segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

RESENHA: Olhai os Lírios do Campo

“— Que bicho curioso é o homem!... Vaidoso, vingativo, intolerante, leviano e principalmente fraco de memória. Esquece tudo, menos as coisas relacionadas com a barriga, com o sexo e com a vaidade.” (VERISSIMO, 2005, p. 265).

***

Confesso que ainda não conhecia a obra de Erico Verissimo, apesar de sempre ter curiosidade de ler algum livro dele. Escolhi Olhai os Lírios do Campo para ser meu primeiro contato com o autor por apenas um motivo: foi a obra que o tornou nacionalmente reconhecido, vindo a torná-lo famoso e lhe permitindo viver da literatura.  

Eugênio Fontes nunca aceitou sua condição social e emprenhou todas as suas forças para se tornar médico e alcançar o renome com o qual tanto sonhou. Após formar-se, conhece Eunice, com quem casa por interesse, e finalmente alcança o status que desejava. Quando Olívia, sua antiga paixão, está a beira da morte, ele percebe que o preço pago pela sua ambição pode ter sido muito alto.

Desde que li a sinopse do livro estava claro para mim que Olhai os Lírios do Campo se tratava de uma obra de redenção. Por isso, não me surpreendi com a narrativa de inúmeros episódios da vida de Eugênio, que mostravam sua infância humilde, o sacrifício de seus pais para lhe darem educação, a vergonha de sua situação financeira, o constante desejo de melhorar de vida e alcançar o sucesso.

Tais eventos mostram como Eugênio desenvolveu um severo complexo de inferioridade, que o fazia sentir-se deslocado na presença de seus colegas mais abastados e a interpretar comentários alheios como indiretas à sua condição. Qualquer atitude ou palavra acabava por alimentar cada vez mais sua ambição desmedida, sua ânsia em alcançar o sucesso e provar seu valor aos demais.

O que na teoria até pode parecer uma premissa interessante, não funcionou no papel. Creio que o principal problema em criar uma estória de redenção é a necessidade de ter um personagem trilhando um caminho reprovável ou que tenha um caráter duvidoso, mas que ainda assim consiga conquistar a empatia do leitor. E este não é o caso de Eugênio, que é um personagem previsível e monótono.

E se um Eugênio se fazendo de coitado já era ruim, tudo fica pior depois que Olívia aparece na trama. Além de ser uma personagem quase irreal de tão altruísta, ela consegue tornar o protagonista ainda mais intragável visto que Eugênio passa a sentir-se culpado e arrependido a todo o instante pelos mais variados motivos.

A realidade é que a redenção de Eugênio demora muito para acontecer, e quando acontece vem acompanhada de uma filosofia moralista e pretensiosa que não me agradou. Mas, para ser justo, a partir deste momento o livro se torna um pouco mais interessante, apesar de seus defeitos.

Outro fator que provavelmente não ajudou meu envolvimento com a estória foi a narrativa que continha descrições em excesso, principalmente do estado de espírito dos personagens, que geralmente não mudava.

Se você está a pensar “Quem é você para criticar a obra de Erico Verissimo?” lhe cubro de razão. Mas preciso ser sincero e reconhecer que o livro não funcionou comigo e em minha defesa trago as palavras que o próprio Erico teceu no prefácio do livro: “Confesso, entretanto, que não tenho muita estima por esse romance. Acho-o hoje um tanto falso e exageradamente sentimental.” (Ibid., p. 17).

Mesmo não tendo apreciado Olhai os Lírios do Campo, creio que não se deve julgar o escritor com base em apenas um livro, e por isso ainda pretendo ler outras obras de sua autoria, como a saga O Tempo e o Vento.

Para encerrar, friso que para os leitores de romance que não se importam com um texto mais “meloso”, a obra pode agradar. Como disse o próprio Erico: “Se a história deu prazer a tanta gente [...], não vejo razão para impedir que ela continue a sua carreira” (Ibid., p. 18).

Título: Olhai os Lírios do Campo (exemplar cedido pela editora)
Autor: Erico Verissimo
N.º de páginas: 283
Editora: Companhia das Letras

10 comentários:

Ana Paula Barreto disse...

Não me simpatizo muito com a obra do autor e acho que não há problema nenhum nisso. Também concordo que não se deve julgar precipitadamente, mas ao se formar uma opinião fundamentada, não tem essas de "quem é você para criticar.. e blá blá blá".rs
Obviamente devemos respeitar o autor, pois não é à toa que ele é reconhecido e aclamado. Mas gostar ou não, é uma questão muito particular.
bjs

MsBrown disse...

Olá, Alê! Já li o livro e inclusive resenhei em meu blog. Concordo com você, Eugênio é monótono, Olívia é irreal. E se o próprio autor achou-o falso, como poderei negar? Apesar dos defeitos e do tempo que demorei para ler, o livro deixou algo especial e é sem dúvida importante para muitos leitores. Ótima resenha!

Gabriela CZ disse...

Queria ler esse livro, mas saber que é meloso me deixa com um pé atrás. De todo modo, também pretendo ler O Tempo e o Vento.

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Ju disse...

Oi Alê, adorei a sua sinceridade na resenha. Li um livro do autor há uns 10 anos atrás (nossa, me senti uma velha agora, mas foi isso mesmo). Foi "Noite", e apesar de ter gostado, o livro me trouxe ao mesmo tempo emoções conflitantes, como a repulsa. É meio contraditório, mas pelo visto o autor mesmo tem um pouco disso.
Também tenho curiosidade de ler outras obras dele, mas acho que o estado de espírito manda muito.

Beijos

Unknown disse...

Depois de tanta gente falando bem de O Tempo e o Vento, fiquei curiosa para ler outra obra do autor... Estou passando curtir mais os livros do Erico Verissimo e esse não foi diferente.

Nardonio disse...

Fica complicado ler algo em que o protagonista é muito chato e intragável. Outra coisa que não me agrada são esses excessos de descrições desnecessárias, pois se o estado de espírito das personagens quase não mudava, acho que não seria necessário se estender nelas. Enfim, se algum dia tiver oportunidade de ler, já irei preparado.

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

camila rosa disse...

Eu nunca tinha ouvido falar desse livro, parece ser muito interessante, mas ele não me chamou a atenção, acho que eu não leria ele, não faz muito o meu estilo, mas parece ser legal, sei lá, creio que faltou algo para chamar a minha atenção.
Beijos!!!

camila rosa disse...

Eu nunca tinha ouvido falar desse livro, parece ser muito interessante, mas ele não me chamou a atenção, acho que eu não leria ele, não faz muito o meu estilo, mas parece ser legal, sei lá, creio que faltou algo para chamar a minha atenção.
Beijos!!!

Mallu Marinho disse...

Eu li esse livro há uns dois anos e amei, simplesmente amei. Foi o meu primeiro contato com o Veríssimo e o que me estimulou a procurar mais sobre ele. Acho que a ênfase no que se passava pela cabeça de Eugênio era apenas pra nos mostrar que existem pessoas assim. A leitura de tão crua chega a incomodar, de fato. Mas eu amei. Deu até vontade de ler de novo. Tirei muitas lições de vida dele.

Jéssica Gomes disse...

Eu nunca gostei desse autor porque na escola fui obrigada a ler e apresentar na frente da sala... Fiquei traumatizada e passo longe de livros assim.

http://worldbehindmywall.fanzoom.net/

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