“— Vários magos — disse, gesticulando — tentaram concentrar
poderes mágicos em um objeto físico. Não é uma operação difícil e o objeto pode
ser qualquer coisa que o mago queira. [...]. Examinemos o caso dos anéis. Há
muito consideram-se os anéis particularmente adequados a esse tipo de magia, em
virtude de seu tamanho pequeno. [...] Entretanto, é raro encontrar um só mago
na história que, tendo depositado parte de suas habilidade e poderes em um anel
mágico, não tenha de alguma forma perdido o adorno e se metido num mundo de
dificuldades para reavê-lo.” (CLARKE, 2005, p. 254).
***
Todo fã de Friends deve lembrar da icônica cena do Ross
cantando “I like big butts and I can not lie” para a Emma (caso não lembre,
clique aqui). De minha parte,
preciso admitir: “I like big books and I can not lie”. Não sei
exatamente por que, mas livros grandes exercem uma atração quase sobrenatural
sobre este que vos fala. E um livro com mais de oitocentas páginas, que ainda
por cima é comparado a Jane Austen e J. R. R. Tolkien, é um livro que eu PRECISAVA ler.
Há muito tempo acreditava-se que a prática da magia estava
extinta na Inglaterra, quando surge Mr. Norrel realizando feitos impressionantes.
Tudo muda quando seu discípulo, Jonathan Strange, começa a ter opiniões contrárias
a de seu mestre, ocasião em que os magos tomam caminhos distintos.
Apesar da influência dos autores citados estar presente na narrativa
de Susanna Clarke, a comparação me pareceu exagerada. Austen dá vida as
palavras, usando-as de uma forma cheia de significado, Tolkien, por sua vez,
cria aventuras repletas de ação e perigos, transportando o leitor para seus
cenários. Ambos os autores também se destacam na construção de personagens críveis
e cativantes. A meu ver, afirmo que não observei nenhuma destas qualidades
na obra de Clarke, que apresentou dois grandes problemas.
O primeiro foram os protagonistas, que não geraram muita empatia. Mr. Norrel é excêntrico, enfadonho e arrogante, enquanto Jonathan
Strange, apesar de ser mais interessante que o outro, é um tanto insosso e sem
graça. A meu ver, personagens secundários se mostraram muito mais atraentes que
a dupla de magos.
Além disso, creio que qualquer autor que se disponha a
escrever um livro grande deve ter em mente que é necessário manter a atenção do
leitor presa do início ao fim, todavia, a leitura se mostrou arrastada e entediante
a maior parte do tempo. A estrutura linear da estória, sem reviravoltas, e seu
ritmo vagaroso davam a impressão que nada estava acontecendo.
O final apresenta uma melhora significativa e a estória
parece ganhar um novo fôlego, sendo que até mesmo a narrativa começa a fluir
mais naturalmente. Mesmo assim, o desfecho não impressiona e ainda deixa pontas soltas, não respondendo a muitas das minhas perguntas.
A estória de Strange e Norrell é interessante? Sem dúvidas,
porém, sua pretensa grandiosidade se tornou seu calcanhar de Aquiles. Já ouviu
falar que, às vezes, menos é mais? Esse era o caso. Por isso, imagino que a
série inspirada na obra e produzida pela BBC, com previsão de estréia para esse
ano, possa fazer jus a estória.
Autora: Susanna Clarke
N.º de páginas: 817
Editora: Companhia de Letras
14 comentários:
Não conhecia o livro e não fiquei com muita vontade de ler.
Se tivesse parado na comparação com Jane Austen e Tolkien, provavelmente teria corrido para comprar. Mas aparentemente é propaganda enganosa! rs
Acho que quando os personagens não geram empatia e a trama não é bem escrita (não tem ritmo, não tem um "roteiro" fechado, etc), não tem como classificar como um bom livro.
bjs
Comparado a Jane Fucking Austen e Tolkien?! ...wow. Wow, wow.
Sabia que viria uma crítica sua um pouco contrária a essas afirmações, pois, cá entre nós que conhecemos esses dois autores: tem que ter MUITA bagagem pra ser aclamado e comparado a ninguém menos que a mãe do romance britânico e ao grande gênio e mestre da literatura fantástica mundial. Entendo completamente o que quis dizer quanto a empatia, e Deus queira que, um dia, os escritores entendam que criar um personagem empático com o leitor tornará seu livro uma delícia de ser lido. E empatia não tem absolutamente nada a ver com "legalzice"; existem personagens odiáveis na literatura mundial - como Hannibal Lecter, Simon Price e Dolores Umbridge - que caem no gosto da galera e geram empatia com o leitor. E, é claro, se você se dispõe a escrever um livro com mais de quinhentas páginas, é preciso se preocupar com o tom do livro. Quanto maior o livro, mais a linha do interesse fica esticada, e pode ser muito fácil ela se romper e, finalmente, o livro se tornar um tédio. Também acho que não adianta você querer recosturar as pontas que quebraram depois que o livro já está acabando: o livro é um todo, e não só o fim.
Adorei sua sinceridade na resenha, meu caro. Te confesso que a capa do livro é adorável - amo capas simples, e ainda mais aquelas monocromáticas, como essa de Jonathan Strange & Mr. Norrell. Entendo todas as suas críticas e concordo com elas na maior parte, apesar de nem mesmo ter lido o livro (ainda). Parece que temos gostos parecidos para analisar literatura. =D
Estou devidamente seguindo o Blog, já que o adorei!, e vou tentar sempre estar voltando por aqui. ^^
Beijão!
