quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

RESENHA: As Mães

as mães brit bennett
Nadia Turner é uma adolescente que fica sem chão após o suicídio da mãe. Antes de partir para a universidade, ela acaba encontrando conforto para sua dor e solidão nos braços de Luke Shepard, o filho do pastor da igreja Upper Room. E do romance que eles vivem, surgirá um segredo que os perseguirá por toda a vida e cujas consequências serão sentidas por inúmeras pessoas. 

Em As Mães acompanhamos as jornadas de vida de Nadia e Luke, desde o final da juventude até o ingresso da vida adulta, de modo que conseguimos enxergar claramente como cada um deles influenciou e marcou o outro. Além deles, também merece destaque Aubrey, uma personagem que inicialmente parece ser um pouco apagada, mas que ao longo do livro apresenta diversos níveis de complexidade. 

Em momento distintos, Aubrey desenvolve papéis importantes e inesperados nas vidas de Nadia e Luke, entrelaçando suas vidas de uma forma que poderia ser considerada um clichê, mas que é tão bem desenvolvida pela autora que o leitor sequer dá bola

Apesar da estória ser relativamente linear e os segredos dos personagens limitarem-se a eventos relativamente simples (ainda que significativos), é impressionante ver como a autora consegue colocar em prática a lei da ação e da reação na vida de diversos personagens. No fim das contas, As Mães parece ser uma verdadeira teia de aranha, unindo as pessoas de formas improváveis. 

A maioria dos personagens do livro frequenta a igreja Upper Room, embora seu envolvimento e até mesmo crença nos preceitos divinos se dê em diferentes níveis. Me chamou atenção que Bennett não teve medo de expor a hipocrisia que existe no meio religioso, mostrando que há pessoas que agem em desacordo com aquilo que pregam. E que, às vezes, nem se arrependem. 

“O passado que não se fala é sempre o pior tipo.” (BENNETT, 2017, p. 159)

O título do livro decorre de um grupo de senhoras idosas que frequenta a igreja e que se denomina “As Mães”. A elas cabe uma parte da narrativa, que a meu ver foram os melhores momentos do livro, pois contaram com um tom mais reflexivo sobre os eventos que elas testemunhavam. E o mais curioso é que apesar de as vermos ao longo da estória nos corredores da igreja e até mesmo ouvirmos suas vozes, o leitor não chega a conhece-las propriamente dito. Cabe salientar que o restante da narrativa é feito em terceira pessoa, focando em Nadia, Luke e Aubrey. 

Entretanto, creio que o título não se refere apenas àquelas senhoras. Durante toda a estória vemos não apenas relações entre mães e seus filhos, mas também diversos exemplos de maternidade: alguns admiráveis, outros questionáveis. E Bennett, a meu ver, discorre não apenas sobre mães e filhos no sentido literal, mas também de forma metafórica, aprofundando ainda mais essa discussão. 

O desfecho não coloca todos os pingos nos is, o que pode não agradar a todos os leitores. As Mães deve ser lido como um retrato de alguns anos das vidas daqueles personagens, pois o final do livro dá um encerramento para os eventos narrados na estória, mas sabemos que a vida dos personagens continua. De minha parte, digo que adorei esse final mais aberto, pois fiquei refletindo sobre o que o futuro reservaria para eles. 

O saldo final foi positivo. O livro de estreia de Brit Bennet me cativou do início ao fim, especialmente por conta de seus personagens bem desenvolvidos e da narrativa envolvente. 

Título: As Mães
Autora: Brit Bennett
N.º de páginas: 254
Editora: Intrínseca
Exemplar cedido pela editora

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10 comentários:

Rubro Rosa disse...

Todo livro que traz uma pitadinha destes relacionamentos entre mães e filhos, me agrada muito.
Não tenho lá uma relação muito boa com minha única filha e vivo tentando me consertar em muitos detalhes, que sei que ainda precisam e muito ser mudados.
E como gosto muito destes livros com enredos mais densos, mais reflexivos, adorei o que li acima.
Um jeitinho nada suave de nos fazer pensar!
Vai para a lista de desejados!
Beijo

Gabriela CZ disse...

Mais um livro que não conhecia e me instigou, Alê. Parece ser muito envolvente e reflexivo. Quero ler. Ótima resenha.

Beijos!

Espiral de Livros disse...

Oi Alê, tudo bem? Não conhecia o livro, mas fiquei super intrigada por essa história e depois de ler a resenha já foi para a lista de desejados. Imagina que seja uma história profunda e questionadora.
Beijos, Adri
Espiral de Livros

Ludyanne Carvalho disse...

Não conhecia esse livro.
A premissa é intrigante, gosto quando as histórias se entrelaçam.
Mas faltar respostas no final é algo que me incomoda.

Beijos

Ycaro Santana disse...

Imaginei que a história trataria apenas sobre a perda da mãe da protagonista, mas fiquei feliz que abordou várias outras histórias e sentimentos sobre maternidade. Fiquei super curioso para descobrir as complexidades da personagem Aubrey e do grupo de senhoras que dão nome ao livro. Fiquei contente também sobre as críticas à religiosidade extrema.

Unknown disse...

Oie!
Que livro interessante. Não conhecia, mas pelo visto traz uma boa reflexão. Fico meio ambígua com finais abertos, primeiro eu sinto frustração e depois eu entendo o motivo e passo a adorar. Boa indicação!
Abraços
our-constellations.blogspot.com

Unknown disse...

Oi Alê.
Bem interessante a premissa do livro, e me parece que ele é bem emotivo também. Fiquei curiosa pra conhecer o grupo de senhoras que tanto te chamou atenção.
Beios

Ana I. J. Mercury disse...

Também não conhecia esse, mas adorei sua resenha.
Muito bom livros que mostram a hipocrisia humana. Chega a ser dolorido de ler, mas é preciso.
Vou querer ler com certeza.
bjs

Carolina Santos disse...

A premissa do livro se mostra ser bastante motivos e eu fiquei bastante curiosa com esse livro A intrínseca tem arrasado ultimamente nos lançamentos

Luana Martins disse...

Oi, Alê
Ainda não conhecia o livro e gostei da premissa.
Tem um ponto interessante que é abordado no livro que muitas pessoas seja de qualquer crença prega o que não pratica, claro temos defeitos mas quando temos essa responsabilidade temos que nos policiar e viver conforme o que pregamos.
Enfim, estou curiosa para ler o livro.
Beijos

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