“Não queria saber se me amavam, nem reconhecer, no íntimo, que não me amavam; andava distante do pai, porém não conseguia distanciar-me de Zinaída. Era como se um fogo me abrasasse em sua presença...mas para que necessitaria saber que fogo seria aquele que me queimava e derretia, se era tão doce ser queimado e derretido?” (TURGUÊNEV, p.103 , 2015)
Eu nunca havia me dado conta, mas contos são uma excelente maneira de se familiarizar com a literatura de um país. Não apenas porque, de modo geral, quase todos os grandes autores arriscaram algumas histórias curtas, mas também porque essas breves leituras permitem fazer um rápido apanhado do que o país produziu em sua literatura, passando por várias épocas e gêneros literários. Por isso achei tão válida a proposta da editora Martin Claret em lançar “Contos Russos”, uma coletânea dividida em dois tomos que apresenta uma seleção de contos clássicos escritos por alguns dos seus maiores autores.
Neste segundo tomo, dois contos são apresentados.
Em “O Primeiro Amor”, de Ivan Turguênev, acompanhamos o relato de Vladímir Petróvitch que, aos quarenta anos, é desafiado por um grupo de amigos a contar a história de sua primeira paixão, vivida na adolescência.
Neste conto, a maneira como Vladímir se sente em relação à Zinaída se revela muito mais importante do que o que aconteceu entre eles. Apesar de seus intensos sentimentos e de vê-la, de certa forma, como alguém inalcançável (o que lembra muito características do romantismo, embora o conto pertença ao realismo), Vladímir não é cego para os defeitos de sua amada, salientando várias vezes o seu egoísmo e a maneira como brincava com os sentimentos alheios.
Embora só saibamos ao final qual foi o destino do romance, é possível perceber pelo tom do relato que a história não foi totalmente satisfatória para o jovem Vladímir, mas a maneira e a pureza com que ele fala sobre o tal sentimento transmite tamanha verdade que o que aconteceu perde a importância diante da maneira como ele se sentia.
“Alias, não havia mais para ela nem luz nem treva, nem mal nem bem, nem tristeza nem alegria: ela não entendia coisa alguma, não amava a ninguém, inclusive a si mesma.” (LESKOV, p. 181, 2015)
Em “Lady Macbeth do distrito de Mtsensk”, de Nokolai Leskov, conhecemos Katerina Liámin, a entediada esposa de um comerciante que, ao se envolver com um funcionário, passa a não medir esforços para se livrar das barreiras que dificultam o seu romance.
Katerina Liámin é uma personagem surpreendente. Uma mulher que vive exatamente da maneira como se espera dela, mas que está adormecida, esperando que sua vida comece de verdade. É por isso que, assim que tem uma chance, ela deixa que sua verdadeira personalidade venha à tona. É como se, durante o tempo todo, tudo que ela precisasse fosse de um empurãozinho.
A partir do momento em que percebemos do que Katerina é capaz, os eventos deixam de ser surpreendentes, mas se desenrolam de maneira rápida, mantendo o leitor interessado do início ao fim (tanto que li o conto todo de uma única sentada).
Mesmo se tratando de textos clássicos, ambos apresentam narrativas fluidas e ambos são intensos (um pelo amor de Vladimir, o outro pela maldade e falta de escrúpulos de Katerina). Particularmente gostei mais de “Lady Macbeth do distrito de Mtsensk”, tanto pela velocidade dos acontecimentos quanto pela personagem-título (gosto muito de histórias em que a vilã é a própria protagonista, em especial quando se trata de uma personagem feminina).
Até hoje, foram poucos os meus contatos com a literatura russa. Uma falha da qual os dois contos desse livro me lembraram e que pretendo corrigir aos poucos. Fica aqui a minha torcida para que a editora estenda este projeto a demais países.
Autores: Ivan Turguênev e Nokolai Leskov
N° de páginas: 201
Editora: Martin Claret
24 comentários:
Que bacana, acho que contos são uma forma bacana de se "inserir" neste novo tipo de literatura, eu, por exemplo, tenho contato zero com a literatura russa!
Beijinhos,
Alice
www.wonderbooksdaalice.com
Olá Mari;
Não conhecia este livro, mas a premissa me agrada muito.
Eu tenho uma quedinha por contos, mas contos bons sabe?!mas todos os
que li no gênero são nacionais e acompanho alguns blogueiros que se dedicam a este tipo de literatura.
Beijos.
http://cabinedeleitura1.blogspot.com.br/
Oi, Mari!
Eu nunca nada muito diferente do que estamos acostumados. É sempre bom sair da zona de conforto.
Gostei da sua resenha. Ela me deixou curiosa sobre os contos.
Beijos
Balaio de Babados
Participe do sorteio Mês das Mulheres em Dobro
Porcelana - Financiamento Coletivo
Olá, Mari.
Gosto de contos exatamente por causa da característica de permitir conhecer com agilidade diversos autores e diversas nuances da produção literárias de um país. Para quem gosta de diversificar suas leituras, isso ajuda demais.
Quanto aos enredos, propriamente ditos, eu gostei mais do primeiro. Chamou-me a atenção essa ideia de escrever sobre o primeiro amor, que sempre é um sentimento tão intenso.
Bom saber que, apesar de clássicos, são textos bem fluídos.
Ótima resenha.
Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de reinauguração. Serão quatro vencedores!
Eu não curto muito os contos. Mas mesmo assim, me interessei pelo livro, pois é uma forma única de conhecer um pouco a cultura de um país tão diferente, que é a Rússia. Creio que é uma obra que aumenta (e muito) o conhecimento de mundo.
