“Zóia abriu a mão, jogando rapidamente a terra fora. Ela não queria lembrar mais. Se não podia entender o sentido da vida, ela certamente poderia entender o sentido da morte. A morte significaria o fim de todas essas memórias tristes, o fim das lamentações. A morte seria menos vazia que a vida” (SMITH, 2011, p.169)
Depois de ler “Criança 44”, livro de estréia de Tom Rob Smith, minhas expectativas para “O Discurso Secreto”, continuação do livro citado, eram altas. A segunda aventura de Liev Demidov é, assim como a primeira, impactante, mas deixa a desejar quando feita a comparação.
O livro começa mostrando o antigo Liev, agente da MGB, quatro anos antes dos acontecimentos de “Criança 44”. Então a história avança sete anos onde reencontramos o Liev que passou por tantas provações no livro anterior. Agora, ele está mudado. Não trabalha mais para a MGB, e sim no Departamento de Homicídios, um novo tipo de polícia secreta. Agora ele tem duas filhas adotivas: Zóia, a mais velha, com quem tem um difícil relacionamento, e Elena, a mais nova, mais receptiva às mudanças e ao amor que Liev e Raíssa querem lhe dar. Os tempos também são outros. Stalin está morto e seu sucessor, Khruschev faz um discurso condenando as ações de seu predecessor e prometendo que o tempo de violência ficou no passado. E é então que as pessoas se revoltam contra o estado a quem culpam por tanto sofrimento.
A escrita de Tom Rob Smith é, mais uma vez, exemplar. Forte e impactante, assim como a história que está sendo contada, e o autor a utiliza para dar vida aos seus personagens de forma que para o leitor é muito fácil sentir que conhece cada um deles. É fácil compreender os conflitos de sentimentos deles quando se sabe os horrores do passado de cada um e se entende que esse passado interfere em cada atitude e cada escolha tomada no presente.
Nesse livro, Liev vai enfrentar seus demônios, sofrendo com a vingança de uma das pessoas a quem mandou prender no tempo em que trabalhava para a segurança do estado. Sua filha mais velha é sequestrada e a fim de resgatá-la ele é levado um dos gulags (campos de trabalho forçado) para onde ele mesmo mandou diversas pessoas. Lá, ele é torturado e obrigado a sentir na própria pele o que aquelas pessoas sentiram.
Dito isso, para mim duas personagens merecem destaque: Zóia, a filha de Liev, e Fraera, a mulher que quer se vingar dele. Como a história gira em torno de Liev tentando salvar sua família, Zóia está bem no centro da trama, e talvez seja uma das razões para eu não gostar tanto desse livro. Eu não suporto a menina. Entendo todos os conflitos dela e o ódio que sente por Liev (não vou entrar em detalhes para não dar spoiler), mas acho que a maneira como ela age não tem justificativa. Ainda assim, a personagem é muito bem construída pelo autor e desempenha papel fundamental na trama. Fraera, por sua vez, é a prova de como o sofrimento pode mudar uma pessoa. Essa é uma mulher que apaga toda a sua identidade, deixando a vida que tinha antes de ser presa por Liev no passado, e torna-se líder de uma gangue. É uma personagem detestável, guiada única e exclusivamente pelo ódio e que chega a dizer para Zóia em um determinado momento que o ódio não é algo que você sente temporariamente e depois deixa de sentir, como o amor, mas algo que lhe acompanha a vida inteira. Acho que essa frase esclarece bem a personagem.
Em meio a tudo isso, há uma revolução ocorrendo nas ruas e tudo que Liev quer é manter a sua família a salvo.
Quando eu digo gostei mais de “Criança 44” do que de “O Discurso Secreto” não quer dizer que não gostei desse livro. Ele é ótimo. Mas considero o primeiro mais surpreendente, para mim a revelação veio como um choque, e mais envolvente. Algumas partes de “O Discurso Secreto”, como o tempo que Liev passa no gulag e a viagem de navio que o leva até lá, se estendem demais e desnecessariamente, na minha modesta opinião, mas não tiram o brilho da trama.
Nesse livro, fica claro mais uma vez o talento de Smith em unir o início do livro ao final, fechando um ciclo de maneira exemplar. Essa foi uma das coisas que me conquistou no autor e dois livros foram o suficiente para me fazer dizer que gosto muito do estilo de Tom Rob Smith que escreve com primazia histórias inteligentes e envolventes. Pesquisando, descobri que no ano passado o autor lançou mais um livro protagonizado por Liev Demidov, “Agent 6” e eu mal posso esperar para que ele seja lançado no Brasil.
Para encerrar, eu não posso deixar de dizer o mesmo que disse sobre “Criança 44”: a capa de “O Discurso Secreto” é belíssima.
Título: O Discurso Secreto
Autor: Tom Rob Smith
Nº de páginas: 414
Editora: Best Bolso - Record
Depois de ler “Criança 44”, livro de estréia de Tom Rob Smith, minhas expectativas para “O Discurso Secreto”, continuação do livro citado, eram altas. A segunda aventura de Liev Demidov é, assim como a primeira, impactante, mas deixa a desejar quando feita a comparação.
