domingo, 12 de maio de 2019

RESENHA: Matadouro-cinco

matadouro-cinco
Billy Pilgrim é um soldado que testemunha a destruição de Dresden no final da Segunda Guerra Mundial. Após o trauma, ele é internado em um hospital psiquiátrico e logo descobre que está solto no tempo, conseguindo viajar entre o passado e o futuro. Depois de retornar para os Estados Unidos, Billy acaba sendo abduzido por uma raça alienígena. 

Vonnegut optou por uma estrutura narrativa não-linear, de modo que acompanhamos a vida do protagonista em múltiplos momentos e lugares. Considerando que Billy viaja no tempo e no espaço, tal estratégia me pareceu combinar com as habilidades peculiares do protagonista. Na verdade, tal estrutura até reflete a experiência do personagem que de uma hora para outra se vê em diferentes locais. Porém, apesar de inovador, creio que este artifício tornou a leitura cansativa e confusa. 

A falta de linearidade também afetou meu envolvimento com a estória. A impressão que eu tinha era Billy pulava de cenário em cenário, mas que todos esses arcos eram desenvolvidos apenas no médio e longo prazo. Acrescente-se a isso o fato de Billy não ser o mais carismático dos personagens, de modo que haviam poucos elementos realmente me prendendo a leitura. 

“O livro é tão curto, tão confuso, tão desarmônico, Sam, porque nada de inteligente pode ser dito sobre um massacre. Todos devem estar mortos, sem nunca mais dizer ou querer nada. Tudo deve ser muito quieto depois de um massacre, e sempre é, exceto pelos passarinhos.” (VONNEGUT, 2019, p. 37)

Matadouro-cinco é descrito como um dos maiores clássicos antimilitaristas e creio que talvez esse seja exatamente o problema. Vonnegut também foi um prisioneiro de guerra e testemunhou o ataque a Dresden, de modo que o livro é claramente inspirado na sua experiência. No entanto, minha sensação foi de que o autor priorizou as críticas à guerra, à sociedade de consumo e a nossa capacidade de nos acostumarmos com tudo, deixando a estória de Billy em segundo plano. 

Por um lado, claro que as reflexões sobre a guerra são interessantes, pois o autor consegue mostrar o lado mais perverso e cruel do conflito, sem nenhuma romantização. No entanto, sou da opinião que nenhuma reflexão deveria ser maior do que a estória, afinal, é esta que motiva o interesse do leitor. Creio que reflexões são bem-vindas quando surgem de uma forma natural, a partir dos conflitos que os personagens vivenciam. 

Encerro esta resenha esclarecendo que li Matadouro-cinco durante uma semana um pouco conturbada, o que pode ter afetado negativamente minha experiência de leitura. Ainda assim, confesso que esperava mais de um livro que é tão reverenciado. 

Título: Matadouro-cinco
Autor: Kurt Vonnegut
N.º de páginas: 284
Editora: Intrínseca
Exemplar cedido pela editora

6 comentários:

Rubro Rosa disse...

Este livro ainda dá muito o que falar, mesmo depois de algum tempo do seu lançamento.
Acho que tudo realmente depende do momento que se lê uma obra e sim, isso pode ter afetado a leitura. Mas oh, acho que falar da guerra em si e deixar um pouco de lado a história de Billy meio que de lado, não tenha sido um acerto.
Dava muito bem para casar os dois assuntos..rs
Mesmo assim, se puder, quero sim, conferir.
Beijo

Gabriela CZ disse...

Estava curiosa por esse livro mas desanimei um pouco com seus comentários, Alê. Odeio quando os autores colocam a história em segundo plano, mas ainda tenho um pouco de curiosidade. [rs] Ótima resenha.

Beijos!

Ludyanne Carvalho disse...

Histórias sobre guerras sempre me chamam atenção; gosto dessas reflexões, de ver - mesmo que seja fictício - que existiu/existe pessoas boas em meio aos caos.
Mas pela resenha, sinto que esse não é o meu tipo de livro.

Beijos

Anônimo disse...

Oi, Alê!

Pela sinopse, este livro tinha tudo para dar certo, mesmo causando certa estranheza por ter alienígenas. É uma pena que o autor não tenha desenvolvido bem a história, nem criado um personagem carismático. Gosto bastante de livros que falam sobre guerra, mas não fiquei muito animada em ler esse depois das críticas negativas.
Ótima resenha!

Beijocas.
https://artesaliteraria.blogspot.com/

Ana I. J. Mercury disse...

AI, Alê, achei bem doido esse livro!
Muito complexo, não entendi muito bem não.
Gosto de livros que falam sobre guerras no geral, mas esse é muito estranho, não vou querer.
bjs

Luana Martins disse...

Oi, Alê
Gosto muito de livros que tem a guerra como cenário, mas lendo sua resenha a estória parece ser um pouco confusa.
Li algumas resenhas do livro, e é um livro que divide opiniões. Quero poder ler o livro e ter minha experiência e poder construir minha opinião.
Beijos

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