Só agora percebi que nunca li nenhum livro da literatura russa (ou que me venha na memória no momento). Gostei muito desse livro, sendo o primeiro conto o que mais me interessou, aparenta ser cheio de verdade e sentimento (não que o outro não seja). Grata surpresa ver essa resenha, despertou minha vontade de lê-lo.
Visite: Cantina do Livro
Nunca tinha pensado muito nesse fato dos contos serem uma boa forma de se familiarizar com a literatura de um país, Mari. E é verdade. Não conhecia essa coleção, mas o conceito e seus comentários me deixaram bem interessada. Vou dar uma olhada. Ótima resenha.
Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Oi, Mari! Tudo bem? Já falei aqui não sei nem quantas vezes que amo contos, né? E amo também conhecer a literatura de outros países. Adorei a ideia da editora e fiquei muito interessado em ler essa obra. A resenha ficou ótima! :)
Abraço
Tem promoção rolando lá no blog -> http://tonylucasblog.blogspot.com.br/2016/03/promocao-aniversario-de-5-anos-do-tony.html
Otima resenha,
sempre gostei de contos, mas nao conhecia esse
Amei
http://bookmoda123.blogspot.com.br/2016/03/resenha-selecao-kiera-cass.html?m=1
Oi, Mari!
Eu nunca li nada de origem russa, por assim dizer. Não conhecia esse projeto de contos da editora, mas achei interessante. Adoro as tais histórias curtas e este livro muito me atraiu em especial.
Adoro protagonistas vilãs também. Hehe
Adorei a resenha!
Abraço!
"Palavras ao Vento..."
www.leandro-de-lira.blogspot.com
Oie...
Acho muito interessante se aventurar fora da zona de conforto, mas, de vez em quando bate um medinho, né?
Mas, gostei bastante do livro e pretendo ler um dia.
Bjão
http://coisasdediane.blogspot.com.br/
Olá, Mari.
Teve uma época da minha vida literária que eu fui fascinada por contos. Tinha uma seção na biblioteca aqui da minha cidade só de livros assim, e eu devorei todos eles. Franceses, ingleses, russos, tudo o que tinha lá hehe. E concordo com você. Dá para conhecer muto sobre a cultura de um país lendo eles. Esse me interessou bastante e assim que der eu vou ler.
Blog Prefácio
Nunca pensei por esse lado, mas é super verdade. Acho que de outros países só li um da Itália, e senti certa dificuldade em me familiarizar com a escrita da autora. Não sou muito fã de contos, mas a proposta é boa, com certeza me arriscaria pra conhecer um pouquinho mais de lá!
xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/
Tem resenha nova no blog de "A Queda dos Anjos", vem conferir!
Desde que li aquele post sobre contos aqui no blog, eu estou tentando ler cada vez mais. Eu ainda não conhecia esse livro, mas gostei muito da resenha e pretendo ler. Também gostei da iniciativa da editora por trazer essa seleção de contos.
Adorei a dica, beijo!
Realmente nunca tinha pensado dessa forma, como através de contos, e crônicas também, conhecemos mais de um país, uma cultura, a escrita do autor de tantas formas e maneiras, como sua criatividade é posta a prova.
Achei um livro interessante e estou com vontade de ler, não é bem o meu tipo, mas acho que irei curtir.
bjoos
Ana,
elvisgatao.blogspot.com
Oi!
Com certeza os contos nos apresenta um ótimo jeito de se conhecer os escritos de algum pais e achei o livro Contos Russos bem interessante são historias que parecem legal e uma ótima oportunidade de conhecer a literatura da russa !!
Nunca fui muito de ler contos, não gosto muito :/
Nunca fui muito de ler contos, não gosto muito :/
Eu AMO contos, mas infelizmente ainda não li este.
Amei a resenha.
E o trabalho da Martin Claret é de primeira. Dois motivos para eu ter este livro comigo.
Bjks
Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/
Oi Mari,
Confesso que a premissa não me chamou tanto a atenção. :/
No momento eu não leria, mas não descarto o livro.
Adoro as traduções da Martin claret ♥
Bjs e uma ótima noite!
Diário dos Livros
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Eu sou apaixonada por contos. De fato, é uma boa forma de conhecer uma cultura.
É uma pena que eu ainda conheça muitas pessoas que pensam que contos são histórias mais fracas. Não são nesmo!!!!
>> Vida Complicada <<
Oie Mari =)
Acredita que nunca li nada de algum autor russo? Tenho bastante curiosidade e apesar de não ser muito fã de contos, acho que esse é um bom livro para começar não é?
Beijos;***
Ane Reis.
mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
@mydearlibrary
Olá, Mari.
Eu nunca tinha pensado nisso, mas você tem mesmo razão: contos são uma ótima maneira de se familiarizar com a literatura de um país.
Tenho muita vontade de ler "O primeiro amor", se não me engano, a Penguin-Companhia tem uma edição.
Também estou em débito com a literatura russa, que eu conheço tão pouco.
Abraços.
Minhas Impressões
Oi, Mari!
Adorei a ideia de “Lady Macbeth do distrito de Mtsensk”! Achei muito interessante e vou dar uma pesquisada para ver acho online.
Concordo que temos que conhecer obras de outros lugares para que a gente não fique preso em uma determinada cultura como acontece muitas vezes.
Foi uma ótima dica! Obrigada! :)
Bjs
livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br
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