“Até conhecer você, eu não era o tipo de mulher a lançar a precaução ao vento, com base no princípio de que as coisas lançadas ao vento têm por hábito voltar e explodir em nosso rosto (...)” (DOUGHTY, 2014, p. 67)
Uma história pouco ambiciosa, mas uma narrativa envolvente fazem de “Uma Escolha Imperfeita” uma grata surpresa e um livro que não se quer parar de ler.
Yvonne Carmichael chegou a uma fase segura da vida. Aos 52 anos ela conquistou o respeito dos seus colegas cientistas, tem dois filhos já adultos e um casamento feliz. Tem o que pode ser considerada uma vida boa e não sente falta de nada em particular até conhecer um misterioso homem e se envolver com ele em um tórrido caso. Yvonne pouco sabe sobre ele, mas saber que ele também é casado e tem filhos a convence de que eles serão capazes de manter o relacionamento afastado de suas vidas oficiais. Mas quando o inesperado acontece e um crime os une, os mundos em que Yvonne e seu amante vivem irão colidir.
A história de “Uma Escolha Imperfeita” não apresenta nada de extraordinário: uma mulher conhece um homem e se envolve com ele em um impulsivo e ardente relacionamento que terá consequências perigosas. Até aí nada de novidade. Já vimos essa premissa antes. Mas não deixe isso enganá-lo. “Uma Escolha Imperfeita” vale a pena ser lido e o que faz isso é a maneira como a autora escolhe contar a história.
Já comentei no blog que nos últimos tempos os suspenses que mais têm me agradado têm conseguido esse feito mais por sua narrativa do que pelas tramas em si, afinal, sendo uma entusiasta do gênero por muitos anos não é fácil me deparar com tramas que de fato me surpreendam. Exemplo disso é que os melhores livros do gênero que li no ano passado foram “Garota Exemplar” e “No Escuro” e ambos recebem mérito justamente pela narrativa de suas autoras.
O mesmo acontece com Louise Doughty que escolhe contar a história do casal pela perspectiva da mulher depois que os eventos já aconteceram em uma narrativa que não narra e sim conversa com a outra pessoa envolvida nos fatos relatados, ou seja, a narrativa toda é uma espécie de carta que Yvonne escreve ao amante. Esse recurso gera uma série de aspectos interessantes, o principal deles é manter o amante sob uma áurea de mistério, afinal, não só o conhecemos sob a perspectiva contaminada de Yvonne e seus sentimentos, mas também não recebemos muitas explicações sobre quem ou como ele é já que toda a narrativa é direcionada a ele e, portanto, não existe na narradora a intenção de explicá-lo para ele mesmo. Com isso, não sabemos ao menos seu nome até além da metade do livro, visto que Yvonne se refere a ele como “você”. Tudo que sabemos é o efeito que ele provoca. Ela só conhece um lado desse homem e é através dos seus olhos parciais e sua falta de objetividade que o conhecemos também.
Vendo dessa maneira, “Uma Escolha Imperfeita” parece ser apenas um livro sobre um caso amoroso, mas é mais do que isso. Ao começar em meio ao julgamento, fica claro que temos em mãos um thriller, mesmo que não saibamos qual é o crime em questão. Tudo que sabemos é que o casal de amantes está sendo julgado junto. A autora nos joga em meio a esse momento para depois regressar na narrativa e nos apresentar os acontecimentos que levam a ele. Deixando várias coisas no ar e lançando suspeitas para apenas depois preencher as lacunas, Doughty deixa o leitor intrigado durante toda a leitura, já que a todo momento a narradora diz coisas como “se soubéssemos que”, “eu não imaginava que”. Como Yvonne nos conta os fatos de uma perspectiva futura, é como se mesmo os melhores momentos fossem temperados com certa angústia e arrependimento.
O único deslize que a autora comete é o momento em que escolhe encerrar o livro, passando mais páginas do que devia do clímax. Mas isso não desmerece a jornada, nem mudou minha opinião com relação ao livro, apenas diminui meu ânimo nas páginas finais.
“Uma Escolha Imperfeita” gira em torno de uma sequência de eventos moralmente condenáveis relatados mais pelo efeito que provocaram do que pelo que eram de fato. A escolha de narrativa da autora mostra que não é sua intenção fazer seu leitor achar aceitáveis ou justificáveis as escolhas dos personagens e sim fazer com que as enxergue sob o ponto de vista deles. Eu, por exemplo, achei o amante de Yvonne detestável desde sua primeira aparição, mas em um livro como esse tudo o que importa é o efeito que esses personagens provocam e as consequências que acarretam na vida um dos outros. Um thriller psicológico com pitadas hot que, apesar de não apresentar uma trama revolucionária, é merecedor de atenção e leitura.
