"A menina então entendeu o que estava para acontecer. E quando Rufus lhe tocou os cabelos, ela sentiu nojo. Parte da inocência ali se perdeu, e a menina em muito cresceu. O universo lhe pareceu mais triste. O soldado lhe tocou o rosto, e ela desejou que viessem cinqüenta lobos para aqueles dois homens maus. Ariane então descobriu que existem lobos que atacam apenas porque têm fome. E já homem que atacam apenas por serem maus." (DRACCON, 2010, p. 310).
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Esse livro veio parar em minhas mãos depois que o Raphael Draccon participou da Feira do Livro de Passo Fundo, e devo dizer que não me decepcionei. Muito pelo contrário, o livro foi uma surpresa e tanto.
A estória se passa em Nova Ether, onde conhecemos os inúmeros personagens que nos conduzem em um moderno conto de fadas e, devo acrescentar, que você já deve ter “esbarrado” com alguns deles na infância: lembra daquela menina que tinha um capuz vermelho? Ou então daqueles irmãos que comeram os doces da pessoa errada? Quem sabe você lembre daquele pirata que temia o tempo. E, talvez daquela princesa que despertou o ódio de sua madrasta-rainha, por ser mais bela.
Assim como eu, creio que você irá ficar (além de fascinado) pensando quem será o próximo personagem que o autor irá inserir na trama. Aliás, tenho certeza que passei batido por outras referências (que não são somente literárias, diga-se de passagem) sem perceber. Somente por este fator, o livro já merece ser relido. Em suma, aplausos pela originalidade.
Vamos ao cerne da trama: sabe aquele ditado que notícia ruim nunca vem sozinha? Após os ataques de piratas e mercenários abalarem a cidade Andreanne, descobre-se que estes não estão sozinhos em sua empreitada, mas mancomunados com uma bruxa. Porém, todos supunham que as bruxas já haviam sido exterminadas há anos, depois da Caçada de Bruxas, capitaneadas pelo futuro rei, Primo Brandford. Este, após tais eventos, vem a compreender o significado da expressão poço sem fundo.
Neste quesito, mais aplausos pela criatividade. Embora muitos dos personagens já fossem conhecidos, Draccon criou uma nova faceta para cada um deles, dando-lhes um significado mais profundo. Ademais, concatenar todas as pontas de uma trama tão magistral não é para qualquer um. E deixo registrado que o final da estória é a cereja do bolo.
Por fim, o modo de escrever do autor é impar. Ao mesmo tempo em que flui com rapidez, tem um quê de poético (ainda não sei se esta é a melhor palavra ...), mas sem ser enfadonho. Deu para entender? Talvez isso se deva ao fato do narrador lhe contar a estória, como se estivesse, literalmente, conversando com o leitor. Resumindo: trata-se de uma leitura gostosa, e quando você perceber, já terá lido cinqüenta folhas em uma tacada só.
A linguagem é contemporânea, o que pode gerar uma certa estranheza no início, mas não desqualifica, nem desmerece o livro em nada. Os capítulos são curtos, os quais particularmente gosto, pois permitem você se envolver, simultaneamente, com todos os personagens ao mesmo tempo em que mantém o suspense e impulsiona a leitura. Assim, aplausos pela ousadia.
Honestamente não esperava encontrar tamanha qualidade, em um livro escrito por “um autor estreante de literatura fantástica no Brasil” (Não entendeu? Então clique aqui). Assim, nada melhor, para encerrar, do que uma salva de palmas.
Título: Dragões de Éter - Caçadores de Bruxas
Autor: Raphael Draccon
N.º de páginas: 438
Editora: Leya
2 comentários:
Pelo que li este livro faz o meu estilo com quem pego seu Alexandre?
Sou louca para ler essa série, mas nunca consigo comprar! :(
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