segunda-feira, 3 de novembro de 2014

RESENHA: A Viagem de Cem Passos

“Era uma viagem curta, a pé, mas parecia que estava passando de um universo para outro, com a clareza dos Alpes iluminando meu caminho.” (MORAIS, 2014, p. 170)

***

Hassan Haji cresceu em meio a cozinha do restaurante de seu avô na Índia, mas quando uma tragédia abala a família, eles deixam tudo para trás. Na pequena cidade francesa de Lumière, os Haji decidem começar tudo de novo, inaugurando um restaurante indiano. O problema é que são vizinhos do Saule Pleureur, o famoso restaurante francês comandado pela tradicional Madame Mallory. 

A jornada de Hassan é, para dizer o mínimo, interessantíssima. Um jovem indiano, com um talento inato para a culinária, se torna pupilo de uma chef que representa o que há de melhor na culinária francesa. E neste ponto reside a genialidade do título. Parou para pensar na contraposição das palavras "viagem" e "cem passos"? Esta era a distância que separava o restaurante familiar dos Haji do restaurante de Madame Mallory, de modo que efetivamente era uma viagem rumo a um novo mundo. 

Mas, apesar da premissa promissora, a narrativa teve alguns sérios problemas. O primeiro deles foi o excesso descritivo. O fato é que cozinhar é uma tarefa que envolve múltiplos sentidos, afinal, não se trata apenas do sabor da comida, mas também da seu aroma e textura. E como transportar essas sensações para o livro? A meu ver, trata-se de tarefa impossível, mas o que Morais fez foi servir-se de uma porção generosa de adjetivos. E, assim como qualquer tempero, se usados em demasia podem estragar a comida. 

Além dos adjetivos, o autor tendia a descrever com minúcias de detalhes os pratos preparados por Hassan. E se você, assim como eu, não é um entusiasta da gastronomia, saber quais são todos os ingredientes utilizados ou como o prato foi preparado é desnecessário, pois são informações periféricas, que pouca ou nenhuma diferença fazem para o desenvolvimento da trama. 

Me gerou estranheza o fato de que o autor pisou no acelerador nas últimas cem páginas. A ascensão de Hassan no cenário gastronômico de Paris é extremamente acelerada: em um momento ele trabalha em um restaurante, depois consegue uma vaga em outro, e antes que você tivesse tempo de assimilar ele já estava abrindo seu próprio negócio. A impressão que fiquei é que o autor cansou de escrever e quis se livrar da estória. 

Como era de se esperar, a obra contém alguns vocábulos franceses, compreensíveis para quem estudou a língua mesmo que superficialmente. Não se trata de nada mais complicado, e se você não conseguir entender o significado pelo contexto, garanto que o Google Tradutor já resolve. 

A Viagem de Cem Passos é um livro leve e despretensioso, que conta com ótimos personagens, mas que peca por sua fraca execução. Imagino que os detalhes que me desagradaram provavelmente serão bem recebidos pelos leitores que sentem uma afinidade maior com o mundo gourmet, mas, para os demais mortais, ao exagerar nas descrições e acelerar o ritmo da estória desnecessariamente, Morais criou um livro de difícil digestão. 

O livro ganhou uma adaptação cinematográfica com o título A 100 Passos de um Sonho, contando com a premiada atriz Helen Mirren no papel de Madame Mallory. Avaliando pelo trailer, me parece que está é uma adaptação que sobrepujará o livro. 

Título: A Viagem de Cem Passos (exemplar cedido pela editora)
Autor: Richard C. Morais
N.º de páginas: 300
Editora: Record

16 comentários:

Silviane Casemiro disse...

Oi, Alexandre.
Achei o plot da história super interessante, esse "choque" cultural, ainda mais quando envolve comida (eu amo comer <3). Nunca comi comida indiana e nem francesa, e acho que gostaria de conhecer um pouco (pelo menos através do(s) livro(s)). Porém me desanimou o fato de que o autor passou a impressão de querer se livrar da história e acelerar as coisas, é uma pena; Porém gosto quando um livro tem bastante detalhes (isso sempre depende do tipo de livro, nesse caso pode ser interessante para quem é amante de gastronomia e não para quem apenas gosta de comer).

Blog:
Cantar Em Verso . Fbook Cantar em Verso

Unknown disse...

Achei muito interessante a premissa do livro. Mas acabei me decepcionando um pouco por saber que a historia não é muito bem executada. Não sou fã de livros com muita descrição. Emfim apesar disso ainda pretendo lê-lo assim que tiver oportunidade. A capa é bonita mais acho que poderiam melhora-la. Beijos <3

RUDYNALVA disse...

ALê!
Bem, gosto dos detalhes, porém em excesso pode mesmo perder a mão e o livro acabar se perdendo e gosto de gastronomia, principalmente quando envolve outros países como é o caso aqui França e Índia. A culinária indiana é riquíssima em temperos fortes, delícia.
Independente disso, acredito como falou, é mais algo sensitivo e por conta disso, acredito que o filme será um sucesso, quem sabe mais que o livro?!...
Uma semana e início de mês carregadinhos de paz!
Cheirinhos
Rudy

Inês Gabriela A. disse...

