“Não gosto de nada disso aqui. Não gosto dessa casa ou da senhora ou do ambiente de terror dessa espelunca, ou da cara de vítima da mocinha ou desse verme que é seu filho, ou desse caso ou da verdade que não me contam ou das mentiras que contam e...” (CHANDLER, p.151, 2009)
Já ficou claro aqui no blog que eu gosto muito do estilo do Raymond Chandler. “Janela para a morte” não é exceção a essa regra e apresenta tudo que o autor sabe fazer de melhor: uma trama intricada, descrições minuciosas e, claro, o detetive Philip Marlowe!
A história tem início com Marlowe sendo contratato por uma rica e desagradável viúva a fim de recuperar o “Dobrão Brasher” – uma valiosa moeda que pertence à coleção de seu falecido marido e que sumiu de sua residência. A viúva coloca o detetive no rastro de sua nora - a quem ela detesta e desconfia que seja a responsável pelo roubo da moeda - na esperança que o detetive consiga, além de recuperar o objeto, o divórcio de seu filho. Mas como sempre acontece nas histórias de Chandler, isso é só o início de uma trama que terá várias ramificações e alguns corpos espalhados pelo caminho. Dois assassinatos, chantagens e uma estranha morte ocorrida há oito anos surgem no caminho de Marlowe, obrigando o detetive a lidar com os mais diversos tipos, de pessoas detestáveis a pessoas inocentes e ainda aquelas que estavam simplesmente no lugar errado e na hora errada.
A narrativa de Raymond Chandler é lenta e extremamente visual, algo que dificilmente se encontra em romances policiais e não é difícil adivinhar porquê: em um romance policial, o que o leitor quer é desvendar o caso o mais rápido possível, sem “perder tempo” com detalhes que não lhe ajudarão a descobrir quem é o assassino - supondo que seja isso que se pretende descobrir. Mas Raymond Chandler abusa das descrições e faz isso com maestria através do olhar de Philip Marlowe. Cada lugar, cada ambiente, cada pessoa – desde os traços físicos, até a roupa que veste – tudo é descrito ao leitor de forma que cenários e personagens saltem a seus olhos. Mas todas essas descrições minuciosas tem ainda outra função: é através delas que conhecemos muito de Marlowe. Sua visão do mundo tempera cada um de seus comentários e permite ao leitor enxergar os lugares por onde passa e as pessoas com quem se encontra exatamente da mesma maneira que ele. E essa é uma das coisas que me encanta no estilo de Raymond Chandler: nada do que está escrito em seus livros é simples. Tudo é carregado de significados e, até mesmo, sentimentos.
Quanto a Philip Marlowe, me resta dizer que este é um daqueles personagens de quem não se cansa. O livro é narrado por ele. Tudo que vemos é por seus olhos, tudo que ouvimos é por seus ouvidos. Tudo está contaminado por sua personalidade e mesmo assim não cansamos e queremos mais do detetive. Em “Janela para a morte”, Marlowe está afiadíssimo e isso se aplica não apenas ao seu instinto de detetive, mas também as suas palavras, suas respostas. Alias, é incrível a habilidade que ele tem de xingar alguém e mostrar que se importa e se preocupa com a pessoa na mesma frase. Essa dualidade - homem durão x homem sentimental – continua sendo a marca registrada do personagem e uma das coisas que faz ele tão interessante.
Mas nem só de Philip Marlowe se faz “Janela para a morte”. Outros ótimos personagens também temperam essa trama como a assustada e quase ingênua Merle, a detestável sra. Murdock, o azarado Phillips, entre outros.
Quanto à trama, acho sempre muito difícil comentar as histórias de Raymond Chandler porque, como disse anteriormente, elas iniciam em um ponto, mas tem muitas ramificações e personagens novos surgem aos poucos. A verdade é que Marlowe nunca desvenda um único caso em um livro. O que posso dizer, sem me estender muito e sem risco de spoilers, é que tudo se amarra no final.
Faço questão de salientar que se você é uma daquelas pessoas que gosta de intercalar várias leituras, acho pouco recomendável que adote este sistema com “Janela para a morte”, ou qualquer livro do autor, na verdade. Devido aos caminhos tortuosos pelos quais a trama passa - ou seja, a que Marlowe é levado no decorrer da investigação - e as ligações, intenções e funções dos personagens que vão se revelando aos poucos, às vezes pode ser difícil não deixar passar nenhum detalhe. Por isso, se você quiser fazer companhia a Philip Marlowe em suas investigações, recomendo que dê exclusividade ao detetive e faça a leitura sem pressa, saboreando os detalhes, as pistas e os acontecimentos intrigantes. Para mim, Raymond Chandler é sempre uma ótima pedida.
Título: Janela para a morte
Autor: Raymond Chandler
Nº de páginas: 239
Editora: L&PM
Autor: Raymond Chandler
Nº de páginas: 239
Editora: L&PM
4 comentários:
Oi Mari!
Apesar de o enredo parecer lento, a narrativa parece ser extremamente peculiar. Achei interessantíssimo que o personagem seja apresentado segundo suas observações.
Fiquei interessada na leitura!
Beijão!
Infelizmente ainda não li nenhum livro do Chandler, e acho que já está mais do que na hora de me jogar nesses mistérios e investigações do Marlowe.
Geralmente só leio um livro por vez. Mesmo quando estou com algum livro bem leve e que não seja necessário tanta "massa cinzenta" pra entender a história, não gosto de me dividir. Sou exclusivo!!!! Rsrsrsrs
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Oi! Adorei seu estilo de resenha.
Eu realmente prefiro enredos lentos a ficar perdida em meio aos fatos e personagens. De qualquer forma, a história me parece de certa forma muito peculiar e exótica, realmente chamando minha atenção. Acho que vou colocar esse livro na minha lista de compras. <3
Amor, Ana.
http://quemprecisaviver.blogspot.com.br/
Os livros resenhados no blog são bem diferenciados. Estou virando fã de gênero policial. Adoro a descrição apaixonada dos livros de seus melhores autores.
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