terça-feira, 14 de janeiro de 2014

RESENHA: Extraordinário

“Eu gostaria que todos os dias fossem Halloween. Poderíamos ficar mascarados o tempo todo. Então andaríamos por aí e conheceríamos as pessoas antes de saber como elas são sem máscara.” (PALACIO, 2013, p. 80)

***

Para ser sincero, a premissa de Extraordinário me parecia vagamente interessante, mas sempre havia outros livros que me chamavam mais a atenção. Certo dia, decidi ler a amostra disponibilizada no site da Editora Intrínseca, a qual deixou um persistente gostinho de quero mais.

August é portador de uma rara síndrome genética que resultou em severas deformidades faciais, sendo necessária a realização de inúmeras cirurgias reconstrutivas. Apesar do rosto fora do comum, a percepção de Auggie é de que ele é quase tão comum quanto qualquer outra criança. Mas quando começa a freqüentar a escola pela primeira vez, percebe que nem todos os alunos pensam dessa forma.

O livro é narrado em primeira pessoa por diversos pontos de vista e o mais impressionante é como a autora conseguiu encontrar “vozes” distintas para cada um dos personagens narradores. Além disso, os cortes nas alterações de ponto de vista foram feitos com precisão, não afetando a continuidade da estória, mas a enriquecendo ainda mais.

Contando com capítulos curtos e dinâmicos, R. J. Palacio sabe manter a atenção do leitor, abordando assuntos complexos de forma sutil. Apesar do conteúdo profundo, este se mostra acessível ao público alvo, transmitindo uma lição de vida, mas sem utilizar-se de nenhum “sermão”. Ainda que claramente destinado ao público infanto-juvenil, garanto que qualquer pessoa será cativada pela estória de Auggie.

Agora, sejamos honestos: crianças sabem ser más quando querem, tirando sarro de todo aquele que não se encaixa no grupo. Na adolescência a maldade chega a seu ápice, sendo que apenas durante a fase jovem/adulta que algum senso de civilidade é incutido na maioria das pessoas. Ainda assim, algumas perguntas me “assombraram” durante a leitura: será que nos tornamos tão superficiais a ponto de considerar mais importante a beleza do que o caráter? Será que respeitamos de fato ou apenas toleramos aqueles que são diferentes de nós? Como já dizia Antoine Saint-Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos”.

Além de levar o leitor a refletir, independentemente de sua idade, a autora consegue mostrar a importância e a grandeza de inúmeros valores, tais como a amizade, a coragem, a força, a bondade e a gentileza. Aliás, tenho certeza que jamais esquecerei a ideia de ser “mais gentil do que o necessário” (p. 302).  

Extraordinário se trata de uma incrível jornada de amadurecimento, uma celebração a diferença e, como bem observou a revista Veja, “um manifesto em favor da gentileza”. Creio que se tiver filhos, este será um dos primeiros livros com o qual os presentearei. Simples, mas profundo. Exatamente como a vida.

Não deixem de conferir o site: www.choosekind.tumblr.com

Título: Extraordinário (exemplar cedido pela editora)
Autor: R. J. Palácio
N.º de páginas: 316
Editora: Intrínseca

12 comentários:

Michelle Agda disse...

Posso dizer o quanto estou emocionada ao ler essa resenha? :') Só de ler a sinopse certa vez, fiquei com uma imensa vontade de ler 'Extraordinário', aí aparecem com essa resenha super-positiva e eu fiquei aqui, babando para ler. Acredito que seja um livro que deve ser lido por todos, para ficar evidente que não devemos julgar uma pessoa pela aparência :)

Ana Paula Barreto disse...

Perfeito! Esse livro é muito lindo e emocionante.
Realmente nos faz refletir sobre muitas coisas e até rever algumas posturas e atitudes.
Infelizmente acho que nossa sociedade vive de aparências e isso leva a atos completamente desnecessários e cruéis.
Mas acho que no final das contas, Extraordinário é mais do que isso. É uma história sobre amadurecimento, mudança de atitudes, amizade e respeito.
Recomendo!
bjs

Unknown disse...

