que sou uma leitora livre de preconceitos, mas quando elimino um autor da minha lista é porque, por mais eclética que eu possa ser, alguns livros simplesmente não me interessam por seu conteúdo. Por exemplo, livros que giram em torno exclusivamente de histórias de amor não me atraem. É um tipo de trama com o qual eu não me conecto e por isso descarto, independente de quem a tenha escrito.
Me parece que ao radicalizar dessa forma, um leitor, embora esteja ganhando uma lista de autores maravilhosos para conhecer, também está se privando de outras leituras que podem ser sensacionais. Eu nunca parei para analisar se na minha estante há mais homens do que mulheres ou se meus livros favoritos foram escritos por homens ou mulheres. O que sei é que adoro Stephen King, Gillian Flynn, Agatha Christie, Carlos Ruiz Zafón, Jo Nesbø, John Green, Jennifer Egan, Raymond Chandler, Joël Dicker, Machado de Assis, J.K. Rowling, Dennis Lehane, Ernest Hemingway, Martha Medeiros e mais uma série de outros. Qual a contagem? Que time tem mais integrantes? Não sei. Por que eu deveria me importar com isso?
Não é justo que mulheres sejam discrimidas e ocupem menos espaço nas livrarias do que os homens. Mas também não é justo discriminar autores homens a fim de divulgar autoras mulheres, apenas por serem mulheres. É tentar eliminar um preconceito com preconceito. É tentar quebrar um clichê ressaltando o clichê.
O mesmo se aplica à literatura nacional. É inegável que vemos mais livros internacionais sendo publicados pelas nossas editoras e poderíamos iniciar toda uma outra discussão sobre os porquês disso (livros originários de outros países já foram publicados antes, portanto já tiveram repersusão, já passaram pelo teste. São apostas mais seguras da editora, já vêm com uma bagagem que ajuda na divulgação por aqui. Livro nacional, principalmente de autor estreante, é uma aposta no escuro. E por aí a conversa segue). É justo? Claro que não. Mas não me parece que a resposta seja: “vou deixar de ler livros internacionais para que os nacionais sejam publicados” porque não é isso que os fará serem publicados.
Essa semana me deparei com “O Sorriso da Hiena”, romance policial de Gustavo Ávila, autor até então publicado de maneira independente e que agora está prestes a ser lançado pela editora Verus. Fico feliz sempre que vejo novos autores nacionais ganhando destaque (e, como amante da literatura policial, fico ainda mais feliz quando é um autor do gênero), mas não foi a nacionalidade de Gustavo que me chamou a atenção e sim o potencial da obra. Caso tenha chance, lerei, mas não porque é um autor nacional e sim porque me parece um bom livro. Para mim, é isso que faz com que ele mereça espaço e, assim, quem sabe, possa abrir caminho para que outros autores tenham a mesma chance.
É preciso que se crie um espaço para que bons livros apareçam e ganhem sua luz aos holofotes, independente de quem os tenha escrito. Há muitos livros bons escritos por mulheres, há muitos livros bons escritos por autores nacionais e, sejamos sinceros, há muita porcaria escrita por ambos. Mas o mesmo se aplica a autores homens e internacionais. Por que não se aplicaria? A verdade é que o autor é uma coisa, a obra é outra. No fim, o livro deve ser analisado pelo seu conteúdo e deve se sustentar por si, porque é isso que vai garantir a ele espaço.
A arte existe para emocionar. Para abrir nossas mentes, para nos apresentar outros mundos, nos tirar da realidade e nos fazer viver coisas que, caso o contrário, não viveríamos. Arte deveria ser o oposto do preconceito. Por isso é realmente injusto que mulheres ganhem menos espaço nas prateleiras das livrarias, da mesma forma que é injusto que haja menos autores orientais (ou seja lá de onde) nelas se a razão para eles não estarem lá for apenas esta. Mas jogar no chão todo o resto não significa abrir espaço para o que não está lá. Um autor que merece espaço é aquele que cria algo vivo mesmo apenas impresso no papel. Seja lá o tipo de história que viva, seja lá quem a tenha escrito. Comigo, um livro conquista espaço por si, pela história que conta, pelos personagens que traz para minha vida. Simples assim. Se não é, me parece que deveria ser.
