sábado, 26 de outubro de 2019

RESENHA: Ubik

Philip K. Dick / Ubik / Editora AlephQuem conhece Philip K. Dick não precisa sinopse para saber o que esperar de seus livros: algo que irá lhe fazer refletir sobre a vida que você conhece, mas que não necessariamente lhe trará respostas. Foi neste espírito que li “Ubik”.

Em uma Nova York futurista, poderes psíquicos podem servir tanto para manipular realidades, quanto para neutralizar esses efeitos. Nesse mundo, também é possível falar com os mortos, já que eles são mantidos em um estado de meia-vida que permite que seus entes queridos os abordem de tempos em tempos para, entre outras coisas, receberem conselhos. É isso que Glen Runciter faz quando seus funcionários começam a desaparecer e ele precisa da ajuda de sua esposa falecida, Ella, para definir os rumos da empresa. Eventualmente, Runciter embarca em uma missão para a Lua com um grupo dos seus melhores funcionários, entre eles Joe Chip, e coisas estranhas começam a acontecer.

Aprendi a gostar de ficção cientifica quando entendi que ela sempre parte de alguma pergunta, normalmente um “e se?”, questionando como seria a nossa realidade caso alguma coisa fundamental fosse alterada. Em “Ubik” o questionamento não é “como” seria e sim “o que” seria. O que é, afinal, a realidade? Como sabemos que o que estamos vivendo é mesmo real e não um sonho, um delírio ou uma manipulação?

A outra grande pergunta que PKD propõe nesse livro é a existência da vida após a morte. Em “Ubik”, os mortos podem ser armazenados durante anos e, eventualmente, serem despertados para pequenas conversas. Eles têm uma espécie de estoque de vida, um número limitado de horas, que poderá ser utilizado em doses homeopáticas para momentos oportunos. Isso seria viver, de alguma forma?

Outro elemento interessante que surge ao longo do livro é o “Ubik, que adota finalidades diferentes, devendo sempre ser utilizado de acordo com as instruções de uso para manter a segurança, e que é apresentado para o leitor de maneira isolada em pequenos anúncios publicitários que introduzem cada início de capítulo. Essa foi uma das coisas que mais me deixou curiosa ao longo da leitura: afinal, o que é este Ubik e como ele entra nessa confusão toda?

“É como se, pensou, alguma força maliciosa estivesse brincando conosco, deixando-nos fugir e matraquear feito ratos descerebrados. Nós a entretemos. Nossos esforços a divertem. E quando chegarmos ao ponto exato, seu punho se fechará à nossa volta para depois largar nossos restos espremidos, como os de Runciter, sobre o chão que se move devagar.” (DICK, 2019, p.86)

Ubik” foi a minha quarta experiência com PKD, então, de certa forma, eu já sabia o que esperar. Pelas minhas leituras anteriores, aprendi que os livros dos autor não necessariamente são leituras agradáveis (costumo sentir sempre um certo distanciamento e uma frieza em relação às tramas, o que acredito ser próprio da ficção científica, afinal, trata-se de um mundo que nos é estranho), mas que sempre compensam com reflexões interessantíssimas. No caso de “Ubik” confesso que continuei bastante perdida ao finalizar a leitura.

Durante a trama toda, acompanhamos Joe Chip tentando desvendar o que está acontecendo com ele e seus colegas. Isso dá a “Ubik” contornos de história policial, o que funciona bem. De fato esse foi o livro que mais rápido li de PKD e um dos que mais me estimulou a querer descobrir o que estava acontecendo. O problema foi que terminei a leitura continuando sem saber. Ao se propor questionar a essência do que é realidade e o que não é, PKD mantém seus personagens e seu leitor no mesmo barco (ou, deveríamos dizer, nave espacial?) sem ter certezas do que é real e o que é manipulação. É claro que é interessante que o autor seja capaz de construir e destruir seus conceitos constantemente durante a trama, jogando o leitor e os personagens no abismo a todo instante, o que me desagradou foi terminar na incerteza. Acho isso até bastante surpreendente, pois costumo gostar muito de finais em aberto, mas com “Ubik” senti que eu não tinha com o que trabalhar para encontrar as respostas e que a ideia do autor nem era deixar que o leitor encontrasse as suas respostas e sim demostrar justamente o contrário: que respostas não existem, consequentemente, certezas também não.

