segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

RESENHA: Viagem ao Centro da Terra

“Nós éramos de fato as únicas criaturas vivas desse mundo subterrâneo. Por certas acalmias de vento, um silêncio, mais profundo que os silêncios do deserto, descia sobre as rochas áridas e pesava sobre a superfície daquele mar. Eu procurava então penetrar as brumas distantes, rasgar a cortina lançada sobre o fundo misterioso do horizonte.” (VERNE, pag. 151, 2011)

Embora não possa me considerar uma fã da literatura fantástica e apenas recentemente tenha passado a reconhecer os encantos da ficção cientifica, minha vontade de ler Julio Verne surgiu por ser uma apreciadora da literatura clássica. Confesso, porém, que minha experiência com “Viagem o Centro da Terra” – uma das principais obras deste que é considerado o pai da ficção científica - não foi nem de longe tão empolgante quanto eu esperava.

Uma mensagem cifrada dentro de um livro antigo é o que leva o excêntrico professor Lidenbrock e seu sobrinho Axel em uma aventura perigosa que apenas um homem antes deles ousou enfrentar. A promessa da mensagem: “(...) chegarás ao centro da Terra. O que eu fiz.”

A proposta do livro é riquíssima, mas o seu desenvolvimento não me agradou como eu imaginava. Narrado em primeira pessoa pelo sarcástico Axel que não tarda a apresentar o leitor ao seu excêntrico, irritado, obcecado - porém genial – tio, “Viagem ao Centro da Terra” parece indicar nos primeiros capítulos que o leitor será jogado dentro da ação já no início e nela permanecerá até o fim, mas a meu ver não é isso que acontece. A descoberta da mensagem, a decifração do enigma, os preparativos para a viagem, tudo isso ocorre rapidamente, mas a partir do momento que os dois embarcam para a aventura, tudo que temos são os lugares por onde passam. Imaginativos e escritos com riqueza de detalhes, mas sem trazerem conflitos à história e sim meros percalços no caminho. Esse foi o meu problema com “Viagem ao Centro da Terra”: a mim pareceu uma história em que as coisas não acontecem aos personagens e sim ao redor deles. Eles se deparam com uma surpresa - algo surreal e inusitado - lidam com isso e seguem adiante para, logo mais, se deparar com outra. Nada acontece com eles ou entre eles.

Os capítulos são curtos, o que permite ao leitor respirar com frequência, pois embora a linguagem de Verne não seja maçante, sua narrativa é bastante descritiva. Além disso, como se trata de um relato de uma longa jornada não se pode esperar que este relato seja mais ágil que os acontecimentos que lhe deram origem.

Contando basicamente com dois personagens, o livro se vale das personalidades ricas tanto de Axel quanto Lidenbrock para dar nuances à jornada, visto os dois tem pontos de vista diferentes ou até mesmo contraditórios. Um é reticente, o outro, empolgado. Um aproveita as belezas do caminho, o outro só pensa em cumprir o objetivo da missão.

Eu, que gosto de literatura e cinema clássico, costumo dizer que ao ler esses livros - ou assistir esses filmes - é preciso levar em consideração a época em foram feitos e o que acrescentaram às suas artes, e não tenho dúvidas que “Viagem ao Centro da Terra” merece reconhecimento. As situações apresentadas são muito criativas, principalmente por conseguirem aliar a ciência ao fantástico, e por isso é muito fácil entender porque o livro deve ter sido de grande influência para autores de fantasia. O princípio dos grandes livros do gênero está todo ali e Verne merece reconhecimento por isso. Também é fácil entender o fascínio que o livro provocou trazendo para a literatura algo inovador na época.

“Viagem ao Centro da Terra” já recebeu duas adaptações cinematográficas (uma em 1959 outra em 2008) e embora não tenha tido a oportunidade de assistir nenhuma delas, me parece que ambos os roteiro não foram fiéis ao livro, acrescentando personagens e alterando algumas situações. Isso só prova o quanto a essência de “Viagem ao Centro da Terra” é rica e promissora, mas que o livro peca pela falta de conflitos e desenvolvimento de relações por ter sido escrito em uma época em que a criação daqueles cenários e situações era inusitado o suficiente para ser o cerne da trama.

Já ouvi dizer que “Viagem ao Centro da Terra” não é o melhor livro para se começar a ler Julio Verne e talvez esse tenha sido o meu erro. Reconheço os méritos da obra, mas minha experiência com ele esteve aquém do que eu esperava.

Título: Viagem ao Centro da Terra (exemplar cedido pela Editora Martin Claret)
Autor: Julio Verne
Nº de páginas: 220
Editora: Martin Claret

12 comentários:

Unknown disse...

