
Já ficou claro aqui no blog que eu gosto muito do estilo do Raymond Chandler. “Janela para a morte” não é exceção a essa regra e apresenta tudo que o autor sabe fazer de melhor: uma trama intricada, descrições minuciosas e, claro, o detetive Philip Marlowe!
A história tem início com Marlowe sendo contratato por uma rica e desagradável viúva a fim de recuperar o “Dobrão Brasher” – uma valiosa moeda que pertence à coleção de seu falecido marido e que sumiu de sua residência. A viúva coloca o detetive no rastro de sua nora - a quem ela detesta e desconfia que seja a responsável pelo roubo da moeda - na esperança que o detetive consiga, além de recuperar o objeto, o divórcio de seu filho. Mas como sempre acontece nas histórias de Chandler, isso é só o início de uma trama que terá várias ramificações e alguns corpos espalhados pelo caminho. Dois assassinatos, chantagens e uma estranha morte ocorrida há oito anos surgem no caminho de Marlowe, obrigando o detetive a lidar com os mais diversos tipos, de pessoas detestáveis a pessoas inocentes e ainda aquelas que estavam simplesmente no lugar errado e na hora errada.
A narrativa de Raymond Chandler é lenta e extremamente visual, algo que dificilmente se encontra em romances policiais e não é difícil adivinhar porquê: em um romance policial, o que o leitor quer é desvendar o caso o mais rápido possível, sem “perder tempo” com detalhes que não lhe ajudarão a descobrir quem é o assassino - supondo que seja isso que se pretende descobrir. Mas Raymond Chandler abusa das descrições e faz isso com maestria através do olhar de Philip Marlowe. Cada lugar, cada ambiente, cada pessoa – desde os traços físicos, até a roupa que veste – tudo é descrito ao leitor de forma que cenários e personagens saltem a seus olhos. Mas todas essas descrições minuciosas tem ainda outra função: é através delas que conhecemos muito de Marlowe. Sua visão do mundo tempera cada um de seus comentários e permite ao leitor enxergar os lugares por onde passa e as pessoas com quem se encontra exatamente da mesma maneira que ele. E essa é uma das coisas que me encanta no estilo de Raymond Chandler: nada do que está escrito em seus livros é simples. Tudo é carregado de significados e, até mesmo, sentimentos.
Quanto a Philip Marlowe, me resta dizer que este é um daqueles personagens de quem não se cansa. O livro é narrado por ele. Tudo que vemos é por seus olhos, tudo que ouvimos é por seus ouvidos. Tudo está contaminado por sua personalidade e mesmo assim não cansamos e queremos mais do detetive. Em “Janela para a morte”, Marlowe está afiadíssimo e isso se aplica não apenas ao seu instinto de detetive, mas também as suas palavras, suas respostas. Alias, é incrível a habilidade que ele tem de xingar alguém e mostrar que se importa e se preocupa com a pessoa na mesma frase. Essa dualidade - homem durão x homem sentimental – continua sendo a marca registrada do personagem e uma das coisas que faz ele tão interessante.
Mas nem só de Philip Marlowe se faz “Janela para a morte”. Outros ótimos personagens também temperam essa trama como a assustada e quase ingênua Merle, a detestável sra. Murdock, o azarado Phillips, entre outros.
Quanto à trama, acho sempre muito difícil comentar as histórias de Raymond Chandler porque, como disse anteriormente, elas iniciam em um ponto, mas tem muitas ramificações e personagens novos surgem aos poucos. A verdade é que Marlowe nunca desvenda um único caso em um livro. O que posso dizer, sem me estender muito e sem risco de spoilers, é que tudo se amarra no final.
Faço questão de salientar que se você é uma daquelas pessoas que gosta de intercalar várias leituras, acho pouco recomendável que adote este sistema com “Janela para a morte”, ou qualquer livro do autor, na verdade. Devido aos caminhos tortuosos pelos quais a trama passa - ou seja, a que Marlowe é levado no decorrer da investigação - e as ligações, intenções e funções dos personagens que vão se revelando aos poucos, às vezes pode ser difícil não deixar passar nenhum detalhe. Por isso, se você quiser fazer companhia a Philip Marlowe em suas investigações, recomendo que dê exclusividade ao detetive e faça a leitura sem pressa, saboreando os detalhes, as pistas e os acontecimentos intrigantes. Para mim, Raymond Chandler é sempre uma ótima pedida.
Título: Janela para a morte
Autor: Raymond Chandler
Nº de páginas: 239
Editora: L&PM
Autor: Raymond Chandler
Nº de páginas: 239
Editora: L&PM
4 comentários:
Oi Mari!
Apesar de o enredo parecer lento, a narrativa parece ser extremamente peculiar. Achei interessantíssimo que o personagem seja apresentado segundo suas observações.
Fiquei interessada na leitura!
Beijão!
Infelizmente ainda não li nenhum livro do Chandler, e acho que já está mais do que na hora de me jogar nesses mistérios e investigações do Marlowe.
Geralmente só leio um livro por vez. Mesmo quando estou com algum livro bem leve e que não seja necessário tanta "massa cinzenta" pra entender a história, não gosto de me dividir. Sou exclusivo!!!! Rsrsrsrs
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Oi! Adorei seu estilo de resenha.
Eu realmente prefiro enredos lentos a ficar perdida em meio aos fatos e personagens. De qualquer forma, a história me parece de certa forma muito peculiar e exótica, realmente chamando minha atenção. Acho que vou colocar esse livro na minha lista de compras. <3
Amor, Ana.
http://quemprecisaviver.blogspot.com.br/
Os livros resenhados no blog são bem diferenciados. Estou virando fã de gênero policial. Adoro a descrição apaixonada dos livros de seus melhores autores.
Postar um comentário