“Se as pessoas pararem de olhar para você, você para de existir? Isso quer dizer que você não é mais uma pessoa? Isso quer dizer que você já está morto?” (HAYNES, 2014, p.59)
O problema quando um autor faz uma estréia brilhante é a expectativa de que todos os seus livros atinjam o mesmo patamar. Com Elizabeth Haynes isso não vem acontecendo.
Annabel é uma analista de informações da polícia que vive sozinha com sua gata, tem poucos amigos no trabalho e cuida da mãe idosa. Um dia, ela nota um cheiro horrível vindo da casa vizinha que acreditava estar desocupada, mas que, naquele dia, parecia ter luz em um dos aposentos. Quando decide ver o que está acontecendo, Annabel se depara com o corpo da mulher que morava ali em avançado estágio de putrefação. Chocada, ela faz uma pesquisa e descobre que um número preocupante de casos como esse vem acontecendo nos últimos meses.
Elizabeth Haynes é uma autora que prima pelo desenvolvimento psicológico de seus personagens e uma de suas principais ferramentas de suspense é fazer o leitor viver a história pelos olhos dos seus protagonistas, utilizando para isso a narrativa em primeira pessoa. No caso de “Restos Humanos” ela utiliza isso de duas formas, o que talvez seja seu grande erro, porque nenhum dos personagens faz por merecer.
Annabel é uma personagem sem vida. Não digo com isso que viva uma vida monótona, sem aventuras e sim que apresenta um comportamento passivo diante da vida. Ela é insossa, se assim quiser chamá-la. Quanto a Colin, que nas primeiras páginas fica claro ser o vilão da história e cuja mente também acompanhamos, apresenta um comportamento doentio, mas não chega a ser interessante. Ele não exibe crueldade ou conflitos que o tornem um bom vilão. Se Annabel é insossa, Colin é repugnante, mas pouco mais do que isso.
Apresentar a mente do criminoso para o leitor é uma opção ousada, até mesmo difícil, mas muito promissora? Sem dúvida. John Verdon, por exemplo, é um autor que faz isso com maestria, conseguindo explorar o íntimo do vilão e ainda assim fazer mistério sobre sua identidade. Haynes não conseguiu fazer uma coisa, nem outra, porque o que se sabe sobre Colin nas últimas páginas, já se sabia nas primeiras.
A escolha realmente interessante da autora para esse livro é o método de seu criminoso para cometer os crimes: usar como arma a mente de suas vítimas, escolhendo com cuidado suas presas para que cumpram seu objetivo. Eu nunca havia visto um criminoso que operasse dessa forma e achei brilhante.
A narrativa ainda intercala trechos dos pensamentos das vítimas aliados às notícias de suas mortes nos jornais. Para mim, esses foram os capítulos mais interessantes, onde Haynes realmente conseguiu se aprofundar na mente dos personagens (o estranho é a autora ser mais bem sucedida com os que aparecem em duas ou três páginas do que com os protagonistas).
Talvez a razão pela qual Haynes não invista tanto no desenvolvimento dos personagens (algo que faz com eficiência até mesmo no mediano “Vingança da Maré”), em especial da protagonista, seja porque Annabel é uma personagem apática e atitudes mais ousadas não seriam condizentes com sua personalidade. Seu envolvimento com o caso e sua busca por respostas acontecem porque ela foi pessoalmente afetada ao descobrir um dos corpos, então é natural que não consiga se desligar tão fácil, mas nem por isso é de se esperar que ela se transforme em um Hercule Poirot. Seu envolvimento é gradual, assim como sua afetação pelo que encontra. O problema é que isso também protela o envolvimento do leitor que anseia por acontecimentos ou respostas (e recebe muito pouco de ambos). Que um livro prometa muito em suas primeiras páginas, mas demore a se tornar empolgante, é algo que eu estou disposta aceitar quando isso se faz necessário para a ambientação da trama e o envolvimento dos personagens com ela (como é o caso do formidável “Boneco de Neve”). O problema é quando o que deveria ser o ápice do livro é tão morno quanto o resto.
Acredito que quando uma história se deixa ficar evidente nas primeiras páginas, ela deva se apoiar mais no desenvolvimento dos personagens do que na sequência de eventos. Isso é ótimo, afinal, são bons personagens que fazem um bom livro (e Elizabeth Haynes provou em “No Escuro” que sabe manipular uma trama assim melhor que ninguém), mas isso não acontece em “Restos Humanos”.
