Em seu aniversário de 26 anos, Dana e seu marido estão de mudança. Enquanto organizam o novo lar, ela sente uma tontura e de repente se vê à beira de um rio. Quando enxerga uma criança se afogando, ela não pensa duas vezes e mergulha na água para salvá-la. Mas assim que a arrasta para fora do rio, encontra um homem apontando uma espingarda para seu rosto. Antes de ter tempo para reagir, Dana está de volta ao apartamento, encharcada e sem acreditar no que aconteceu. Até que acontece de novo e ela descobre ter voltado para uma Maryland pré-Guerra Civil, um lugar perigoso para uma mulher negra.
Kindred é narrado em primeira pessoa por Dana e logo nos afeiçoamos a protagonista, sentindo na pele o horror de ser levado para uma realidade de subserviência, violência e nenhum direito. Por mais que tenhamos conhecimento teórico sobre o que aconteceu durante aquele período, Octavia Butler consegue pintar uma imagem muito mais real, vívida e assustadora.
Mas além de Dana, outro personagem se destaca: Rufus, a criança que Dana salvou e que reencontra em diferentes estágios da vida toda vez que volta no tempo. Suas vidas estão profundamente entrelaçadas, porém, eles ainda são pessoas de mundos diferentes. Por mais que Rufus reconheça a inteligência de Dana e a respeite à sua maneira, ele ainda a enxerga como alguém inferior por causa de sua raça.
Desse modo, o relacionamento entre os dois é repleto de conflitos. Por mais que Dana tente mudar a visão de Rufus, ele ainda é um homem do século XIX e, portanto, reflete o mesmo pensamento daquela sociedade, o que é acentuado por sua personalidade forte. É justamente a partir desses conflitos que Butler consegue fazer o leitor refletir profundamente sobre temas como escravidão, justiça, preconceito, poder e liberdade.
“A escravidão era um processo que matava pouco a pouco”. (BUTLER, 2017, p. 297)
O texto Butler é extremamente envolvente, de modo que a leitura se torna uma experiência imersiva. Fazia tempo que um livro não me deixava tão vidrado na estória, pois até mesmo nos momentos em que eu estava ocupado com outras atividades, me pegava refletindo sobre Dana e os rumos da estória.
Apesar da premissa da viagem no tempo ser um elemento clássico da ficção científica, a meu ver o livro é, acima de tudo, um drama. Isso por que o cerne da estória diz respeito ao impacto que os personagens causam uns aos outros e como suas vidas são drasticamente alteradas por causa daquele acontecimento. Ou seja, os leitores que gostam de todos os pingos nos is podem se sentir um pouco frustrados pela falta de explicações mais aprofundadas sobre as viagens no tempo.
Se precisasse definir Kindred em uma palavra eu escolheria “perturbador”. Isso por que a obra é como um soco no estômago, que não apenas nos faz refletir e questionar o mundo que nos cerca, mas que também emociona. Sem sombra de dúvidas, esta foi uma das melhores leituras do ano e garantiu a Octavia Butler um lugar na categoria de autores que eu confio de olhos fechados.
A boa notícia é que a Editora Morro Branco lança ainda em maio “A Parábola do Semeador”, o primeiro volume da duologia “Earthseed”.
Autora: Octavia E. Butler
N.º de páginas: 424
Editora: Morro Branco
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18 comentários:
Oi, Alê.
Acho que um enredo tão forte como esse, foi bem retrato, né?
Não só possa para que a Dana pudesse ver quão intenso era o sofrimento dos escravos, mas também para que os leitores (mesmo já sabendo de todo o ocorrido) pudessem ver também a realidade crua dos fatos, mesmo sendo através de uma ficção, e dela tirar uma grande reflexão.
Oi Alê, fazia tempo que eu não passava aqui, e já chego com uma ótima indicação. Fiquei vidrada na sua resenha como você diz ter ficado no livro e morrendo de curiosidade de conhecer. Imagino quão complexa seja a história, afinal, uma pessoa livro que vive num mundo onde há uma quase igualdade, voltar a viver em um período tão conturbado deve ser difícil.
Beijos
Nunca li nada da Octavia, mas vejo que muitos leitores são fãs dela.
Infelizmente não faz muito o meu gênero, não curto essas leituras perturbadoras.
Beijos
Oi Alê
Este livro tem chamado minha atenção e sua resenha agora me deixou curiosa. O enredo parece ser muito bom e pelas suas ressalvas tenho certeza que irei gostar.
Beijinhos
https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br/
Que livro, Alê! Me pergunto como não tinha ouvido falar dele, pois é muito intrigante. Preciso ler. Ótima resenha.
Beijos!
Alê!
Bom ver que o livro escrito na década de 70, se tornou atemporal, afinal, a escravidão é um tema recorrente e de muito sofrimento e que infelizmente ainda existe, mesmo que de forma mais amena, porém ainda se faz presente.