Sua resenha foi a melhor que li até agora (desse livro). Como disse a Michelle, fiquei EMOCIONADO. Parabéns, Alê, você tirou as palavras da minha boca. Esse livro é maravilhoso! Adorei quando você citou "será que nos tornamos tão superficiais a ponto de considerar mais importante a beleza do que o caráter?" Foi realmente emocionante, continue fazendo resenhas assim.. ahh, parabéns mesmo!

http://blogliterariopalavrasaovento.blogspot.com.br/

Leticia Golz disse...

Oi Alexandre..
Tenho vontade de ler este livro, mas sempre acabo comprando outros..
A história me chama muita atenção, e a cada resenha lembro que tenho que comprar..rs
Parabéns sua resenha foi esclarecedora..
Olha estou seguindo, pois amei o blog..
Se gostar do meu blog, segue também :))

beijos
livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

Unknown disse...

Eu gosto desses temas e de livros sobre esses temas. Sabe por quê? É que embora existam Julians, e existam Summers... a maioria das pessoas fica exatamente no limiar do Jack. E é difícil ser Jack.

Eu me vejo com um coração de Summer, um discurso de Summer. Mas eu sei que no fundo eu me pego na situação Jack. A gente encara disfarçadamente alguém com qualquer fator "anormal". Aquela pessoa com um sinal no rosto, com uma queimadura, que falta um dedo. E por aí vai.
A gente finge que não vê, mas se pega pensando 'coitada!' ou até mesmo, 'como será que é para ela, para seu namorado...'. Não é exatamente um preconceito, mas a gente não sabe muito bem como agir, e por não saber a gente muitas vezes (até sem intenção) acaba procurando se afastar dessas situações como o próprio Jack.

Acho esse livro gostoso, sutil e profundo. Pelos motivos que falei e por intensificar isso na fala da irmã dele.
Para mim, não existe uma solução para isso. A Hazel de A culpa é das estrelas traz apra mim esse discurso o tempo todo. A verdade é que a gente fica dividido entre ajudar o cego e não ajudar para ele não pensar que sentimos pena dele e o julgamos incapaz.

É um jogo duro.

liliescreve.blogspot.com

Gabriela CZ disse...

Quero muito ler Extraordinário e Passarinha, que tem uma proposta parecida mas em torno do autismo. Realmente a sociedade não aceita o "diferente", seja em qual aspecto for. Ótima resenha.

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Ana Clara Magalhães disse...

Oi Alê.

Tô louca para ler esse livro desde que vi a resenha em vídeo da Tatiana Feltrin, mas a sua resenha também me deixou mais louca ainda por ele.

Beijos!

http://roendolivros.blogspot.com.br/

Mallu Marinho disse...

Que resenha linda! Extraordinário já estava entre as minhas próximas leituras, mas depois dessa maravilhosa opinião que li, vou passá-lo a frente e começar agora. Esse tipo de livro é muito especial, marcante e inesquecível. Se eu pudesse, só leria livros assim. Livros pra levar na memória para sempre.

Anônimo disse...

Olá Alexandre...Tudo bem??
Não li esse livro ainda, mas ele deve ser realmente algo que marca a vida dos leitores. Acho que a capa super combina com a história. Estou ansiosa para poder conferir mais esta historia!!Adoro aprender lições e chorar junto aos personagens
Abraço!!

Nardonio disse...

No início, não tinha me interessado muito por esse livro, pois pensava que tinha uma abordagem bem mais densa do que realmente tem. Depois fui me convencendo de que ele tem seus encantos. Posso dizer que o que mais me agrada é saber que ele nos deixa reflexões bem interessantes, e é ideal para todas as idades.

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

Adriana disse...

Esse livro parece realmente ser muito bom! Toda resenha que leio dele, fico mais convencida que a autora acertou em cheio na historia e conseguiu construir ótimos personagens! Gosto muito de historias que nos traz alguma lição a ser aprendida e quando essa lição é passada de forma tão sutil, como voce muito bem disse, a historia se torna muito melhor! Excelente resenha!
Adriana

Unknown disse...

Sobre essas perguntas que você fez: eu acho que, antes de ler este livro, minhas respostas seriam diferentes do que são agora. A escrita dessa mulher me mudou. Hoje eu sou, de fato, uma pessoa melhor. Também darei um exemplar desde livro para o meu -futuro- filho.

Beijos,
literarizei.blogspot.com

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