sexta-feira, 22 de julho de 2016

RESENHA: O Bom Soldado

“Tenho consciência de que contei essa história de um jeito muito desconexo, de forma que pode ser difícil para qualquer um encontrar seu rumo em meio ao que pode ser uma espécie de labirinto. Não pude evitar.” (FORD, 2009, p. 176). 

***

John e Florence Dowel são americanos ricos e bem de vida, que viajam pela Europa, morando em locais mais propícios à frágil saúde de Florence. É em uma dessas viagens que eles conhecem Edward e Leonora Ashburnham, um casal inglês do qual logo se tornam amigos. Entretanto, o casamento dos Ashburnham não é tão perfeito quanto parece e em pouco tempo os Dowel se verão em uma rede de segredos, intrigas e traições. 

O Bom Soldado é narrado em primeira pessoa por John Dowel e fica claro desde o início que a intenção do autor era transparecer no texto um personagem abalado, que descrevesse os eventos ocorridos conforme estes lhe vinham a mente. E este é o grande problema da obra: a narrativa é extremamente confusa, pois John não segue uma ordem linear, não se vislumbrando nem mesmo uma sequência lógica dos fatos. O narrador-personagem se perde em digressões, muitas vezes se atendo a acontecimentos de pouca importância para a evolução da trama. O quote que abre esta resenha demonstra que o próprio autor faz um "mea culpa", reconhecendo que a narrativa estava confusa e justificando sua opção. 

O texto de Ford Madox Ford tampouco me agradou, especialmente em virtude do excesso descritivo. E além de ser muito detalhista, o autor não observou uma das regras que considero mais importantes na literatura: “show, don’t tell” (mostre, não conte). Do início ao fim de O Bom Soldado, vemos apenas quais eram as impressões de John sobre os demais personagens, como tais impressões se desfizeram e os fatos que levaram a essa desconstrução. O problema é que não temos um contato direto com os personagens, não os vemos agir e reagir. Vemos apenas John falando sobre eles, o que não apenas imprimiu um ritmo vagaroso, mas também manteve os personagens distantes do leitor. 

Os personagens foram desenvolvidos de forma superficial, não conseguindo cativar o leitor, tampouco convencê-lo, o que reputo ser uma consequência da narrativa em primeira pessoa. Edward, o militar que dá título ao livro, é descrito como um homem que é vítima de seus incontroláveis desejos carnais; Leonora, sua esposa, sabe de todos os defeitos do marido, mas prefere manter as aparências; Florence, esposa do narrador, usa da doença que lhe aflige para manipular a todos; enquanto o próprio John é um sujeito passivo, que não tem capacidade de ver o que está a sua frente.  

A estória também não empolga. Apesar do subtítulo do livro ser “Uma História de Paixão”, admito que este elemento me pareceu ausente da obra. Não há intensidade, não há emoção, não há romance. Os sucessivos adultérios de Edward não são explorados em sua essência, mas sim por suas consequências, tanto na vida de Leonora, quanto na vida de Florence e John. Além disso, O Bom Soldado conta com uma trama simples e sem reviravoltas, de modo que faltou tempero, um “algo a mais” que quebrasse a monotonia.  

A soma de uma narrativa caótica, de personagens estereotipados e de uma trama simplória resultou em uma equação de difícil digestão. Não desenvolvi uma conexão com os personagens, seus dramas e conflitos, e como consequência cheguei ao ponto de não mais me importar com o que estava acontecendo e qual seria o deslinde da obra. 

Ford Madox Ford foi extremamente elogiado por O Bom Soldado, sendo o livro considerado um marco da literatura inglesa. Com tantos elogios, fica claro que fui eu quem não encontrou "o rumo para a saída do labirinto", para usar a mesma metáfora proposta pelo autor. E por esse motivo não descarto a possibilidade de reler o livro futuramente.  

Título: O Bom Soldado (exemplar cedido pela editora)
Autor: Ford Madox Ford
N. de páginas: 239
Editora: Alfaguara

18 comentários:

Nessa disse...

Oie
O enredo do livro parece interessante, pena que pra vc não funcionou a leitura. Ainda sim fiquei curiosa pela trama.

Beijos
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

Thay Freitas disse...

Oláá!!
Uma pena não ter te agradado, odeio quando isso acontece!
Também não gosto de livros que não tem emoção.
Boa sorte com os próximos ;)

Beijinhos :*
Thay - Sankas Books

Gabriela CZ disse...

A premissa até que é boa, Alê. Se fosse apenas pela sinopse acho que "levava", mas teus comentários me mostraram pontos bem pertinentes. Digo, você criticou exatamente aspectos que costumam me incomodar também. Então acho que não leria, embora possa mudar de ideia. Enfim, ótima resenha.

Beijos!

Rackel disse...

Poxa é muito ruim quando nos frustramos com a leitura. Mas a resenha ficou ótima, você foi muito sincero. Bjos!

