quarta-feira, 21 de agosto de 2019

RESENHA: Ponti

Ponti / Sharlene Teo
Três histórias independentes, mas sutilmente entrelaçadas. Este é “Ponti”, livro de estreia de Sharlene Teo.

Na juventude, Amisa foi a estrela de uma trilogia de terror, mas viu sua carreira nascer e morrer praticamente no mesmo instante. Anos depois, sua filha adolescente, Szu, vive um relacionamento distante com ela, mas se aproxima de uma colega de escola, Circe. Quando Circe ja adulta se vê em meio a um projeto de divulgação que envolve o filme, hoje cult, de Amisa isso lhe traz muitas lembranças da intensidade daqueles tempos.

“Ponti” é um livro peculiar. Três histórias correm paralelas em épocas diferentes. Apesar de girar em torno de três mulheres – Amisa, Szu e Circe - por estarem separadas por décadas, cada história nos mostra versões dessas mulheres, de forma que é como se conhecêssemos duas Amisas, a bela jovem e a mulher amargurada; duas Circes, a adolescente sarcástica e a adulta recém divorciada; e uma Szu, a adolescente deslocada.

Amisa é, sem a menor dúvida, a mais complexa e interessante das três. Sua história começa em 1968 e é preciso que a acompanhemos enquanto jovem para que possamos entender a adulta que se tornou e, consequentemente, a mãe que é para Szu. Amisa era uma menina sem perspectivas, que não tinha nada a seu favor a não ser sua beleza, e que em um golpe de sorte foi descoberta e convidada para estrelar uma trilogia cinematográfica. Mas o papel foi o único de sua breve carreira e ela precisou encarar a vida real novamente, sem nunca se sentir realizada. Amisa é amargurada e distante, incapaz de amar verdadeiramente o marido e se afeiçoar pela filha que ela nunca quis. Outro detalhe interessante é que a história de Amisa é a mais independente das três e é a única que adota a narrativa em terceira pessoa, acredito que para preservar o mistério que envolve a personagem.

"Esqueci como era o seu rosto quando sorria e como apreciar sua companhia, embora nunca tenha perdido o desejo patético de agrada-la. Eu a amava com muito ódio; perto dela eu me sentia desleal, nojenta. Em segredo, me perguntava se seria mais divertido viver com os ninguéns e nadas do que com uma ex-atriz de filmes de terror. Talvez ser alguém e algo fosse superestimado." (TEO, 2019,  p.142)

A história de Szu se passa em 2003, nos anos da sua adolescência. A meu ver, essa é a história que liga todas as três. Nela vemos Amisa adulta e já doente e também vemos Szu e os anos da sua amizade com Circe. Mesmo sendo a vida de Szu, é possível perceber o quanto ela gira em torno de Amisa e o quanto a complexidade do relacionamento das duas define a menina. Ao perder a mãe, um buraco se abre para Szu. Ela nunca foi capaz de sentir amor, mas agora também não consegue odiá-la.  

Já Circe nos dá sua perspectiva em 2020, já adulta, recém saída de um divórcio complicado. É o trabalho que a coloca de volta em contato com as lembranças de Amisa e Szu e o fim da amizade que tiveram. Circe acompanhou de perto o relacionamento de mãe e filha, ao mesmo tempo que não fazia parte da dinâmica das duas, sendo assim, é uma visão de dentro e de fora ao mesmo tempo.

O interessante em “Ponti” é observar como não existe um marco zero para nada e que uma história é sempre construída por outras histórias. No caso de Szu, ela é um reflexo das coisas que a mãe dela passou. Eu acredito que seja por isso que a autora entrelaça as três narrativas já que, apesar de se cruzarem, o relacionamento das três mulheres nunca foi tão próximo a ponto de uma história precisar da outra para se firmar.

“Ponti” é um livro de poucos acontecimentos, mas de sentimentos intensos (mais para as personagens do que para o leitor). Suas mulheres não são amargas, mas são vividas e sem nunca terem sido felizes. Suas vidas não tem nada de especial, mas representam peças no quebra-cabeças umas das outras, o que nos faz imaginar que outras peças as compõe e ainda quais elas mesmas são para os personagens que nem chegamos a conhecer.

Título: Ponti
Autora: Sharlene Teo
N° de páginas: 269
Editora: Intrínseca
Exemplar cedido pela editora 

9 comentários:

Rubro Rosa disse...

Primeira resenha que leio deste livro desde seu lançamento e já gostei muito de saber destas três histórias entrelaçadas e trazendo a vida destas mulheres que ao mesmo tempo estão tão distantes, são ligadas de certo modo e que modo!
Gosto demais deste tipo de enredo, sem firulas, apresentando pessoas comuns, sem grandes feitos, mas que de certo modo, viveram e ensinam com a vida.
Com certeza, quero ter oportunidade de conferir!!!
Beijo

Rayssa Bonai disse...

Olá! Geralmente prefiro livros que tenham mais acontecimentos, mas achei interessante a trama de Ponti.
O que mais gostei é que o livro conta com três protagonistas, mesmo que elas não estejam próximas, é interessante ver como as histórias delas se cruzam.
Não é o tipo de livro que estou acostumada a ler, mas vou dar uma chance a ele!
Obrigada pela indicação! Beijos! ♡

Rayane B. de Sá disse...

Oiii ❤ Deve ser legal ver como a visão que Circe tinha da relação mãe e filha de Amisa e Szu pode acrescentar um ponto de vista diferente para a história. Acho legal olhar pra situação por outro ângulo.
É uma pena que Amisa não demonstrava amor por Szu, afinal não era culpa dela que a mãe não conseguiu fazer mais sucesso. Devido a isso, faz sentido que elas não sejam próximas.
Deve ser legal ver a história das três personagens se cruzarem.
Beijos ❤

Ludyanne Carvalho disse...

Já estava de olho nesse livro, agora lendo sua resenha eu fico com mais vontade de ler.
Amo histórias que entrelaçam passado e presente, e essas personagens parecem cativantes.
Fiquei bem curiosa para conhecer esses sentimentos.

Beijos

Luana Martins disse...

Oi, Mari
Apesar do livro não ter aquele plot que todo leitor adora parece ser um livro bem interessante.
Com personagens comuns que nos ensinam com suas atitudes, erros nos levando a reflexões sobre a vida.
Quero poder ler em breve, beijos!

Evandro Atraentemente disse...

Achei bem interessante a trama do livro. Sendo a estreia da autora, foi bem interessante criar essas histórias que, de alguma forma, se entrelaçam. Gosto de enredos que focam no sentimento das personagens, seus dramas e angústias. Fiquei curioso para ler.

Gêmea Má disse...

Oláááá!!! :Esse livro me lembrou um pouco Labirinto, com essa coisa de vários tempos de narrativa e tal. Pareceu interessante como tentaram montar que vc é um reflexo da sua mãe e etc. Leria.

Ana I. J. Mercury disse...

Oi, Mari
Eu não conhecia o livro, mas achei interessante.
Parece ser daquele tipo que acompanhamos vários anos e acontecimentos das vidas dos protagonistas e sofremos com eles, com seus dramas e conquistas, e nesse caso, se entrelaçando a história de cada uma das personagens.
bjs

Gabriela CZ disse...

Não conhecia, Mari. A premissa e a construção soam interessantes, mas não sei se leria. Ótima resenha.

Beijos!

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