Lançado em 2007 e seguido por “O Temor do Sábio” (2011), “O Nome do Vento” dá início a trilogia “A Crônica do Matador de Rei”, uma história de aventura e fantasia. A saga despertou meu interesse na ocasião do lançamento do segundo livro, mas por não haver previsão do desfecho da trilogia, guardei meu exemplar e decidi esperar. Recentemente, encaixotando meus livros para uma mudança, resolvi conhecer a história de Kvothe.
Quem conhece Kote hoje o vê como o dono da Pousada Marco do Percurso, um simples hospedeiro. Mas poucos imaginam as histórias que seu passado guarda, quando ele ainda se chamava Kvothe. Sua infância em uma trupe de artistas itinerantes, seus anos tentando sobreviver nas ruas e seu ingresso na universidade lhe renderam aventuras e o transformaram em lenda, mas poucos sabem que as histórias que escutam se concentram todas em um mesmo homem. Até que ele decide relatar os acontecimentos de sua vida para um cronista que cruza o seu caminho.
“O Nome do Vento” é um livro sobre histórias. Quando a trama começa, nos deparamos com um grupo de homens em uma hospedaria, bebendo e contando histórias. Lendas. E é lá que conhecemos Kote (que, mais tarde, iremos nos familiarizar como Kvothe), um homem reservado que guarda muitos segredos.
Em sua maior parte, “O Nome do Vento” é uma história sobre uma história. Sobre um passado. Não é sobre o que pode acontecer e sim um relato de algo que já aconteceu. Em geral, a voz que nos guia é a de Kvothe, mas Rothfuss adota narrativa em terceira pessoa para os momentos no presente quando vemos pequenas conversas entre o protagonista e o cronista. Por estarmos conhecendo a história de um homem justamente pelas palavras deste homem, não temos verdades absolutas e sim pontos de vista.
Kvothe é o centro de tudo e é uma incógnita dentro de sua própria história. Durante boa parte do livro eu me perguntava por que esse homem que sempre se resguardou decidiu agora revelar toda a sua vida? O que ele está contando é a verdade ou uma versão que lhe convém? E lhe convém para quê? Mas eis que esse é justamente o encanto de “O Nome do Vento”: desvendar seu protagonista.
Kvothe é um personagem maravilhoso. Sua jornada passa por fases e nelas vemos sua personalidade se moldar. Confesso que suas primeiras aventuras não me cativaram muito e que foi apenas quando o personagem chegou na universidade que sua história realmente me fisgou. Diante de professores, colegas, amigos e inimigos, a minha sensação era a “vocês não conhecem ele. Eu conheço. Vocês não sabem do que ele é capaz”.
“Todas as histórias são verdadeiras. Mas essa realmente aconteceu, se é isso que você quer saber (...) É preciso ser um pouquinho mentiroso para contar uma história direito. O excesso de verdade confunde os fatos. O excesso de franqueza nos faz soar insinceros.” (ROTHFUSS, 2009, p.182)
E se continuo a falar sobre o Kvothe, isso é um reflexo de como Rothfuss nos apresenta sua trilogia. Histórias de fantasia dificilmente se desenvolvem em um livro único e o papel do primeiro costuma ser apresentar o universo criado. Ao que tudo indica, em “A Crônica do Matador do Rei” o universo é seu próprio protagonista.
Sim, Kvothe é um grande personagem e eu sou da opinião de que o que cativa em um livro é justamente a humanidade dos personagens, mais do que gênero ou trama (Harry Potter, para citar um exemplo fácil, é o que é pelo que torna seus personagens humanos, mais do que pelo que os torna bruxos. Um bom romance policial surpreende e fisga não pelo tamanho da pilha de corpos ou pela violência das mortes e sim pelo que há por trás dos crimes). Ainda assim, acredito que o autor errou na dosagem. Me pareceu que se Rothfuss inserisse o mesmo personagem e a mesma jornada em uma história que nada tivesse a ver com fantasia, teria funcionado da mesma forma. Isso é tanto um elogio quanto uma crítica e pelo mesmo motivo: Kvothe se sustenta sem seu mundo, mas seu mundo não se sustenta sem ele. Usando Harry Potter novamente como exemplo: Hogwarts não depende de Harry para existir claramente em nossas mentes, pois constitui um universo por si só.
