segunda-feira, 2 de abril de 2012

RESENHA: Razão e Sensibilidade

"O mundo tornara-o extravagante e vaidoso; a extravagância e a vaidade tornaram-no insensível e egoísta. A vaidade, enquanto buscava seu culposo triunfo à custa de outra pessoa, envolvera-o num amor autêntico, que a extravagância, ou pelo menos a sua filha, a necessidade, exigiram fosse sacrificado. Cada uma dessas más inclinações, orientando-o para o mal, levara-o também à punição." (AUSTEN, 2009, p. 258).

***

Como resenhar mais um título de Jane Austen sem soar repetitivo? Ou como destacar as qualidades mais marcantes de sua narrativa sem “chover no molhado”? Parece-me uma tarefa difícil, hercúlea, quase impossível. Mas a ela me dediquei com diligência, torcendo para alcançar a meta proposta, ao mesmo tempo em que me esforçava em fazer jus a obra.

Como havia dito na minha wishlist de fim de ano, pretendia ler o restante da obra de Jane Austen o mais breve possível. E quando fechamos a parceria com a Editora Martin Claret, percebi que meu desejo se realizaria antes do que eu imaginava.

Razão e Sensibilidade conta a estória da família Dashwood que, após o falecimento do patriarca, tem suas riquezas drasticamente reduzidas. Assim, tanto a viúva quanto as filhas mudam-se para um chalé, onde recomeçam suas vidas.

Assim como nas outras obras de Jane Austen, e como era de se esperar da autora, o livro nos mostra a forma como as protagonistas, Elinor e Marianne, enfrentam os romances, as decepções, as alegrias, as desilusões e as traições que devem ser enfrentadas por toda verdadeira heroína.

Marianne é a irmã emocional, sensível, impetuosa e imatura. Elinor, por sua vez, é a irmã racional, sensata, prudente, beirando a personificação do bom-senso. Personalidades que se contrapõe e, ao mesmo tempo, se completam. É desta dicotomia que surge a origem do título do livro.

Destaque para os demais personagens, que alcançaram um nível de verossimilhança impressionante. Não foram idealizados, tampouco foram pintados como asquerosos vilões. São “pessoas” comuns, com qualidades e defeitos, que erram e acertam, exatamente como na vida real.

Até hoje não observei nenhum outro escritor conseguir revelar a personalidade, o temperamento e as demais características dos personagens somente através de diálogos e de atitudes. Isso mesmo, a autora não irá lhe dizer, por exemplo, que Marianne é sensível. Mas por meio de suas falas e de sua conduta que chegamos a esta conclusão. O mesmo se aplica a todos os outros personagens da estória.

Vale observar que Austen, naquela época, já questionava certos padrões de nossa sociedade. E, veja bem, se ela criticava aqueles padrões, imagine o que não diria sobre os dias atuais, em que enfrentamos um severo declínio moral e ético (para falar o mínimo). Deste modo, Austen criou mais do que protagonistas, mas verdadeiros exemplos, pois tratam-se de personagens que prezam mais por caráter do que por aparência ou riquezas.

Não preciso nem falar que acho a narrativa de Austen fascinante e deliciosa. Uma linguagem rebuscada, galante, às vezes poética, por outras sutil, mas sempre profunda. Eis uma mistura irresistível.

E quanto a pergunta que não quer calar: este livro é melhor que o Orgulho e Preconceito? Creio que a comparação seja inevitável. Mas, para ser sincero, não saberia lhe responder. Muito embora até a metade da leitura tivesse preferência pela estória das irmãs Bennet, sinto-me obrigado a reconhecer que Razão e Sensibilidade tem virtudes que Orgulho e Preconceito não possui. Por isso, aconselho que você leia sem comparar e possa apreciar a singularidade de cada obra.

Título: Razão e Sensibilidade
Autora: Jane Austen
N.º de páginas: 296
Editora: Martin Claret

3 comentários:

Aione Simões disse...

Oi Alê!
Jane Austen é incrível e adorei os pontos que você ressaltou em sua resenha sobre ela! Ela, realmente, tem uma capacidade incrível de transmitir impressões por meio dos diálogos, além de que a escrita dela é certamente adorável.
Razão e Sensibilidade só não está ente meus favoritos dela por causa do final. Eu não gostei do destino que ela deu para Marianne. Ainda que eu tenha compreendido que ela optou por finais que contrabalanceassem as personalidades das personagens (Marianne teve um final mais racional enquanto Elinor teve um mais emocional), eu, ainda assim, não gostei do que aconteceu com a Marianne.
De qualquer forma, o livro é incrível, como todos dela, mas meu favorito ainda é Persuasão!
Beijos!

Juliana disse...

Oi, ALê!

Nhain, nunca li nada da Jane Austes :(
Todo mundo fala tanto, principalmente de Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade... Preciso dar um jeito de ler, viu ;_;

Mas, preciso falar, sua resenha ficou EXCELENTE. Do tamanho certo, com uma escrita impecável :)

beijooo!

Ju
julianagiacobelli.com

Jacqueline Braga disse...

realmente, resenhar JA sem parecer repetitivo é um feito rs
Sua resenha ficou perfeita e transmitiu exatamente os sentimentos que eu sinto ao ler um livro da minha diva Jane
Eu ainda prefiro OeP, mas pra mim todos os livros da Jane tem esse efeito de te fazer se apaixonar perdidamente pela história
bjos

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