sábado, 12 de maio de 2012

RESENHA: A Mulher de Preto

“Minha mente imaginou todo o tipo de fantasias loucas e incoerentes enquanto eu tentava desesperadamente encontrar uma explicação racional para a presença de que estava tão consciente. (...) Não havia outro morador vivo na Casa do Brejo da Enguia além de mim e da cadela de Samuel Daily. O que quer que tivesse sido aquilo, quem quer que passara por mim naquele instante, quem quer que tenha aberto a porta trancada não era “real”. Não. Mas o que era “real”? Naquele momento passei a duvidar de minha própria realidade.” (HILL, 2012, pg.159)

Criada com o objetivo de proporcionar ao leitor aquele arrepio provocado pelas melhores histórias de terror, a história de “A Mulher de Preto” começa com um Arthur Kipps velho, reunido com sua família na véspera de natal. Seus enteados, seguindo uma peculiar tradição, contam histórias de fantasmas e pedem que ele conte uma também, afinal, todo mundo conhece uma história desse tipo. No caso de Kipps essa afirmação é mais que verdadeira, pois ele esteve no meio de verdadeira história de fantasmas quando, aos 23 anos, em uma viagem de trabalho que o levou até a cidade de Crythin Gifford, conheceu a mulher de preto que habitava os arredores da Casa do Brejo da Enguia e sua assustadora história. A tarefa do jovem advogado era avaliar os documentos da falecida Sra. Drablow, mas ruídos estranhos, acontecimentos inexplicáveis e a reação dos habitantes da cidade a simples menção da mulher e do local fizeram desta viagem de trabalho uma experiência perturbadora.

O livro demora muito a engrenar. As primeiras páginas tem descrições em excesso e escassez de acontecimentos. Eu compreendo que para criar uma atmosfera de terror satisfatória são necessárias muitas descrições, mas nesse caso elas não surtem efeito e só atrasam a trama.
Porém, a partir do momento em que Kipps chega à Casa do Brejo da Enguia a trama se revela simples e, de fato, funciona. Quando digo simples, quero dizer que a autora escolheu poucos acontecimentos assustadores e optou por repeti-los, o que causa um efeito muito mais perturbador - e que tende a levar o protagonista à loucura - do que criar uma série de acontecimentos sem sentido, que não se explicariam satisfatoriamente, apenas para proporcionar ao leitor momentos tenebrosos. Além disso, o próprio enigma por trás da mulher de preto é bastante simples.

Eu arriscaria dizer que essa história poderia ser um conto e talvez até funcionasse melhor neste formato, pois as partes superfulas - que são várias - poderiam ser cortadas e o clima assustador ganharia mais destaque. É por isso que, mesmo sem ter assistido a adaptação cinematográfica - com Daniel Radcliffe no papel de Kipps - arrisco dizer que a trama provavelmente funciona melhor na tela do que no livro em si, pois as descrições excessivas provavelmente se transformaram em elementos visuais e os acontecimentos irrelevantes deram lugar aos realmente significativos e assustadores, ou seja, aqueles que marcaram eternamente a vida de Kipps.

Mas toda essa impressão negativa que eu vinha tendo mudou quando cheguei nas últimas páginas porque o final do livro é muito bom. O interessante é que a revelação não me pegou de surpresa e foi justamente isso que me deixou em agonia. Kipps descobre o mistério por trás da mulher de preto e dos acontecimentos estranhos que envolvem a Casa do Brejo da Enguia e a partir do momento em que as peças se encaixaram eu tive certeza do que ia acontecer e é aí que a autora se revela genial, deixando o leitor apavorado, com a respiração suspensa. É aquela sensação de saber que algo terrível vai acontecer e, mesmo sabendo exatamente o que será, você não pode fazer nada para impedir.

O parágrafo que encerra o livro tem apenas duas frases. Duas míseras frases que, em seu contexto, são muito mais assustadoras do que todas as explicações detalhadas das outras 206 páginas. Mas nem isso é capaz de tornar “A Mulher de Preto” um livro excelente. Porém “competente” eu diria que sim.

Título: A Mulher de Preto
Autora: Susan Hill
Nº de páginas: 207
Editora: Record

5 comentários:

Mandy disse...

Adorei a resenha, pois foi sincera.
É a segunda que leio sobre esse livro, e continuo querendo comprá-lo logo para poder ler.

BjO
http://the-sook.blogspot.com.br/

Cida disse...

Oi Mari!
Eu resenhei esse livro, e também não gostei muito dele.
Você não viu o filme, eu sim, e está certo o que você escreveu, engrenou melhor nas telas.
O livro demora muito para entrar num clima de suspense, e para falar a verdade nem entra realmente.
Eu vi outras resenhas que adoraram o livro e tal , e fiquei até pensando se não exagerei quando fiz a resenha.

Gostei muito mesmo da sua.
Depois se puder, leia a minha.

Bjos!
Cida
http://www.moonlightbooks.net/

Juliana disse...

Oi, Mari!
Queria tanto ler esse livro :(

NA VERDADE, tô muito na pilha de ler um livro de terror, e nunca sei qual pegar hahaha
mas, pleo visto, Mulher de Preto não é tããão bom assim. Eu não cheguei a ver o filme, mas acho que deve ser legal ^^

Sua resenha ficou ÓTIMA, de verdade :)

beijooo!

Ju
julianagiacobelli.com

Lia disse...

Olá!! Vim parar aqui no blog justamente caçando resenhas deste livro.
Queria ter comprado esse livro na Bienal SP, mas fiquei na vontade porque ele tinha acabado, aí resolvi checar nos blogs se o livro realmente é tão bom quanto parece.
Confesso que a sua resenha me deixou bastante indecisa, mas acho que estou tendendo mais a comprar mesmo, pois não tenho a mínima coragem de assistir ao filme, hahaha!
Gostei muito da parte que você fala do final, e das 2 últimas frases, mesmo tendo jogado um balde de água gelada em seguida, hahaha! Mas fiquei curiosa!
Beijão!!

Anônimo disse...

Também li esse, e concordo plenamente com você! e olha que sou uma simples leitora, longe de fazer resenhas e tal. Maria Letícia.

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