O livro começa mostrando o antigo Liev, agente da MGB, quatro anos antes dos acontecimentos de “Criança 44”. Então a história avança sete anos onde reencontramos o Liev que passou por tantas provações no livro anterior. Agora, ele está mudado. Não trabalha mais para a MGB, e sim no Departamento de Homicídios, um novo tipo de polícia secreta. Agora ele tem duas filhas adotivas: Zóia, a mais velha, com quem tem um difícil relacionamento, e Elena, a mais nova, mais receptiva às mudanças e ao amor que Liev e Raíssa querem lhe dar. Os tempos também são outros. Stalin está morto e seu sucessor, Khruschev faz um discurso condenando as ações de seu predecessor e prometendo que o tempo de violência ficou no passado. E é então que as pessoas se revoltam contra o estado a quem culpam por tanto sofrimento.
A escrita de Tom Rob Smith é, mais uma vez, exemplar. Forte e impactante, assim como a história que está sendo contada, e o autor a utiliza para dar vida aos seus personagens de forma que para o leitor é muito fácil sentir que conhece cada um deles. É fácil compreender os conflitos de sentimentos deles quando se sabe os horrores do passado de cada um e se entende que esse passado interfere em cada atitude e cada escolha tomada no presente.
Nesse livro, Liev vai enfrentar seus demônios, sofrendo com a vingança de uma das pessoas a quem mandou prender no tempo em que trabalhava para a segurança do estado. Sua filha mais velha é sequestrada e a fim de resgatá-la ele é levado um dos gulags (campos de trabalho forçado) para onde ele mesmo mandou diversas pessoas. Lá, ele é torturado e obrigado a sentir na própria pele o que aquelas pessoas sentiram.
Dito isso, para mim duas personagens merecem destaque: Zóia, a filha de Liev, e Fraera, a mulher que quer se vingar dele. Como a história gira em torno de Liev tentando salvar sua família, Zóia está bem no centro da trama, e talvez seja uma das razões para eu não gostar tanto desse livro. Eu não suporto a menina. Entendo todos os conflitos dela e o ódio que sente por Liev (não vou entrar em detalhes para não dar spoiler), mas acho que a maneira como ela age não tem justificativa. Ainda assim, a personagem é muito bem construída pelo autor e desempenha papel fundamental na trama. Fraera, por sua vez, é a prova de como o sofrimento pode mudar uma pessoa. Essa é uma mulher que apaga toda a sua identidade, deixando a vida que tinha antes de ser presa por Liev no passado, e torna-se líder de uma gangue. É uma personagem detestável, guiada única e exclusivamente pelo ódio e que chega a dizer para Zóia em um determinado momento que o ódio não é algo que você sente temporariamente e depois deixa de sentir, como o amor, mas algo que lhe acompanha a vida inteira. Acho que essa frase esclarece bem a personagem.
Em meio a tudo isso, há uma revolução ocorrendo nas ruas e tudo que Liev quer é manter a sua família a salvo.
Quando eu digo gostei mais de “Criança 44” do que de “O Discurso Secreto” não quer dizer que não gostei desse livro. Ele é ótimo. Mas considero o primeiro mais surpreendente, para mim a revelação veio como um choque, e mais envolvente. Algumas partes de “O Discurso Secreto”, como o tempo que Liev passa no gulag e a viagem de navio que o leva até lá, se estendem demais e desnecessariamente, na minha modesta opinião, mas não tiram o brilho da trama.
Nesse livro, fica claro mais uma vez o talento de Smith em unir o início do livro ao final, fechando um ciclo de maneira exemplar. Essa foi uma das coisas que me conquistou no autor e dois livros foram o suficiente para me fazer dizer que gosto muito do estilo de Tom Rob Smith que escreve com primazia histórias inteligentes e envolventes. Pesquisando, descobri que no ano passado o autor lançou mais um livro protagonizado por Liev Demidov, “Agent 6” e eu mal posso esperar para que ele seja lançado no Brasil.
Para encerrar, eu não posso deixar de dizer o mesmo que disse sobre “Criança 44”: a capa de “O Discurso Secreto” é belíssima.
Título: O Discurso Secreto
Autor: Tom Rob Smith
Nº de páginas: 414
Editora: Best Bolso - Record
3 comentários:
Mari e Alexandre,
Adorei a resenha, e adorei a capa do livro! Céus, como sou apaixonada por capas de livro hahahaha. A resenha está muito boa, bem limpa e organizada e o livro parece que é muito bom!
Vou aproveitar as férias da faculdade e inclui-lo na lista de leitura.
PS: Tem sele para vocês no blog :)
Beijo
Ana Caroline
http://nossocdl.blogspot.com/
Eu tenho o livro aqui. Confesso que estou me sentindo meio preguiçosa para ler. As primeiras páginas são muito chatas. Mas, se Deus quiser, o livro vai ser ótimo, como o primeiro! :)
Acho que o ultimo dele é A FAZENDA. Acabei de ler agora e gostei demais.
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