16 comentários:
Oi Mari! Estou apuladinho seu texto neste momento! Acho que a gente deve se livrar de qualquer preconceito e eu não consigo seguir metas de forma alguma e ao contrário dessa moça acho que tenho mais mulheres na minha estante do que homens rsrsrsrs De qualquer forma acho que a boa arte deve ser sempre apreciada, não importa os rótulos
Bjs, Mi
O que tem na nossa estante
Oi Mari.
Adorei o seu texto e concordo com você temos que quebrar esse preconceito mas ao contrário da mulher que propôs essa mudança na Minha estante só tem mais mulheres e isso se dá ao fato de que a maioria dos meus livros preferidos são escritos por mulheres tenho poucos livros escrito por homens confesso enfim Adorei o texto e é realmente o motivo para refletir
Bjs.
Concordo e assino em baixo, Mari. Esse negócio de só ler livros escritos por mulheres é como votar numa mulher sem avaliar suas propostas só porque está mais do que na hora de termos mais mulheres no governo. Afinal, se criatividade e genialidade não tem sexo, cor nem nacionalidade a baboseira também. Escolho um livro pelo conteúdo, pela ideia. E se me agrada certamente vou guardar o nome de quem escreveu e procurar por mais obras (se não agradar também, mas pra manter distância), seja homem, mulher ou até alienígena. Creio que diversificar é parte do segredo, mas valorizar conteúdo acima de qualquer característica externa é ainda mais importante. Ótimo post.
Beijos!
Sabe que acho que na minha estante as autoras predominam? Tenho uma preferência por livros escritos por mulheres, parece que me identifico mais, mas jamais descartei um livro por causa do gênero da pessoa que escreveu. Leio totalmente por causa da sinopse, isso que me motiva. Mas sou a maior fã de romances, livros de amor *-* hahaha agora sobre os livros nacionais, isso tenho que assumir, tenho poucos na minha estante, e são poucos os que vejo nas lojas, mas isso está mudando aos poucos :)
Beijos!
http://tipsnconfessions.blogspot.com
Na minha estante tem mais livros de autoras do que de autores, mas eu não presto muito atenção nisso, acho que o que importa mesmo é a qualidade da escrita, e tem tanto mulheres quanto homens que escrevem histórias maravilhosas.
Mari!
Concordo plenamente com seu ponto de vista e acredito ser o mais correto.
O mais importante é o quanto a obra nos toca, emociona, fascina, seja de homem, mulher, nacional, internacional e aí acrescento ainda o estilo, porque por vezes nos acomodados em determinados tipos de leitura e nem nos aventuramos a experenciar outros estilos, porque acreditamos que não iremos gostar.
Devemos é estar abertos para tudo e todos, desde que nos proporcione prazer, momentos de diversão ou reflexão que seja, mas que seja um boa obra.
Que sua semana seja repleta de luz e paz!
“A amizade, depois da sabedoria, é a mais bela dádiva feita aos homens.” (François La Rochefoucauld)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE MAIO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Realmente seu texto foi muito auto explicativo, além de ser questionador, pelo fato de que eu em particular tenho mais livros de autoras mulheres do que homens, mas não e uma questão de preconceito ou coisa do tipo, mas sim questão de gosto, amo romances, e a maioria deles e escrito por mulheres. Enfim, se eu curti a sinopse do livro, ou alguma resenha me chamar a atenção, não me importa se e homem, mulher, bi, homo, hétero, eu simplesmente leio e ponto. E penso que o leitor que ama mesmo o livro não vai se importa com quem escreveu mais sim com o conteúdo abordado.
