“Nas cenas que seguiram, tudo se revestiu de importância, as palavras, os silêncios, os olhares e até os espasmos involuntários dos músculos. Tudo ganhou sentido e, por trás dos personagens, pressentia-se alguma coisa lívida, o vulto imaterial do medo.” (SIMENON, 2014, p.105).
Não são as sinopses que me fazem ler os livros de Simenon, mas sim seu nome – e o do comissário Maigret – na capa. Porém, estando familiarizada com o personagem mais famoso do autor, fui fisgada pela sinopse de “O Enforcado de Saint-Pholien” por acreditar que a premissa era das mais interessantes para ser vivida por Maigret.
Durante uma viagem fora de suas obrigações oficiais como comissário de polícia, Jules Maigret acidentalmente contribuiu para o suicídio de um homem. O desespero que levou o homem ao ato extremo de tirar a própria vida está relacionado ao conteúdo de uma maleta: um terno velho, esfarrapado e com vestígios de sangue. Movido pelo remorso, Maigret inicia uma investigação extraoficial para saber quais as circunstâncias que levaram o homem ao suicídio.
Já disse em outras resenhas que considero Maigret o detetive mais humano da literatura policial clássica. Isso porque, diferente de personagens como Hercule Poirot, Sherlock Holmes, ou mesmo Phillip Marlowe, o comissário se importa com as pessoas que surgem em meio a sua investigação, mesmo que elas sejam criminosas. Para Maigret, mais importante que quem cometeu o crime é porquê essa pessoa sentiu a necessidade de cometer tal crime (não é por acaso que na maioria das histórias de Simenon a identidade do criminoso não é um mistério para o leitor). É por conhecer a capacidade de empatia do personagem e por imaginar sua reação ao perceber que teve influencia na morte de outra pessoa que apostei nessa leitura.
Como todas as obras de Simenon, “O Enforcado de Saint-Pholien” é um livro curto que capta a atenção do leitor já nas primeiras páginas. O ritmo da narrativa é ágil, porém nada apressado.
Nesse livro, Maigret não investiga por obrigação e sim por remorso e curiosidade. Assim, todos os caminhos são trilhados por ele, quase sem ajuda de seus colegas e subordinados da Polícia Judiciária.
O comissário viu o suicídio com seus próprios olhos e, pela maneira como ocorreu, sabe que não foi uma decisão planejada. Mas ele não sabe quem era aquele homem, o que fazia e, principalmente, porque usava um nome falso. Ao melhor estilo Simenon, toda a trama se constrói ao redor do mistério de porque as pessoas fazem o que fazem e o que em suas vidas as levaram a chegar ali. Um estranho que surge no caminho do comissário no necrotério, e que parece estar sempre um passo à sua frente em qualquer direção que tome, acaba por conduzi-lo ao passado do suicida onde estão as respostas.
Tendo criado um detetive tão singular na literatura policial, Simenon acabou por escrever livros que, muitas vezes, fogem das regras do gênero. Nas aventuras de Maigret, suspeitos podem sim ser inseridos nas últimas páginas e o leitor não precisa ter todos os elementos disponíveis para chegar à mesma conclusão que o detetive. Isso porque o leitor não quer brincar de detetive e sim compreender a história daqueles personagens (à semelhança do que ocorre com o próprio Maigret). Seria até fácil esquecer que você está lendo uma trama policial se não fosse o fato de que ela gira em torno de uma morte. É isso que acontece com “O Enforcado de Saint-Pholien”, uma trama tão boa como qualquer outra desse autor que continua a nunca me decepcionar.
Título: O Enforcado de Saint-Pholien (exemplar cedido pela editora)
Autor: Georges Simenon
Nº de páginas: 135
Editora: Companhia das Letras
Não são as sinopses que me fazem ler os livros de Simenon, mas sim seu nome – e o do comissário Maigret – na capa. Porém, estando familiarizada com o personagem mais famoso do autor, fui fisgada pela sinopse de “O Enforcado de Saint-Pholien” por acreditar que a premissa era das mais interessantes para ser vivida por Maigret.
Durante uma viagem fora de suas obrigações oficiais como comissário de polícia, Jules Maigret acidentalmente contribuiu para o suicídio de um homem. O desespero que levou o homem ao ato extremo de tirar a própria vida está relacionado ao conteúdo de uma maleta: um terno velho, esfarrapado e com vestígios de sangue. Movido pelo remorso, Maigret inicia uma investigação extraoficial para saber quais as circunstâncias que levaram o homem ao suicídio.
Já disse em outras resenhas que considero Maigret o detetive mais humano da literatura policial clássica. Isso porque, diferente de personagens como Hercule Poirot, Sherlock Holmes, ou mesmo Phillip Marlowe, o comissário se importa com as pessoas que surgem em meio a sua investigação, mesmo que elas sejam criminosas. Para Maigret, mais importante que quem cometeu o crime é porquê essa pessoa sentiu a necessidade de cometer tal crime (não é por acaso que na maioria das histórias de Simenon a identidade do criminoso não é um mistério para o leitor). É por conhecer a capacidade de empatia do personagem e por imaginar sua reação ao perceber que teve influencia na morte de outra pessoa que apostei nessa leitura.
