“As palavras reunidas ano após ano, livro após livro, de repente se alinharam, assumindo uma inexplicável dimensão. Ao sabor dos seus sortilégios eu deixava esta vida, este mundo, e penetrava num outro lugar. Um lugar onde não existia o tempo, nem os outros. Um lugar onde eu exercia um papel fundamental, uma espécie de deus eufórico e afoito: ao sabor das minhas palavras as coisas aconteciam, gentes nasciam e morriam feito flores, vinha a água e cobria tudo, cresciam trepadeiras, erguiam-se sonhos, havia o amor e havia a vingança, e tudo era segundo a minha vontade. Não que isso fosse isento de trabalho e esforço, até mesmo de uma intensa dose de angústia, mas era de um egoísmo maravilhoso.” (WIERZCHOWSKI, p. 88, 2013)
O farol sempre fez parte da família Godoy quase como um parente de sangue. Nos corredores de sua casa, Ivan se apaixona por Cecília, mesmo sob a sombra e recriminação de sua mãe que anos mais tarde viria a assombrar Julieta, uma das filhas do casal. O farol - testemunha de seu romance – é testemunha também dos romances e vontades de seus outros filhos - Lucas, Tiberius, Orfeu e as gêmeas Flora e Eva – e acompanha suas vidas enquanto crescem na pequena ilha de La Duvia. Lucas é parecido com o pai, Tiberius gosta de estrelas e ocupa um lugar especial do coração da mãe, Orfeu gosta de poesia e é dotado de uma beleza que atrai olhares onde quer que vá, Eva e seus cabelos vermelhos também realizam suas conquistas enquanto Flora – sua gêmea em nada parecida – faz amizade com livros e descobre o poder das palavras, escrevendo o seu próprio. Quando o livro de Flora chega às mãos de Julius Templeman, um professor europeu que parte para La Duvia em busca da autora do livro que lhe arrebatou, tem início um romance que mudará o destino dos membros da família Godoy. Tudo isso é registrado por Cecília que escolhe uma cor para representar a si mesma, o marido e cada um de seus filhos e tece um tapete que conta suas histórias.
“Sal” é aquele tipo de livro que fisga o leitor sem que ele saiba determinar em que momento ou porquê. As primeiras frases já despertam interesse, mas a experiência com “Sal” vai além de um mero interesse. É uma leitura que absorve o leitor para dentro de seu mundo de modo que ele quase consegue sentir a maresia de La Duvia.
Os membros da família Godoy se revezam para nos apresentar a família sob diferentes perspectivas e cada um dá um tempero único à trama. Nesses momentos, conhecemos tanto do personagem que narra quanto daqueles que fazem parte de sua narração e somos conduzidos ao cerne de seus conflitos, passeando por passado e presente. Embora alguns personagens recebam mais destaque, todos foram bem construídos e a autora soube dosar a participação de cada um na história, não forçando tramas paralelas desnecessárias.
O livro é dividido em três partes e os dramas dos personagens são tão vívidos que cada parte poderia constituir um livro isolado. As histórias contadas por Flora e Tiberius, por exemplo, poderiam facilmente serem o todo de algum livro (como o caso de “Ana Terra” ou “Um Certo Capitão Rodrigo” em “O Tempo e o Vento” de Erico Verissimo – resenha em breve).
