“Ele a havia matado por dinheiro. Sempre vi esse como um motivo fútil para assassinar, porém, talvez desse pouca importância ao dinheiro e importância demais à vida. Mas é, devo dizer, um motivo melhor para matar do que diversão.” (BLOCK, 2014, p. 227)
Há alguns anos descobri Lawrence Block por acaso e desde lá leio qualquer um dos seus livros sem me preocupar com sinopses. Até hoje não me decepcionei.
Matt Scudder está entediado, há tempos sem um caso para se ocupar, quando um conhecido das reuniões dos Alcoólicos Anônimos pede a sua ajuda. A cunhada, esposa do traficante de drogas Kenan Khoury, foi sequestrada e mesmo com o resgate pago, ela não votou com vida e sim esquartejada. Khoury quer localizar os responsáveis e ao menos descobrir o motivo que levou à morte de sua esposa, mas o que Scudder descobre é que ela não foi a primeira vítima desses criminosos que não apenas estupram e matam suas vítimas como as mutilam ainda em vida.
Para muitas pessoas existe a equívoca impressão de que um livro policial para ser bom precisa ser repleto de reviravoltas. Em geral, eu concordaria, afinal, que graça tem ler um livro que você sabe exatamente como vai terminar? Mas Lawrence Block existe para provar que é possível escrever boas tramas policiais sem depender demais de reviravoltas e dando um rumo mais orgânico à investigação.
Em “Caçada Mortal” o autor apresenta, mais uma vez, uma premissa simples, mas entretém o leitor porque ele sabe muito bem como contá-la. Você não fica desesperado para saber o que está acontecendo, mas não sente vontade de largar o livro. A leitura flui com a mesma naturalidade com que Scudder investiga o caso.
Personagem mais famoso de Block, Matt Scudder é um ex-policial que trabalha como detetive particular não licenciado. Scudder trabalha eventualmente - mais porque gosta de ter o que fazer do que porque precisa -, mas quando pega um caso, mergulha nele completamente e usa todos os seus recursos em favor do cliente Embora não eu ache Scudder um personagem necessariamente carismático, gosto do ex-policial e até reconheço nele uma espécie de cruzamento entre Phillip Marlowe e Harry Hole (dois detetives que adoro). Algo que me agrada bastante, é que Scudder nunca é o mesmo em todos os livros. Diferente dos detetives clássicos, como Sherlock Holmes ou Hercule Poirot, que estão nas tramas para investigar os crimes e que reprisam seus papéis mais ou menos da mesma forma em todos os casos, Scudder tem uma vida fora da trama policial e essa vida tem fases diferentes. Justamente por isso, personagens que ele conhece em casos passados tendem a reaparecer em casos posteriores já que não saíram de sua vida. Um desses é Mick Ballou, que conheceu em “Na Linha de Frente” e que volta e meia ressurge ou é mencionado; Elaine, sua namorada, com quem mantém um relacionamento que já teve vários estágios. Desconfio que TJ (o adolescente “criativo” que mora nas ruas e que o auxilia nesta investigação) também seja alguém que surgiu no caminho de Scudder em algum dos livros anteriores.
É interessante ver como as tramas de Block colocam certas coisas em perspectiva. Em “Caçada Mortal” os traficantes são as vítimas de criminosos sádicos, as atitudes de um viciado são vistas pelos olhos de outro viciado que não as justifica, mas as compreende; os relacionamentos são valorizados pelo que uma pessoa significa para outra e o que as duas mantém juntas independente das circunstâncias (Elaine, a namorada que se tornará esposa de Scudder em livros posteriores, é uma garota de programa e Mike Ballou, seu amigo, já foi um criminoso lendário).
No geral a trama funciona. Scudder inicia uma investigação que não tem nenhuma urgência (afinal, não se trata de salvar ninguém nem necessariamente de levar os criminosos à justiça, já que o cliente não costuma envolver a polícia em seus assuntos) que aos poucos se revela mais ampla conforme ele descobre que a esposa do traficante não foi uma vítima isolada e que os criminosos fazem atrocidades com todas. Ainda assim, o final me desapontou um pouco. Elaborei várias teorias durante a leitura, mas não só nenhuma delas estava certa como o autor escolheu uma resolução que achei muito simples. Não é ruim, mas eu esperava mais. De qualquer forma, Lawrence Block nunca foi um autor que se lê pela resposta na última página e sim pela jornada e essa não desaponta.
