domingo, 22 de novembro de 2015

RESENHA: A Garota no Trem

“No trem a caminho de casa, ao analisar tudo o que deu errado hoje, fico surpresa por não estão me sentindo tão mal. Pensando bem, já sei por quê: não bebi ontem à noite, e não sinto vontade de beber agora. Estou interessada, pela primeira vez em muito tempo, em algo que não seja minha própria desgraça. Tenho um objetivo. Ou, pelo menos, uma distração.” (HAWKINS, 2015, p. 104). 

***

Estava com expectativa em alta para conferir A Garota No Trem, livro que em questão de semanas alcançou o topo dos mais vendidos da Amazon americana e do New York Times. A febre literária ganhou o aval de centenas de escritores e da crítica especializada, sendo traduzido para inúmeras línguas e já vendeu os direitos para a adaptação cinematográfica. 

Rachel é uma mulher alcoólatra que se separou de Tom há dois anos, mas ainda não conseguiu superar o fracasso do casamento. Ao utilizar o trem, não consegue evitar de olhar para sua antiga residência, localizada as margens dos trilhos, onde Tom vive com sua nova esposa, Anna. Em uma vã tentativa de não olhar mais para a casa que antes lhe pertencera, Rachel começa a observar a vida dos moradores da casa ao lado, apelidados por ela de “Jess” e “Jason”. E quando “Jess”, na verdade Megan, desaparece, Rachel está convicta de que sabe o que aconteceu com ela. 

Assim que comecei a leitura percebi pela qualidade do texto que A Garota no Trem era a primeira incursão de Paula Hawkins no mundo literário. Meu problema com a narrativa em primeira pessoa é que muitos autores interpretam tal recurso como uma carta em branco para descrever tudo nos mínimos detalhes, e foi exatamente isto que a autora fez. Durante todo o livro somos bombardeados com as emoções, pensamentos e sentimentos das três narradoras: Rachel, Anna e Megan. Para um thriller psicológico funcionar quando narrado em primeira pessoa, é fundamental que o autor foque nas reações que os eventos externos causam no narrador. A meu ver, não existe explicação lógica para focar nas ladainhas inúteis de uma mulher que não conseguiu superar o ex-marido. 

E sinceramente não compreendi por que a autora optou por enrolar o leitor por cerca de setenta páginas com digressões sobre a vida dos personagens, que se mostraram completamente desnecessárias para o desenrolar da estória, quando: a) o leitor já sabe pela sinopse que uma das mulheres irá desaparecer; b) o leitor não tem o menor interesse em ler sobre as agruras de uma mulher divorciada. Creio que talvez, e apenas talvez, A Garota no Trem não seria tão ruim se toda essa parte introdutória fosse cortada e as informações estritamente necessárias, que não são muitas, fossem desenvolvidas ao longo da trama. Eis um exemplo do típico caso “menos é mais”. 

O envolvimento de Rachel na investigação não me convenceu. Até aceito que ela tenha procurado a polícia para relatar suas suspeitas a respeito de algo que testemunhou. Até entendo que ela tenha ficado obsessiva com o caso, visto que a mulher não tinha vida própria, nem outras distrações para se ocupar. Mas participar da elucidação do caso da forma como participou me pareceu forçado. 

Já o desfecho conseguiu ser extremamente previsível e incoerente. Minha desconfiança sobre um dos personagens se mostrou certeira, mas a motivação para que agisse da forma que agiu soou exagerada e até mesmo inverossímil. A meu ver o personagem, de uma hora para outra, simplesmente se traveste de vilão. E não é como se ele tivesse conseguido manipular ao leitor no decorrer da estória, pois simplesmente há uma quebra na sua personalidade, se tornando outra pessoa. 

Considerando que Rachel, Anna e Megan narram seus episódios em primeira pessoa, me pareceu inaceitável que uma delas ocultasse o “gatilho” de toda a trama, com objetivo exclusivo de manter o suspense. Foi neste ponto que fiquei convencido da incompetência da autora. É uma das regras mais básicas da literatura policial que o leitor deve ter acesso a todas as informações que os personagens têm, a fim de poder desvendar o mistério. E mesmo escondendo deliberadamente a peça central da trama, o suspense de Paula Hawkins é tão fraco que sequer pode ser chamado de suspense. 

Não sei em que mundo um livro dessa qualidade poderia ser comparado com Garota Exemplar (comparação estampada na capa do livro). Em todos os aspectos que se análise, A Garota no Trem não chega nem perto da obra perturbadora, original, surpreendente e absurdamente genial de Gillian Flynn. De semelhança resta apenas o título. 

