terça-feira, 6 de junho de 2017

RESENHA: Deuses Americanos

— [...]. Pouco tempo depois, nosso povo nos abandonou, passou a nos tratar apenas como criaturas do Velho Mundo, como algo que não os havia acompanhado até sua nova vida. Nossos verdadeiros fiéis morreram ou pararam de acreditar, e nós, perdidos, assustados e desemparados, fomos obrigados a sobreviver com qualquer resquício de adoração e fé que encontrássemos. E a sobreviver da melhor forma possível.” (GAIMAN, 2016, p. 140). 

***

Neil Gaiman é um dos autores mais renomados da atualidade e suas obras colecionam prêmios, além de encantar público e crítica. Neste ano, um de seus livros mais aclamados, Deuses Americanos, deu origem ao seriado American Gods e o trailer me deixou com a convicção de precisava ler a obra o quanto antes. 

Shadow está prestes a ser libertado da prisão e tudo o que deseja é reencontrar sua esposa, Laura. Porém, ela se envolve em um acidente de carro e por causa do funeral, Shadow é solto com antecedência. A caminho de casa, ele conhece Wednesday, um homem misterioso que lhe oferece um emprego. Assim, os dois partem em uma viagem pelos Estados Unidos, na qual Shadow descobrirá que deuses são reais e que uma batalha pelo poder de não ser esquecido está para começar. 

A premissa do livro é fantástica, original e extremamente criativa. Gaiman nos mostra novas facetas de deuses conhecidos da mitologia e também nos faz perceber quais são os deuses do século XXI: a televisão, o dinheiro e a tecnologia. O embate entre eles poderia ter sido épico, mas infelizmente não foi. Isso por que nem só de uma boa premissa é feito um livro e, a meu ver, Gaiman falhou na execução. 

O primeiro ponto que me causou muito estranhamento foi a apatia do protagonista. Sim, eu entendo que Shadow passou por um evento traumático e que ele tem dificuldade em lidar com seus sentimentos. Mas seu envolvimento com Wednesday o leva por uma estrada repleta de ocorrências sobrenaturais e o personagem parece aceitar todos elas, por mais bizarras que sejam, sem o menor sinal de descrença ou dúvida. 

Mas o calcanhar de Aquiles de Deuses Americanos certamente é a falta de acontecimentos. Shadow e Wednesday partem em uma espécie de road trip para aliciar deuses para a batalha e mais da metade do livro se limita a isso: Shadow conhecendo e interagindo com deuses, porém, não há um efetivo desenvolvimento da trama. Assim, por páginas e mais páginas, Gaiman apenas patina na estória, prometendo uma batalha épica mas nunca chegando lá. E quando um livro tem mais de quinhentas páginas, a ausência de agilidade não apenas é sentida com intensidade, mas também torna a leitura monótona e frustrante. Sinceramente, creio que a estória de Deuses Americanos não precisava de mais de trezentas páginas para ser contada. 

Outro fator que me incomodou foi o fato de Gaiman dedicar alguns capítulos para apresentar deuses antigos e mostrar como eles levam suas vidas no novo mundo. Tratam-se de estórias interessantes e de personagens riquíssimos, os quais, todavia, não são explorados, visto que seus caminhos não cruzam com o do protagonista. Então, se eles não fariam parte da estória, exatamente qual a necessidade de introduzi-los? 

O desfecho é previsível de um lado, mas extremamente surpreendente de outro. É preciso admitir que a trama criada por Gaiman é absolutamente genial, sendo que nunca passou pela minha mente o caminho que o autor iria seguir. Entretanto, após uma leitura tão arrastada, não houve genialidade que pudesse salvar o livro. 

Deuses Americanos foi uma leitura frustrante. Isso por que Gaiman tinha absolutamente tudo em mãos: uma premissa incrível, bons personagens e uma trama inteligente. Porém, pecou ao focar a maior parte da estória naquilo que era menos interessante. Uma escolha sem justificativas e que, por mais que eu me esforce, não consigo entender. 

Título: Deuses Americanos
Autor: Neil Gaiman
N.º de páginas: 574
Editora: Intrínseca
Exemplar cedido pela editora

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13 comentários:

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Alê!
Eu não li o livro, mas estou amando a série.
Pela adaptação, deu pra perceber que o livro tem um ritmo bem lento mesmo.
Beijos
Balaio de Babados
Sorteio Dois Anos de Família Hallinson
Sorteio Três Anos do blog A Colecionadora de Histórias

Na Nossa Estante disse...

