quinta-feira, 11 de agosto de 2016

RESENHA: Suave é a Noite

“Sua ingenuidade se sentia atraída pela custosa simplicidade dos Diver, sem perceber que nela havia complexidade e falta de inocência, sem ver que eles se preocupavam mais com qualidade do que com quantidade. Assim também a naturalidade de comportamento, a paz e a boa vontade, a ênfase dada às virtudes mais singelas, tudo isso fazia parte de um desesperado acordo com os deuses e fora atingido à custa de lutas incalculáveis.” (FITZGERALD, 2010, pag. 43).

Comprei “Suave é a Noite” pouco tempo depois (e sob evidente influência) da minha leitura de “O Grande Gatsby”, livro que elegi como uma das minhas melhores leituras de 2013. Quando o li, mais de um ano depois, não encontrei nele a mesma experiência prazerosa que no meu primeiro contato com a obra de Fitzgerald.

Dick Diver é um brilhante psiquiatra que, ao ser chamado para um caso, apaixona-se pela paciente. Com o casamento, o estilo de vida que os dois adotam passam a ser financiado pelo dinheiro de Nicole e aos poucos Dick abandona a psiquiatria. Apesar do dinheiro, dos belos lugares e das inúmeras festas, o casal não é feliz e sua vida é tediosa.

Ambientado na década de 20 e dividido em três partes, “Suave é a Noite” começa lento, para não dizer entediante. Dick e Nicole vivem uma vida vazia na Riviera Francesa quando em suas vidas surge a jovem atriz Rosemary que se apaixona por Dick e, eventualmente, é correspondida. Esses capítulos, porém, são monótonos e os personagens não cativam (o que talvez mostre como eles se sentem em relação à vida).

Já na segunda parte do livro a mudança é palpável. O autor brinca com a linha temporal e dedica alguns capítulos centrais à época em que Dick e Nicole se conheceram – a época de ouro da carreira dele e o auge da doença dela no hospital psiquiátrico. Nas primeiras linhas já é possível perceber que aquelas pessoas que vínhamos acompanhando eram outras pessoas em outra fase de suas vidas e que o casamento foi um marco da mudança (uma característica que lembra obras do Realismo, por exemplo, “Madame Bovary”). Ali, podemos ver um Dick vibrante, uma pessoa cheia de planos e sonhos - a quem todos gostavam pelo que de fato era e não pelo que tentava ser - e detentora do domínio de sua própria vida.

Voltando ao presente, acompanhamos o desgaste da relação do casal e a decadência de Dick que, aos poucos, se entrega ao alcoolismo. “Suave é a Noite” é considerada a obra mais autobiográfica de Fitzgerald e o alcoolismo de Dick é um reflexo do alcoolismo do autor, enquanto a esquizofrenia de Nicole é um reflexo da de Zelda, sua esposa. Não só esses, mas outros aspectos da trama foram inspirados em acontecimentos da vida do casal.

É interessante a inversão de papeis que ocorre aos poucos. Enquanto Dick vai se reduzindo a um fragmento do homem que era, Nicole, por sua vez, que a principio depende dele para se curar – primeiro como médico, depois como marido - aos poucos se livra dessa dependência e encontra seu próprio rumo.

Com uma recepção morna na época do seu lançamento (já que histórias da Era do Jazz já estavam defasadas nos anos que se seguiram à crise da bolsa de valores) “Suave é a Noite” era considerado por Fitzgerald sua melhor obra e foi o último livro que o autor finalizou (na ocasião de sua morte trabalhava em “O Último Magnata”). Confesso não ter gostado - ou talvez devesse dizer apreciado – a leitura que mesmo em seus melhores momentos me pareceu enfadonha. Reconheço, porém, méritos em especial devido a complexidade dos personagens. Talvez seja o caso de reler em outro momento. Ainda assim, pretendo ler outros livros do autor, em especial “Os Belos e Malditos”, e também seus contos.

Título: Suave é a Noite
Autor: F.Scott Fitzgerald
Nº de páginas: 445
Editora: Best Bolso

23 comentários:

Adriana Holanda Tavares disse...

Poxa que pena que você não curtiu tanto esse livro quanto o Grande Gastby. Uma coisa ruim de se apaixonar por um livor de um autor é porque criamos a mesma expectativa de serem todos os livros dele na mesma pegada, na mesma linha de raciocínio e de escrita. Mas as vezes uma obra é boa individualmente, e por si só já vale o mérito. A capa não me chamou a atenção e a sua resenha também me deixou bem apática quanto a ler esse livro!

Unknown disse...

Eu me interessei pelo livro só pelo fato do protagonista ser psiquiatra, apesar dos livros terem alguns pontos baixos, pois não gosto de livro lento acaba me desanimando da leitura.

Josiane disse...

Muito doido essa coisa dos personagens terem os mesmos "problemas" do autor e sua esposa. Não sei se leria, mas quem sabe com o tempo eu mude de ideia.

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Mari!
Confesso que, do Fitzgerald, só conhecia O Grand Gatsby.
Pena que a leitura não foi tão proveitosa para você.
Ah! Essa história de agente Travis é explicada em Belo Casamento e em um pedaço de Bela Redenção.
Beijos
Balaio de Babados

Tony Lucas disse...

Oi, Mari! Tudo bem? A premissa do livro me chamou bastante atenção, mas seus comentários me fizeram ficar com um certo receio da obra. Melhor não arriscar, né? rs Adorei a resenha! ^^

Abraço

https://tonylucasblog.blogspot.com.br/

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Olá, Mari.
Esse crescimento e declínio na vida dos protagonistas me interessa. Deve ser interessante acompanhar essa inversão de papéis. Ademais, gosto da época em que o livro se passa.
Uma pena, porém, que o livro seja enfadonho em alguns momentos.