Analisando assim, pode parecer que o livro não funciona, mas não é exatamente o caso (tanto que li várias resenhas positivas a seu respeito). A narrativa da autora é fluida e os crimes são interessantes, em especial pelo método inusitado em que se baseiam. Se esse for o primeiro livro que você ler de Elizabeth Haynes, pode ser que ele capte sua atenção para seus thrillers. Mas para mim que tenho “No Escuro” como base, não posso deixar de ver “Restos Humanos” como um livro inferior ao potencial da autora.
Título: Restos Humanos (exemplar cedido pela Editora)
Autora: Elizabeth Haynes
Nº de páginas: 315
Editora: Intrínseca
O problema quando um autor faz uma estréia brilhante é a expectativa de que todos os seus livros atinjam o mesmo patamar. Com Elizabeth Haynes isso não vem acontecendo.
Annabel é uma analista de informações da polícia que vive sozinha com sua gata, tem poucos amigos no trabalho e cuida da mãe idosa. Um dia, ela nota um cheiro horrível vindo da casa vizinha que acreditava estar desocupada, mas que, naquele dia, parecia ter luz em um dos aposentos. Quando decide ver o que está acontecendo, Annabel se depara com o corpo da mulher que morava ali em avançado estágio de putrefação. Chocada, ela faz uma pesquisa e descobre que um número preocupante de casos como esse vem acontecendo nos últimos meses.
Elizabeth Haynes é uma autora que prima pelo desenvolvimento psicológico de seus personagens e uma de suas principais ferramentas de suspense é fazer o leitor viver a história pelos olhos dos seus protagonistas, utilizando para isso a narrativa em primeira pessoa. No caso de “Restos Humanos” ela utiliza isso de duas formas, o que talvez seja seu grande erro, porque nenhum dos personagens faz por merecer.
Annabel é uma personagem sem vida. Não digo com isso que viva uma vida monótona, sem aventuras e sim que apresenta um comportamento passivo diante da vida. Ela é insossa, se assim quiser chamá-la. Quanto a Colin, que nas primeiras páginas fica claro ser o vilão da história e cuja mente também acompanhamos, apresenta um comportamento doentio, mas não chega a ser interessante. Ele não exibe crueldade ou conflitos que o tornem um bom vilão. Se Annabel é insossa, Colin é repugnante, mas pouco mais do que isso.
Apresentar a mente do criminoso para o leitor é uma opção ousada, até mesmo difícil, mas muito promissora? Sem dúvida. John Verdon, por exemplo, é um autor que faz isso com maestria, conseguindo explorar o íntimo do vilão e ainda assim fazer mistério sobre sua identidade. Haynes não conseguiu fazer uma coisa, nem outra, porque o que se sabe sobre Colin nas últimas páginas, já se sabia nas primeiras.
A escolha realmente interessante da autora para esse livro é o método de seu criminoso para cometer os crimes: usar como arma a mente de suas vítimas, escolhendo com cuidado suas presas para que cumpram seu objetivo. Eu nunca havia visto um criminoso que operasse dessa forma e achei brilhante.
A narrativa ainda intercala trechos dos pensamentos das vítimas aliados às notícias de suas mortes nos jornais. Para mim, esses foram os capítulos mais interessantes, onde Haynes realmente conseguiu se aprofundar na mente dos personagens (o estranho é a autora ser mais bem sucedida com os que aparecem em duas ou três páginas do que com os protagonistas).
Talvez a razão pela qual Haynes não invista tanto no desenvolvimento dos personagens (algo que faz com eficiência até mesmo no mediano “Vingança da Maré”), em especial da protagonista, seja porque Annabel é uma personagem apática e atitudes mais ousadas não seriam condizentes com sua personalidade. Seu envolvimento com o caso e sua busca por respostas acontecem porque ela foi pessoalmente afetada ao descobrir um dos corpos, então é natural que não consiga se desligar tão fácil, mas nem por isso é de se esperar que ela se transforme em um Hercule Poirot. Seu envolvimento é gradual, assim como sua afetação pelo que encontra. O problema é que isso também protela o envolvimento do leitor que anseia por acontecimentos ou respostas (e recebe muito pouco de ambos). Que um livro prometa muito em suas primeiras páginas, mas demore a se tornar empolgante, é algo que eu estou disposta aceitar quando isso se faz necessário para a ambientação da trama e o envolvimento dos personagens com ela (como é o caso do formidável “Boneco de Neve”). O problema é quando o que deveria ser o ápice do livro é tão morno quanto o resto.
Acredito que quando uma história se deixa ficar evidente nas primeiras páginas, ela deva se apoiar mais no desenvolvimento dos personagens do que na sequência de eventos. Isso é ótimo, afinal, são bons personagens que fazem um bom livro (e Elizabeth Haynes provou em “No Escuro” que sabe manipular uma trama assim melhor que ninguém), mas isso não acontece em “Restos Humanos”.