Adorei a resenha, o título é mesmo muito interessante e lendo sua resenha eu percebi o motivo dele. Fiquei curiosa pelo livro, parece ser diferente e super interessante.

memorias-de-leitura.blogspot.com

Rubro Rosa disse...

Eu sou detalhista demais..rs amo detalhes, descrições..mas comida?rs Não, obrigada! Ando correndo destes detalhes.
A história parece mesmo muito bacana..as culturas, o aprender, aquele bater de frente de um jeito de viver..e do nada, aprender uma cultura totalmente diferente da sua.
Se focasse somente nisso, até leria. Mas culinária não é meu forte..rs
Beijo

Loly Fonseca disse...

Realmente o livro possui uma premissa muito interessante, que tinha tudo para se tornar uma grande história... Uma pena que não tenha sido bem aproveitada... Não gosto de livros extremamente descritivos, tanto que esse já foi o motivo de ter abandonado várias histórias... Teria sido ótimo um livro que tivesse ficado interessante aos olhos de todos que contasse a história do indiano que se torna um dos queridinhos de um chef francês e que depois tem a oportunidade de abrir seu próprio negócio... Realmente é uma pena que não tenha sido bem aproveitado...
Kisses =*

Kel Araujo disse...

Oi Alê, tudo bem?

Não conhecia esse livro e com certeza ele me passaria batido na livraria. Adoro leituras leves e despretensiosas. A leitura parece ser interessante

beijos
Kel
www.porumaboaleitura.com.br

Gabriela CZ disse...

Não conhecia esse livro, Alê. Gostei muito da proposta mas fiquei dividia com seus comentários. Mesmo assim pretendo ler, ou pelo menos ver o filme. Ótima resenha.

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Oi, Alê. Como estás?
Fiquei receosa pela leitura desse livro, confesso.
Acredito que tudo o que é demais acaba exagerando e estragando o que tinha para ser um sucesso. Como você mesmo disse a respeito do tempero da comida. Eu ri de você ao dizer sobre o não interesse dos ingredientes numa comida. Fiquei imaginando que você é do tipo que não entendo muito (ou praticamente nada) na cozinha, mas na hora de comer é o primeiro a estar preparado. Talvez seja um equívoco de minha parte, mas foi bem assim que senti lendo essa parte da resenha e me peguei rindo disso.
Quanto ao restante, não sei se leria. Talvez para ter uma concepção maior e melhor sobre o livro, uma crítica pessoal. Mas não estou entusiasmada pela leitura não.
Acho que poderia viver sem lê-lo, entende? Foi isso que senti ao ler sua crítica. Não que tenha sido ruim, mas foi tão boa que a obra tornou-se como desnecessária.
Adorei suas avaliações e parabéns pela resenha.

Vitória Pantielly disse...

Oii Alê !
Olha, eu não entendo absolutamente nada de gastronomia, mas gostei do fato do autor ter se apegado aos detalhes porque foi exatamente esse lado que me chamou a atenção no livro. Confesso que quando dei uma lida somente na sinopse me pareceu uma leitura tediosa, mas fiquei entusiasmada com a resenha ..
Sim, acho horrível quando os autores brincam de corrida no final do livro, e isso estraga qualquer obra .. Não tinha gostado da capa, mas depois que li a resenha passei a ver ela de modo diferente, e olha, ela até que caiu bem pro livro !
Beijos ..

Milena Soares disse...

Não conhecia esse livro, achei super interessante, curto muito o mundo gourmet e também gosto de história bem descritiva, fiquei doida pra ler, vou procurar a adaptação cinematográfica pra assistir fiquei super curiosa.

Girlene Viey disse...

A capa do livro e um pouco mais clássica e mais
simples, mas não deixa de ser algo que pode ser apreciado. Certo?
Eu gosto da historia, parece ser facil de ser acompanhar!

Nardonio disse...

O título realmente foi bem apropriado para a trama. E a capa também é bem legal. Mas, como você disse, fica complicado ler algo com descrições excessivas e o pior, de uma área que não conhecemos e muito menos nos interessamos. Acho que vou ficar apenas no filme mesmo.

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

Ingrid Moitinho disse...

Achei o tema bem legal, mas não gosto de livros detalhados demais, ainda mais sobre um assunto que nem me interessada tanto, acho que não leria ele por agora.

Unknown disse...

Não fiquei interessada pelo livro, a começar pela capa. Achei a premissa do livro um tanto fraca, e o fato de dar muita ênfase a culinária, acaba me deixando mais desanimada. Vou ver o filme, e se eu gostar, quem sabe, eu leia o livro (:

Adriana disse...

Ale, a historia me agrada, o ambiente em que ela se passa também...sou fã de gastronomia, adoro cozinhar, então a riqueza de detalhes nessa leitura só vem a acrescentar, no meu caso né! Só espero não me decepcionar com a correria que o autor faz nas ultimas paginas do livro, porque aí sim é um pecado, sair atropelando tudo pra terminar mais rápido! Apesar dos contras que voce citou desse livro, fiquei com vontade ler, e espero poder faze-lo! Bjão! :)

Postar um comentário

 

Além da Contracapa Copyright © 2011 -- Template created by O Pregador -- Powered by Blogger