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Gabriela CZ disse...

Devo dizer que ainda não li nada de F. Scott Fitzgerald, Mari. De modo que seus comentários me deixaram divida sobre esse livro, pois mesmo não gostando você reconhece os méritos dele. Na verdade não sei se leria esse, mas certamente quero ler O Grande Gatsby. Enfim, ótima resenha.

Beijos!

Alice Duarte disse...

Oiii Mari

No momento não é um livro que me chame muito a atenção. A maneira como é narrada a história, até mesmo o tema abordado não atraem a minha curiosidade no momento, quem sabe futuramente eu me anime.

Beijos

unbloglitteraire.blogspot.com.ar

Cristiane Dornelas disse...

Só cheguei a ler O Grande Gatsby e sei que tinha alguns outros, mas nunca fui pesquisar a fundo sobre outras coisas do autor. Esse livro é novidade. E É uma pena que não tenha gostado tanto, mas mesmo assim me chamou atenção, acho que iria ao menos apreciar ver algo mais dele. Talvez gostasse da história, quem sabe.

Márcia Saltão disse...

Olá.
Nunca li nada do autor. E a premissa desse livro não me conquistou. Gostei muito da sua resenha, bem detalhada e clara, mas por suas palavras, não me senti motivada a a leitura dessa obra.E realmente não é meu estilo. Passo a dica. Beijos.

Vanessa Vieira disse...

Gostei da resenha Mari. Tenho vontade de ler muitos dos livros de Fitzgerald, especialmente O Grande Gatsby. Me interessei por esse título, principalmente por se tratar de uma espécie de autobiografia do autor e de sua esposa. Beijo!

www.newsnessa.com

Alessandra Salvia disse...

Oi Mari,
Eu gosto de 'O Grande Gatsby', mas não sei se a leitura seria tão prazerosa quanto o filme.
Esse livro não me atrai muito, infelizmente.
Beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

Na Nossa Estante disse...

Oi Mari

Engraçado como às vezes grandes livros só são reconhecidos bem depois né? Não li ainda nada do Fitzgerald, mas me parece interesse ter fatos da vida dele na história. Acho que é um livro para ser lido aos poucos. Excelente resenha!

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante

Sil disse...

Olá, Mari.
Nunca li nada do autor, por isso não teria com o que comparar hehe. Mas não sei se leria esse em questão. Não me interessei muito pelo enredo e ele ser monótono na primeira parte já é um ponto que me faz desistir da leitura.

Blog Prefácio

Leandro de Lira disse...

Oi Mari!
Eu tenho O Grande Gatsby, mas ainda não li. Espero adorar tanto quanto você.
Sobre este livro, Suave é a noite, eu realmente não leria. A premissa não me convenceu, e como confio na sua opinião, possivelmente não curtiria a obra.
Os Belos e Malditos parece ser ótimo. Tenho vontade de ler. É provável que você o leia antes de mim, então já aguardo sua opinião.
Abraço!

"Palavras ao Vento..."
www.leandro-de-lira.blogspot.com

Carolina Garcia disse...

Oi, Mari!!!

Uma pena que a história não te agradou totalmente, mas é como disse acima, às vezes a gente lê o livro em um outro momento e percebe coisas que não havia visto da primeira vez.

Bjs!!

http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

Andrea Barbosa disse...

Oi tudo bem..
Nao conhecia nada do Fitzgerald e confesso que esse livro igual a vc nao me agradou tanto principalmente por ter partes monótonos e os personagens não cativarem,mas quem sabe eu me aventuro lendo alguma outra obra do autor.
Um abraço e muito sucesso :)

Maria Fernanda Pinheiro disse...

A obra não me chamou a atenção, principalmente pelo começo ser monótono, o que sempre me incomoda e as vezes até me faz abandonar a leitura. Mas achei bacana ele usar aspectos como o álcool e a esquizofrenia em seu livro, mostrando também o desgaste do casamento.

Unknown disse...

Oi :)
Nunca li nada do autor mas estória desse livro me chamou bastante, porém é uma pena que a leitura seja lenta, e isso já me desmotivou.
Beijos.

Ingrid Moitinho disse...

Nunca li nenhuma obra do autor, assisti o filme O Grande Gatsby e gostei bastante, a historia desse parece ser interessante, que pena que você não gostou.

Ana I. J. Mercury disse...

Comecei a ler o Grande Gatsby várias vezes e nunca consegui terminar, por fim , troquei meu exemplar no sebo, rs
Esse Suave é a noite realmente não me chamou atenção, acho que não lerei mesmo, não é pra mim.
Mas quero ler algum do Fitzgerald ainda.
bjss

Andreia Inoue disse...

Olá Mari, comecei a ler Suave é a noite essa semana, e concordo com vc, o livro é bem monótono. Amei o Grande Gatsby e por causa dele que peguei esse, por ser do mesmo escritor.Bjos e amei a sua resenha!!

Renato Ladeia França disse...

Concordo com você. Senti a mesma coisa em relação ao Grande Gatsby e Suave é a Noite. O livro é um pouco enfadonho, com alguns poucos momentos de tensão. A descrição psicológica dos personagens é interessante, mas não chega a entusiasmar. Dá para perceber que é um romance autobiográfico. Enquanto Fittzgerald procura escrever a maior obra de sua vida, Divers tenta, sem sucesso, escrever uma grande obra psiquiátrica, que não se realiza, pois a história sugere ser um homem de pouco entusiasmo e acomodado à vida na high society. Fittzgerald retrata um pouco da vida da geração perdida de americanos em Paris nos anos 1920.

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