Nem imagino ter um filho e ver que sofrerá as dores da escravidão...
Participo e sairá divulgação no blog.
Rudynalva Correia Soares
rudynalva@yahoo.com.br
Desejo uma ótima semana!
“Um homem pode ser destruído, mas não derrotado.” (Ernest Hemingway)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA MAIO – 4 livros + vários kits, 5 ganhadores, participem!
BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!
Oi, Alê!
Sua resenha está ótima. Pra falar a verdade, vi muita gente comprando esse livro e postando resenha no YouTube e blogs, mas não fiquei motivada a comprar. Não sei se é o gênero que não me agrada muito e quando você colocou "Perturbador", continuei pensando que não era para mim... rsrsrs... Não é questão de medo, mas eu me lembro de ter lido no início do ano o "Fábrica de Vespas" e aquela leitura me deixou tensa mesmo! De uma forma que não costumo ficar com nada... Mas, o fato de ser uma obra com viagem no tempo é um ponto positivo, pois sou fã da série Outlander e gosto muito desse tipo de escrita, que aborda essas viagens no tempo. Vamos ver se consigo me decidir... rsrsrs
Um abraço,
Drica.
OI Alê.
Eu já tinha visto e ouvido falar desse livro, mas confesso que ele não me chamou muito a atenção não, isso acontece pois ele não está bem no tipo de livro que costumo ler, no entanto, depois da sua resenha, sinto que preciso conhecer essa obra - ele vai para minha lista de desejados com certeza - o tema viagem no tempo é interessante, apesar de ser um tanto que clichê em livros de ficção cientifica, enfim, adoro que ele leva o leitor a refletir sobre diversos temas e eu não poderia deixar de ler.
Bjs.
Chocadooo!com tudo que você descreveu dá pra ter uma ideia de que é um livro muito bem trabalhado e com um conceito muito forte e atual. Já querooo!!
Blog -
https://obaucultural.blogspot.com.br/?m=1
Oi Alê,
Tua resenha despertou meu interesse pelo livro.
Normalmente não gosto de ler livros "perturbadores", porque fico abalada e bastante impressionada, mas vou deixar a dica anotada aqui.
Beijos
http://espiraldelivros.blogspot.com/
Oi Alê,
Estou meio fadigada de viagens no tempo, o que eu realmente gostei foi mostrar as diferenças de época na questão racial, e como um homem que mesmo admirando as características da outra pessoa, tem dúvidas sobre ela simplesmente pela cor da pele! Algo horrível? E não é o que vemos até mesmo hoje?
Não tenho dúvidas de que o racismo foi muito bem trabalhado, e mostrado de forma viva. Claro que já quero ler!
Beijos
Oi Alê!
Que resenha maravilhosa, parabéns! Tem bastante gente falando desse livro, mas até agora foi a primeira resenha que parei pra ler, então nem tinha dado muita bola pra ele antes, mas nossa, parece muito bom, gostei demais da premissa e de ter bastante drama como você disse. Espero ter oportunidade de ler logo.
An-nyong-se-ha-yo!
Uou, fiquei bastante curiosa já nas cenas iniciais. Amo esse tipo de suspense que já desperta curiosidade só de ler a sinopse sabe?
Talvez eu leia um dia, obrigada pela dica.
Não conhecia o livro, mas sua resenha está tão sensacional que eu já até coloquei na minha lista.
Gosto bastante quando a trama é forte com assuntos polêmicos e perturbadores. Não conhecia a autora também , mas creio que irei gostar muito já que ela aborda tudo que eu gosto em uma leitura.
beijinhos
She is a Bookaholic
Que livro interessante, mas ao mesmo tempo estranho. Nunca li algo parecido. Estou muito curiosa para ler esse livro e entender os porquês. Adoro livros que envolvam idas ao futuro ou passado.
Nossa fiquei bem curiosa com esse livro, me parece ser bem forte daqueles que realmente te prendem na leitura e continuam com você mesmo quando não está lendo. Acho importantíssimo termos livros que retratam a escravidão e o preconceito com os negros, principalmente nos dias de hoje onde tudo ainda é tão presente na nossa sociedade. Sem duvidas essa é uma leitura indispensável.
Oi Alê,
gostei muito da sua resenha. Eu conhecia o livro apenas de nome, e não sabia o quanto ele era envolvente, com um tema tão perturbador e triste como esse.
É difícil ler livros sobre escravidão/preconceito etc., mas acho extremamente importante para nos conscientizarmos e nunca mais deixamos essas violências do passado voltarem a acontecer novamente.
Vou querer ler com certeza.
Abraços
Oi, Alê!!
Teve ser bem perturbador mesmo para Dana se ver em um época que ainda existia a escrevidão e mais ser uma pessoa negra. Achei bem interessante a autora colocar a viagem no tempo nessa história e como Rufus e Dana se encontrar em vários momentos diferentes da vida.
Bjos
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