sexta-feira, 24 de maio de 2019

RESENHA: Se a rua Beale falasse

Depois de meu primeiro contato com James Baldwin pelo livro O Quarto de Giovani, mal esperava a oportunidade de explorar outras obras de sua autoria. O escolhido acabou sendo Se a rua Beale falasse, que foi adaptado para o cinema e indicado em três categorias do Oscar. 

Tish e Fonny se conhecem desde crianças e se tornaram amigos inseparáveis. Quando crescem, acabam se envolvendo e decidem casar. Porém, Fonny é preso, acusado injustamente de ter estuprado uma mulher. Grávida e sem saber como reagir, Tish acaba contando com o apoio de sua família. 

O livro é narrado em primeira pessoa por Tish e conta com duas linhas temporais. Uma delas focada no presente, acompanhando as repercussões da prisão de Fonny, enquanto outro se centra no passado, nas lembranças de Tish sobre o início de seu relacionamento. 

Se a rua Beale falasse é o típico drama familiar. Vemos o impacto que a prisão de Fonny causa tanto em sua família, quanto na família de Tish. Enquanto a mãe de Foony é uma religiosa excêntrica que inferniza a vida dele e do pai, Tish conta com o apoio de pais amorosos e o suporte de uma irmã mais velha. É mostrando essas dinâmicas familiares tão diferentes que Baldwin nos faz refletir sobre o verdadeiro significado de família.

"A mesma paixão que salvou o Fonny fez com que ele se encrencasse e fosse para a cadeia. Porque, veja bem, ele havia descoberto seu centro, seu próprio centro, dentro dele: e isso era visível. Ele não era o preto de ninguém. E isso é um crime na porra deste país livre. Supõe-se que você seja o preto de alguém. E se você não for o preto de alguém, então você é um preto mau [...]." (BALDWIN, 2019, p. 45)

Outra grande discussão promovida por Baldwin é sobre o racismo. Os protagonistas são negros e vivem na Nova York de década de 70, onde o racismo é uma constante. O texto de Baldwin é cheio de emoção e nos faz sentir na pele todas as injustiças que os personagens sofrem, não apenas pela sociedade, mas até mesmo aquela praticada pelo Estado. 

Apesar do racismo estar no centro da estória, Baldwin soube explorar o assunto de uma forma muito equilibrada e sutil. Em nenhum momento o ativismo se torna maior do que a estória de Tish e Lonzie. Assim, as reflexões sobre o tema surgem de forma natural ao longo da estória e não são inseridas apenas para impactar o leitor. 

No entanto, confesso que o final do livro termina de uma forma bastante abrupta. Até podemos entender o que irá acontecer no futuro, mas a sensação que eu tive foi de que o livro terminou sem um capítulo final, o que me causou uma certa estranheza. 

De qualquer forma, Baldwin provou mais uma vez seu talento, não apenas para compor personagens verossímeis e estórias emocionantes, mas sobretudo para fazer o leitor refletir sobre temas polêmicos. E o mais impressionante é que fazia isso há mais de 40 anos, o que comprova a universalidade de suas obras. 

Título: Se a rua Beale falasse
Autor: James Baldwin
N.º de páginas: 224
Editora: Companhia das Letras
Exemplar cedido pela editora

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5 comentários:

Rubro Rosa disse...

Como tenho vontade ler este livro!!! Depois que vi o filme duas vezes, isso aflorou ainda mais.
Bem na época do Oscar, acabei vendo ele antes da premiação,meio na correria. Aí depois com calma, o revi e adorei, adorei muito!!!
Não é apenas o racismo, sobre o racismo numa época ainda mais complicada que hoje em dia, é também sobre família, sobre onde encontrar apoio quando tudo parece estar perdido.
Um casal tão jovem, carregando um peso e mesmo assim, encontrando forças na família dela, que nunca questionou, apenas apoiou e acreditou!!!
Lerei!
Beijo

Ludyanne Carvalho disse...

Li uma resenha desse livro recentemente e fiquei bem curiosa para saber mais.
É muito bom conhecer uma outra visão da história; me chamou ainda mais atenção pelos temas abordados e a época em questão.
Pretendo ler em algum momento.

Beijos

Ana I. J. Mercury disse...

Tenho muita vontade de ler esse livro.
Não parece ser genial, mas sim real.
COm dores, muito preconceito e uma realidade cruel.
Vou querer ler assim que der.
bjs

Luana Martins disse...

Oi, Alê
Não li nada do autor e também fiquei bem curiosa para assistir o filme.
Mesmo sendo um livro que foi escrito faz alguns anos muitas coisas relacionadas ao racismo não mudou nos dias atuais.
É uma trama linda e triste ao mesmo tempo que aborda muitos temas que leva o leitor a refletir sobre seus conceitos.
Quero muito poder ler, beijos!

Gabriela CZ disse...

Não sabia que o filme (que ainda não vi) era baseado num livro, Alê. Muito menos que era do mesmo autor de O Quarto de Giovanni, que fiquei muito interessada depois da sua resenha. E esse com certeza também vai pra lista. Ótima resenha.

Beijos!

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