Oi Alê, tudo bem? Eu achei uma leitura bem difícil, com muitas imagens surreais e uma boa trama. Eu gostei bastante, achei inteligente o autor contar sobre os novos e antigos deuses, que pena que não foi tão bom assim pra vc, mas acontece.

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante

Nessa disse...

Oi Alê
Eu li o outro livro do autor e meio que me decepcionei o Lugar nenhum. Tinha curiosidade por este, mas esta premissa não me agradou muito.
Que pena que a leitura não foi o que você esperava.

Beijinhos
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

Gabriela CZ disse...

Tive uma experiência bem parecida, Alê. A premissa é mesmo muito criativa, mas a trama me deixou um tanto frustrada e chateada. Pelo visto o problema não foi comigo. No entanto, estou gostando da série. Ótima resenha.

Beijos!

Unknown disse...

Oi Alê, tudo bem?
Sempre tive tanta curiosidade de conhecer esta estória, que pena que não foi tão agradável para você. Acho a premissa do livro muito boa, e quero conhecer a escrita do autor apesar do livro ser arrastado.
Beijos

Márcia Saltão disse...

Oi.
Que pena o enredo ser um pouco arrastado. Tenho muita vontade de fazer a leitura e também de assistir a série. dai poderei tirar minhas próprias conclusões.
Não conheço a escrita do autor, mas quero começar a ler suas obras.
Ótima resenha.
Beijos.

RUDYNALVA disse...

Nossa Alê!
Estava com uma expectativa tão grande em relação a esse livro... fiquei até decepcionada, não apenas por ver o autor não trazer movimento ao livro, mas por saber que a parte, talvez mais interessante que são os Deuses, não são inseridas de forma efetiva na trama do livro.
Uma pena!
“A única sabedoria que uma pessoa pode esperar adquirir é a sabedoria da humildade.” (T. S. Eliot)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE JUNHO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

Aline M. Oliveira disse...

Alê, estou vendo a série e ainda não tive a oportunidade de ler o livro. Mesmo você falando que a história foi meio prolongada sem necessidade, e que foram inseridas partes desnecessárias, ainda que interessantes, acho que eu ainda leria loucamente, porque eu sou muito fã do Neil, desde o primeiro livro que li, Coraline, isso há uns 14 ou 15 anos atrás.
Bjoxx ♥

Daniel Igor disse...

Olá!
Nossa, que pena o livro não ter correspondido às suas expectativas. É realmente triste quando a história fica monótona, arrastada, principalmente quando esperávamos que seu ritmo fosse totalmente diferente.
Também é uma grande falha quando o autor apresentar personagens e não usa-os na trama. O Gaiman pecou feio.
Eu vi o trailer da série e não me interessei muito... não faz meu tipo.
Abraços.

Léa Yasnaya disse...

Eu tentei mas abandonei, não consegui de jeito nenhum.
Muito monótono
Tinha picos interessantes, mas cara... nõa deuuu
Em outro momento quem sabe.

xoxo
http://rascunhosehistorias.blogspot.com.br/

Isabela Carvalho disse...

Oi Alexandre ;)
Infelizmente nunca li nada do Neil, acredita? Mas tenho alguns livros dele na minha lista de leitura, como O Oceano no Fim do Caminho.
Me interessei por Deuses Americanos porque uns amigos me disseram que a série é muito legal, e já vi várias resenhas positivas como a sua!
E também quero assistir o seriado, quem sabe ele não me motiva mais ainda a ler o livro!
Que pena que o desfecho foi um pouco previsível, mas ainda estou ansiosa pra ler.
E amo essa capa!
Abç

Marta Izabel disse...

Oi, Alê!!
Tudo bem?! Espero que sim, bom ainda não li nenhum livro desse autor que é uma pena, mas mesmo assim não fiquei tão entusiasmada assim para ler essa história. É pelo que li você também ficou bem frustrado... Então dessa vez eu passo a indicação.
Bjoss

Ana I. J. Mercury disse...

Ai sinceramente, não gosto dos livros do Gaiman!
Já li 3 e não gostei de nenhum, na verdade, eu não entendo nada kkkk acho que ele embola muita fantasia, não desenvolve com tanta fluidez e agilidade, a meu ver né.
E esse pelo jeito, é bem assim.
Então, não lerei, não. rs
bjss

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