Lançado há mais de 20 anos, “Caçada Mortal” é o segundo caso de Scudder a ser levado para as telas. Uma pena é que com isso esta edição perdeu o ótimo título original “A walk among the thumbstones” (algo como “Uma caminhada entre lápides”) para o título clichê que a adaptação cinematográfica recebeu ao ser traduzido para o português. Nas telas, é o sempre competente Liam Neeson que dá vida a Mathew Scudder. Uma escolha que nunca havia me ocorrido, mas que aprovei. Eliminando algumas coisas, o filme conseguiu manter-se bastante fiel ao livro e ainda mostrar a razão que levou Scudder a sair da polícia e a querer parar de beber há anos.
Distanciando-se de tramas mirabolantes, Lawrence Block faz apostas seguras, não porque fiquem no lugar comum, mas porque o autor confia em sua habilidade de contar a história de forma que impulsione seu leitor. Simples, e eficiente, assim.
Título: Caçada Mortal (exemplar cedido pela editora)
Autor: Lawrence Block
Nº de páginas: 367
Editora: Record
Há alguns anos descobri Lawrence Block por acaso e desde lá leio qualquer um dos seus livros sem me preocupar com sinopses. Até hoje não me decepcionei.
Matt Scudder está entediado, há tempos sem um caso para se ocupar, quando um conhecido das reuniões dos Alcoólicos Anônimos pede a sua ajuda. A cunhada, esposa do traficante de drogas Kenan Khoury, foi sequestrada e mesmo com o resgate pago, ela não votou com vida e sim esquartejada. Khoury quer localizar os responsáveis e ao menos descobrir o motivo que levou à morte de sua esposa, mas o que Scudder descobre é que ela não foi a primeira vítima desses criminosos que não apenas estupram e matam suas vítimas como as mutilam ainda em vida.
Para muitas pessoas existe a equívoca impressão de que um livro policial para ser bom precisa ser repleto de reviravoltas. Em geral, eu concordaria, afinal, que graça tem ler um livro que você sabe exatamente como vai terminar? Mas Lawrence Block existe para provar que é possível escrever boas tramas policiais sem depender demais de reviravoltas e dando um rumo mais orgânico à investigação.
Em “Caçada Mortal” o autor apresenta, mais uma vez, uma premissa simples, mas entretém o leitor porque ele sabe muito bem como contá-la. Você não fica desesperado para saber o que está acontecendo, mas não sente vontade de largar o livro. A leitura flui com a mesma naturalidade com que Scudder investiga o caso.
Personagem mais famoso de Block, Matt Scudder é um ex-policial que trabalha como detetive particular não licenciado. Scudder trabalha eventualmente - mais porque gosta de ter o que fazer do que porque precisa -, mas quando pega um caso, mergulha nele completamente e usa todos os seus recursos em favor do cliente Embora não eu ache Scudder um personagem necessariamente carismático, gosto do ex-policial e até reconheço nele uma espécie de cruzamento entre Phillip Marlowe e Harry Hole (dois detetives que adoro). Algo que me agrada bastante, é que Scudder nunca é o mesmo em todos os livros. Diferente dos detetives clássicos, como Sherlock Holmes ou Hercule Poirot, que estão nas tramas para investigar os crimes e que reprisam seus papéis mais ou menos da mesma forma em todos os casos, Scudder tem uma vida fora da trama policial e essa vida tem fases diferentes. Justamente por isso, personagens que ele conhece em casos passados tendem a reaparecer em casos posteriores já que não saíram de sua vida. Um desses é Mick Ballou, que conheceu em “Na Linha de Frente” e que volta e meia ressurge ou é mencionado; Elaine, sua namorada, com quem mantém um relacionamento que já teve vários estágios. Desconfio que TJ (o adolescente “criativo” que mora nas ruas e que o auxilia nesta investigação) também seja alguém que surgiu no caminho de Scudder em algum dos livros anteriores.