(aliás, genial ter citado Friends no início!)
"Achou o Quê?":
http://achouoque.blogspot.com.br/
Acho que temos gostos super parecidos! Eu a.m.o Friends e esse episódio é clássico, e eu também sou atraída por livros grandes. Nunca tinha ouvido falar desse livro, mas se eu tivesse parado em ''é comparado a Jane Austen e J. R. R. Tolkien'' já colocaria na minha ''pequena'' lista de livros. Pelo que você resenhou, os personagens não foram bem construídos, a leitura lenta e vários pontos negativos, me fez pensar duas vezes em colocar esse livro para comprar. Talvez eu pesquise mais algumas resenhas para ver a opinião de outros para ter certeza se devo ou não comprar.
Não tenho nada contra livros grandes desde que o autor consiga manter uma linha do início ao fim e principalmente que prenda e envolva o leitor. Ainda não conhecia a obra e nem o autor e até me espantei com a comparação. Não leria por vários motivos. Mas principalmente pelo enredo. Se os protagonistas e o desenvolvimento deixa a desejar, nem vale a pena arriscar.
Comparações bem cruéis essas, hein?!?! Jane Austen e J. R. R. Tolkien?!?! É muita pressão. Tanto é que, geralmente, quando se vai ler algo assim, já se vai com altas expectativas, e o que acontece?!?! Frustração. E, ao contrário de você, livros grandes me causam um certo medo. Rsrsrs
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Quando você disse que disseram que a escrita se assemelhava a Jane Austen e a Tolkien, eu já estava quase procurando minha carteira para ir a uma livraria. Mas depois que terminei de ler sua resenha e vi que era propaganda enganosa.... Que decepção!!!
Mas não ficarei trite por causa disso. Há milhares de livros ótimos que estão me chamando....
Bjs
Não conhecia o livro, e, apesar de também ser uma grande fã dos famosos livros "tijolões", não me interessei muito por essa história. O que é mais difícil nesses livros longos é manter a atenção do leitor presa o tempo inteiro, acho que a narrativa e os personagens tem de ser marcantes o suficiente para não te fazer cansar deles no meio do caminho. Pelo que você disse, infelizmente esse livro não faz isso, então acho que não o leria mesmo...
Não conhecia o livro... achei bem legal sua resenha e fiquei bem curioso para lê-lo. *---*
Bjs
de-livro-em-livro.blogspot.com
Livros grandes também me atraem profundamente, fico tristinha quando o livro é pequeno :p
Fiquei toda animadinha no começo quando você disse sobre o livro ser grandão e sobre a Jane e o Tolkien, ainda mais quando veio o segundo paragrafo falando sobre magia e magos... para receber um verdadeiro balde de água congelada. Mesmo gostando de livros grandes, não encararia. Não sabia sobre essa série, talvez se achar interessante, quem sabe?
Beijinhos,
http://www.interacaoliteraria.com/
Nos comentários sobre o enredo fiquei empolgada e curiosa para ler, mas quando mencionou a narrativa arrastada fiquei meio assim. Acho que vou esperar a série da BBC e depois decido sobre o livro.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Quando você comentou que era comparado a Jane Austen e Tolkien eu comecei a ficar com vontade de ler. O enredo parece bem interessante também, infelizmente o grande ponto que provavelmente vai fazer com que eu passe essa leitura é o tamanho e seu comentário sobre o ritmo e os personagens. Eu normalmente não gosto de livros muito grandes e só consigo me convencer a ler um quando os comentários são muito positivos.
Realmente não conhecia o livro, e ao ler sua resenha não pude entender muito bem sobre o que se trata a historia. E realmente é um livro bem grande, e com toda certeza ele deve prender a atenção do leitor pois se não sua leitura fica maçante.
É uma pena um livro que prometia tanto não cumprir seu papel...talvez se o autor tivesse se preocupado mais com o conteúdo ao invés de se preocupar com a quantidade de páginas, a historia funcionasse! Mas também o fato de os protagonistas principais não serem cativantes, é mais um ponto negativo, infelizmente, não tive vontade ler!
Adriana
Bem, gosto é gosto.
Particularmente eu adorei esse livro, estando na minha lista dos meus preferidos.
Quanto aos personagens, achei que eles cumpriram com perfeição seus papéis. Mr. Norrell não era pra ser um personagem carismático, era pra ser um homem ranzinza, marrento e enfadonho, o que fez com maestria, conseguindo em vários momentos, apesar dessas características todas, ser carismático.
Acho que o carisma ficou para os personagens secundários, que brilharam de carisma, chegando a se tornarem em alguns momentos, até mais importantes que os protagonistas.
Não achei a história tão linear quanto você falou. Ela dá várias reviravoltas.
As notas de rodapé são um atrativo à parte.
Quanto ao ritmo da história, é um pouco lenta. É o tipo de livro de cabeceira de cama, onde se lê um pouco cada dia; não um livro que se pegue e queira ler em 2~3 dias.
O livro foi escrito com maestria, um dos melhores livros de fantasia do últimos anos. A comparação não é nem um pouco forçada ou exagerada, realmente está no mesmo nível das grandes obras.
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