Depois de boas experiências com os livros de Letícia Wierzchowski, decidi dar um voto de confiança a “Navegue a Lágrima”: um livro de premissa inusitada, mas no qual eu via potencial justamente por ser assinado pela autora.
Heloísa, uma editora de meia-idade, decide mudar os ares de sua vida. Para isso, ela compra a casa onde Laura Berman, uma escritora, viveu com seu marido, Leon, e seus dois filhos. Lá, as histórias dessas mulheres irão se cruzar, pois em meio aos pertences que a família de Laura deixou para trás, Heloísa dará vida aos dias que se passaram ali, reconstruindo para si mesma uma história da qual ela não faz parte.
O título já indica: há poesia nesta obra. Não se trata apenas do delicioso texto de Letícia, que nos faz querer saborear cada palavra, mas também da própria trama. Heloísa está imaginando? Delirando? Ou por algum truque sobrenatural sendo mesmo visitada por Laura, Leon e as crianças? Não importa. O que importa é que a história da família da escritora a distrai de sua própria vida e talvez seja apenas isso que ela precise. De certa forma, Heloísa se descola de sua própria vida e vive um pouco através dos Berman.
“(...) no entanto, no fundo, todas as vidas se assemelham na sua ânsia por felicidade, não é mesmo?” (WIERZCHOWSKI, 2015, p.14)
O interessante sobre esses personagens é que eles se mantém incógnitas até o fim. Afinal, Heloísa não os conhece de fato, apenas faz suposições com base nos objetos que preenchiam suas vidas (mas que não eram significativos a ponto de terem sido levados para onde quer que tenham ido). Quanto à Heloísa, a história é narrada por ela mesma, de forma que ela apenas nos conta o que tem intenção de compartilhar. Longe de ser uma narradora não-confiável, Heloísa apenas revela sobre si os eventos que foram significativos para que ela se sinta como se sente neste momento. Na sua narrativa, a personagem também dialoga diretamente com o leitor em diversos momentos.
Nada acontece em “Navegue a Lágrima” porque tudo já aconteceu ou nunca aconteceu. É passado ou imaginação. Dessa forma, a sensação é que viajamos sem sair do lugar, já que - mesmo que acontecimentos se desenrolem - , a personagem principal chega ao final exatamente no mesmo ponto em que estava no início. Isso pode soar como uma crítica, mas não é, já que “Navegue a Lágrima” não é um livro em que a trama assume o lugar mais importante e sim o que ela evoca. O tipo de livro construído mais para tocar o leitor do que para fazer sentido. O sentido, neste caso, é sentir.
“Navegue a Lágrima” é uma poesia sobre a vida. Sobre o que nos acontece, o que fazemos acontecer e o que simplesmente deixamos acontecer.
Vale um comentário ainda sobre o projeto gráfico que está simples e lindo. Por se tratar de um texto breve (mesmo as poucas 208 páginas são bastante para colocá-lo no papel) a editora deixou margens largas e intercalou os capítulos com folhas azuis. Além disso, o texto foi impresso em um agradável tom de azul.
Autor: Letícia Wierzchowski
N° de páginas: 208
Editora: Intrínseca
Exemplar cedido pela editora
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15 comentários:
Oi, Mari!
Que premissa linda, que livro lindo!
Adorei ser poesia em formato de vida.
Fiquei bem curiosa, não conhecia a obra ainda.
E, realmente, a capa está linda.
Beijoooos
www.casosacasoselivros.com
Amo escritas poéticas, mas confesso que esse livro não me chama muita atenção. Não é um enredo que me conquista.
Beijos
Oii Mari, tudo bem? amei a premissa, realmente é algo bem diferente, sou apaixonada por poesias e escritas poéticas.
-Beijos,Carol!
http://entrehistoriasblog.blogspot.com.br/
Oi, Mari
"Nada acontece em “Navegue a Lágrima” porque tudo já aconteceu ou nunca aconteceu"... insira o meme da Nazaré aqui! Hahahahahah
Olha, sua resenha me deixou no mínimo curiosa. Curto histórias do tipo, mas não tão poéticas. Talvez essa característica possa me desagradar, mas agora preciso descobrir o que é real e o que não é! Vou colocar na lista que é para não esquecer!!
Beijos
- Tami
http://www.meuepilogo.com
Eu ainda não havia ouvido falar nem sobre o livro, nem sobre a autora, mas confesso que fiquei curiosa, pois nunca vi nenhuma premissa igual a essa... Linguagem poética é realmente encantador, agora entendo porque você resolveu dar uma segunda chance!
*amei* o blog e já estou seguindo!
xoxo
www.foradocontexto.com.br
Oi Mari! Tudo bem?
Bem bacana este livro, gostei da capa tem um aspecto bem clean e da sinopse.
Ótima resenha!
Grande abraço!
http://www.cafeidilico.com/
Esse livro sempre me chamou muita atenção por conta do título e da capa, muito diferente. Depois de ler a sinopse e tua resenha, fiquei ainda mais curiosa. Achei a premissa do livro bastante interessante e original, eu desconheço um enredo com esse mesmo mote em outro título. Apesar desse detalhe de a protagonista começar e terminar no mesmo lugar (que dá um charme a mais à história, na minha opinião), acredito que o livro traga muitos outros detalhes e reflexões importantes, para além de uma trama principal.
Esse livro é mesmo tocante e único, Mari. Li na metade do ano passado e a sensação que me trouxe é de que nos faz pensar em como vemos a vida dos outros. Tanto pelo lado da empatia quanto de como usamos os outros para nos deligar de nós mesmos. E o texto é lindo. Ótima resenha.
Beijos!
Oi, Mari!
Não tinha interesse em ler essa obra, justamente por pela história não acontecer no tempo presente.. deu-me a impressão de que a leitura não seria tão fluida. Mas, gostei das suas percepções. Acho que esse livro deve nos proporcionar uma experiência de leitura diferente, né?
Beijos
Versos e Notas
Mari!
Lendo sua resenha, estava me perguntando justamente qual seria o sentido do livro? E que bom que no final você explica que é mais um livro para ser sentido, vai mais para o lado do felling, do que para entender o enredo propriamente dito. Valeu!
Um carnaval de alegria e moderação e desejo uma nova semana!
“Ninguém é assim tão velho que não acredite que poderá viver por mais um ano.” (Cícero)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA FEVEREIRO: 3 livros + vários kits, 5 ganhadores, participem!
BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!
Eu não conhecia sobre o se tratava o livro.
Não faz muito o meu tipo de leituras, porém é bom as vezes sair da nossa zona de conforto. Então quem sabe um dia.
Oi, Mari!
Tenho certeza que esse livro é lindo mas não curto muito poesias!! Mas fica a indicação.
Bjos
Mari,
não conhecia esse livro ainda, mas tenho muita vontade de ler algum livro da Letícia.
E esse parece ser bem bonito, recheado de poesias.
Não sei se eu entenderia bem a trama, entretanto, tô pensando em lê-lo!
bjss
Adoro livros com proposta inusitada e, apesar de não conhecer de perto a escrita da autora, você me convenceu a colocar seus livros na lista de leitura. Adoro poesia.
Eu tive a oportunidade maravilhosa de conhecer a sua altura quando ela veio aqui para minha cidade ela é super simpática e apesar de não ser um livro da minha zona de conforto a experiência que eu tive com essa autora Foi simplesmente maravilhosa
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