quinta-feira, 9 de abril de 2015

RESENHA: A Batalha de Sharpe

“— É engraçado como o cavalheirismo se torna sórdido, não é, milorde? — perguntou Sharpe em vez disso. — Mas afinal de contas a guerra é sórdida. Ela pode começar com intenções cavalheirescas, mas sempre termina com homens gritando pelas mães e tendo as tripas arrancadas por balas de canhão. O senhor pode vestir um homem em escarlate e ouro, milorde, e dizer que a causa que ele defende é nobre, mas mesmo assim ele vai terminar sangrando até a morte e se cagando de pânico. O cavalheirismo fede, milorde, porque é a porcaria mais sórdida do mundo.” (CORNWELL, 2015, p. 106). 

***

Desde que li O Tigre de Sharpe, tenho vontade de dar continuação a leitura da saga, mas por um motivo ou por outro, sempre acabava protelando, mesmo tendo o segundo livro em mãos. Com o lançamento de A Batalha de Sharpe, décimo segundo livro da série, cheguei a conclusão que era a hora de reencontrar Richard Sharpe.

Sharpe e sua companhia encontram rastros de sangue em uma vila espanhola. As vítimas eram civis, que nada tinham a ver com a guerra, e quando Sharpe encontra dois soldados franceses, executa-os por tamanha barbárie. Guy Loup, brigadeiro francês que estava à frente dos saques naquela vila, se enfurece com as ações do capitão britânico e promete vingança. Mas as preocupações de Sharpe vão muito além de Loup. Isso por que o exército britânico lhe confiou a ingrata tarefa de treinar a Real Compañía Irlandesa com o objetivo de forçá-los a deserdar, pois tais homens não são confiáveis. 

Creio que um dos fatores que mais me cativou nesta série foi o conteúdo histórico. Cornwell sabe mesclar tal elemento com a trama ficcional como poucos autores, porém, em A Batalha de Sharpe, temos como pano de fundo a Batalha de Fuentes de Oñoro, a qual me pareceu relativamente simples, o que, por consequência, rendeu uma trama com pouca complexidade e reviravoltas. 

Por isso mesmo, o autor investiu boa parte do livro na influência que as relações políticas exercem até mesmo no campo de batalha, elemento este que, embora interessante, depois de algum tempo começou a perder a graça. As reviravoltas incluídas pelo autor para dar uma apimentada na trama não me surpreenderam, de modo que o cerne da estória acabou sendo muito mais a animosidade entre Sharpe e Loup, do que a guerra em si. 

As cenas referentes a Batalha de Fuentes Oñoro, reservadas para a segunda parte do livro, foram extensas e um tanto monótonas, e me pareceram o tipo de ação gratuita. Dessa vez, Sharpe não está no foco da ação, então os combates, as explosões, o sangue derramado, está sendo narrado simplesmente por ser o pano de fundo, e não por uma real necessidade da estória. Não vi motivo para tantas descrições e fiquei com a impressão de que o autor fez isso por que era o que se esperava dele. Se tem alguém que sabe transpassar a emoção da batalha, este alguém é Cornwell, mas considerando que a estória não pedia tanta riqueza de detalhes, a emoção da batalha me pareceu artificial.   

Para quem não sabe, a série As Aventuras de Sharpe, que conta com mais de 20 livros, não foi escrita em ordem cronológica. Bernard Cornwell começou a saga pelo oitavo e nono volume, posteriormente pulou para o decimo terceiro, escrevendo em ordem até o décimo oitavo. Somente dezesseis anos após ter começado a escrever a série que o autor decidiu contar as primeiras aventuras de Richard Sharpe. Sendo assim, cada livro da saga tem uma estória com início, meio e fim, que não depende das demais obras e que não precisa ser lida em uma ordem específica. 

Apesar de ter estranhado, inicialmente, ver Sharpe na posição de capitão, e não mais como um soldado raso, Cornewell soube como manter a essência do personagem, independentemente do posto que ocupe no exército britânico. Aliás, me surpreendi com menções a acontecimentos do primeiro livro da série, que foi publicado apenas dois anos depois de A Batalha de Sharpe. Ou seja, apesar de não ter seguido a ordem cronológica, Cornwell claramente demonstra ter domínio completo sobre a estória de seu herói. 

