“Eu cochichei para ele, disse que não podia ser assim, ele morrer ali. Se você tiver que morrer, implorei, não morra quando eu estiver olhando, e se tiver de fazer isso quando eu estiver olhando, faça quando eu não estiver sentindo.” (KONAR, 2017, p. 173)
Muito já se escreveu sobre a Segunda Guerra Mundial e os horrores do Holocausto e muito se continuará escrevendo. “Resistência” atraiu o meu interesse por prometer uma história sensível em meio a um cenário tão cruel.
As gêmeas Stasha e Pearl tem 12 anos quando são levadas para Auschwitz para viverem no que é conhecido como “Zoológico”: um lugar onde o terrível Josef Mengele conduz experimentos em gêmeos, anões, albinos, entre outros, para provar a suposta superioridade da raça ariana. Até que uma noite, em meio a um concerto, Pearl desaparece e Stasha passa a dedicar sua vida a encontrar a irmã ou a vingar a sua morte.
Acredito que não seja surpresa o tipo de acontecimentos que podemos encontrar nas páginas de “Resistência”. Ainda assim, é impossível não se sentir tocado pelos horrores aos quais as gêmeas e os outros personagens são submetidos. Por mais que já tenhamos ouvido, lido, assistido e estudado o que se passou nos campos de concentração, nenhum ser humano normal consegue conceber certas coisas que aconteceram lá e que são descritas ao longo do livro, muitas vezes fazendo o leitor sentir na pele aqueles horrores. Parte dessa intensidade vem do fato de que, para compor a trama, a autora se baseou na história real das irmãs Eva e Miriam Mozes, vítimas de Mengele em Auschwitz.
Apesar de explorar esses episódios, “Resistência” não é sobre os horrores dos campos de concentração e sim sobre os laços entre as irmãs, sobre o amor e a ligação que as une. Mesmo tendo personalidades bem diferentes (Stasha é mais sonhadora, enquanto Pearl é mais realista) as duas se completam. Isso, inclusive, se reflete na narrativa. A história é contada sempre em primeira pessoa - tanto pelo ponto de vista de Stasha como pelo de Pearl – e algo que normalmente me incomodaria é que a narrativa das duas é bastante parecida, mas, nesse caso, acredito que isso seja proposital para mostrar o quanto as gêmeas se sentem como sendo uma só, como uma sendo a extensão da outra.
E por falar em narrativa, o que torna “Resistência” um livro especial é justamente a narrativa de Konar. A beleza e a delicadeza do texto são impressionantes, principalmente levando em consideração o conteúdo que está sendo narrado. A autora não alivia, mas ao mesmo tempo presenteia o leitor com parágrafos encantadores, mesmo na crueldade. Não é transformar em belo o horror. Não é ver beleza em meio ao sofrimento. É simplesmente saber manipular as palavras de forma a conseguir empregar sentimentos puros e simples em uma situação extrema e complexa. Com muitas figuras de linguagem, frases simples repletas de significados fortes, “Resistência” é poesia pura em alguns momentos.
Gradativamente, vemos o quanto as meninas são obrigadas a mudar e o quanto a ligação que existe entre elas, mesmo à distância, é o que faz com que tentem preserver a sanidade e a essência.
É difícil eu manter o interesse em um livro quando não consigo me dedicar à leitura, mas “Resistência” conseguiu esse feito mesmo que durante uma semana inteira o máximo que eu conseguisse ler fossem 20 páginas diárias.
“Resistência” me surpreendeu positivamente. Eu esperava uma história intensa, talvez até melodramática em alguns momentos, mas fiquei encantada com o que encontrei. Livro de estreia de Affinity Konar - descrito como “brutalmente belo” pelo Publishers Weekly, que ainda afirma que “a autora faz cada parágrafo valer a pena” – certamente mostra que sua autora é um nome promissor da literatura americana. Intenso, delicado, horrível, belo. Encantador.
Autora: Affinity Konar
N° de páginas: 320
Editora: Fábrica 231
Exemplar cedido pela editora
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13 comentários:
Oi, Mari!
Eu fui super iludida com essa capa maravilhosa. Pensei que era uma história amorzinho e tals, mas nossa... é outra coisa.