Título: Uma Escolha Imperfeita (exemplar cedido pela Editora)
Autora: Louise Doughty
Tradução: Geni Hirata
Nº de páginas: 446
Editora: Rocco
Uma história pouco ambiciosa, mas uma narrativa envolvente fazem de “Uma Escolha Imperfeita” uma grata surpresa e um livro que não se quer parar de ler.
Yvonne Carmichael chegou a uma fase segura da vida. Aos 52 anos ela conquistou o respeito dos seus colegas cientistas, tem dois filhos já adultos e um casamento feliz. Tem o que pode ser considerada uma vida boa e não sente falta de nada em particular até conhecer um misterioso homem e se envolver com ele em um tórrido caso. Yvonne pouco sabe sobre ele, mas saber que ele também é casado e tem filhos a convence de que eles serão capazes de manter o relacionamento afastado de suas vidas oficiais. Mas quando o inesperado acontece e um crime os une, os mundos em que Yvonne e seu amante vivem irão colidir.
A história de “Uma Escolha Imperfeita” não apresenta nada de extraordinário: uma mulher conhece um homem e se envolve com ele em um impulsivo e ardente relacionamento que terá consequências perigosas. Até aí nada de novidade. Já vimos essa premissa antes. Mas não deixe isso enganá-lo. “Uma Escolha Imperfeita” vale a pena ser lido e o que faz isso é a maneira como a autora escolhe contar a história.
Já comentei no blog que nos últimos tempos os suspenses que mais têm me agradado têm conseguido esse feito mais por sua narrativa do que pelas tramas em si, afinal, sendo uma entusiasta do gênero por muitos anos não é fácil me deparar com tramas que de fato me surpreendam. Exemplo disso é que os melhores livros do gênero que li no ano passado foram “Garota Exemplar” e “No Escuro” e ambos recebem mérito justamente pela narrativa de suas autoras.
O mesmo acontece com Louise Doughty que escolhe contar a história do casal pela perspectiva da mulher depois que os eventos já aconteceram em uma narrativa que não narra e sim conversa com a outra pessoa envolvida nos fatos relatados, ou seja, a narrativa toda é uma espécie de carta que Yvonne escreve ao amante. Esse recurso gera uma série de aspectos interessantes, o principal deles é manter o amante sob uma áurea de mistério, afinal, não só o conhecemos sob a perspectiva contaminada de Yvonne e seus sentimentos, mas também não recebemos muitas explicações sobre quem ou como ele é já que toda a narrativa é direcionada a ele e, portanto, não existe na narradora a intenção de explicá-lo para ele mesmo. Com isso, não sabemos ao menos seu nome até além da metade do livro, visto que Yvonne se refere a ele como “você”. Tudo que sabemos é o efeito que ele provoca. Ela só conhece um lado desse homem e é através dos seus olhos parciais e sua falta de objetividade que o conhecemos também.
Vendo dessa maneira, “Uma Escolha Imperfeita” parece ser apenas um livro sobre um caso amoroso, mas é mais do que isso. Ao começar em meio ao julgamento, fica claro que temos em mãos um thriller, mesmo que não saibamos qual é o crime em questão. Tudo que sabemos é que o casal de amantes está sendo julgado junto. A autora nos joga em meio a esse momento para depois regressar na narrativa e nos apresentar os acontecimentos que levam a ele. Deixando várias coisas no ar e lançando suspeitas para apenas depois preencher as lacunas, Doughty deixa o leitor intrigado durante toda a leitura, já que a todo momento a narradora diz coisas como “se soubéssemos que”, “eu não imaginava que”. Como Yvonne nos conta os fatos de uma perspectiva futura, é como se mesmo os melhores momentos fossem temperados com certa angústia e arrependimento.
O único deslize que a autora comete é o momento em que escolhe encerrar o livro, passando mais páginas do que devia do clímax. Mas isso não desmerece a jornada, nem mudou minha opinião com relação ao livro, apenas diminui meu ânimo nas páginas finais.
