“— Que bicho curioso é o homem!... Vaidoso, vingativo,
intolerante, leviano e principalmente fraco de memória. Esquece tudo, menos as
coisas relacionadas com a barriga, com o sexo e com a vaidade.” (VERISSIMO, 2005,
p. 265).
***
Confesso que ainda não conhecia a obra de Erico
Verissimo, apesar de sempre ter
curiosidade de ler algum livro dele. Escolhi Olhai os Lírios do Campo para ser meu primeiro contato com o autor por apenas um motivo: foi a obra que o tornou nacionalmente reconhecido, vindo a torná-lo famoso e lhe permitindo viver da literatura.
Eugênio Fontes nunca aceitou sua condição social e emprenhou
todas as suas forças para se tornar médico e alcançar o renome com o qual tanto
sonhou. Após formar-se, conhece Eunice, com quem casa por interesse, e
finalmente alcança o status que desejava. Quando Olívia, sua antiga
paixão, está a beira da morte, ele percebe que o preço pago pela sua
ambição pode ter sido muito alto.
Desde que li a sinopse do livro estava claro para mim que Olhai
os Lírios do Campo se tratava de uma obra de redenção. Por isso, não me
surpreendi com a narrativa de inúmeros episódios da vida de Eugênio, que
mostravam sua infância humilde, o sacrifício de seus pais para lhe darem
educação, a vergonha de sua situação financeira, o constante desejo de melhorar
de vida e alcançar o sucesso.
Tais eventos mostram como Eugênio desenvolveu um severo complexo
de inferioridade, que o fazia sentir-se deslocado na presença de seus colegas
mais abastados e a interpretar comentários alheios como indiretas à sua condição. Qualquer atitude ou palavra acabava por alimentar cada vez mais sua
ambição desmedida, sua ânsia em alcançar o sucesso e provar seu valor aos
demais.
O que na teoria até pode parecer uma premissa interessante,
não funcionou no papel. Creio que o principal problema em criar uma estória de
redenção é a necessidade de ter um personagem trilhando um caminho reprovável
ou que tenha um caráter duvidoso, mas que ainda assim consiga conquistar a empatia
do leitor. E este não é o caso de Eugênio, que é um personagem previsível e monótono.
E se um Eugênio se fazendo de coitado já era ruim, tudo fica
pior depois que Olívia aparece na trama. Além de ser uma personagem quase
irreal de tão altruísta, ela consegue tornar o protagonista ainda mais intragável visto que Eugênio
passa a sentir-se culpado e arrependido a todo o instante pelos mais variados
motivos.
A realidade é que a redenção de Eugênio demora muito para
acontecer, e quando acontece vem acompanhada de uma filosofia moralista e pretensiosa que não me agradou. Mas, para ser justo, a partir deste momento o
livro se torna um pouco mais interessante, apesar de seus defeitos.
Outro fator que provavelmente não ajudou meu envolvimento com
a estória foi a narrativa que continha descrições em excesso, principalmente do estado de espírito dos
personagens, que geralmente não mudava.
Se você está a pensar “Quem é você para criticar a obra de
Erico Verissimo?” lhe cubro de razão. Mas preciso ser sincero e reconhecer que
o livro não funcionou comigo e em minha defesa trago as palavras que o próprio
Erico teceu no prefácio do livro: “Confesso, entretanto, que não tenho muita
estima por esse romance. Acho-o hoje um tanto falso e exageradamente
sentimental.” (Ibid., p. 17).
Mesmo não tendo apreciado Olhai os Lírios do Campo, creio
que não se deve julgar o escritor com base em apenas um livro, e por isso ainda
pretendo ler outras obras de sua autoria, como a saga O Tempo e o Vento.
Para encerrar, friso que para os leitores de romance que não
se importam com um texto mais “meloso”, a obra pode agradar. Como disse o
próprio Erico: “Se a história deu prazer a tanta gente [...], não vejo razão
para impedir que ela continue a sua carreira” (Ibid., p. 18).
Autor: Erico Verissimo
N.º de páginas: 283
Editora: Companhia das Letras
10 comentários:
Não me simpatizo muito com a obra do autor e acho que não há problema nenhum nisso. Também concordo que não se deve julgar precipitadamente, mas ao se formar uma opinião fundamentada, não tem essas de "quem é você para criticar.. e blá blá blá".rs
Obviamente devemos respeitar o autor, pois não é à toa que ele é reconhecido e aclamado. Mas gostar ou não, é uma questão muito particular.
bjs
Olá, Alê! Já li o livro e inclusive resenhei em meu blog. Concordo com você, Eugênio é monótono, Olívia é irreal. E se o próprio autor achou-o falso, como poderei negar? Apesar dos defeitos e do tempo que demorei para ler, o livro deixou algo especial e é sem dúvida importante para muitos leitores. Ótima resenha!
Queria ler esse livro, mas saber que é meloso me deixa com um pé atrás. De todo modo, também pretendo ler O Tempo e o Vento.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Oi Alê, adorei a sua sinceridade na resenha. Li um livro do autor há uns 10 anos atrás (nossa, me senti uma velha agora, mas foi isso mesmo). Foi "Noite", e apesar de ter gostado, o livro me trouxe ao mesmo tempo emoções conflitantes, como a repulsa. É meio contraditório, mas pelo visto o autor mesmo tem um pouco disso.
Também tenho curiosidade de ler outras obras dele, mas acho que o estado de espírito manda muito.
Beijos
Depois de tanta gente falando bem de O Tempo e o Vento, fiquei curiosa para ler outra obra do autor... Estou passando curtir mais os livros do Erico Verissimo e esse não foi diferente.
Fica complicado ler algo em que o protagonista é muito chato e intragável. Outra coisa que não me agrada são esses excessos de descrições desnecessárias, pois se o estado de espírito das personagens quase não mudava, acho que não seria necessário se estender nelas. Enfim, se algum dia tiver oportunidade de ler, já irei preparado.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Eu nunca tinha ouvido falar desse livro, parece ser muito interessante, mas ele não me chamou a atenção, acho que eu não leria ele, não faz muito o meu estilo, mas parece ser legal, sei lá, creio que faltou algo para chamar a minha atenção.
Beijos!!!
Eu nunca tinha ouvido falar desse livro, parece ser muito interessante, mas ele não me chamou a atenção, acho que eu não leria ele, não faz muito o meu estilo, mas parece ser legal, sei lá, creio que faltou algo para chamar a minha atenção.
Beijos!!!
Eu li esse livro há uns dois anos e amei, simplesmente amei. Foi o meu primeiro contato com o Veríssimo e o que me estimulou a procurar mais sobre ele. Acho que a ênfase no que se passava pela cabeça de Eugênio era apenas pra nos mostrar que existem pessoas assim. A leitura de tão crua chega a incomodar, de fato. Mas eu amei. Deu até vontade de ler de novo. Tirei muitas lições de vida dele.
Eu nunca gostei desse autor porque na escola fui obrigada a ler e apresentar na frente da sala... Fiquei traumatizada e passo longe de livros assim.
http://worldbehindmywall.fanzoom.net/
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