Ao chegar nessa conclusão, devo dizer que aprecio a obra, mas não consigo evitar ficar com o sentimento de que “Ubik” é um mistério incômodo que não chega a lugar algum.

Título: Ubik
Autor: Philip K. Dick
N° de páginas: 242
Editora: Aleph
Exemplar cedido pela editora

11 comentários:

Nessa disse...

Oi Mari
Não conhecia o livro e fiquei na dúvida se o leria, mas me despertou interesse. Adorei sua resenha.

Beijinhos
https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com/

Rubro Rosa disse...

O autor é sempre muito intenso e confesso que mesmo sem conhecer direito suas letras, sou um fiasco para entender as entrelinhas dele.
E como ficção científica não é um dos meus gêneros favoritos no mundo, talvez por esta intensidade mesmo, acabo sempre terminando uma obra como esta, sem entender nada!
Gostei da parte do vida após a morte, um ponto que sempre me interessou bastante e sim, se tiver oportunidade, irei conferir!!!
Beijo

Rubro Rosa/O Vazio na Flor

RUDYNALVA disse...

Mari!
Vou discordar um pouco da sua última afirmação, afinal, um livro que traz tantos questionamentos e reflexões, como pode não levar a lugar algum? Mesmo sendo uma ficção, acredtio que é uma obra filosófica a partir do momento que nos questionamos sobre vários fatos.
Nunca li nada do autor, mas já quero conhecer.
cheirinhos
Rudy

Giovanna Talamini disse...

Olá, Mari!
Imagina isso de poder falar com os mortos? Se isso fosse possível, na minha opinião, o termo "morto" não deveria mais ser utilizado; essas pessoas se pareceriam mais com celulares que não aguentam a bateria kkkk

Gabriela CZ disse...

O único livro de PKD que li foi O Homem do Castelo Alto, Mari. E também senti esse distanciamento com a trama mesmo sentindo curiosidade sobre o que ia acontecer. Talvez seja mesmo uma marca do autor. Mas fiquei interessada por Ubik. Ótima resenha.

Beijos!

Rayssa Bonai disse...

Olá! ♡ Ainda não conhecia o autor, nem o livro, mas quero muito poder conhecer suas obras, gosto muito de livros que nos fazem refletir sobre a vida.
Não costumo ler ficção científica, mas a premissa desta chamou demais minha atenção, achei bem interessante a questão dos poderes psíquicos, estou curiosa para saber mais sobre eles.
Achei interessante o autor trabalhar o tema da vida após a morte.
Obrigada pela indicação, com certeza vou querer conferir esta obra!
Beijos! ♡

Rayane B. de Sá disse...

Oiii ❤ Achei interessante, mas ao mesmo tempo estranho que nesse mundo criado por Dick os mortos têm algum tempo de vida, mesmo após a morte para que seus entes queridos possam entrar em contato com eles e pedir conselhos. Estou curiosa para saber como isso é possível.
Não curto muito frieza em livros, mas se as reflexões compensarem, acho que dá para relevar.
É uma pena que o mistério do livro, ao que parece, não seja completamente revelado ao leitor. Acho que isso seria algo que me incomodaria bastante.
Beijos ❤

Luana Martins disse...

Oi, Mari
Não li nada do autor e pelo pouco que conheço dos seus livros tenho vontade de conhecer sua escrita.
Não sou muito fã de enredos que termina em aberto, mas estou tentando me acostumar com isso.
O enredo é bem interessante, manter pessoas mortas em estado de meia vida é o que me atrai no livro.
Quero muito ler, beijos.

Ana I. J. Mercury disse...

Oi, Mari
Eu não conhecia o autor, nem o livro.
E acho que não o lerei porque não sou muito desse gênero e achei meio confuso.
Porém, achei tão legal essa "conversa" com os mortos. Muito interessante mesmo!
Bjs

Marta Izabel disse...

Oi, Mari!!
Ainda não li nenhum dos livros do Philip K. Dick, é uma pena pois gosto muito de livros de ficção cientifica.
Bjs

Fabiolla Devenz disse...

Não gosto de livros de ficção cientifica e nem de livros que tratam de temas futurísticos, então provavelmente esse não seria um livro que leria.
O fato de não encontrar respostas foi outro fato que não me agradou.

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