quinta-feira, 29 de setembro de 2011

RESENHA: O jogo de Ripley

"'O crime perfeito não existe’ disse Tom a Reeves. ‘Tentar imaginar um crime assim é apenas brincadeira de salão. É claro que sempre se pode dizer que existem dezenas de crimes que não foram solucionados. Aí é diferente’” (HIGHSMITH, p. 07).           

Como mencionei no post anterior, havia me surpreendido com Patricia Highsmith. E em “O Jogo de Ripley”, o terceiro livro da série, ela me surpreendeu de novo. Ok, talvez não tenha sido uma trama tão interessante quanto a do livro anterior (Ripley Subterrâneo), mas o supera em outros aspectos.

Neste livro, Ripley, em virtude de um mal entendido, decide por em prática uma pequena vingança, armando o cenário perfeito para o seu jogo. Mas também vemos outra faceta de Ripley, quando ele se mostra capaz de se colocar no lugar do outro, ao perceber que pode ter ido longe demais.

Merece aplauso a iniciativa da autora em fazer uma narrativa intercalada com outro personagem, e não somente com Tom, como foi no livro anterior. Além disso, outro característica marcante foi o perfil psicológico dos personagens, algo que poucos autores conseguem fazer de uma forma tão sutil.

Este perfil psicológico foi extremamente bem trabalhado em cima de um assunto simples: as escolhas que fazemos. Viver honestamente ou ir para o mundo do crime? Aceitar dinheiro sujo e garantir o futuro da família ou correr o risco de deixá-los desamparados? Tentar corrigir um erro ou não?

Na vida não somos completamente bons, nem completamente ruins, porém, não é esse mix o que vemos em livros ou filmes. O “mocinho” nunca falha, nunca erra, e é bem quisto por todos, enquanto o vilão tem um caráter duvidoso, e sempre é motivado por seu egoísmo. Geralmente, tais personagens têm a profundidade de um pires.

Por isso gosto da frase de Stephen King: "Monstros são reais e fantasmas são reais também. Vivem dentro de nós e, às vezes, vencem". A vida é assim, e a literatura deveria refletir esta realidade, deixando de lado a distinção entre “mocinhos” e vilões.

Em suma, Patricia Highsmith conseguiu trazer, de forma magistral, a verossimilhança da vida real para dentro das páginas. Assim, mesmo que a trama em si não empolgue muito, o livro merece o meu elogio.
             
Título: O jogo de Ripley
Autora: Patricia Highsmith
N.º de páginas: 312
Editora: Cia das Letras

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