É interessante ver como as tramas de Block colocam certas coisas em perspectiva. Em “Caçada Mortal” os traficantes são as vítimas de criminosos sádicos, as atitudes de um viciado são vistas pelos olhos de outro viciado que não as justifica, mas as compreende; os relacionamentos são valorizados pelo que uma pessoa significa para outra e o que as duas mantém juntas independente das circunstâncias (Elaine, a namorada que se tornará esposa de Scudder em livros posteriores, é uma garota de programa e Mike Ballou, seu amigo, já foi um criminoso lendário).
No geral a trama funciona. Scudder inicia uma investigação que não tem nenhuma urgência (afinal, não se trata de salvar ninguém nem necessariamente de levar os criminosos à justiça, já que o cliente não costuma envolver a polícia em seus assuntos) que aos poucos se revela mais ampla conforme ele descobre que a esposa do traficante não foi uma vítima isolada e que os criminosos fazem atrocidades com todas. Ainda assim, o final me desapontou um pouco. Elaborei várias teorias durante a leitura, mas não só nenhuma delas estava certa como o autor escolheu uma resolução que achei muito simples. Não é ruim, mas eu esperava mais. De qualquer forma, Lawrence Block nunca foi um autor que se lê pela resposta na última página e sim pela jornada e essa não desaponta.
Lançado há mais de 20 anos, “Caçada Mortal” é o segundo caso de Scudder a ser levado para as telas. Uma pena é que com isso esta edição perdeu o ótimo título original “A walk among the thumbstones” (algo como “Uma caminhada entre lápides”) para o título clichê que a adaptação cinematográfica recebeu ao ser traduzido para o português. Nas telas, é o sempre competente Liam Neeson que dá vida a Mathew Scudder. Uma escolha que nunca havia me ocorrido, mas que aprovei. Eliminando algumas coisas, o filme conseguiu manter-se bastante fiel ao livro e ainda mostrar a razão que levou Scudder a sair da polícia e a querer parar de beber há anos.
Distanciando-se de tramas mirabolantes, Lawrence Block faz apostas seguras, não porque fiquem no lugar comum, mas porque o autor confia em sua habilidade de contar a história de forma que impulsione seu leitor. Simples, e eficiente, assim.
Título: Caçada Mortal (exemplar cedido pela editora)
Autor: Lawrence Block
Nº de páginas: 367
Editora: Record
6 comentários:
Tirando os livros da Agatha Christie, todos os outros livros desse gênero que leio, sempre rolam as reviravoltas e a corrida contra o tempo, para salvar as futuras vítimas. Geralmente gosto dos finais mais impactantes possíveis, mas também me contento com o desenrolar muito bem feito. E, pelo que vi nessa resenha, é o caso desse livro. Não conhecia essa adaptação, mas vou correr para assistir/ler.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Fiquei bem curiosa quando vi o lançamento mês passado. Ainda mais por ser do gênero policial. As coisas ocorridas me deixaram ansiosa, sobre as vítimas e sequestros. Apesar de a premissa ser simples, o enredo do autor parece rico. Esses criminosos loucos me deixaram também com dúvidas, a respeito de que o Scudder vai fazer. Tem muito tempo o livro, e nunca ouvi falar do livro.
Abraços Mari,
ThayQ.
Não conhecia o autor mas fiquei curiosa, Mari. Parece escrever tramas intrigantes e evolventes. Vou procurar essa série. Ótima resenha.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Oii Mari !
Menina, que resenha envolvente .. Imagino como vou me sentir quando iniciar a leitura (sim, você me convenceu,rs), não vou querer parar até chegar no fim.
Não conhecia a narrativa do autor, mas achei bem interessante o enredo policial que ele montou nesse livro, realmente não é nada parecido com os livros policiais que costumo ler ..
Bjs
Oie,
Não conhecia o autor, nem seus livros mais fiquei bastante empolgada para ler seus livros e desfrutar das investigações do detetive Scudder.
Já assisti o filme e é maravilhoso! Ainda não li o livro, mas fico contente em saber que o filme é fiel (não que isso importe, já que o filme é bom).
Que bom que tu gostou da leitura! Adorei tua resenha, me conquistou bastante! Beijos,
http://entreeleitores.blogspot.com/
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