Conversa de Contracapa é coluna off topic do blog Além da
Contracapa. Sem limitação temática, iremos explorar todo e qualquer assunto
relacionado ao mundo da literatura.
Com a aproximação do Dia Internacional da Mulher, a Editora Intrínseca sugeriu que os blogs parceiros falassem um pouco sobre as principais escritoras do seu catálogo. Imediatamente aceitei o desafio de falar um pouquinho mais sobre algumas das autoras que me marcaram, percebendo, sem tanta surpresa, que todas se valem de personagens (principalmente femininas) com personalidades fortes, além de tramas intensas, e que todas figuraram nas minhas listas de melhores leituras ou de grandes expectativas dos últimos anos.
A começar por Jennifer Egan, vencedora do Pulitzer pela genial colcha de retalhos “A Visita Cruel do Tempo”. Li todos os livros da autora e posso dizer, sem pestanejar, que ela acerta sempre. Para mim, um destaque na obra de Egan é como a autora sabe explorar personagens que, sem serem carismáticos, conquistam o leitor porque seus dramas, questionamentos e angústias são fascinantes. “Olhe para mim” é um livro maravilhoso sobre identidade (sobre a perda e busca dela). Sua história nos apresenta uma modelo que, após sofrer um acidente de carro, tem seu rosto destruído e reparado por uma cirurgia plástica. Ela volta a ser linda, mas agora com um rosto completamente diferente do que tinha antes, de maneira que ela já não se reconhece mais porque muito de sua vida se baseava em sua aparência.
A obra de estreia de Egan, “Circo Invisível”, é uma jornada espetacular de autoconhecimento protagonizada por uma personagem que, às sombras da memória da irmã a quem idolatrava, esqueceu de viver a própria vida e não tem a menor ideia de quem é. Aqui, a habilidade da autora está em fazer o leitor conhecer a fundo uma personagem que não conhece a si mesma e em fazer o leitor se sentir tocado por sua jornada, mesmo que não ache a protagonista cativante. Em ambos os livros, Egan aborda a perfeição que se espera das mulheres. As exigências dos outros e delas mesmas.
Eu não poderia deixar de lado, Lionel Shriver autora do aclamado “Precisamos falar sobre o Kevin”, que elegi como a minha melhor leitura de 2016. A história de uma mãe que convive com as consequências do massacre provocado por seu filho no colégio e que resultou na morte de sete pessoas. A temática é forte e a personagem não busca, de maneira alguma, justificar o que o filho fez. Pelo contrário. Busca mostrar que todos os indícios de que ele poderia ser capaz de algo assim estavam ali desde a sua infância. Shriver molda uma história intensa, protagonizada por um personagem perturbador e uma mulher que tem a coragem de se mostrar falha e desconfortável naquele que todos esperavam que fosse o grande papel da sua vida: o de ser mãe. Um thriller fantástico que faz com que nos deparemos com um dos maiores clichês impostos pela sociedade às mulheres: a obrigação de desejarem ser mães, esquecendo que algumas não querem isso para si mesmas ou, simplesmente, não tem aptidão para a tarefa.
Outra autora que me marcou muito foi Elizabeth Haynes, provavelmente o nome menos conhecido da lista, o que atribuo ao fato de que os livros que se seguiram a sua obra de estreia não terem se equiparado àquela. Estou falando de “No Escuro”, um livro não tão badalado como merecia e um dos meus thrillers psicológicos favoritos. A história de uma mulher tão marcada por um relacionamento abusivo que praticamente se transformou em outra pessoa. A tortura pela qual essa mulher passa ao perceber certos comportamentos no seu “tão perfeito” namorado, a angústia que sente ao relatar suas percepções e medos para as amigas e ouvir todas dizerem que as atitudes dele são justificáveis e que a reação dela é um exagero, tornam a violência psicológica do livro muito pior do que a física e deixam o leitor hipnotizado mesmo que não não seja uma história de surpresas e reviravoltas. Hayes mostra aqui o inverso do que costumamos ver em relacionamentos abusivos: a mulher enxerga a que esta sendo submetida, mas as pessoas próximas a ela estão cegas pelo charme do namorado. Sem apoio, ela luta por si mesma, se revelando uma personagem forte, vivendo uma situação em que tudo a faz se sentir rebaixada, fraca e impotente.