BLOG LITERÁRIO 2

Michele Lima disse...

Oi Alê! Que pena que não te agradou, mas se os personagens são fracos fica difícil, mas quem sabe no futuro numa releitura seu modo de ver as coisas não muda, né? Isso já aconteceu comigo rsrsrsrss

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante

Cristiane Dornelas disse...

Hum....assim dá até dó. É chato quando o livro não agrada por narrativa confusa, personagem sem graça e história sem pé nem cabeça. Dá aquela sensação de perda de tempo e isso é uma droga. Gostei da ideia dele, a sinopse deu vontade de ler. Mas a resenha desanimou até o último fio de cabelo. Talvez seja mesmo uma leitura que depende do leitor, não é pra qualquer um...
Ou talvez valha a pena ler em outro momento e dar uma chance pra ele de novo em alguma outra hora...

Carla disse...

Oi, Alê! Eu já acho difícil conseguir gostar de um livro quando os personagens não cativam, se a narrativa é confusa as coisas só pioram. Também fico achando que o problema é comigo quando não consigo apreciar uma obra que é muito elogiada, mas às vezes aquele livro não é para a gente, ou ao menos não naquele momento. E só.

Beijos, Entre Aspas

Carolina Garcia disse...

Oi, Alê!!

Acho sempre uma pena quando não conseguimos nos identificar com os personagens. Acredito que a empatia do leitor é um dos principais motivos de sucesso de livros. Claro que há exceções, mas sempre imaginei isso.

Se você tiver a oportunidade de ler o livro novamente daqui alguns anos, talvez perceba coisas que não percebeu antes. Acontece mesmo, mas nem sempre.
Às vezes o livro não rolou para você. Acontece também.

Não acho que a gente deve se obrigar a gostar de um título que todo mundo gosta só porque é bem recomendado. Gosto é gosto, né?
Eu, por exemplo, AMO Jane Austen, mas não gostei de quase nada de Emma. Demorei séculos para terminar esse livro. Hahahaha
Acontece, né? Quem sabe quando for mais velha ache mais graça da história...

Bjs!!

http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Alê!
Enquanto lia sua resenha, tinha a impressão que o livro era relativamente grande e me espantei quando vi sua quantidade de páginas.
Eu também não curto muito narrações muito descritiva. Parece que o autor que encher linguiça na história.
Beijos
Balaio de Babados

Sil disse...

Olá, Alê.
Talvez não tenha sido um bom momento para você ter lido esse livro hehe. Quem sabe mesmo futuramente. Eu até achei o enredo interessante, mas depois de tantos pontos negativos levantados por você, acho que vou passar essa leitura.

Blog Prefácio

Alessandra Salvia disse...

Oi Ale,
A premissa até que me chama a atenção, mas fiquei meio desanimada após esses pontos negativos. Vou deixar a leitura mais para frente, priorizar outras.
Beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

Caverna Literária disse...

Que pena que o livro tenha tantos pontos negativos, o autor parecia ter uma história de potencial em mãos, e acabou se perdendo :(

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Apesar dos pontos negativos eu achei a premissa bacana, eu gosto de história que se passa pelo ponto de vista de outra pessoa.

Maria Fernanda Pinheiro disse...

Gostei do enredo mas não espero ler a obra, simplesmente porque pude perceber que é bem confusa e o autor não consegue interligar todas suas idéias, e a própria sinopse do livro deixa isso bem nítido, alem de que gosto de obras que consiga me envolver com os personagens, e o autor não soube fazer isso, e trouxe situações desnecessárias

Sofia Noronha disse...

Odeio livros que não lineares. O único que li na vida, me senti extremamente frustrada com a narrativa e por pouco não abandonei a leitura. Tampouco personagens superficiais me agradam, quando pego algo para ler, espero me envolver com os protagonistas e mergulhar na história.
Não gostei do enredo, nem da capa e muito menos dos pontos que você ressaltou, o que torna meu interesse pela obra praticamente zero. Rs

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Olá, Alê.
A premissa da obra não me chamou a atenção, então já fiquei tencionado a não ler. Sua resenha confirmou o meu não interesse. Esse desenvolvimento fraco, os estereótipos e os demais personagens conhecidos apenas pela visão do protagonista não me agradam. Então, dessa vez, descarto a chance de leitura.

Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de julho. Serão quatro livros e dois vencedores!

Unknown disse...

Oi :)
A estória do livro parece ser interessante. Costumo gostar bastante de livros descritivos e narrados em primeira pessoa, uma pena que os personagens foram tão poucos desenvolvidos e que a estória seja massante, daria um ótimo livro.

Ana I. J. Mercury disse...

Não curti a premissa, e como você não gostou, imagino que eu que não estou acostumada com o gênero também não gostarei.
A capa é bacana. Deu ar um diferente.
bjs

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