“Ele não imaginava que, ao sentar-se à mesa para jantar, um telefonema em breve o arrancaria da tranquilidade um tanto afetada de seu apartamento, nem que dezenas de pessoas que naquele momento preparavam seus programas noturnos passariam uma noite diferente da que haviam previsto, e que até o amanhecer todas as janelas do Quai des Orfèvres ficariam iluminadas como nas noites de grande agitação.” (SIMENON, 2009, p. 111)
Georges Simenon é um daqueles escritores que tem lugar cativo na minha coleção de livros. Dos vários que tenho do autor (que mesmo sendo vários são uma parcela minúscula de sua vasta obra) me anima saber que a maioria ainda não foi lida e, portanto, me espera. Confesso, porém, que mesmo gostando do autor às vezes sinto que não estou no clima ideal para o seu tipo de literatura policial e acabo guardando suas histórias para outro momento. Mas quando o momento chega, me delicio com cada página e no final sempre me prometo reencontrar o comissário Maigret - o mais famoso personagem do autor – tão logo seja possível.
Tarde de noite, o telefone toca acordando Maigret e sua esposa. Faz frio em Paris e um corpo foi encontrado em uma calçada. A vítima foi golpeada diversas vezes, seu rosto está quase irreconhecível, mas sua morte não ocorreu no local onde o inspetor Fumel encontrara o corpo. Maigret, que no momento está envolvido na investigação de uma série de assaltos que vem sido cometidos por uma quadrilha, se envolve mesmo que não oficialmente com mais esse crime, afinal, ele conhecia o criminoso: um ladrão quase inofensivo que ele mesmo já havia capturado inúmeras vezes.
Eu já disse antes e vou dizer mais uma vez: quem gosta de literatura policial precisa conhecer o comissário Jules Maigret. O protagonista dos livros de Georges Simenon é ímpar na literatura policial, em especial por se importar mais com as pessoas do que com o caso em si. Não é o enigma que move Maigret e sim os envolvidos. É por isso que uma trama como a de “Maigret e o Ladrão Preguiçoso” parece ser mais sobre o efeito dos casos no comissário do que sobre a resolução em si. Mesmo que lhe tenha sido designado outro crime para resolver e que sua equipe toda esteja envolvida com esse caso oficial, Maigret não é capaz de virar as costas para outro crime que lhe intriga - mesmo que ele seja essencialmente mais simples que o outro -, mesmo que ele não receba nada para isso, ambos merecem sua atenção.
Tendo lido vários livros protagonizados pelo personagem, arrisco dizer que Jules Maigret apresenta o que de melhor define alguns dos mais famosos detetives da literatura policial, como o conhecimento da natureza humana de Miss Marple, a racionalidade de Sherlock Holmes e a dedicação de Poirot.
Com poucas páginas, dois casos paralelos e uma narrativa em terceira pessoa que foca apenas no essencial - sem por isso deixar de ambientar deliciosamente a trama em uma Paris coberta de neve – a trama divide-se em capítulos de aproximadamente 20 páginas, nos quais circulam poucos personagens, mesmo que alguns deles tenham sua participação limitada em uma única cena – o que importa mesmo é sua participação no contexto.
Com casos relativamente simples, que fisgam o leitor por completo mesmo sem deixá-lo desesperado para chegar à última página, os livros de Simenon são sempre diversão garantida.
Título: Maigret e o Ladrão Preguiçoso
Autor: Georges Simenon
Nº de páginas: 159
Editora: L&PM
8 comentários:
Não conhecia, mas fiquei interessada. Preciso ler mais policiais. Ótima resenha.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Se uma personagem consegue unir o que há de melhor dos mais conhecidos e venerados detetives da literatura mundial, não tem como não se interessar. E o melhor é que o livro é curtinho, e o autor não fica se estendendo em cenas que não são necessárias. A dica já está mais do que anotada.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Oie, tudo bom?
Ainda não li nada desse autor, mas amo livros policiais. Já anotei a dica, pois quero conhecer a narrativa do autor. O mais legal dos livros policiais é a inteligência do texto.
Beijos!
http://livrosyviagens.blogspot.com.br/
Confesso: eu tenho falta de vontade (lê-se preguiça) de ler livros nesse gênero desde que Poirot não me encantou tanto assim...
Bom, como todo ano a gente faz aquelas promessas de começo de ano e tudo o mais eu já decidi que vou dar uma chance para livros desse gênero, afinal, só li 1 e não posso generalizar e dizer que não gosto de nenhumm livro policial!! Até o Poirot merece uma segunda chance HEHE
Não conhecia esse não, mas me pareceu que é um que posso considerar para uma próxima leitura..
Bjs
Daisy - nuvemdeletras.com
Eu já vi este livro em diversas promoções, mas confesso que nunca fiquei interessada. Eu gosto do gênero, mas como você citou no começo, tem que estar no "clima ideal" e também acabo passando e deixando para outro momento. Mas vou comprar este livro, preciso conhecer o Maigret. =D
Achei bem bacana a proposta do livro,gosto bastante de livros deste gênero e ainda não conhecia este , apesar de não ter gostado tanto assim da capa, vou querer ler assim que tiver oportunidade.
Gosto muito do gênero, Mari. Como já disse várias vezes aqui. Mas ainda não li nenhuma obra do autor, o que me deixou instigada a começar a ler o quanto antes
M&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso Top Comentarista
Desde que li "Sangue na Neve" estou aberta a sugestões de novos autores que estejam envolvidos com ao gênero policial, por isto irei atrás de algum livro do Georges Simenon só para ter certeza de que é realmente bom. Eu sinceramente não me agradei muito do enredo que você nos apresentou, mas só por via das duvidas deixe-me ler e ter certeza disto ;)
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