Como todas as obras de Simenon, “O Enforcado de Saint-Pholien” é um livro curto que capta a atenção do leitor já nas primeiras páginas. O ritmo da narrativa é ágil, porém nada apressado.
Nesse livro, Maigret não investiga por obrigação e sim por remorso e curiosidade. Assim, todos os caminhos são trilhados por ele, quase sem ajuda de seus colegas e subordinados da Polícia Judiciária.
O comissário viu o suicídio com seus próprios olhos e, pela maneira como ocorreu, sabe que não foi uma decisão planejada. Mas ele não sabe quem era aquele homem, o que fazia e, principalmente, porque usava um nome falso. Ao melhor estilo Simenon, toda a trama se constrói ao redor do mistério de porque as pessoas fazem o que fazem e o que em suas vidas as levaram a chegar ali. Um estranho que surge no caminho do comissário no necrotério, e que parece estar sempre um passo à sua frente em qualquer direção que tome, acaba por conduzi-lo ao passado do suicida onde estão as respostas.
Tendo criado um detetive tão singular na literatura policial, Simenon acabou por escrever livros que, muitas vezes, fogem das regras do gênero. Nas aventuras de Maigret, suspeitos podem sim ser inseridos nas últimas páginas e o leitor não precisa ter todos os elementos disponíveis para chegar à mesma conclusão que o detetive. Isso porque o leitor não quer brincar de detetive e sim compreender a história daqueles personagens (à semelhança do que ocorre com o próprio Maigret). Seria até fácil esquecer que você está lendo uma trama policial se não fosse o fato de que ela gira em torno de uma morte. É isso que acontece com “O Enforcado de Saint-Pholien”, uma trama tão boa como qualquer outra desse autor que continua a nunca me decepcionar.
Título: O Enforcado de Saint-Pholien (exemplar cedido pela editora)
Autor: Georges Simenon
Nº de páginas: 135
Editora: Companhia das Letras
23 comentários:
Oi, Mariana. Tudo bem?
Gostei muito da premissa do livro! É um daqueles que eu leio em uma tarde e acrescenta muita coisa. Vou procurar ele :3
Bjos
mundoemcartas.blogspot.com.br
Eu estou completamente apaixonada por livros policiais e desde que li (todas) as resenhas que vocês fizeram dos livros da Agatha Christie tenho buscado conhecer obras de autores mais clássicos nesse gênero. Simenon é um que ainda não tive oportunidade de ler, mas que fiquei super curiosa só de saber que ele traz um novo aspecto para o gênero, que é a de um detetive mais humano. Me surpreendi em como o livro é curto, mas pelo que você descreveu, a obra não perdeu nada por ser mais curta. Você acha que esse livro é uma boa opção para começar a ler o autor?
Beijos,
Isabelle | http://www.mundodoslivros.com/
Já tinha visto este livro nas livraria, mas nunca parei para dar uma olhada, mas agora que li sua sinopse, fiquei muito interessada, para conhecer o personagem. Deve ser muito interessante ler sobre um personagem assim.
http://refugiorustico.blogspot.com.br/
Olá, tudo bem? Eu adoro livro policiais, mas tenho que me interessar pela história para conseguir ler o livro. Infelizmente essa história não me chamou a atenção, mesmo gostando da premissa desse livro.
Beijinhos,
Bia | Blog Escrevendo Mundos
Que ótimo que ele nunca decepciona e tem um jeito de narrar que torna a narrativa fluida. Confesso que não li nada do autor, Mari, mas fiquei completamente atenta em sua resenha para conhecer mais sobre ele e seu trabalho.
Ótimo saber que ele desenvolve um detetive mais humano, até mesmo para sair daquela coisa habitual.
Adorei.
M&N | Desbrava(dores) de livros
Oi Mariana!
Não conhecia o livro, mas achei bem interessante... colocarei na minha lista!
Beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com.br/
É a primeira vez que vejo um enredo do tipo. Sobre o suicídio do homem e o outro se sentir culpado por 'contribuir'. Fiquei bem mais interessada por ser investigação. Saber os motivos do ocorrido com o homem. E gostei bastante do detetive, por ele ser diferente. Eu quero ler. Achei bem legal a premissa e de como o protagonista é.
Abraços Mari,
ThayQ.
http://leituras-insanas.blogspot.com.br
Oie, td bom?
Eu ainda não li nada do autor, ou do detetive. São livros tão curtinhos, devo pegar pelo menos um para experimentar hehe
Não sabia dessa característica do detetive, de se importar com as pessoas envolvidas, acho que gostaria de ler.