Oi, Mari,
Eu adoro o Verne pelos poucos livros que li dele <3 este entre eles rs
Realmente não acontece muita coisa, mas eu curti muito a história em si e o seu desenvolvimento, além de ser curtinha.
Gosto de como o autor sempre cria um personagem gênio em suas histórias. Acho que você vai se dar melhor com A Ilha Misteriosa, que é mais dinâmico, com mais personagens e tem até um certo toque de mistério.
Beijos!

Unknown disse...

Oi Mari, nunca li nada do Verne, mas tenho muito interesse. Quem sabe qualquer dia, a sua resenha me deixou um pouquinho mais curioso, mas como comentou nossa amiga Eduarda Menezes ali em cima, melhor começar com A Ilha Misteriosa.
Eu já assisti aos filmes tanto de "Viagem ao Centro da Terra", como "A Ilha Misteriosa", e gostei bastante. Os filmes são ótimos, com muito aventura e ficção, além daquele toque clássico nas obras de Julio Verne. Parabéns pela resenha!

http://blogliterariopalavrasaovento.blogspot.com.br/

Gabriela CZ disse...

Quero muito ler Julio Verne por gostar de ficção científica e clássicos, mas ainda não tive oportunidade de ler nenhum de seus romances.

Vi apenas o filme de 2008, e é meio que uma adaptação contemporânea. Adorei a resenha.

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Luana Almeida disse...

Com tantos lançamentos, às vezes esquecemos dos clássicos, mas também acho que eles devem ser valorizados.
Nunca li Julio Verne, mas é bom saber que no dia que ler devo começar por outro livro...

Unknown disse...

Ainda não li os livros de Julio Verne e também não conheço quais são, mas essa de começar com A Viagem ao centro da Terra já ouvia lido em outro lugar. É uma pena não ter tido uma boa primeira impressão com o autor mesmo sabendo que acontece muitas vezes. Beijo

Dreeh Leal disse...

Eu sou péssima com clássicos, e apesar de conhecer o titulo, não sabia que era um livro!
Eu assisti a ultima adaptação que ele teve, e foi bem legal. Acho a proposta dele muito rica mesmo, pena que não agradou a você =/

Ahhhh, lá no blog está rolando uma Gincana de Natal. A Ultima prova está no ar valendo o livro Na ilha! Tambem tem a ultima pova surpresa, valendo um kit com diversas coisas da Bruna Vieira e seus livros. Quem participar de duas provas ou mais, vai concorrer automaticamente a um kit com vários livros e uma ilustração sua! Confere lá ;D

Beeijos, Dreeh.
Blog Mais que Livros

(Ava) Amanda V. Almeida disse...

Oi Mari, tudo bem?
Ainda não li Viagem ao Centro da terra, mas já li A volta ao mundo em 80 dias e gostei bastante. é um livro muito divertido. Te aconselho a ver a adaptação de 2008. não seguiu o livro, mas tem o livro como uma espécie de guia.
Abraços,
Amanda Almeida
Você é o que lê

Unknown disse...

Oi Mari, estou curiosa por essa história desde o lançamento do filme, que ainda não assisti porque quero ler o livro primeiro.
Adorei saber que ele é escrito em pequenos capítulos, acho que em livros assim a leitura flui melhor.
Parabéns pela sua resenha, ela está muito bem escrita e informativa! Me deixou querendo ler mais ainda

depoisdeumlivro.blogspot.com
espero a sua visita (:

Rossana Batista disse...

Eu já assisti ao filme. O livro eu ainda não tive oportunidade de ler, mas talvez eu ainda demore um pouquinho para fazer isto. Não sou muito chegada a livros muito descritivos.
Então leria em outro momento.

Roberta Moraes disse...

Realmente ao se ler um livro deve-se pensar na época em que ele se passa ou foi escrito, isso pode fazer uma grande diferença! Eu adoro livros desse tipo, bem viajados.
Espero poder ler algum dia :)

Adriana disse...

Não li esse livro ainda, mas já vi o filme, a adaptação de 2008 e gostei muito, alias, gostamos muito, eu e meus filhos! Não sabia que nenhuma das adaptações feitas, não foi totalmente fiel ao livro, mesmo assim, tenho vontade le-lo, estou em falta com leitura de clássicos, faz um bom tempo que não leio nada assim! Mesmo com suas ressalvas, gostei muito da resenha!
Adriana

Nardonio disse...

Nunca li nada do Júlio Verne e também não assisti nenhum dos filmes. Confesso que não sou muito fã de narrativa muito descritiva, mas por se tratar de um clássico do gênero, tenho que ler esse livro.
Uma pena que ele não te empolgou tanto assim, mas é até compreensível. às vezes, vamos com muita sede ao pote, e acabamos ficando um pouco frustrados, né?!?!

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

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