“Provavelmente eu estou esquecendo alguém, mas, se estiver, com certeza há uma razão para isso. Algumas pessoas parecem fantasmas, não se consegue captá-las, ou então, quando se consegue, elas não passam de um borrão.” (LODATO, p.21, 2012)
Foi passeando pelo vasto catálogo da Editora Intrínseca que me deparei com “Mathilda Savitch”, livro sobre o qual, até então, eu não tinha conhecimento. A capa e o título pouco me disseram. A sinopse me atraiu. Mas foi a abertura que me fez ter certeza de que leria aquele livro: “Quero ser horrível. Quero fazer coisas horríveis, por que não?” Depois desse momento, eu simplesmente precisava conhecer a personagem que ousava fazer tal afirmação e devo dizer que não me arrependi.
Mathilda Savitch está passando por um péssimo momento. Há um ano, Helene, sua irmã mais velha de apenas 16 anos, morreu nos trilhos de um trem. Desde então, sua mãe é um zumbi que tenta esconder que bebe cada dia mais e prefere se isolar de qualquer coisa que a lembre da filha falecida. Seu pai tem tentado voltar à vida normal, mas é difícil em vista a um casamento que está degringolando dia após dia. Com o primeiro aniversário da morte de Helene se aproximando, Mathilda faz planos para não deixar a data ser ignorada e, agora que suas tentativas de desvendar a senha do email da irmã finalmente deram certo, tentará descobrir quem foi o homem que a empurrou para a morte.
O livro é narrado em primeira pessoa e nem poderia ser diferente, já que a narrativa de Mathilda não parece estar ali para contar uma história e sim para ser a história. O que vemos ao longo das trezentas páginas de “Mathilda Savitch” é um período na vida desta menina. Não há uma história fechada. Não é sobre a morte de Helene e sobre as respostas que Mathilda procura. Não é sobre o relacionamento dela com os pais ou sobre o atual momento da família. Não é sobre as amizades que ela mantém nem sobre os meninos pelos quais ela se interessa. É sobre um pouco de tudo e sobre nada em específico. Ainda assim, o autor se preocupa em dar um desfecho para cada um dos pequenos arcos que insere na trama.
Apesar de parecer banal, o livro funciona porque Mathilda é uma narradora cativante, tanto por sua voz narrativa como por suas observações perspicazes. Essa é uma menina de poucos amigos, confusa em muitas coisas, que está vendo sua família se deteriorar e que sente falta da irmã que era tudo que ela jamais sonhou em ser (linda, popular e inteligente). Ela não fala sobre as coisas que sente e vê com os outros, mas fala com o leitor. Por isso, seu relato é íntimo, com uma intensidade típica da adolescência, e soa muito verdadeiro. Não chega a ser emocionante para o leitor, mas é emotivo para a personagem.
Por se tratar de uma narrativa em primeira pessoa, só nos é permitido conhecer a visão de Mathilda a partir dos relacionamentos que ela mesma mantem, mas fica a curiosidade de conhecer melhor os outros personagens, em especial Helene, a dinâmica dessa família antes da tragédia e até mesmo a própria Mathilda, afinal, o quanto a morte da irmã ajudou a moldá-la, justamente nesta fase em que tudo contribui para moldar a pessoa que nos tornaremos quando adultos?
Romance de estreia do dramaturgo e poeta Victor Lodato, “Mathilda Savitch” foi uma leitura leve e fluida, divertida em alguns momentos, reflexiva em outros, e me deixou curiosa para saber o que o autor criará no futuro.
Autor: Victor Lodato
Nº de páginas: 310
Editora: Intrínseca
14 comentários:
Lembrei de ''Cartas de amor aos mortos'' no começo da resenha, pois ambas perderam a irmã e agora a mãe perdeu o controle, acho que a escolha de ser narrado em 1° pessoa foi o fundamental, gosto de ver tudo pelo ponto de vista do personagem, ainda mais quando ele se comunica, a leitura fica bem mais convincente, fiquei interessada pela obra, mesmo não conhecendo antes
Oi, Mari!
Eu achei interessante essa do autor escrever sobre tudo e nada específico... Confesso que gostaria que ele explanasse mais sobre a morte de Helene e as respostas que Mathilda procura.
Beijos
Balaio de Babados
Oi Mari.