E é claro que eu não poderia deixar de fora Gillian Flynn. A autora de um livro tão bom que até estragou a minha vida. Sempre gostei de thrillers e livros de suspense, mas desde a história de Nick e Amy tenho dificuldade de encontrar livros do gênero que me conquistem e surpreendam como “Garota Exemplar”. Que me deixem em estado praticamente catatônico ao final da leitura sem saber como voltar para a minha vida. A verdade é que nem mesmo os demais livros da autora causaram o mesmo impacto, embora todos sejam excelentes e suas mulheres sempre perturbadoras de alguma forma. Flynn destrói totalmente a tola ideia preconcebida de que toda mulher é doce e frágil, mostrando que mulheres podem ser cruéis e perversas (com os outros e com si mesmas, com os que pouco significam para elas e com os mais próximos) e que, quando o são, conseguem ser ainda mais intensas e ardilosas que os homens.
Todas as autoras citadas nesse post quebram clichês de alguma forma. Mas acima de tudo são excelentes na arte de criar, desenvolver e contar uma história. São autoras completas: têm bons personagens, narrativas envolventes e tramas cativantes. São autoras que conseguem desenvolver um laço com seus leitores: o da confiança de que qualquer coisa que venha delas vale a pena ser lida e que, mesmo quando não fazem o seu melhor (pois nem sempre é possível se superar a cada vez), ainda superam o melhor de muitos outros autores. Na verdade, a razão pela qual esperamos essa superação é porque elas estabeleceram para si mesmas os mais altos patamares com livros absolutamente inesquecíveis e porque, sobretudo, são únicas e não buscam soar como ninguém que veio antes delas. Que venham mais Egans e Shrivers e Hayes e Flynns não porque se assemelham a elas como tantas vezes tenta se propagar, mas porque são autoras surpreendentes. Autoras com uma voz literária única. Autoras irresistíveis.
A começar por Jennifer Egan, vencedora do Pulitzer pela genial colcha de retalhos “A Visita Cruel do Tempo”. Li todos os livros da autora e posso dizer, sem pestanejar, que ela acerta sempre. Para mim, um destaque na obra de Egan é como a autora sabe explorar personagens que, sem serem carismáticos, conquistam o leitor porque seus dramas, questionamentos e angústias são fascinantes. “Olhe para mim” é um livro maravilhoso sobre identidade (sobre a perda e busca dela). Sua história nos apresenta uma modelo que, após sofrer um acidente de carro, tem seu rosto destruído e reparado por uma cirurgia plástica. Ela volta a ser linda, mas agora com um rosto completamente diferente do que tinha antes, de maneira que ela já não se reconhece mais porque muito de sua vida se baseava em sua aparência.
A obra de estreia de Egan, “Circo Invisível”, é uma jornada espetacular de autoconhecimento protagonizada por uma personagem que, às sombras da memória da irmã a quem idolatrava, esqueceu de viver a própria vida e não tem a menor ideia de quem é. Aqui, a habilidade da autora está em fazer o leitor conhecer a fundo uma personagem que não conhece a si mesma e em fazer o leitor se sentir tocado por sua jornada, mesmo que não ache a protagonista cativante. Em ambos os livros, Egan aborda a perfeição que se espera das mulheres. As exigências dos outros e delas mesmas.
Eu não poderia deixar de lado, Lionel Shriver autora do aclamado “Precisamos falar sobre o Kevin”, que elegi como a minha melhor leitura de 2016. A história de uma mãe que convive com as consequências do massacre provocado por seu filho no colégio e que resultou na morte de sete pessoas. A temática é forte e a personagem não busca, de maneira alguma, justificar o que o filho fez. Pelo contrário. Busca mostrar que todos os indícios de que ele poderia ser capaz de algo assim estavam ali desde a sua infância. Shriver molda uma história intensa, protagonizada por um personagem perturbador e uma mulher que tem a coragem de se mostrar falha e desconfortável naquele que todos esperavam que fosse o grande papel da sua vida: o de ser mãe. Um thriller fantástico que faz com que nos deparemos com um dos maiores clichês impostos pela sociedade às mulheres: a obrigação de desejarem ser mães, esquecendo que algumas não querem isso para si mesmas ou, simplesmente, não tem aptidão para a tarefa.