“Uma Escolha Imperfeita” gira em torno de uma sequência de eventos moralmente condenáveis relatados mais pelo efeito que provocaram do que pelo que eram de fato. A escolha de narrativa da autora mostra que não é sua intenção fazer seu leitor achar aceitáveis ou justificáveis as escolhas dos personagens e sim fazer com que as enxergue sob o ponto de vista deles. Eu, por exemplo, achei o amante de Yvonne detestável desde sua primeira aparição, mas em um livro como esse tudo o que importa é o efeito que esses personagens provocam e as consequências que acarretam na vida um dos outros. Um thriller psicológico com pitadas hot que, apesar de não apresentar uma trama revolucionária, é merecedor de atenção e leitura.
Título: Uma Escolha Imperfeita (exemplar cedido pela Editora)
Autora: Louise Doughty
Tradução: Geni Hirata
Nº de páginas: 446
Editora: Rocco
10 comentários:
Gosto de livros desse gênero mas pra falar a verdade raramente leio, pois sempre acabo me envolvendo em sagas e o meu tempo de leitura fica praticamente todo reservado as séries que tenho que terminar ou começar. Você citou Garota Exemplar, na época estava meio em dúvida se era um bom livro, depois de muito pensar resolvi ler e assim como você, amei a narrativa. Já Uma Escolha Imperfeita eu vi algumas coisas sobre ele logo que a Rocco lançou, de início não chamou minha atenção mas depois achei que deveria ler, coloquei na lista de leituras pendentes, e pra ser bem franca, terminei esquecendo dele. Amei a sua resenha sobre esse livro e agora sim irei ler.
Nossa gostei da premissa do livro e sua resenha diga-se de passagem está muito boa,
não conhecia o livro, mais me interessei em lê-lo, a capa é linda apesar de sombria.
http://soubibliofila.blogspot.com.br/
Oi Mari, tudo bem?
Esse livro para ser ótimo. Não sou muito fã dos suspenses e thrillers, nem Garota Exemplar, que você citou, eu consegui ler, rsrs Ainda assim, achei a trama inteligente e intrigante, do tipo que prende totalmente o leitor.
Beijos,
Pah - Livros & Fuxicos
Esse é um daqueles livros que vi no Skoob mas não me interessei nem em ler a sinopse. Mas com sua descrição do enredo e comentários fiquei um tanto curiosa, Mari. Vou considerar. Ótima resenha.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Oi,
Nunca tinha ouvido falar nesse livro, mas depois da sua resenha fiquei bastante curiosa! No momento não leria, pois to precisando de livros mais leves!
Bjs!
Viciados Pela Leitura
Mari, não conhecia este livro mas já fiquei super empolgada. Sua resenha pontua questões cruciais que despertaram meu interesse, como o fato de ficar estar claro que se trata de thriller, mesmo que o crime não esteja claro, e, principalmente, por termos um casal de amantes sendo julgado junto. Genial! E essa questão da narrativa também tem me chamado a atenção nesses caso, como com o livro Garota Exemplar, que inclusive foi muito bem citado. Quem o leu com certeza irá lembrar da narrativa instigante de Fly. :) Enfim, excelente resenha!!! Tô doida pra conferir esse livro. Hahahah.
Abraços.
http://universoliterario.blogspot.com.br/
Oiee
Sem sombra de dúvidas uma boa narrativa é o que faz a história ser apreciada,não adianta de nada um enredo espetacular se o escritor não souber passar suas ideias para o papel.
Adoro suspense,thriller mas não costumo ler muito o gênero e esse livro me pareceu muito bom mesmo com toda a trama sendo bem "normalzinha"
beijos
Esse não é o tipo de livro que ao apenas ler a sinopse eu me interessaria em ler, não é o tipo de gênero que leio frequentemente. Mesmo sua resenha seja bastante positiva não tenho a intenção de ler o livro, pois sinceramente ele não me interessou e acho que a leitura não me agradaria.
Mesmo assim obrigada pela resenha.
Bjs!
Assim como você, sou super adepta a thrillers e suspense. Super me envolvo com cada um que leio, uns mais e outros menos, mas mesmo assim, não consigo não gostar do gênero rs Achei a premissa do livro muito intrigante e interessante. Vou pesquisar mais sobre ele.
Quando se ler muitos livros do mesmo gênero, chega uma hora que nem todas as tramas nos convencem mais. Então, é aí que entra o talento do autor em transformar suas histórias relativamente simples e/ou mais do mesmo, em obras bem interessantes. Como você disse, tem alguns autores que estão nos ganhando através de suas narrativas hipnóticas. Mais um que entrou pra minha listinha de futuras aquisições.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
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