Beijos!
Arrastando as Alpargatas
Ainda não li nenhum livro do autor. Mas fiquei interessada em conhecer esse detetive principalmente por você ter falado que ele é mais humano do que os outros. Se der eu lerei.
Blog Prefácio
Oi, Mari.
Sempre vi alguns livros com Simenon e não sabia do que se tratava agora depois de sua resenha sim. Fiquei curiosa com a leitura pois um livro de menos de 150 páginas com tanta coisa que acontece deve ser muito bom. Fiquei querendo saber o que realmente aconteceu para essa pessoa cometer suicídio.
Beijos.
Visite: Paradise Books BR // Sorteio Fim de ano
Não conhecia esse livro e nem o autor, mas adorei a resenha! Fiquei bastante curiosa para ler algum livro dele, principalmente pelo detetive ser um personagem tão humano. Gosto muito de leitura com mistério, suspense e detetives.
Beijos!
livrosdawis.blogspot.com.br
Oi Mari!
Nunca li nada desse autor. Para ser sincera, li poucas tramas policiais na minha vida. Alguns da Agatha, alguns do Sir Arthur... Nada fora do comum. Mas gosto muito do gênero, apesar de tudo. Fiquei super curiosa para conhecer o comissário Maigret, espero conseguir ler alguma de suas aventuras.
Espero ler esse também, pois não consigo imaginar como pode ter tanta coisa boa em pouco mais de 150 páginas.
Beijo!
http://www.roendolivros.com/
Mari, sua resenha foi open mind pra mim. Motivo? Agora entendi um pouco mais da narrativa do Simenon. Eu peguei pra ler o pietr, o letão e fiquei um bom tempo tentando entendê-la. A narrativa ficou bem arrastada e eu meio que desisti. Lendo sua resenha, entendi alguns pontos até me empolguei em continuar a ler outros livros do autor. Obrigada!
beijos,
Amy - Macchiato
Você acredita que eu ainda não li nada desse autor?? Nem eu acredito.
E os livros são tão curtinhos, preciso mudar isso gente!!
Adoro esse clima policial bom demais de se ler!!
Amei a resenha!
Bjks
Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/
Adoro filmes com detetives e tudo mais, mas quando li "O Natal de Poirot" da Agatha Christie confesso que me decepcionei um pouco...
Esse livro parece ser super interessante, pode ser que me prenda! Adorei a resenha!
Beijos
Rabiscos & Cenas
Olá,
Eita, fiquei surpresa quando vi o número de páginas que tinha e fiquei feliz ao ver que, mesmo com um número relativamente pouco, o autor continua acertando. Fiquei com certa curiosidade.
Beijos.
Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com
Realmente sinto que tenho 200 anos de leitura para pôr em dia... Toda vez que vejo você falar de um grande autor de policiais, Mari, penso "preciso ler", e com Sinemon não é diferente. A forma como você comenta que o personagem é humano desperta muito meu interesse. Ótima resenha.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
Mari, eu adoro livros do gênero, mas confesso não conhecer o autor. Realmente ainda tenho muito a aprender no campo, e eis uma nova e, ao que me parece, boa referência. É bacana quando passamos a ler livros em função de quem escreve... mostra nosso valor e admiração para com ele. Adorei a resenha!
Abraços,
http://universoliterario.blogspot.com.br/
fazia tempo que eu não leio livros policias, mas teve uma época que eu li quase todos os livros da agatha
eu realmente não conhecia esse autor, mas pela primeira vez que eu vejo um blog que gosta tanto do estilo então fica mais fácil escolher livros novos (e autores)
parabéns pela resenha acho q por causa de vcs vou voltar a ler livros policias!
bjs
Realmente, Mari! Esse comissário foge um pouco dos padrões dos detetives tão conhecidos por aí. O que me chamou a atenção nesse caso, é que ele não está investigando devido ao trabalho, mas por se sentir responsável pelo suicídio. Certeza que dá muito pano pra manga esse conflito que ele passa.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Oi Mari :D
Gostei bastante do enredo do livro, e tenho que dizer que me senti tentada a ler por causa de seus elogios para o detetive. Confesso que nunca li nada em que o detetive se preocupasse com o criminoso (a não ser em casos que o detetive também é um crimisono) e isso me deixou curiosa! Não vou dizer que lerei o livro em breve por conta das leituras atrasadas, mas se me deparar com ele com certeza arriscarei a leitura!!
Bjs :*
Olá!
Sou apaixonada por Sherlock Holmes, mas realmente ele é bem frio, muito lógico.
Já há algum tempo venho querendo dar uma oportunidade para Maigret, quem sabe não é hora?
Beijos.
Olá, Mari!
Fiquei encantada com sua resenha, sério. Nunca fui muito fã de livros policiais, mas a forma como você comentou o livro me deixou realmente empolgada!
Blog Entretanto
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