Mesmo não tendo apreciado A Batalha de Sharpe tanto quanto esperava, o livro serviu como um estímulo para continuar a leitura da saga: afinal, o protagonista é ótimo, e tenho certeza que outras batalhas serão cenários mais propícios para as aventuras dele. 

Título: A Batalha de Sharpe – 12º livro (exemplar cedido pela editora)
Autor: Bernard Cornwell
N.º de páginas: 362
Editora: Record

24 comentários:

Line disse...

Que interessante, fiquei curiosa para conhecer esse protagonista, eu ouvi comentários positivos a respeito desse escritor e estava planejando comprar algum livro do mesmo, e que bom que a saga não tenha necessariamente uma ordem cronológica para se ler o que facilita na hora da compra

http://confissoesdeumaaprendiz.blogspot.com.br/

Gabriela CZ disse...

Tenho muita vontade de ler algo do Cornwell justamente pelos comentários sobre como ele mistura ficção e realidade. É uma pena que o livro não tenha te agradado tanto quanto esperava, Alê. Mas bom que foi suficiente para manter seu interesse na série. Só acho que não vou começar por uma série com mais de 20 livros. [rs] Ótima resenha.

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Luis Carlos disse...

Eu tenho receio de ler série com muitos livros, imagina essa com mais de 20 livros o.O Eu tenho medo da história ser ótima, e ao decorrer do livro, ela ficar chata. Apesar disso, eu até que leria, porém o livro não faz muito o meu estilo. Achei interessante saber que ele começou a escrever a série de uma forma diferente, ainda não tinha conhecido uma série que fosse dessa forma!

Maria Cecília Vieira disse...

Acho que o principal motivo que vai fazer com que eu não leia essa série é o número de volumes. É grande demais, gente. Se eu virasse fã, ia morrer na expectativa de ler o próximo, porque fico agoniada mesmo. kkkkkkkkk Parece ser interessante, mas vou acabar passando.
Beijos!

Vanessa Vieira disse...

Gostei da resenha Alexandre. Não conhecia o livro, mas me pareceu ser bem interessante. Abraço!

www.newsnessa.com

Kétrin Galvagni disse...

Oi Alê, acredita que nunca tinha ouvido falar dessa série? Achei muito interessante, quem sabe se houver oportunidade eu leio e vejo o que acho :D

Beijos

http://www.oteoremadaleitura.com

Helana Ohara disse...

Alê.. 20 livros. My Lord, desisti no começo já HUASHAUSHAUSHAUS.
Pelo que entendi é fantasia, já não curto muito.

Beijinhos, Helana ♥
In The Sky, Blog / Facebook In The Sky

RUDYNALVA disse...

Alê!
Pelo visto a transcrição da batalha foi mais um 'embromation' para enriquecer o livro e não deu certo pela monotonia.
Não conhecia a série e fiquei feliz por saber que podemos lê-la de forma desordenada assim como ela foi escrita.
Esperava também um pouco mais do livro.
“Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.” (Carlos Drummond de Andrade)
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Olá, Alê.
Grandinha essa série, não é mesmo? rs
Tenho muita curiosidade de ler algo do autor. Esses romances históricos sempre me agradam. E se tem batalha e relações políticas, melhor ainda.
Diga anotada.

M&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista de abril. Você escolhe o livro que quer ganhar!

Manoel Alves (enoua) disse...

Oiiêê
Nossa, eu tava dando uma olhada em outras resenhas e parece que ele deve ser muito bom, pena que não faz bem o meu tipo, kkk,
Bjks

Passa Lá No Meu Blog: http://ospapa-livros.blogspot.com.br/

Mariana disse...

ainda não li nada do Bernard Cornwell, eu só queria saber se cada livro da p ler independente ou ter que ser na ordem?
pq o livro pode ser bom mais criar coragem 10+livros fica complicado...
tenho um amigo meu que é fã e está me prometendo alguns dos livros emprestados para ler....
mas parece ser uma excelente saga, e mais importante se o principal é bom vc acaba continuando por causa dele....

Caverna Literária disse...

Esse autor é tão bem citado que não tem como não despertar curiosidade, mesmo seus livros não fazendo muito meu estilo. Adorei a resenha, nem sempre determinados livros nos encantam, mas se deu incentivo pra prosseguir a série é porque ainda assim vale a pena arriscar :p

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/
Tem tag do skoob no blog, vem ver!