Se a princípio a trama parece ser sobre algo, na metade ela parece ter seu foco alterado e depois mais uma vez e mais outra, se tornando tão cheia de nuances e linhas interligadas quanto o tapete de Cecília. Por essa razão, acho que dificilmente uma mera sinopse dá ao leitor um panorama claro do que ele encontrará em “Sal” então, a meu ver, ler as primeiras páginas é a melhor maneira para saber se esse livro o agradará ou não. Confesso, inclusive, que se já não tivesse lido alguns livros de Leticia Wierzchowski provavelmente não teria lido “Sal”. A premissa – pura e simples - da história não me interessou, mas, ao ler o livro, apreciei cada aspecto da trama, da construção dos personagens e me deliciei com a maneira como a autora contou essa história. Penso que “Sal” poderia facilmente ser um livro tedioso dependendo do modo como fosse conduzido, mas Leticia o conduz suave e intensamente ao mesmo tempo, mantendo-o envolto por uma áurea poética e deixando o leitor encantado em cada página. Eu já era fã da narrativa da autora devido as minhas leituras prévias, mas “Sal” veio a reforçar para mim que Leticia Wierzchowski é uma das escritoras brasileiras mais talentosas e habilidosas da atualidade.
“Sal” foi o livro escolhido pela Intrínseca para dar início às publicações nacionais da editora e a escolha não poderia ter sido melhor. É um livro lindo que consegue ser intenso e sublime ao mesmo tempo. Repleto de sentimentos e poesia. Amores, pesares e contradições. Como as melhores histórias. Como as melhores vidas.
O farol sempre fez parte da família Godoy quase como um parente de sangue. Nos corredores de sua casa, Ivan se apaixona por Cecília, mesmo sob a sombra e recriminação de sua mãe que anos mais tarde viria a assombrar Julieta, uma das filhas do casal. O farol - testemunha de seu romance – é testemunha também dos romances e vontades de seus outros filhos - Lucas, Tiberius, Orfeu e as gêmeas Flora e Eva – e acompanha suas vidas enquanto crescem na pequena ilha de La Duvia. Lucas é parecido com o pai, Tiberius gosta de estrelas e ocupa um lugar especial do coração da mãe, Orfeu gosta de poesia e é dotado de uma beleza que atrai olhares onde quer que vá, Eva e seus cabelos vermelhos também realizam suas conquistas enquanto Flora – sua gêmea em nada parecida – faz amizade com livros e descobre o poder das palavras, escrevendo o seu próprio. Quando o livro de Flora chega às mãos de Julius Templeman, um professor europeu que parte para La Duvia em busca da autora do livro que lhe arrebatou, tem início um romance que mudará o destino dos membros da família Godoy. Tudo isso é registrado por Cecília que escolhe uma cor para representar a si mesma, o marido e cada um de seus filhos e tece um tapete que conta suas histórias.
“Sal” é aquele tipo de livro que fisga o leitor sem que ele saiba determinar em que momento ou porquê. As primeiras frases já despertam interesse, mas a experiência com “Sal” vai além de um mero interesse. É uma leitura que absorve o leitor para dentro de seu mundo de modo que ele quase consegue sentir a maresia de La Duvia.
Os membros da família Godoy se revezam para nos apresentar a família sob diferentes perspectivas e cada um dá um tempero único à trama. Nesses momentos, conhecemos tanto do personagem que narra quanto daqueles que fazem parte de sua narração e somos conduzidos ao cerne de seus conflitos, passeando por passado e presente. Embora alguns personagens recebam mais destaque, todos foram bem construídos e a autora soube dosar a participação de cada um na história, não forçando tramas paralelas desnecessárias.
O livro é dividido em três partes e os dramas dos personagens são tão vívidos que cada parte poderia constituir um livro isolado. As histórias contadas por Flora e Tiberius, por exemplo, poderiam facilmente serem o todo de algum livro (como o caso de “Ana Terra” ou “Um Certo Capitão Rodrigo” em “O Tempo e o Vento” de Erico Verissimo – resenha em breve).
