quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

RESENHA: Adeus, minha adorada

“Só me meti nessa história por pura curiosidade. Para falar francamente, havia um mês que não me aparecia um cliente, portanto um caso sem remuneração de qualquer forma quebrava a monotonia.” (CHANDLER, p.23, 2009)

“Adeus, minha adorada” é o segundo livro de Raymond Chandler e eu o considero ainda melhor que o primeiro, O Sono Eterno”, que já apresentava uma narrativa maravilhosa e um protagonista inesquecível, que é o caso do detetive Philip Marlowe.

Eu acho extremamente difícil resumir um livro de Raymond Chandler em poucas palavras a fim de gerar uma sinopse. Quem conhece as aventuras de Philip Marlowe sabe que elas são muito diferentes daquelas em que um crime acontece no início do livro e a história gira em torno de descobrir o culpado – conhecidas como “whodunit”. Ao contrário destes, os casos vividos pelo detetive criado por Raymond Chandler tem ramificações. São muitos os acontecimentos - que se cruzam, obviamente - e você nunca sabe quando um novo personagem poderá surgir e qual será a importância de sua participação na trama. O leitor deve estar sempre atento para não se perder e entender como as pontas irão se amarrar nas últimas páginas. Isso é algo que eu aprecio. Fechar o livro depois de ler a ultima página e continuar refletindo para ver se eu realmente entendi tudo o que aconteceu.

Em “Adeus, minha adorada”, Marlowe presencia uma cena que lhe chama a atenção: um homem é jogado para fora de um bar. Curioso, ele entra no estabelecimento onde se depara com Búfalo Malloy, um criminoso que há pouco saiu da prisão e quer reencontrar sua antiga namorada, Velma, que costumava cantar nesse bar. Sem que seja da sua conta, Marlowe começa a investigar o paradeiro de Velma. Sem ligação nenhuma com esse caso, aparentemente pelo menos, surge Marriot no caminho de Marlowe: um homem que quer contratá-lo como uma espécie de guarda-costas por uma noite, mas as coisas não saem exatamente como previsto.

O que eu mais gosto nos livros de Raymond Chandler é a narrativa. Os livros são sempre escritos em primeira pessoa, narrados obviamente pelo detetive Philip Marlowe que não deixa de fora nenhum detalhe dos lugares por onde passa ou das situações em que se encontra. Como já disse anteriormente, eu sinto como se estivesse ao lado do detetive, vivendo as aventuras junto com ele porque tudo, absolutamente tudo, é descrito. As impressões, sensações, cheiros, configuração de ambientes, roupas e características físicas...tudo. Mas o mais interessante são as comparações. Você nunca sabe qual será o elemento de comparação que Marlowe vai utilizar para descrever uma determinada coisa e isso e na maioria das vezes esses elementos tendem a ser bastante inusitados, o que pode render até algumas risadas.

Dito isso, acredito que Chandler consegue aliar com êxito duas coisas em sua narrativa e é isso que torna os seus livros incríveis: essa riqueza de detalhes parece típica de romances e livros clássicos, mas os diálogos “quebram” essa sensação por serem bastante coloquiais. O temperamento de Marlowe rende os melhores deles, obviamente. O detetive é sarcástico e às vezes parece não ter noção do perigo de tão acostumado que está a lidar com ele. Normalmente descrito como “durão, mas sentimental” Marlowe é isso mesmo e muito mais. É difícil de ser intimidado e dotado de um excelente caráter. Anda armado, porém “sempre pensaria duas vezes antes de dar um tiro em alguém” como menciona em um momento deste livro.

Raymond Chandler é um dos grandes nomes da literatura policial. Criou um personagem referência – quem nunca ouviu em um filme, série ou mesmo em um livro “Isso parece saído de um livro de Raymond Chandler”? – que vive as mais interessantes e emocionantes aventuras que são narradas para o leitor de maneira exemplar. “Adeus, minha adorada” exemplifica tudo isso.

Título: Adeus, minha adorada
Autor: Raymond Chandler
de páginas: 281
Editora: L&PM

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2 comentários:

Unknown disse...

Gosto de livros escrito em primeira pessoa. E este me atraiu muito pela história.

:))

Papos Literários

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Anônimo disse...

Tô lendo agora O longo adeus. É tudo isso. Narrativa deliciosa.

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