Anônimo disse...

Oi, Alê!

Não conhecia essa série, mas como adoro romances históricos, acho que eu iria gostar da leitura. É uma pena que as cenas de batalha, nesse livro, tenham sido desnecessárias. Porém, pude perceber que o autor tem tudo em mente, mantendo uma coerência louvável no decorrer dos livros. Além disso, gostei de saber que o protagonista é tão cativante e bem construído.
Nossa, como que eu ainda não conhecia As Aventuras de Sharpe? Quero ler para ontem!

Beijocas.
http://artesaliteraria.blogspot.com.br

Lary Costa disse...

Oi, Alê.
Eu já tinha ouvido falar da série, bem por cima, mas... Mais de 20 livros?! Caramba! kkk Eu até gosto desse estilo de leitura, mas esses livros do Cornwell não me chamaram muita atenção, não sei o motivo. Tenho medo de começar uma série muito grande assim e ela ficar cansativa do meio pro fim, pois odeio abandonar uma saga... Gosto de ler até o final, mesmo que não seja bom -questão de honra!
Abraço!

Unknown disse...

Mais de 20 livros? OMG! Precisa de muito conteúdo pra fazer uma série tão grande. Geralmente evito séries muito extensas, mas esse personagem tem pinta de aventureiro mesmo, então a possibilidade dos livros serem monótonos não é tão grande. Eu provavelmente não leria todos os 20, mas sem dúvida vale a pena encarar alguns volumes da série.

Domino Simmons disse...

aeeeeeeee mais uma viciada em bernard cornwell ...
ebaaaaaaaaaa
eu ainda não comecei a série sharpe porque pretendo ler as cronicas saxônicas primeiro... mas pra isso preciso da coleção (acredita que só tenho o ultimo volume)
Beijos enormes
adorei o post - resenha
http://cantodadomino.blogspot.com.br/

Nardonio disse...

Nossa, uma série com mais de 20 volumes é pesada demais (mesmo sabendo que os volumes são independentes). O que achei legal foi essa mistura de fatos históricos com ficção. E esse protagonista me parece ser um dos bons. Em compensação, esses probleminhas com o andamento da narrativa costumam me travar um pouco.

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

Ju M disse...

Não conhecia essa série, mas acho esse autor o máximo, li outros livros que adorei. Que longa essa saga, difícil manter o folego da leitura. Não curti muito o fato dos livros serem relativamente independentes uns em relação aos outros, de não precisar ler na ordem, acho que isso faz perder um pouco a vontade de continuar lendo os outros livros, já que não tem algo a ser desvendado no próximo. Acho que leria algum para ver se me apego, já que, como disse, gosto muito desse autor.

Unknown disse...

Eu sou super ligada em história misturada a ficção e gostei do que essa saga promete oferecer.Mesmo você não tendo gostado tanto desse livro em certos momentos eu fiquei com vontade de conhecer ele mais a fundo.Mas 20 livros,senhor é muita coisa.

Unknown disse...

já li os 20 que tem em português < alguém sabe quando serão liberados os outros em pt-br.
Falta o Demônio de Sharpe e 3 contos pequenos.

Unknown disse...

já li os 20 que tem em português < alguém sabe quando serão liberados os outros em pt-br.
Falta o Demônio de Sharpe e 3 contos pequenos.

Unknown disse...

já li os 20 que tem em português < alguém sabe quando serão liberados os outros em pt-br.
Falta o Demônio de Sharpe e 3 contos pequenos.

Unknown disse...

Vi que os comentarios são de 4 anos atrás
Mas como verifiquei que todos são viciados na Saga que Sharpe, gostaria de uma ajuda, pois já li os 12 livros na ordem cronológica (em cerca de 30 dias) e não consigo encontrar os 8 seguintes.
Se alguem puder ajudar a encontrar os 8 seguintes eu agradeço

Unknown disse...

Tenho todos os livros do Cornweel,são todos espetaculares,mas a coleção de sharpe é a melhor,uma pena ainda não ter no Brasil os exemplares do 14° ao 20°,Tomará que não demore muito a chegar....vc ler um exemplar e corre logo pro outro...fantástico.

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