Se a princípio a trama parece ser sobre algo, na metade ela parece ter seu foco alterado e depois mais uma vez e mais outra, se tornando tão cheia de nuances e linhas interligadas quanto o tapete de Cecília. Por essa razão, acho que dificilmente uma mera sinopse dá ao leitor um panorama claro do que ele encontrará em “Sal” então, a meu ver, ler as primeiras páginas é a melhor maneira para saber se esse livro o agradará ou não. Confesso, inclusive, que se já não tivesse lido alguns livros de Leticia Wierzchowski provavelmente não teria lido “Sal”. A premissa – pura e simples - da história não me interessou, mas, ao ler o livro, apreciei cada aspecto da trama, da construção dos personagens e me deliciei com a maneira como a autora contou essa história. Penso que “Sal” poderia facilmente ser um livro tedioso dependendo do modo como fosse conduzido, mas Leticia o conduz suave e intensamente ao mesmo tempo, mantendo-o envolto por uma áurea poética e deixando o leitor encantado em cada página. Eu já era fã da narrativa da autora devido as minhas leituras prévias, mas “Sal” veio a reforçar para mim que Leticia Wierzchowski é uma das escritoras brasileiras mais talentosas e habilidosas da atualidade.
“Sal” foi o livro escolhido pela Intrínseca para dar início às publicações nacionais da editora e a escolha não poderia ter sido melhor. É um livro lindo que consegue ser intenso e sublime ao mesmo tempo. Repleto de sentimentos e poesia. Amores, pesares e contradições. Como as melhores histórias. Como as melhores vidas.
10 comentários:
Oi Mari,
Às vezes um livro não tem uma história bem definida, mas várias entrelaçadas, e não é bem sobre o que ele fala, mas como a autor(a) desenvolve isso, que consegue nos cativar. Este parece ser o caso.
Gostei muito da resenha. Sal é certamente um livro que eu leria futuramente, caso surgisse a oportunidade certa.
Beijos!
Vi esse livro nas cortesias do Skoob, mas não ganhei. :/ Adorei sua resenha, Mari. Me fez tremer de vontade de ler! Gostei de ver que a trama tem um enlaço todo especial.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
GFC: Gabriela Cerutti Zimmermann
Que bom que você escreveu o final da resenha! rs
Eu não me interessei pela sinopse e premissa da história, mas realmente os personagens parecem muito bem construídos e todo este lance familiar, tão bem descrito, tão cheio de "veracidade", isso sim me encanta e me faz querer ler SAL.
Nunca li nada da autora e pretendo dar uma chance ao livro, principalmente pela sua indicação. É meio no "escuro", mas acho que valerá a pena.
bjs
GFC: Ana Paula Barreto
Fiquei bem curiosa lendo a resenha!
Com a capa eu não me animei muito, mas estou querendo o livro!!
GFC: Thaynara Ribeiro
Achei a capa do livro super misteriosa e agora lendo a resenha entendi o porquê. Acho que pra uma história mais profunda, que lide bastante com sentimentos é bom quando a capa já nos dá essa sensação pra o leitor não se confunda... E o livro é nacional? Não sabia, já tinha visto resenha dele em vídeo e fiquei curiosa.
Olá, Mari, que resenha interessante! Devo confessar que o título do livro me pareceu morno, mas agora que li a resenha já penso em ler o livro. Aliás, nunca li nada da Letícia.
Ótimo blog!
Eu achei a capa super bonita, mas lendo a resenha e a sinopse do livro, não me interessei (não sei pq!), a história não me chamou muito a atenção. Gostei da resenha, bem explicada.
GFC: Rayssa Gimenes
Vou ser bem sincera; a ideia da autora foi boa, porem nao em prendeu atenção como eu esperava, sei lá, parece que faltou um Q a mais, achei a capa um amor.
Jessica Lisboa
xx
Adorei, gosto de sagas onde vamos acompanhando os personagens no decorrer dos anos, também tem muito romance e poesia, também se tratando da autora de a Casa das sete mulheres seria difícil esperar menos.
Ana de Cassia Oliveira
Confesso que me senti um pouco confuso com o primeiro parágrafo da resenha, pois foram citadas várias personagens. Mas com o decorrer da resenha, percebi que ao ler o livro, isso não será problema. E, se esse livro foi escolhido como o pontapé inicial para lançamentos de autores nacionais da Intrínseca, deve ser muito bom.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
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