RESENHA: A noite da encruzilhada

“Pela janela sem cortina, viu a multidão de empregados do escritório invadir as leiterias da praça Saint-Michel, ao meio-dia. Depois, viu o movimento diminuindo, a corrida das seis horas para o metrô e para as estações ferroviárias, ou para os bares e o aperitivo...” (SIMENON, 2008, p. 11)

Mais um da série “autores de livros policiais que você precisa conhecer”. Dessa vez: Georges Simenon e seu comissário Maigret.

Há muito eu tinha curiosidade de ler um livro de Simenon. O autor escreveu mais de 300 tramas, sendo 103 dessas, entre contos e romances, protagonizados pelo comissário Maigret, um dos detetives mais famosos da literatura policial.

Mas convenhamos. Por melhor que um escritor seja, acredito que nenhum escapa de ter dentre seus livros um ou outro que não sejam tão bons como era de se esperar. Não quer dizer que sejam ruins, apenas que não mostram todo o brilhantismo do autor. Por isso, quando se tratava de Simenon, com tantos livros e tantas opções eu me perguntava “por onde começar?” e assim ia protelando. Mas eis que caiu em minhas mãos “A Noite da Encruzilhada” e eu preciso dizer, acho que foi um bom começo.

Nessa trama, Maigret se depara com um caso curioso: um homem é encontrado morto dentro de um carro em uma garagem. Detalhe: o carro não pertence ao dono da casa e sim a um de seus vizinhos. “Como o carro foi parar em sua garagem e onde está o seu carro?” A resposta: o carro está na casa do vizinho. Eu explico melhor: os carros foram trocados (e de brinde um deles veio com um cadáver junto). A trama se desenvolve na Encruzilhada das Três Viúvas e além dos dois vizinhos cujas vidas se cruzam (ou os carros se trocam, se assim preferir) temos ainda seus familiares, e outros personagens curiosos.

Simenon consegue desenvolver uma boa trama em poucas páginas, sem enrolação e dosando pitadas de humor na medida certa. No decorrer da leitura, me ocorreu que essa foi a primeira vez que peguei na mão uma obra no estilo Agatha Christie: com bons personagens, sem narrações supérfluas com uma trama simples e complexa ao mesmo tempo que envolve o leitor até o momento do desfecho que é, sim, inesperado, como em todo bom romance policial . Ao comparar, mesmo que de leve, Simenon a Agatha Christie dou a ele um dos maiores elogios que poderia dar a um escritor, pois não canso de dizer que, para mim, Agatha é insuperável.

Portanto, se você ainda não leu nenhum livro de Georges Simenon, não perca tempo. Eu comecei com “A Noite da Encruzilhada” e com certeza pretendo ler muitos outros e me aventurar muitas outras vezes em território frances, guiada pelo comissário Maigret, a quem mal posso esperar para conhecer melhor.

Título: A noite da encruzilhada
Autor: Georges Simenon
Nº de páginas: 170
Editora: L&PM / Nova Fronteira