quarta-feira, 28 de setembro de 2011

RESENHA: Vento Sudoeste

“Seu medo não era de enlouquecer, talvez já estivesse louco, mas de sucumbir à exaustão” (GARCIA-ROZA, 2001, p.22)

Talvez alguns de vocês já estejam familiarizados com o delegado Espinosa, personagem criado por Luiz Alfredo Garcia-Roza, que teve sua estréia no livro “O Silêncio da Chuva”, protagonista de vários outros livros do autor, entre eles “Vento Sudoeste”.

Em mais uma aventura em terras cariocas, o delegado se depara com um homem que lhe faz uma espécie de confissão, porém muito peculiar: cometerá um assassinato dentro dos próximos meses, mas não sabe por que, como, ou mesmo quem será a vítima. Se você achou que se trata de algum assassino de espírito meio “prenda-me se for capaz” desafiando o delegado, você está enganado. Gabriel, o assassino em potencial, não tinha a menor intenção de cometer o crime. Explico melhor: Na noite de seu aniversario, Gabriel ouviu um estranho pressagio vindo de um vidente: “Até o seu próximo aniversário, você irá matar alguém”. Então, passado quase um ano, aproximando-se da data fatídica, o prazo se esgotava e Gabriel se preocupava, ficando obsessivo com a mera possibilidade que a profecia se realizasse. Espinosa, que a principio achara a preocupação do homem infundada, mudou de idéia quando pessoas relacionadas a Gabriel de fato morrem e ele não tem razões para afirmar que o homem é culpado, mas também não pode ter certeza da sua inocência. Enquanto isso, Gabriel vai ficando cada vez mais paranóico.

Ao tomar conhecimento da trama do livro, pensei que poderia haver as mais diversas possibilidades, os mais variados motivos e desfechos a partir dessa premissa. A promessa de conflitos psicológicos sempre me interessa. Me leva a crer que os personagens terão várias dimensões e que ao fechar o livro, depois de ler a última página, continuarei pensando na trama, refletindo, tentando descobrir se consegui captar tudo o que foi dito. Eu esperava encontrar isso em “Vento Sudoeste”. Eu estava enganada.

Garcia-Roza nos apresenta poucos personagens: além do delegado Espinosa e Gabriel, um rapaz tímido que apesar de beirar os 30 anos, ainda vive com a mãe, uma mulher extremamente religiosa e controladora que todo dia fica olhando pela janela na espera que o filho volte do trabalho; temos Olga, amiga de Gabriel; Irene, amiga de Olga; o vidente e sua parceira. O que me incomodou foi que, apesar de serem poucos, o autor não foi a fundo em nenhum deles. Conhecemos apenas o mínimo sobre essas pessoas, suas vidas e seus relacionamentos e ao optar por nos mostrar os personagens dessa forma, o autor entregou muito fácil os papéis de cada um na trama e, conseqüentemente, a trama em si.

Outra coisa que me incomodou era a lentidão e repetição da história. Não só a trama parecia não avançar como eu tinha a sensação de ler a mesma coisa várias vezes e não ser apresentada a nada novo. Enquanto lia, eu me perguntava: “Porque mesmo eu comecei a ler isso?” Então dava uma espiada no texto da orelha do livro e com alguma expectativa (ou, deveria dizer, esperança?) dizia para mim mesma: “Até o final vai ficar bom”. Pois é. Não ficou. Todas as decisões, relações, conseqüências, tudo foi completamente previsível (na metade do livro eu já tinha desconfiado de qual seria o final e acertei 99%). Muito poderia ter sido explorado, mas as 210 páginas não me levaram a saber nada que eu já não soubesse nas primeiras 50. Me pareceu que a trama tinha potencial para ser bastante interessante, mas recebeu um tratamento simplório demais.

Pode ser que eu tenha esperado demais de “Vento Sudoeste” e que, na verdade, ele nunca teve a pretensão de ser algo com tantas nuances e tantas revelações, mas anda assim achei que poderia ter rendido mais. Muito mais.

Título: Vento Sudoeste
Autor: Luiz Alfredo Garcia-Roza
Nº de páginas: 210
Editora: Companhia das Letras

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