sexta-feira, 21 de agosto de 2015

RESENHA: O Cão do Sul

“A alguns quilômetros da fronteira havia um posto de controle e lá um policial examinou os meus papéis. Nada batia! Eu estava dirigindo um carro completamente diferente do que estava descrito no documento. Ele não tinha condições de lidar com uma mentira tão deslavada logo de manhã tão cedo e me devolveu os papéis e com um aceno me mandou seguir em frente.” (PORTIS, p. 40, 2015)

Foi passeando pelo tentador catálogo da Editora Alfaguara que me deparei com “O Cão do Sul”. O título e a capa pouco me disseram e o nome de Charles Portis também não foi muito significativo. Mas descobrir que o autor era o mesmo do aclamado “Bravura Indômita”, ler a curiosa sinopse e a cativante prova me fizeram querer embarcar nessa aventura maluca.

Aos 26 anos, Ray Midge é um cara comum que não fez muita coisa na vida e agora foi abandonado pela esposa que fugiu com o primeiro marido, levando os cartões de crédito, uma das armas da sua coleção e o seu Gran Torino. Assim que as faturas chegam, Midge decide traçar o caminho percorrido por Norma e Dupree e embarcar em uma jornada para recuperar o que é seu: o carro.

Narrado em primeira pessoa pelo protagonista, “O Cão do Sul” soa como um relato informal, feito por uma pessoa informal que não emprega esforço algum em contar a sua história. É como se fosse uma conversa de bar que inicia com uma frase mais ou menos assim: “Deixa eu contar da vez em que a minha mulher me deixou e eu decidi ir atrás dela e do meu Gran Torino em um Buick caindo aos pedaços”. É o tipo de texto que poucas vezes vemos ser bem executado, mas Portis o faz com maestria. A verdade é que foi a voz absolutamente cativante de Midge que fez com que eu quisesse acompanhar a sua viagem.

Ao partir em busca de seu carro, Midge encontra outras pessoas no caminho, se envolvendo com elas e com seus problemas. As histórias delas se entrelaçam com a dele e, em alguns momentos, são até mais importantes do que seu próprio objetivo. É por isso que, a meu ver, “O Cão do Sul” não é um livro sobre Midge e sim sobre essas pessoas sendo vistas pelos olhos dele. Sua maneira de encarar e reagir diante das situações nos mostra quem ele é e é a sua jornada o fio condutor da trama, mas os arcos são dos coadjuvantes. E é aí que os problemas começam. Por serem personagens secundários, que entram e saem do livro a qualquer momento, suas histórias não chegam a ser tão aprofundadas e por isso tive a sensação de pular de galho em galho. Em um momento o foco é o Dr.Symes (que acompanha Midge no banco do carona por um trajeto), no outro a mãe deste e a mulher com quem ela divide a casa, em um outro Jack Wilkie (um agente de fiança que também está atrás de Dupree) e assim por diante.

É compreensível que se a história é uma jornada na qual o personagem não sabe ao certo para onde está indo, o que encontrará lá e quem encontrará no percurso, tampouco o sabe o leitor e essa incerteza não me incomoda. Na verdade, acho que é até parte do atrativo. Mas para uma história como essa funcionar é preciso que essas pequenas histórias que vão preenchendo o caminho soem como mais do que apenas histórias passageiras na vida do protagonista e não foi o que aconteceu. Passadas as páginas iniciais, comecei a patinar. Lia, lia, mas não conseguia mergulhar na história até que chegou um ponto em que mesmo a voz de Midge já não conseguia me prender.

Ironicamente, nas páginas finais, o personagem usa a seguinte frase: “Mas eu já estava começando a esmorecer e já não conseguia acompanhar os detalhes.” Exatamente o que aconteceu comigo, meu caro, Midge. Exatamente isso. Eu queria ter gostado da sua jornada e acreditei que gostaria. Eu queria prestar atenção no seu relato, mas cansei e a partir de um certo ponto já não me importava mais. Ainda assim, pretendo ler outros livros de Charles Portis.

Título: O Cão do Sul (exemplar cedido pela editora)
Autor: Charles Portis
N° de páginas: 259
Editora: Alfaguara

17 comentários:

Luis Carlos disse...

Nunca vi uma capa tão horrível hahahahha Parece que foi feita no Paint hauhuahusa Além de eu não ter gostado da capa, a história pouco me interessou. Vi que esse livro não é nada espetacular, é só mais um livro. Eu não sei, mas o livro aparenta ser cansativo. Enfim, não irei lê-lo, pois ele não me agradou!

Inês Gabriela A. disse...

Olá,
É triste quando nos perdemos em um livro, quando não nos importamos mais e simplesmente terminamos a história por terminar. O livro nunca havia chamado minha atenção e creio que não gostaria da obra.
Beijos.
Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com

Unknown disse...

É extremamente ruim se decepcionar no primeiro livro que lemos de um novo autor. No começo, para mim, tudo parecia uma história incrível, uma pessoa comum que foi abandonado pela esposa e por seus pertences. É uma pena que tudo tenha acabado confuso.