Esse me pareceu ser um livro muito profundo, gostei da intensidade que você destacou, ser adolescente é difícil com certeza.
Certamente que a personagem deve esta passando por um momento tão difícil, perder sua irmã não é fácil não, eu sei como dói, com um tempo alivia mais a dor ainda está lá.
E ver seus pais nessa situação deve ser dificil para qualquer um lidar, vou ler esse livro com certeza.
Bom Dia.
Oi Mari, que resenha maravilhosa ! Desde o início, com frases do livro, você conseguiu com que eu ficasse curiosa quanto ao livro. Achei a personagem tipica dos livros, não inteligente, não bonita e não popular, mas fiquei me perguntando se isso aconteceu apos a morte da irmã, ou é o seu jeito mesmo. Afinal, mortes mudam as pessoas.
Bom dia !
Vi esse livro uma vez acho que em uma promoção da Submarino há muito tempo, Mari. Mas como não sabia nada sobre o livro acabei não dando atenção. Que besteira a minha! Seus comentários e também a menção da frase que te chamou atenção para o livro me deixaram bem curiosa. Agora quero ler. Ótima resenha.
Beijos!
Oi, Mari! Eu comprei esse livro bem baratinho na Bienal de 2013 aqui no Rio. Comprei no escuro e não me arrependi! Apesar de ter achado que algumas coisas mereciam um aprofundamento maior, eu gostei bastante. Mathilda é uma menina perdida, confusa, assustada. Acima de tudo,
é uma menina sofrendo. E o autor soube usar muito bem a voz da personagem para transmitir tudo isso ao leitor.
Beijos, Entre Aspas
Olá, Mari.
Eu conhecia o livro pela capa, mas nunca dei nada por ele. Então, ao ler a sua resenha, percebi o quanto fui bobo. Deveria ter comprado esse livro quando o vi!
Gosto desses livros que não possuem uma história propriamente dita, mas apenas buscam mostrar uma dor, um momento, uma passagem. Parece que vou encontrar exatamente isso ao entrar na mente de Mathilda.
Sem dúvidas, ótima dica.
Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de abril. Serão três vencedores!
Olá, Mari!
A Mathilda me parece interessante, mas ultimamente tenho estado em uma vibe de luta e ação! Rsrsrs
Engraçado como às vezes você simplesmente deseja ler um romance leve ou algo mais pesado, né?
Gostei da dica até porque não conhecia esse livro da Intrínseca ainda. Vou anotar para o futuro.
Bjs
livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br
Olá Mari!
Nunca tinha lido nada a respeito desse livro, adoro livros onde o personagem parece falar diretamente com o leitor. Acho que dá um dinamismo a mais e realmente cativa. Fiquei curiosa pra conhecer a Mathilda.
Beijos
www.lendoeapreciando.com
eu não conhecia nem o livro nem o autor,
achei interessante q o livro parece ser sobre tudo e ao mesmo tempo sobre nada (tipo não tem história definida, mas conta a vida de uma pessoa)
nesse tipo de livro só funciona se a personagem tiver uma narrativa envolvente,
vou procurar mais informações obrigada pela dica
Oie...
Lembro que quando a intrínseca lançou esse livro eu não dei muita bola pra ele, só lendo a sua resenha agora é que me fez querer ler, pois, achei o personagem de Mathilda muito interessante e acho que com certeza irá me render uma ótima leitura.
Beijos
http://coisasdediane.blogspot.com.br/
Não conhecia esse livro, mas fiquei super curiosa par saber mais! Parece ser muito bom e interessante.
Oi, Mari!
A capa não tinha me chamado atenção, mas sua resenha sim.
Adoro quando a narrativa é bem pessoal, nos mostrando tanto do personagem que sabemos mais dele do que os outros que estão presentes no livro. Me sinto confidente! Hahaha.
E fiquei curiosa sobre a questão do e-mail da Helene.
Bom saber que o autor se preocupou em dar desfecho para as tramas, por menores que sejam.
Vou querer ler esse, Mari.
Dica mais do que anotada.
:D
Beijoooos
www.casosacasoselivros.com
Oi Mari,
Já tinha visto esse livro nas dos promoções do Submarino da vida, mas não sabia sobre o que era, é a primeira resenha dele que leio. Acho que num momento de leitura mais tranquila, pé no chão, essa pode ser uma boa dica. =)
Bjs, @dnisin
www.sejacult.com.br
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