No livro que marca sua estreia na literatura, o pecado de Rothfuss é não explorar as peculiaridades do universo da sua obra, não conseguindo fazer o leitor se sentir parte daquele mundo, deixando os elementos soltos e fazendo com o que poderia ser um universo fosse um cenário. O tema da alquimia, por exemplo, mal chegou a ser abordado, tendo pouca ou nenhuma influência nos acontecimentos.
Também senti falta de um norte, de saber para onde a história estava me levando. Qual o objetivo? É conhecer a vida desde homem desde a infância? É entender porque ele se tornou quem ele se tornou? É ver algo acontecer com ele nos dias de hoje? Acredito que isso, inclusive, tenha diminuído o ritmo da minha leitura, afinal, eu não lia para chegar em algum lugar e sim para avançar mais um pouco (e de fato o final deste primeiro livro não soa como a conclusão de uma etapa e sim como uma pausa na leitura).
Esses aspectos não desmerecem o mérito de “O Nome do Vento” que é nos apresentar um carismático e intrigante personagem em uma história ampla o suficiente para ter espaço para ótimos coadjuvantes como o detestável Ambrose, a sedutora Denna e o fiel Blast (este último, aliás - o jovem funcionário de Kote – um dos que mais me intriga devido a sua proximidade com o protagonista).
Ainda não há previsão para o lançamento do terceiro livro.
Autor: Patrick Rothfuss
N° de páginas: 656
Editora: Arqueiro
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8 comentários:
Ah Kvothe! Só de ler o nome desta obra lá em cima, o coração bateu mais forte.
Li esta obra e o segundo livro( O Temor do Sábio) já tem tanto tempo, mas toda a vida que há nesta história, ainda continuam bem vivas aqui e acredito que continuará por muito tempo.
Um enredo único, fascinante, que não só nos joga nos cenários incríveis, mas que traz também esta viagem a nós mesmos, dentro de nós mesmos.
Realmente "faltou" um aprofundamento em alguns pontos, principalmente na parte da alquimia(teria sido lindo de se ler),mas...há coisas que precisam ficar ali, pelo simples fato de terem que estar ali.
Uma leitura épica!!
Lindo!
Beijo
Há muito tempo quero ler esse livro, Mari. Mas com a enrolação da Arqueiro pra lançar o terceiro volume, também acabo protelando a leitura. Nunca tinha lido sobre esses pontos negativos, mas mantenho minha curiosidade. Ótima resenha.
Beijos!
Tem um conto muito bom de umas 40 páginas centrado no Bast, no livro O promcipe de Westeros e outras histórias. Pra conhecer melhor o personagem.
*Príncipe
Mari!
Difícil quando não encontramos o real sentido do livro.
Confesso que ainda não tinha escutado falar sobre o livro, porém parece um enredo carregado de sofrimento, mas também de grande aprendizado para o leitor.
É um daqueles livros que temos de ler quando a oportunidade surge.
cheirinhos
Rudy
Oi, Mari
Não conheço a escrita do autor, mas é a segunda resenha que leio sobre O Nome do Vento.
Estou muito curiosa para ler o livro, mas a demora da editora para lançar o terceiro livro me faz adiar a leitura. Gosto de ter a sequência e não ficar esperando pelo próximo.
Mas parece ser uma leitura fascinante, cheia de histórias de Kote. E porque ele resolveu depois de toda essa aventura ser apenas um dona de hospedaria.
Torço para que a editora traga logo o terceiro livro.
Beijos
Que història interessante e é bem meu estilo de leitura. Curti a forma que o livro foi apresentado, pois eu não o conhecia ainda e para o primeiro contato posso dizer que é um livro para incluir nas minhas leituras futuras.
Que linda resenha!!!
Ai, me deu vontade de ler o livro agora!
Mas, comecei ele anos atrás e não entendi nada kkk achei muito parado. Daí larguei.
Ainda quero tentar mais uma vez, mas não sei, é uma história mais de interpretação única, complexa, o que eu confesso, não curto muito.
bjs
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