Guilherme disse...

Olá,
Que pena o livro não ter te prendido de uma forma legal, isso é tão chato. Não conhecia o livro e acho que agora não leria.
Abraço!
Leitura Fora De Série

Caverna Literária disse...

Que chato que a leitura não foi como você esperava, é frustrante quando isso acontece :( já pela capa acho que eu não leria, é bem sem pé nem cabeça kk

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/
Tem resenha nova no blog de "Uma curva no tempo", vem conferir!

Gabriela CZ disse...

Já tinha visto esse livro mas assim como aconteceu com você nada nele me soou atrativo, Mari. Só não sabia que é do mesmo autor de Bravura Indômita, que é mesmo bem aclamado. Porém, seus comentários me deixam bastante dividida. O que me atrai e o que me afasta parecem ter o mesmo peso. Talvez seja melhor conferir outras obras antes. Ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Jéssica Soares disse...

Oi, Mari! Tudo bem? Eu estava bem curiosa para ver o filme "Bravura Indômita", mas quando descobri que ele era baseado em um livro decidi esperar para conferir a leitura primeiro. Ainda não li nada do Charles Portis e confesso que não curti tanto assim a premissa de "O cão do sul". Gosto mais quando o protagonista tem uma importância maior, esse desenvolvimento do livro não é o que eu mais curto e imagino que a leitura não será bacana para mim também. E tem essa capa... Não julgo muito o livro pela capa, mas com essa daí eu passaria longe em uma livraria. Bjs
Jéssica - http://lereincrivel.blogspot.com.br/

Ariane Gisele Reis disse...

Oie Mari =)

Já ouvi falar de "Bravura Indômita", mas não sabia quem era o autor. Pelo visto a boa premissa do livro, acabou se apresentando uma leitura um pouco cansativa para você.
É muito frustrante quando isso acontece, e infelizmente as vezes acontece.
Confesso que não é um livro que me chamaria a atenção, mas espero que você tenha mais sorte com os livros do autor da próxima vez ^^

Beijos;***

Ane Reis.
mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
@mydearlibrary

Unknown disse...

Oi!
O livro parece legal mas a historia não me conquistou acho que não consegui me interessar muito pela a jornada do Midge e também não gostei da capa do livro, por isso vou passar esse!!

Anônimo disse...

De primeira, fiquei tentando relacionar o título com a capa do livro.
Fiquei meio perdida na resenha! Oi? Tive que reler para me encontrar. Acho que não seria uma boa conhecer o autor por essa obra. Foi uma pena que sua experiência não tenha sido muito boa. Se eu tiver oportunidade de lê-lo, espero entender melhor o objetivo do autor.

Bjs

RUDYNALVA disse...

Mari!
Pelo seu relato e análise achei o livro um tanto entediante, embora o protagonista tente resolver o problema das personagens secundárias, ainda assim, como falou, são rápidas e não dá para se envolver muito.
Não gostaria de ler não no momento, quem sabe mais para frente?
Desejo uma ótima semana, cheia de luz e paz!
“A alegria evita mil males e prolonga a vida.”(William Shakespeare)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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Mariele Antonello disse...

Bom, inicialmente não curti nem um pouco a capa, e a história também não me chamou nada a atenção.
Sua resenha está muito boa, mas eu não leria esse livro, acho que seria um livro que eu poderia abandonar por a história não me cativar.

Sil disse...

Olá, Mari.
Eu não conhecia esse livro e não me interessei. Apesar de ser um livro bem diferente da maioria que leio, não achei a história suficientemente interessante para me prender. Eu li um livro esses dias que também era assim, a personagem principal servia de gancho para o autor contar as histórias dos personagens secundários.

Blog Prefácio

Ana I. J. Mercury disse...

Não gostei, acho meio sem graça kkkk provavelmente não lerei, mas a capa é muito bela e a história é bem diferente do que estou acostumada.
bjos

Patrini Viero disse...

Não tinha ouvido falar do livro ou do autor, e confesso que a trama não me pareceu especialmente chamativa. Acredito que o ponto alto do livro seja a informalidade do narrador, e o modo magistral com que o autor conduz a história. Apesar de não possuir muitos elementos atraentes a meu ver, a trama tem uma originalidade que me deixa bastante curiosa!

Unknown disse...

oie
Pelo menos o livro começou bem,e não sei se conseguiria finalizar essa leitura já que me disperso rapidamente e se a leitura for meio parada eu perco o foco.Eu não gostei muito do enredo e ele não me chamou atenção.Mas vou procurar outros livros do autor.

Rebecca disse...

Oi Mari!
Nossa fui lendo a resenha e já tava toda empolgada achando que você tinha amado o livro, ai leio sua opinião... Que pena... O livro tinha tudo para ser muito bom, mas acho que nem vou ler mais.
Não conhecia o autor, mas espero que ele tenha outras obras que consiga o meu interesse.
Beijos!!
umlugarparaleresonhar.blogspot.com

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