Analisando assim, pode parecer que o livro não funciona, mas não é exatamente o caso (tanto que li várias resenhas positivas a seu respeito). A narrativa da autora é fluida e os crimes são interessantes, em especial pelo método inusitado em que se baseiam. Se esse for o primeiro livro que você ler de Elizabeth Haynes, pode ser que ele capte sua atenção para seus thrillers. Mas para mim que tenho “No Escuro” como base, não posso deixar de ver “Restos Humanos” como um livro inferior ao potencial da autora.
Título: Restos Humanos (exemplar cedido pela Editora)
Autora: Elizabeth Haynes
Nº de páginas: 315
Editora: Intrínseca
10 comentários:
Oi Mari!! Também tenho esse problema de comparar os livros dos autores, mas parece inevitável!
Beijoo, Gabe!
Blog Mundo Mágico dos Livros
Esse livro é uma incógnita pra mim, Mari. Queria ler e vi outra resenha em que a pessoa elogiou a trama mas fez as mesmas críticas sobre os protagonistas. Como me irrito muito facilmente com personagens apáticos, acho que não seria pra mim. Embora ache a ideia do enredo sensacional. Ótima resenha.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Nunca li nada da autora então não posso falar nada. Tenho muito vontade de ler no escuro pois só li resenhas positivas sobre ele. Pelo que vi esse segue a mesma linha inclusive na capa hehehe. Geralmente quando achamos um livro um primor esperamos que todos sejam no mesmo patamar, e as vezes o autor não consegue isso.
Blog Prefácio
Elizabeth Haynes é uma autora que eu preciso conferir! Li tantas resenhas positivas de "No Escuro" que imaginei que todos os outros livros dela seriam brilhantes, pena que "Restos Humanos" não parece ser tão bom assim. Acho muito difícil gostar de uma trama ao mesmo tempo em que os protagonistas não te agrada, isso é quase impossível para mim e é por isso que "Restos Humanos" não será o meu primeiro contato com a narrativa da Haynes. De qualquer forma, fiquei curiosa para saber mais sobre como o assassino age nessa história, se é de uma maneira inusitada, então eu preciso conferir!
Jéssica - http://lereincrivel.blogspot.com.br/
Todo mundo fala bem de No escuro, eu só li Vingança da maré e gostei bastante também, mas vi o pessoal dizendo que nem chega aos pés de No escuro, e agora esse livro Restos Humanos, parecia excelente, mas comecei a desanimar, depois de ler sua resenha já comecei a achar que ele não é tudo que eu esperava =(
Acho que o próximo livro que eu for ler da autora será No Escuro que parece ser bem melhor...
Bjss
Sempre comento que um livro entrou para a minha lista após ler uma resenha por aqui. Mas dessa vez (aliás, foi a primeira vez), um livro saiu dela. rs
Confesso que esperava muito mais dessa trama, talvez pela estréia tão brilhante da autora. Mas aparentemente Restos Humanos deixou a desejar.
Particularmente, gosto muito do desenvolvimento dos personagens. E quando isso não acontece tão bem, o resto fica um tanto vazio. Além do mais, fiquei com a impressão de que é só mais um livro.
bjs
Eu já li No Escuro da autora e gostei demais do livro, amei a escrita dela e fiquei louca pra ler tudo da autora. Mas acho que não vou gostar tanto desse livro por causa da protagonista. Talvez eu até dê uma chance para o livro no futuro...
Beijos!
Parece que todo mundo que eu converso concorda que nenhum livro da autora é tão bom quanto No escuro, então já sei que se eu quiser conhecer a Haynes tenho que começar por ele. Aliás, os outros apresentam tanta falhas nas resenhas que leio, que só tenho vontade de ler o primeiro mesmo. Uma pena isso, até porque as sinopses são interessantes. A desse me deixou curiosa, mas já não o pedi porque fiquei com o pé atrás de tanto ouvir falar que não costumam ser tão bons quanto o outro.
A resenha ficou ótima, Mari. Beijo
Se o intuito da autora era fazer sua protagonista ser uma mosca-morta, acho que ela conseguiu. O problema é que ela levou muito a sério e acabou perdendo a mão. Pelo menos o livro não é de todo o ruim, é apenas um pouco inferior ao ótimo "No Escuro".
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Depois da decepção com Vingança da Maré, relutei em ler Restos Humanos. Mas não me decepcionei. Não achei tão bom como No escuro, mas é um livro notável. Em meu blog faço uma resenha dos três. Se quiser conferir:
http://porquelivronuncaenguica.blogspot.com.br/2014/04/toc-pole-dance-e-solidao.html
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