A ideia de um narrador alcoólatra que sofre com constantes “apagões” quando abusa da bebida é promissora, afinal, tal fato abriria margem para inúmeras possibilidades. Entretanto, não é só de uma boa premissa que se faz um bom livro e Paula Hawkins falhou tanto na composição dos personagens, como no desenvolvimento da trama, recorrendo a artifícios esdrúxulos para contar uma estória medíocre. 

Título: A Garota no Trem (exemplar cedido pela editora)
Autora: Paula Hawkins
N.º de páginas: 378
Editora: Record

23 comentários:

Karina Valshe disse...

Já havia lido uma ou outra resenha não tão boa de A Garota no Trem, mas de longe a sua é a mais negativa, em todos os aspectos.
Admito que quando o livro foi lançado fiquei empolgada, havia uma boa premissa, mas as resenhas andam me desanimando. Esperava um pouco mais do livro do que ando constatando a partir de outras opiniões.
O suspense parece ter sido feito de forma precária e previsível, coisa que me desaponta, pois mesmo que muitos livros tenham me feito suspeitar de personagens e no fim, ter acertado nelas, eles conseguiam me fazer sentir dúvida, brincar comigo e isso sempre foi o mais empolgante e se torna decepcionante ver que as motivações do culpado não conseguiram te convencer.
As três mulheres que narram a história não parecem despertar muito o interesse após um tempo, suas divagações podem ser muito maçantes e apesar de gostar conhecer personagens a fundo, isso não significa que queira ser soterrada por sentimentos e lembranças de que não possuem nada de importante para a trama em si.
Ainda pretendo dar uma chance ao livro, e nem sei ao certo o motivo, mas creio que minha curiosidade fala de novo mais alto.
Não tenho grandes expectativas e talvez seja uma leitura frustrante, mas o que se pode fazer?
Abraços

Livros & Entretenimento disse...

Olá Alê ^^

Ainda não li o livro apesar de todo o barulho que ele ta fazendo, acredito que não seja um estilo pra mim e também não gosto de narrativas que enrolam até dar o pontapé na história, mas sua resenha está muito bem feita!

Beijos,

http://livrosentretenimento.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Quando o livro saiu eu fiquei super empolgada, depois acabei perdendo um pouco a vontade de ler. Mas agora com a confirmação do filme e elenco maravilhoso, vou ter que dar um jeito de pegar esse livro.

Tenho adorado suspenses psicológicos.
Beeijo
Resenhando Sonhos

Eloísa Pompermayer disse...

Nossa, eu estava super empolgada para ler este livro, pois li duas resenhas ótimas e positivas, mas agora estou em cima do muro sinceramente rsrsrrs
Acredito que irei precisar de uma resenha desempate... :/
Bjoos

Jovem Literário

Gabriela CZ disse...

Nossa, Alê... Por alguma motivo não tive interesse algum em ver sobre o que o livro se tratava, e agora vejo que não estava perdendo nada. Como pode um livro assim vender tanto? E se vai virar filme, que seja daqueles que ficam melhores que o original. Ótima resenha.

Abraços!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

Camila Monteiro disse...

Nesse caso a minha opinião é completamente contrária a tua. DETESTEI Garota Exemplar e gostei bastante dessa (Alias, a resenho dele está pra sair lá no meu blog daqui uns dias e falo exatamente isso) hahaha

Eu sei lá, fui com a cara da protagonista, mesmo ela sendo louca, stalker, alcoolatra e burra uhauahauh (Vai entender)

>> Vida Complicada <<

Unknown disse...

Solitária, divorciada e alcoólatra? Nossa, essa história promete bastante coisa. Sempre quis ler outros livros do gênero thriller, achava que este seria uma ótima oportunidade para recomeçar com pé direito, mas com sua resenha me desanimei um pouco com a história, estou receoso sobre a construção dos personagens. O enredo surpreendente me encantou bastante, estou indeciso!
Consumidor de Sonhos | consumidordesonhos.blogspot.com.br

Vanessa Vieira disse...

Gostei da resenha Alê. Este é um livro que foi muito bem vendido pela mídia, mas que nas resenhas nos mostra totalmente o oposto de seu merchandising. Sou bem leiga no assunto, mas acredito que um thriller psicológico deva ser envolvente, intrincado e enxuto para conquistar o leitor. Abraço!

www.newsnessa.com

RUDYNALVA disse...

Alê!
Agora me lembrei da história do Oscar...Os filmes que ganham geralmente são os piores, porém foram divulgados e aclamados.
É o que acontece aqui com esse livro: muito alarde, muitas opiniões boas e até comparação com um bom livro mesmo e no final, apenas decepção...
Gosto dos Thrilles psicológicos e achei que esse seria mais um a ser apreciado, porém pelo visto a autora perdeu a mão na escrita...
”Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.”(Sócrates)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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Gustavo Gouveia disse...

