“— O que você está querendo dizer?
— Que os loucos são os que amam. Você sempre pode amar, este é o paraíso. Enquanto não tirarem de você a capacidade de amar, Federico, sempre poderá fazer alguma coisa. O inferno é perder também a liberdade de amar.” (D’AVENIA, 2017, p. 144)
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Desde que li Branca como o leite, vermelha como o sangue tenho curiosidade de conferir outro livro do autor italiano Alessandro D’Avenia. Assim, quando O que o inferno não é foi lançado, não tive dúvidas de que precisava conferir a obra.
Federico está de férias e prestes a embarcar em uma viagem para estudar em Londres quando é convidado pelo padre Pino, seu professor de religião, para ajudá-lo com as crianças em um bairro pobre. Federico se assusta com a realidade que encontra e quando conhece Lucia, uma garota de sua idade, se sente desafiado a tentar fazer alguma diferença naquele lugar desolador.
Logo no segundo capítulo, D’Avenia já surpreende o leitor com uma cena particularmente tocante e de doer o coração, mostrando como a violência cria cicatrizes profundas em nossas almas. E é justamente a partir do desenvolvimento deste contexto de violência e desesperança que o autor consegue provocar diversas reflexões ao longo da estória.
O texto de D’Avenia é profundo, impactante e poético. Entretanto, creio que o autor abusou de metáforas, pois havia momentos em que a estória parecia ficar em segundo plano apenas para que tal recurso fosse utilizado. Não me entenda mal: as metáforas eram significativas, porém, a utilização excessiva não apenas tornou o ritmo da estória mais vagaroso, mas também deixou certos trechos da leitura monótonos.
O livro é composto por capítulos alternados entre o ponto de vista de Federico, em primeira pessoa, e dos demais personagens, em terceira pessoa. Embora eu até entenda a opção do autor, creio que tal abordagem resultou em uma estória muito pulverizada. Assim, ao tentar contar um pouco da estória de cada um, D’Avenia não conseguiu ir muito além da superfície.
Mas o principal problema de O que o inferno não é diz respeito a quantidade de clichês: o amor impossível à la Romeu e Julieta, o código de honra da Máfia, o padre bondoso que tenta ajudar a todos e se posiciona contra os mafiosos, entre outros. Não tenho problemas com o uso moderado de clichês, desde que o autor saiba como explorá-los, mas, infelizmente, este não foi o caso.
Como romance de formação, o livro entrega o que promete, pois vemos inicialmente Federico perdido e sem saber o que fazer da vida, sendo que acompanhamos seu amadurecimento e a formação de seu caráter no decorrer da estória.
O que o inferno não é conta com reflexões profundas e impactantes, mas deixa a desejar em outros aspectos. Admito que estava com grandes expectativas por causa da minha experiência de leitura com Branca como o leite, vermelha como o sangue e talvez justamente por isso tenha ficado com um gostinho de decepção.
Autor: Alessandro D’Avenia
N.º de páginas: 382
Editora: Bertrand Brasil
Exemplar cedido pela editora
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12 comentários:
Oi, Alê!
Nossa, por esse título eu nunca ia adivinhar do que se tratava a história.
Não sei se leria por conta desse abuso de metáforas.
Beijos
Balaio de Babados
Sorteio Três Anos de A Colecionadora de Histórias
Pelo visto esse é um daqueles casos difíceis, Alê. Acho triste quando um autor gasta tanto tempo com metáforas (mesmo sendo boas) que chega a comprometer o andamento da história. Não fiquei com muita vontade de ler esse, mas ainda tenho interesse em Branca como o leite, vermelha como o sangue. Ótima resenha.
Beijos!
Olá!
Não li nenhum livro do autor, mas me pareceu ótimo. Curto romance, mas dos bem melosos (haha), mesmo assim não dispenso esses mais "estruturados" (não sei definir). Vou colocar na minha listinha ^_^
Beijinhos
http://tipsnconfessions.blogspot.com
Alê!
Se um livro traz mensagens importantes e tornam o personagem principal em um amadurecimento crescentes, acredito que só aí, já valha a pena a leitura do livro.
E apesar de suas ressalvas, muito bem pontuadas por sinal, ainda assim, arriscaria fazer a leitura para acompanhar o desenvolvimento de Frederico.
Desejo uma ótima semana e um feliz dia dos namorados!
“Onde há estudo - há sabedoria.” (Textos Judaicos)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE JUNHO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Oi Alê, tudo bem? Nunca li nenhum livro desse autor, mas confesso que esse não chama muito atenção, ainda mais depois da resenha hehehehe quem sabe na próxima rs
Bjs, Mi
O que tem na nossa estante
Olá Alê ;)
Não conhecia o livro ainda, mas Branca como o leite, vermelha como o sangue já estava na minha lista de leitura.
Achei que o livro tem uma premissa diferente do que estou acostumada a ler, mas que bom que há essas reflexões ao longo da obra. Só achei uma pena que o autor abusa das metáforas, deve ficar cansativo a leitura.
Então, gostei da resenha, mas infelizmente não me interessei em ler o livro.
Abç
Oie Alê =)
Não conhecia o livro, mas gostei dos pontos que você citou. Realmente o excesso seja do que for em uma história acaba muitas vezes atrapalhando mesmo, porém mesmo assim acredito que esse é um livro que vale a pena dar uma chance.
Beijos;***
Ane Reis | Blog My Dear Library.
Oi Alê, tudo bem?
Não conhecia este livro ainda, e não me animei pela leitura. O gênero não me agrada muito e o uso excessivo de clichês só me desanimou.
Beijos
Oi, tudo bem?
Não conheço a escrita do autor, mas com certeza não começaria por esse livro, já que a premissa não me cativou. E, principalmente, por seus comentários na ótima resenha.
Obrigada.
Beijos.
Oi, Alê!!
Não conheço esse autor mas a história parece ser bem interessante. Gostei muito da resenha mas a história em si não chamou minha atenção.
Bjoss
Conheço o autor de nome, mas esse livro ainda não conhecia.
Confesso que não me chamou muito a atenção também não. Achei bem clichezão, meio parado né?
Vou passar esse, rs
bjoss
Nada a ver. Miséria e amor são clichês eternos.
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