Outra autora que me marcou muito foi Elizabeth Haynes, provavelmente o nome menos conhecido da lista, o que atribuo ao fato de que os livros que se seguiram a sua obra de estreia não terem se equiparado àquela. Estou falando de “No Escuro”, um livro não tão badalado como merecia e um dos meus thrillers psicológicos favoritos. A história de uma mulher tão marcada por um relacionamento abusivo que praticamente se transformou em outra pessoa. A tortura pela qual essa mulher passa ao perceber certos comportamentos no seu “tão perfeito” namorado, a angústia que sente ao relatar suas percepções e medos para as amigas e ouvir todas dizerem que as atitudes dele são justificáveis e que a reação dela é um exagero, tornam a violência psicológica do livro muito pior do que a física e deixam o leitor hipnotizado mesmo que não não seja uma história de surpresas e reviravoltas. Hayes mostra aqui o inverso do que costumamos ver em relacionamentos abusivos: a mulher enxerga a que esta sendo submetida, mas as pessoas próximas a ela estão cegas pelo charme do namorado. Sem apoio, ela luta por si mesma, se revelando uma personagem forte, vivendo uma situação em que tudo a faz se sentir rebaixada, fraca e impotente.
E é claro que eu não poderia deixar de fora Gillian Flynn. A autora de um livro tão bom que até estragou a minha vida. Sempre gostei de thrillers e livros de suspense, mas desde a história de Nick e Amy tenho dificuldade de encontrar livros do gênero que me conquistem e surpreendam como “Garota Exemplar”. Que me deixem em estado praticamente catatônico ao final da leitura sem saber como voltar para a minha vida. A verdade é que nem mesmo os demais livros da autora causaram o mesmo impacto, embora todos sejam excelentes e suas mulheres sempre perturbadoras de alguma forma. Flynn destrói totalmente a tola ideia preconcebida de que toda mulher é doce e frágil, mostrando que mulheres podem ser cruéis e perversas (com os outros e com si mesmas, com os que pouco significam para elas e com os mais próximos) e que, quando o são, conseguem ser ainda mais intensas e ardilosas que os homens.
Todas as autoras citadas nesse post quebram clichês de alguma forma. Mas acima de tudo são excelentes na arte de criar, desenvolver e contar uma história. São autoras completas: têm bons personagens, narrativas envolventes e tramas cativantes. São autoras que conseguem desenvolver um laço com seus leitores: o da confiança de que qualquer coisa que venha delas vale a pena ser lida e que, mesmo quando não fazem o seu melhor (pois nem sempre é possível se superar a cada vez), ainda superam o melhor de muitos outros autores. Na verdade, a razão pela qual esperamos essa superação é porque elas estabeleceram para si mesmas os mais altos patamares com livros absolutamente inesquecíveis e porque, sobretudo, são únicas e não buscam soar como ninguém que veio antes delas. Que venham mais Egans e Shrivers e Hayes e Flynns não porque se assemelham a elas como tantas vezes tenta se propagar, mas porque são autoras surpreendentes. Autoras com uma voz literária única. Autoras irresistíveis.
18 comentários:
Oi, Mari!
Estirada na BR que Lionel Shriver é mulher! Gente, eu jurava que era homem :O (Creio que a culpa é do nome dela, que é um tanto masculino)
As outras autoras, nunca conferi as obras, mas vejo bastante elogios.
Beijos
Balaio de Babados
Sorteio Literário de Carnaval
Resenha premiada Paixão e Crime
Sorteio Três Anos de Historiar
Grandes autoras e lutadoras admiro muito todas elas e seus trabalhos incríveis batalharam muito para ter nome e ser as melhores.
Até mais.
Que texto maravilhoso, Mari! Das autoras que você escolheu só conheço a Gillian Flynn e não tenho o que descordar. Das outras embora há muito queira conferir suas obras só consigo me perguntar porque ainda não o fiz depois de ler suas palavras. Preciso tratar de conhecê-las. Ótimo post, e feliz Dia das Mulheres atrasado.
Beijos!
Oi, Mari!
Vi muitos posts desse tipo ontem, mas esse gerou uma identificação maior em mim. Duas autoras que você citou também me marcaram demais! Eu li "Precisamos falar sobre o Kevin" quando ele saiu aqui no Brasil, ainda estava na primeira metade da faculdade de psicologia e me vi marcando várias passagens do livro (coisa que eu não faço!), assustada e ao mesmo tempo refletindo e me questionando sobre um monte de coisas. Já "Garota exemplar" colocou a Gillian na minha lista de autores preferidos. Concordo que os outros livros dela não se comparam a ele, mas ela constrói um suspense como poucos.
Beijos, Entre Aspas
Oi Mari. Conheço todas as autoras, mas só li Gillian e Elizabeth. Sério que os outros livros dela não são tão bons? É uma pena, pois No escuro é um dos meus livros favoritos.