Oie Mari =)
Como adorei o seu texto! Por que para elevar um tem que diminuir outro? Confesso que fiquei com birra da expressão Empoderamento Feminino por que em minha opinião precisamos de uma sociedade igualitária não que que um gênero prevaleça sobre outros seja na estante ou em qualquer outro.
Um autor se o meu favorito quando escreve histórias que me fazem refletir e tocam meu coração.
O pessoal anda querendo problematizar tudo ultimamente.
Beijos;***
Ane Reis | Blog My Dear Library.
Oi Mari
Sabe que eu também nunca parei para pensar se leio mais autores masculinos ou femininos. Mas é bom pensar nestes assuntos, às vezes nem percebemos. Eu acho que eu leio até de uma forma equilibrada, tenho várias autoras na minha estante, principalmente os romances de época que eu adoro, e os ultimos que li foram mulheres: J.K, Julia Quinn, Virginia Woolf. Estou pecando é com os livros nacionais, e tbm tenho visto comentários sobre este O sorriso da hiena e pretendo sim ler.
Adorei sua reflexão e me fez prestar mais atenção no que ando lendo.
Beijinhos
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com/
Oi Mari, tudo bem?
Olha não tenho como opinar sobre esta publicação, pois concordo com você em partes e em partes concordo com a autora do post. Acredito que a intenção dela não tenha sido extinguir para sempre todos os autores homens da lista de leitura, e sim tentar dar mais espaço a obras escritas por mulheres na estante dela. As vezes temos sim nossas preferências, e por preconceitos bobos deixamos de conhecer histórias incríveis, talvez tenha sido por isso que ela resolveu tomar esta atitude.
Minha opinião...
Beijos
Oooi, Mari!
Muito boa reflexão! Esses assuntos já passaram diversas vezes pela minha cabeça e penso a mesma coisa. A questão não é o gênero do autor, mas seu talento, o gosto do leitor para determinado tipos de leitura.Vi O Sorriso da Hiena há um tempão, mas lembro que não havia mais exemplares independentes, a editora já o havia comprado. Então não pude ler, mas me deixou bem ansiosa, pois o enredo é magnífico. Beijos,
www.estranhoscomoeu.com
Ótimo texto Mari. O que me chama a atenção em um livro é o teor da obra em si e procuro não rotulá-la antes de qualquer parecer próprio. Não adianta cobrir um santo para deixar o o outro nu e acho válido movimentos literários desde que sejam livres de preconceito. Beijo!
www.newsnessa.com
Oi!
Lindo texto parabéns pelas sábias palavras. Minha estante tem um pouco de tudo, autores de ambos os sexos, livros de todos os gêneros e nacionalidades. O que importa mesmo é ser conquistada pela leitura, surpreendida pelo enredo e personagens e sentir prazer ao terminar o livro.
Estou sempre apta a conhecer e dar espaço a novos autores e estilos diferentes de leituras.
Beijos!
Nunca contei meus livros pelos gêneros lidos e sinceramente eu não acho que pra mim isso seja um fator importante, até porque tem autores que escrevem um livro bom e outro que não gosto, então meio que eu foco mais no livro/conteúdo que no autor. Mas achei super válido seu ponto de vista e post!
Mari do céu! Faço das suas as minhas palavras em gênero, número e grau! Ultimamente temos visto uma onda enorme de pessoas que querem quebrar o preconceito impondo mais preconceitos ainda em uma sociedade onde julgar o outro por sexo, opção sexual, nacionalidade ou qualquer outra "classificação" tem sido a coisa mais comum, mas na realidade o que precisamos é de igualdade e não de mais uma forma de preconceito! Que saibamos respeitar o espaço do outro e, digo mais, os gostos dos outros também, já que, graças a Deus, ninguém é obrigado a gostar do livro de alguém só porque o outro gosta não é mesmo!
Oi, Mari!!
Gostei muito do seu texto devo dizer que leio o que tenho vontade seja independente de ser escrito por homem ou mulher, nacional ou internacional!! Mas acho que temos sim que valorizar mais nossos autores nacionais pois sem dúvida temos vários autores maravilhosos!!
Beijoss
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