terça-feira, 18 de março de 2014

RESENHA: Quatro Estações

“As coisas mais importantes são as mais difíceis de expressar. São coisas das quais você se envergonha, pois as palavras as diminuem – as palavras reduzem as coisas que pareciam ilimitáveis quando estavam dentro de você à mera dimensão normal quando são reveladas.” (KING, pag. 395, 2013)

Quando assisti “Conta Comigo” - filme de 1986, estrelado por River Phoenix e Kiefer Sutherland - me chamou a atenção como ele conseguia apresentar em apenas uma ou duas cenas toda a dinâmica familiar e das vidas de cada um daqueles quatro meninos, mesmo que essa não fosse a história principal a ser contada. Sabendo que o filme se baseara em um conto de Stephen King, imaginei o quão detalhado fora o trabalho do autor para que um filme - que, em geral, elimina muito da história em que se baseia - conseguisse transmitir com tamanha clareza e profundidade a essência de quatro personalidades tão distintas. Assim, surgiu a minha vontade de ler “Quatro Estações”, livro que conta com quatro contos, entre eles “O Corpo” que baseara o filme. Quando li “Quatro Estações”, o respeito que eu tinha pelo autor adquiriu contornos de idolatria.

Apesar de ser conhecido pela alcunha de “Mestre do Terror”, Stephen King é capaz de nos presentear com belas histórias que nada tem a ver com medo. É o caso de “Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank”, narrado em primeira pessoa por um homem condenado a prisão perpétua que conta a história de um colega presidiário e, ao mesmo tempo, a sua própria. Não há nada de sobrenatural nesse conto. O que há é uma intensa carga emocional. E mesmo se passando em um ambiente tão inóspito, se transforma em uma bela história, na qual a palavra chave é a amizade. “Shawshank” é uma história esperançosa em um dos ambientes mais desesperançosos possíveis.

Amizade também é o que rege “O Corpo”. Narrado em primeira pessoa por um escritor que, adulto, relembra uma aventura que viveu com seus três melhores amigos quando, aos 12 anos, embarcaram em uma jornada para encontrar o corpo de um menino da idade deles morto nos trilhos de um trem. “O Corpo” é uma história melancólica como eu jamais imaginei encontrar sob a assinatura de Stephen King e se tornou a minha favorita, não só deste livro, mas dentre todas as que li do autor. Além da profundidade dos personagens, o texto apresenta trechos belíssimos que me fizeram respirar fundo.

Em todos os contos, King dedica aos personagens secundários a mesma atenção que aos principais e a naturalidade com que o autor escreve faz com que seja muito fácil tomar seus dramas como reais. Essa naturalidade atinge seu ápice quando em “O Corpo” quase passa despercebido pelo leitor que existem contos completos (com outros personagens e outros dramas igualmente bem construídos) dentre deste, sem que nada soe forçado.

Embora “O Aluno Inteligente” e “O Método Respiratório” não tenham me cativado tanto quanto os outros dois contos, ambos são muito bons. O primeiro conta a história de um menino de treze anos que descobre que um de seus vizinhos é um ex-torturador dos campos de concentração nazistas e, fascinado pelos horrores do assunto, passa a chantageá-lo. É a história de dois personagens detestáveis e de um relacionamento pouco saudável que deteriora cada um deles conforme se fortalece. A meu ver, é conto de maior suspense do livro.

Já o segundo é o mais misterioso e o único que ganha uma pitada de sobrenatural. A história contada por um médico em um clube do qual é sócio há anos na qual os protagonistas são ele mesmo e uma de suas pacientes: uma mulher solteira e grávida em plena década de 30.

“Quatro Estações” é um excelente exemplo de tudo que Stephen King é capaz de fazer ao abordar o sobrenatural, o suspense e o drama com a mesma qualidade, deixando claro que, independente do tema, o autor é capaz de criar bons personagens, boas histórias e contá-las em uma narrativa espetacular. É por isso que essa seria a minha escolha caso eu tivesse que indicar um livro a alguém que nunca leu nada do autor e não sabe por onde começar.

O livro conta ainda com um posfácio em que King fala sobre a elaboração destes contos, dos empecilhos para que fossem publicados e a idéia de reuni-los em um único volume.

Dos contos que compõe “Quatro Estações”, apenas “O Método Respiratório” ainda não foi adaptado para o cinema, embora uma adaptação tenha sido anunciada em 2012. “Um Sonho de Liberdade”, com Morgan Freeman e Tim Robbins, é a adaptação de “Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank”. Um belo filme, indicado a sete Oscars em 1995 (e que eu assisti no dia seguinte ao final da minha leitura - o que é um indício do quanto gostei do conto). “O Aprendiz”, com Ian McKeller, é a adaptação de “O Aluno Inteligente”.

Título: Quatro Estações
Autor: Stephen King
Nº de páginas: 686
Editora: Ponto de Leitura

7 comentários:

Gabriela CZ disse...

Já li outra resenha super elogiosa desse livro e minha vontade ler algo do King só aumenta. Preciso começar a colecionar os livros do autor. Ótima resenha.

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Quero ler esse livro só por causa de Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank, o filme é excelente e acredito que o conto deva ser tão bom quanto.

Beijos, Andresa
http://coupleliterario.blogspot.com/

Jéssica Gomes disse...

Eu jurava que o Sr. King só escrevia livros de terror, tanto que eu não leio nada que ele escreve, pois uma vez eu inventei de ler A Hora do Vampiro e passei semanas sem dormir tendo pesadelos com vampiros... Ele acabou com meus lindos sonhos sobre vampiros bonzinhos e bonitos =/
Talvez eu leia este livro já que você disse que não tem terror e assim eu posso perdoar o Sr. King de arrancar meus sonhos coloridos com os vampirinhos que eu tanto amo auhsuahsuah

Blog: http://worldbehindmywall.fanzoom.net/
Twitter: https://twitter.com/Blog_WBMW

Laura Zardo disse...

Eu tenho dois livros dele aqui, um de terror e um distópico, mas ainda não me encorajei de ler, o de terror porque não gosto de terror e o distópico porque é gigantesco, haha, mas fiquei feliz de saber que este não é de terror, mas triste ao mesmo tempo porque é de contos e eu não sou muito chegada a contos, haha. =B

Nardonio disse...

Stephen King é sempre uma boa pedida não apenas para quem gosta dos gêneros que ele escreve, mas também pra quem gosta de tramas muito bem narradas e amarradinhas. É um dos poucos autores que consegue escrever bem em diversos gêneros, e consegue prender o leitor do começo ao fim. Esses contos devem ser muito bons mesmo. Tanto é que quase todos já ganharam suas adaptações, né?!?!

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

Anônimo disse...

Olá Mari,tudo bem??
Li somente um livro do autor Autoestrada e simplesmente amei a escrita do autor, já tenho este livro em casa e depois de conferir tua resenha sobre ele fiquei bastante animada!!

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Obrigada pela riquíssima dica, Mari. Eu não li nada do autor, mas, quando começar, realmente ouvirei seu conselho e começarei por esse. Tenho em casa :D
M&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso Top Comentarista

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