Eu tenho 2 livros da Lionel, mas por algum motivo ainda não criei coragem de ler. A primeira autora citada eu sabia que "conhecia", mas não lembrava de onde. Vi Circo invisível para vender por um valor bem em conta, mas como não conhecia não quis me arriscar. Dica anotada!
Duas Leitoras - no Top Comentarista de Março você pode escolher entre 4 livros!
Mari!
Realmente suas escolher foram de arrasar.
São escritoras merecedoras de elogios e homenagens, principalmente porque propagam as mulheres em suas diversas formas.
Quero muito ler Precisamos falar sobre Kevin.
“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.” (Simone de Beauvoir)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
TOP Comentarista de MARÇO, livros + KIT DE PAPELARIA e 3 ganhadores, participem!
Oi Mari, que post fantástico eu só conheço a Gillian Flynn, mas já anotei todas as outras! Autoras que saem do clichês e abordam temas fortes me agradam bastante! Sensacional o post, parabéns!
Bjs, Mi
O que tem na nossa estante
Ahh, Mari! Que legal a ideia do post! Amo a Gillian Flynn 🌚❤
Das outras, a autora de Precisamos Falar Sobre o Kevin também tem um espacinho no meu coração, mesmo não tendo o livro, assisti o filme e adorei a história.
Abs!
Olá Mari, tudo bem?
Amo conhecer autoras novas por isso amei o post.
Dessa lista só conheço a Gillian Flynn, mas adoraria conhecer a escrita das outras.
Beijos!
http://excentricagarota.blogspot.com.br
Até hoje ainda não li No escuro mas tenho muita curiosidade por esse thriller. Garota exemplar, Objetos cortantes e outros da Gillian também estão na minha lista
Olá, tudo bem?
Das autoras citadas não tive oportunidade de lê nenhuma ainda, mas pretendo mudar isso, afinal, estou a um passo de comprar "Por Lugares Escuros" e "Precisamos falar sobre o Kevin".
Adorei a ideia da Intrínseca, muito bom essa homenagem as autoras.Excelente post e escolhas.
Até mais. https://realidadecaotica.blogspot.com.br/
Fiquei super feliz em saber que Gillian Flynne esta na lista porque Garota Exemplar sem duvidas esta na lista do meus favoritos da vida. Que suspense maravilhoso, meu deus, eu também não consegue encontrar outro livro com mesmo gênero que me conquistou tanto assim
Oi Mari, eu tenho muita curiosidade sobre o livro Precisamos Sobre Kevin. Participo de um clube de livros que escolheu o livro Garota exemplar mas não me sinto atraída por esse livro.
Adorei a seleção de autoras.
Beijos
[SORTEIO]Baile Literário
Quanto Mais Livros Melhor
Simplesmente amo o livro Precisamos falar sobre o Kevin, é um livro que recomendo para todos, sem exceção, a história é muito boa e acho que todos deveriam ler e também adoro os livros da Gillian Flynn, ela cria um suspense que é impossível de largar até terminar o livro.
Beijos!
Oi, Mari!!
Adorei a postagem não conhecia a escritora Jennifer Egan e Elizabeth Haynes. No momento estou lendo um livro da Gillian Flynn!!
Beijoss
Lionel Shriver é uma das autores que eu mais tenho interesse de conhecer, e toda vez que me deparo com "Precisamos falar sobre Kevin" eu acho que não é a hora de lê-lo. Eu comprei recentemente um outro livro da autora, e pretendo começar por ele.
Acho interessante ler sobre essas autoras que pouco conhecer, pois vejo que é um tendência atual termos temas tão relevantes e tratados de um forma crua, e o mais importante lido por muitos e muitos adolescentes.
quero muito conhecer o trabalho delas, para saber se realmente é bom!
Jônatas Amaral
alma-critica.blogspot.com.br
Oi!
Gostei muitos desse post, todas são autoras que conheço e já vi alguns livros delas, mas também são autoras que ainda não li nada dela, gostei muito como você mostrou que os livros delas acabam superando as expectativas e trazendo um algo a mais, o que me deixou muito curiosa para poder conhecer seus livros !!
Adorei o post, muito lindo!!!
Ooown quero ler todas as autoras, principalmente a Gillian Flynn e a Lionel Shriver.
Livros fortes, e que divide opiniões pelas resenhas que já li rsrs
bjss
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