Beijos
Balaio de Babados
Sorteio Três Anos de A Colecionadora de Histórias
Um exemplo de que não dá pra julgar um livro pela capa, Mari. Com essas flores pensei que se tratava de um romance qualquer, me surpreendi com o fato de ser sobre duas irmãs gêmeas no holocausto. E seus comentários me encantaram. Preciso ler. Ótima resenha.
Beijos!
Olá Mari, tudo bem?
Eu sou bem curiosa quando o assunto é o Holocausto, sempre que leio ou vejo algo do tipo fico me questionando como alguém tem coragem de cometer tamanhas atrocidades. Este livro em primeiro lugar, me chamou atenção por esta capa maravilhosa, eu teria este livro pra ficar admirando este belo trabalho por horas. Outra questão que me deixou bem curiosa para a leitura foi a temática, e por se basear em uma história real das gêmeas.
Enfim, adorei tudo e espero ler em breve.
Beijos
Mari!
Bem como falou, os livros ligados a Auschwitz e as atrocidades realizadas pelo Menghele, saõ chocantes, fortes, viscerais, diria, mas em relação ao terror.
E ver que a utora, mesmo mostrando toda crueldade da época, soube transportar a fraternidade das irmãs em suas palavras, mostrando que o amor impulsiona e fortalece, mesmo que a distância e assim, consegue tornar a leitura instensa e verdadeira.
Bom feriado!
“Saber envelhecer é a grande sabedoria da vida.” (Henri Amiel)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE JUNHO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Oi Mari
Que livro interessante, gostei do enredo e fiquei bem curiosa. O tema é muito e diferente do que estou acostumada a ler, fiquei interessada.
Beijinhos
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br
Olá, tudo bem? Uau, que demais a resenha! Fiquei bem curiosa para ler a obra, parece ser boa mesmo, ein?! E essa capa? Show!
Beijos,
Duas Livreiras / Sorteio de 11 kits
Olá!
Já conhecia o livro, porém ainda não tive a oportunidade de ler. Gosto de leituras com esse tema, pois apesar de trazer fatos chocantes, cruéis e muito tristes, sempre nos proporcionam uma boa reflexão sobre a vida, a liberdade e o amor ao próximo.
Excelente resenha! Dica anotada.
Beijos.
Oi Mari!
Olhando essa capa eu nunca iria imaginar que a história ia falar dos horrores da guerra... Parece um livro de difícil leitura por causa do tema ser muito triste, não sei se leria.
Beijos,
Sora | Meu Jardim de Livros
Oie Mari =)
Eu até já tinha visto a capa desse livro nas Redes Sociais, mas a sua é a primeira resenha que leio. Confesso que acreditava que o livro abordava uma história totalmente diferente e por isso até então não tinha me chamada a atenção.
Porém isso acaba de mudar com a sua resenha maravilhosa. Adoro livros que se passam em períodos de guerra, justamente por nos oferecer uma visão mais sombria da vida em tempos de quase paz como os nossos. São verdadeiras lições de vida, sendo ficção ou não.
Obrigada pela dica ;)
Beijos e um ótimo final de semana;***
Ane Reis | Blog My Dear Library.
Oi, Mari!!
Gostei muito da resenha e apesar de não ler muito livros que falam da
Segunda Guerra Mundial fiquei bem curiosa para ler!! A capa é muito bonita !!!
Bjoss
Oi Mari ;)
Sempre me chama a atenção livros e filmes que se passam durante a Guerra, e esse livro já tinha sido indicado à mim. A trama parece bem envolvente, e pela resenha dá pra ver que é um livro que traz a tona muitos sentimentos, sinto que vou me emocionar muito.
Bjos
Oi, Mari!!!
Eu queria ter pedido esse livro, mas não deu certo. Ainda assim, estou louca para conferir essa história e talvez peça como livro do catálogo na próxima.
Achei sua resenha linda e me deixou com mais vontade de ler o título!
Não sei se não vou chorar porque odeio ver/ler esse tipo de experiências maldosas sendo conduzidas em seres humanos, mas quero ver mesmo assim.
Bjs!!!
http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br
Mari, gosto muito de livros sobre guerras, a gente sempre aprende mais, sofre junto, se indigna, e até deixa alguns preconceitos de lado.
Um livro sobre crianças sofrendo tanto, deve ser horrível, mas ao mesmo tempo, necessário e até cativante.
Gostei muito da premissa do livro, e de sua resenha.
Vou querer ler, sem falta!
bjs
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