quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

RESENHA: A Filha Perdida

“Durante o primeiro ano de vida de Marta, descobri que eu não amava mais meu marido. Um ano difícil, a pequena não dormia nunca e não me deixava dormir. O cansaço é uma lente de aumento. Eu estava cansada demais para estudar, para pensar, para rir, para chorar, para amar aquele homem muito inteligente, obstinado e comprometido em sua aposta de vida, muito ausente. O amor exige energia, eu não tinha mais.” (FERRANTE, 2016, p. 99)

***

Quando Elena Ferrante — autora italiana cuja verdadeira identidade é desconhecida — emplacou a série Napolitana nas listas de mais vendidos, tive vontade de conhecer seu trabalho, porém, me faltava ânimo para iniciar a leitura da saga que conta com quatro volumes. Por isso, resolvi começar por A Filha Perdida e conferir se a autora de fato faz jus a tantos elogios. 

Leda, uma mulher de quarenta e oito e professora universitária, decide viajar para uma praia no sul da Itália durante as férias. Na praia, sua atenção se volta a uma grande família napolitana, que se torna objeto de seus devaneios, pois desperta lembranças e reaviva cicatrizes do passado, como sua relação turbulenta com sua mãe, o divórcio do marido e as dificuldades da maternidade.  

A narrativa, em primeira pessoa, tem seus altos e baixos. Como acompanhamos os pensamentos de Leda sob os mais diversos assuntos, me pareceu que em alguns momentos a autora perdeu o foco da estória, se atendo a detalhes pouco significantes para a trama. 

Leda é uma protagonista bem construída, que ainda enfrenta os fantasmas do passado e com uma bagagem dramática intensa. Entretanto, acompanhar os devaneios aleatórios de uma mulher que parece não ter vida própria — pois está presa ao passado — e que não desperta a empatia do leitor se tornou o calcanhar de Aquiles do livro. 

Aos poucos, a partir das memórias fragmentadas de Leda, o leitor vai compondo um quebra-cabeça sobre seu passado, entendo-a melhor. E apesar desta abordagem ter sido interessante, o problema é que não houve uma conexão com a protagonista, de modo que pouco me importava com suas confissões, o que acabou tornando a leitura maçante. 

O desfecho foi decepcionante, sendo que não me convenceu. Apesar de mostrar outra faceta de uma personagem relevante à estória, me pareceu que faltou verossimilhança. Confesso que não entendi a opção da autora por tal final. 

Elena Ferrante criou personagens profundos que vivenciam dramas reais, com os quais todos podem se identificar. Porém, a minha sensação durante toda a leitura foi de que a estória era vazia, pacata e que não estava levando a lugar nenhum. Assim, apesar dos muitos elogios a sua obra, tenho dúvidas se darei outra chance à autora. 

Título: A Filha Perdida (exemplar cedido pela editora)
Autora: Elena Ferrante
N.º de páginas: 176
Editora: Intrínseca

11 comentários:

Luiza Helena Vieira disse...

Oi, Alê!
Eu já não tinha muita vontade de ler esse livro... Depois desse final decepcionante.. Pelo menos ele é curtinho.
Beijos
Balaio de Babados
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Participe da promoção três anos de Um Oceano de Histórias

Gabriela CZ disse...

Confesso que não tinha ouvido falar em Elena Ferrante até a Intrínseca lançar esse e outro livro dela, Alê. Tinha achado a premissa interessante, mas se ela se prende a detalhes desnecessários e falta envolvimento e verossimilhança então não rola. Talvez leia outro livro dela, mas acho que não esse. Ótima resenha.

Beijos!
Portal Andar de Cima

Ju disse...

Oi Ale, que pena que o livro não funcionou para você. Eu achei uma leitura bem fácil, apesar de também ter saído com a sensação de que não foi uma leitura tão boa quanto poderia ter sido.
Minha impressão foi que a autora quis dar enfoque ao devaneio de Leda, que suas reflexões eram o principal elemento da narrativa, e os outros somente serviam para construir essas reflexões. Tanto que nenhum dos acontecimentos narrados no livro teve uma importância, de fato, senão os próprios pensamentos de Leda sobre seu passado. Isso realmente deixa um conflito com o leitor, já que ao mesmo tempo que é algo interessante de se acompanhar, não é algo que a gente gostaria de ver como elemento central de um livro.

Beijos

Loysla Lara disse...

Olá, Ale!

Essa é a primeira resenha que vejo que quem leu o livro não se agradou. Bem, acho que é tudo questão de gosto, já que eu leria o livro!!
Beijos,
https://teattimee.blogspot.com.br/

Nessa disse...

Oi Alê
Que pena que o leitura não foi tão prazerosa, eu odeio quando isso acontece, pq parece que estamos perdendo tempo com algo que não está nos levando a lugar nenhum.
A proposta do livro até é interessante, mas não sei se o leria agora. Adorei sua resenha.

Beijinhos
http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/

RUDYNALVA disse...

Alê!
gosto dos detalhes, porém se são insignificantes para trama, para que inseri-los, concorda?
E que chato a protagonista ficar ligada no passado e não perceber o presente.
Nossa!
Leitura maçante e desfecho decepcionante tira toda vontade da leitura do livro.
“Natal não são as luzes lá fora, mas a Luz que brilha em seu coração... Feliz Aniversário, Senhor!” (Daniela Raffo)
Boas Festas!
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
TOP Comentarista de DEZEMBRO ESPECIAL livros + BRINDES e 4 ganhadores, participem!

Tô Pensando em Ler disse...

Ai gente!! Eu estava tão empolgada pra ler este livro... Mas esse final que vc citou... OMG!

Será que leio?? Pelo menos não é um livro longo, acho que dá pra encarar, rsrs.

Adorei a resenha!

Bjks

Unknown disse...

No começo fiquei interessada pela obra, mas com o decorrer do tempo não gostei.

mas quem sabe um dia eu acabe dando uma chance para a autora.

DESBRAVADORES DE LIVROS disse...

Olá, Ale.
Muitas vezes um bom desenvolvimento basta, mesmo quando se tem um final ruim. Porém, nem o melhor dos desenvolvimentos apaga um final que não seja verossimilhante. Uma verdadeira pena isso acontecer, visto que o enredo possui um tema que me chama a atenção.
De toda forma, gostei bastante da resenha.

Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de dezembro. Serão dois vencedores, dividindo 3 livros.

Luciana Campos disse...

Oi, Alê!
Ouvi falar dessa autora esse ano, e o que me chamou a atenção foi só esse mistério quanto a identidade dela mesmo. Não acho os livros dela tão chamativos, esse, por exemplo, me parece linear demais, sabe? Sem um clímax, um caminho e um desfecho a ser esperado, e não gosto muito de leituras assim, pra mim acompanhar a vida da Leda e suas confissões não é muito atrativo.

Ana I. J. Mercury disse...

Vi muitas pessoas falando bem dessa autora, porém, o livro não me chamou muito a atenção, e depois de ter lidos várias resenhas negativas, fiquei com menos vontade ainda.
Parece ser bem turbulento e pra baixo.
Passo. rs
bjs

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