Amo thriller psicologico e esse tinha entrado pra minha lista quando foi lançado, mas vi MUITA gente dizendo que não gostou (e, principalmente, os motivos de não terem gostado), que desanimei bastante e vi que iria me decepcionar. E sua resenha so me fez confirmar ainda mais isso.
PS: Decididamente, A Garota no Trem não chega nem na sombra do melhor livro da vida, o mais perfeito, o mais incrivel, o mais bem feito: Garota Exemplar (minha humilde e livre opinião).
Abs

www.cidadedosleitores.blogspot.com

Anna Gabby disse...

A premissa da história é realmente boa, mas as falhas apontadas na narrativa e na construção dos personagens e enigmas não é muito animador... acho que terei que olhar mais resenhas antes de decidir se lerei ou não. Mas a sua por se a primeira que vejo tem um impacto grande.

Bjus
Anna - Letras & Versos

Unknown disse...

Oie,
nossa confesso que o livro não me chamou atenção, principalmente depois de ler a resenha e ver os pontos negativos.

bjos
http://blog.vanessasueroz.com.br

Anônimo disse...

Este livro sempre me deixa em dúvida, pois ao contrario da sua já li muitas resenhas positivas em relação à ele. Para mim livros deste gênero deve ser bem diretos e sem tantas descrições para chamar minha atenção para a leitura. A premissa é bem diferente, mas por enquanto não incluirei a minha lista de desejados!

Filipe Laia disse...

Nossa, eu achei que o livro fosse totalmente diferente! Enfim, espero que a adaptação cinematográfica que vai sair seja melhor.

www.booksever.com.br

Diane disse...

Oi ...
Fiquei interessada na leitura , apesar de todos os pontos negativos rsrs...
Beijos

http://coisasdediane.blogspot.com.br/

nines disse...

Oi, Alê ;D
Não conhecia esse livro, e a história não me chamou a atenção. Gostei da resenha e dos pontos que você citou sobre o livro.
Beijos,
Borboletas de papel

Frases Perdidas disse...

Olá! Tenho visto comentários bem distintos sobre esse livro. Uns amam, outros odeiam.. A proposta da história parece ser interessante, mas não fiquei tão curiosa sobre ela. Beijos!

http://frases-perdidas.blogspot.com.br/

Nadja disse...

Oi! Entendo, livros policiais precisam ter aquele suspense como se você tivesse puxando uma linha para desfazer todo o novelo, mas senti que a uma deficiência nessa parte na trama. Achei uma boa sacada colocar a mulher como uma alcoólatra que esquece algumas coisas depois que bebe, mas isso não era o bastante. Não gosto quando o suspeito é previsível e já começo a não entender o tamanho sucesso da obra durante esse tempo.

Sil disse...

Olá, Alê.
Quando vejo tantos elogios a um livro, principalmente se for um do gênero, eu já fico meio receosa. Eu ainda quero ler ele, mas já vou sem nenhum expectativa nele. Eu não gosto muito de narrativa em primeira pessoa por causa desse excesso que alguns autores cometem, prefiro em terceira pessoa. Aconteceu comigo parecido quando comecei a ler as resenhas de O chamado do cuco, todo mundo comparando com Agatha Christie e o detetive com Poirot. E quando li, fiquei frustrada, não pelo livro ser ruim, mas por causa da comparação que passou bem longe.

Blog Prefácio

Unknown disse...

Ai que desanimador haha livros com esses tipos de enredo dificilmente me atraem, ninguém merece. É daqueles livros que não podemos começar a ler com muitas expectativas para não nos desapontados, aos que lerem, Boa leitura!
Gostei da resenha e sinscaridade ;)

Lívia-Michele-Rose disse...

Olá!!
Nossa eu realmente gostei muito desse livro, a vida louca da Rachel me tocou muito porque ja vivi algo bem parecido, só não teve nenhum crime nada tão louco assim, mas foi barra como foi pra ela, e tenho que concordar que teve muita encheção de linguiça muita coisa que foi escrita achei desnecessário , mais avaliando o conjunto a obra eu gostei muito, não li "Garota Exemplar" não sei dizer se são parecidos se um melhor que o outro e tal mas se já tivesse assistido eu ia dispensar comentar algo assim também, por que acho muito desnecessário e sem noção essa coisa de comparação, e quando vem 'estampado na capa' então me desagrada mais ainda.
Bjocas!!

Unknown disse...

Eu sinceramente gostei muito deste livro e não concordei com esta resenha. Ainda bem que já li pra ter minha própria opinião.

Unknown disse...

Gente...
Esse tipo de história não me prende.Mas a mídia me fez lê-lo antes de Garota Exemplar...e me decepcionei.Já Garota Exemplar é bem construído e tem mais elementos surpresa. Em relação ao Garota no Trem, assista o filme qdo sair...economizará tempo e dinheiro.

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