sexta-feira, 26 de julho de 2013

RESENHA: A Dama do Lago

“Então não sobra lugar nenhum para fugir, exceto o boxe do chuveiro.

É justamente para lá que você vai. Entra até onde pode, mas um compartimento de chuveiro é um lugar pequeno e os azulejos da parede não permitem que vá mais longe. Você fica de costas contra a última parede de sua vida. Não tem mais espaço para viver. E então escuta mais dois tiros, é possível que sejam três, e desliza ao longo da parede e seus olhos nem aos menos demonstram medo. São apenas os olhos vazios de um morto.” (CHANDLER, p. 122, 2004)

O detetive Phillip Marlowe é contratado por Derace Kingsley para localizar sua esposa, Crystal, desaparecida há um mês. Na ocasião do desaparecimento, Crystal deixara um bilhete dizendo que estava fugindo para o México para se casar com seu amante. Kingsley, que já não se importava muito com seu casamento, não deu atenção, até esbarrar com Chris Lavery - o amante de sua esposa - na rua. Estranhando a presença do outro na cidade, Kingsley o questiona ao que Lavery responde não saber nada sobre tal bilhete e afirmar jamais ter fugido com Crystal. É então que Kingsley se preocupa, afinal, Lavery é o tipo que adora se gabar de suas conquistas, então porque diria não saber da amante se isso não fosse verdade? Receoso de que algo possa ter acontecido com a mulher, Kingsley contrata o detetive para que esse descubra se ela está bem. Marlowe dá início a sua investigação, partindo do último lugar em que Crystal esteve: sua casa nas montanhas. E é lá, em um lago próximo ao local, que ele encontra o corpo de uma mulher afogada. Mas essa mulher não é Crystal. É Muriel, a esposa de um homem que mora nas montanhas, que também desapareceu na mesma época que Crystal. Ao longo da investigação, Marlowe se depara ainda com um antigo caso de suicídio mal explicado, policiais corruptos e muitos casos extra-conjugais.

“A Dama do Lago” é mais um livro em que Raymond Chandler esbanja sua habilidade de criar tramas policiais intricadas – até, de certa forma, lentas - mas que não deixam o leitor desinteressado um minuto sequer porque alguma coisa sempre está acontecendo (se não uma descoberta importantíssima, um diálogo sensacional). Algo que eu adoro nas histórias do autor é que nunca se trata de apenas um crime e de um criminoso. São vários crimes (que podem ir desde chantagem a assassinato) e também vários criminosos. É uma série de acontecimentos entrelaçados e algumas coincidências perfeitamente plausíveis, afinal, em uma investigação, perguntas são feitas e as mais diversas pessoas surgem no caminho da verdade. O foco de Marlowe sofre desvios de vez em quando (pois ele não pode evitar descobrir mais do que o estritamente necessário sobre o caso em que está trabalhando) e, seguindo as pistas, ele se depara com outros casos que se entrelaçam e podem, ou não, ter a ver um com o outro. Em “A Dama do Lago” Raymond Chandler nos apresenta uma trama tão intricada e um Phillip Marlowe tão afiado que temos três assassinos.

Como em todos os romances do autor, a história é narrada por Marlowe – simplesmente um dos melhores detetives da literatura policial, algo que frisarei em todas as minhas resenhas -, mas não é apenas a perspectiva do detetive que está ali. Cada frase está contaminada com a personalidade do personagem que é aquele detetive hard-boiled (durão, casca-grossa), extremamente irônico, mas de moral inquestionável e sem dúvida cativante. Após ler tantos livros de Chandler, eu não consigo evitar rir de vez em quando das falas e observações do detetive ou mesmo de vivenciar aqueles momentos “Ah...típico do Marlowe” ou “Ah...Marlowe, só você mesmo”. Quando um autor consegue fazer um leitor conhecer um personagem a esse ponto, você sabe que ali está um grande autor e um grande personagem. E isso Raymond Chandler e Phillip Marlowe com certeza são. “A Dama do Lago” é mais uma prova disso.


Título: A Dama do Lago
Autor: Raymond Chandler
Nº de páginas: 272
Editora: L&PM

16 comentários:

Ana Paula Barreto disse...

Nunca li nada do autor, mas concordo que ele deve ser muito bom, afinal não é qualquer um que tem habilidade para criar um personagem que "dure" tanto e que se apresente de forma interessante e diferenciada a cada obra.
Eu adoro histórias policiais, mas o que mais curti foi saber que neste livro são vários crimes abordados, de forma envolvente, que prende o leitor.
bjs
GFC: Ana Paula Barreto

Unknown disse...

Fiquei curioso, ainda não tinha ouvido falar do detetive Marlowe... Eu amo ficção policial, gosto muito da Agatha Christie, mas o meu personagem preferido é com certeza Sherlock Holmes...
Parabéns, a resenha ficou ótima!

Abraços!

http://pecasdeoito.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Não conhecia, mas com tantos elogios na resenha fiquei bem curiosa.
Coloquei na minha listinha, :)

GFC: Gladys.

Gabriella Alvim disse...

Nunca li nada do autor, mas depois de tantos elogios eu fiquei bem curiosa. Procurarei saber mais sobre o livros e adicioná-lo a minha lista de leitura =)

schrotz disse...

Nunca tinha ouvido falar nem do livro nem do autor, mas acabei me interessando de uma forma que eu nem sabia que podia, porque eu não gosto tanto assim de suspense policial, mas parece trazer muito mais do que isso, enfim, terei que ler pra ter minha opinião, mas agradeço por me apresentar a isso, HAHAHA.
Beijos.
http://literallypitseleh.blogspot.com.br/

Igor Gouveia disse...

Adorei essa capa! E já fiquei com vontade de lê-lo. Adorei os pontos ressaltados na resenha.

Abraços,
Igor Gouveia
www.diariodebordodeumleitor.com
(Espero seu comentário lá)

Gabriela CZ disse...

Eu já tinha ouvido falar em A Dama do Lago em algum lugar, mas não sabia do que se tratava o enredo. Gostei da resenha. Só queria ter como ler todos os livros que você indica, Mari. :/

Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

GFC: Gabriela Cerutti Zimmermann

Nardonio disse...

Realmente, quando um autor consegue nos deixar completamente familiarizados com suas personagens, pode ter certeza que ele é "o cara". E olha que são pouquíssimos que conseguem essa façanha.

Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom

Ju disse...

É muito legal quando a gente já quase sente que a personagem realmente existe, de tanto que a conhecemos e convivemos com ela. Não conhecia a personagem, nem o autor, mas me interessei. Gostaria de conhecer o Marlowe.

GFC: Ju

Naty disse...

Não conhecia esse livro, mas fiquei muito curiosa em como o autor conseguiu criar essa empatia nos leitores. Sem falar que amo estória de detetive, então já entrou para os meus desejados.

GFC: Naty C

devorador de letras disse...

Bom dia Mariana,

Não conhecia o livro e nem o autor e sua resenha me deixou bem curioso, gosto do estilo e com certeza vai para a minha lista....abraços.



devoradordeletras.blogspot.com.br


Alessandra disse...

Ainda não conhecia este livro nem mesmo o autor.
A trama parece interessante,mas não gostei muito de saber que elas são meio lentas.
Ando meio preguiçosa e lentidão me dá soninho haha

seg: Lê

Unknown disse...

Nao conhecia nenhum livro desse autor, porem achei o genero que ele escreve muito bom. Ele parece ter uma narrativa bem envolvente. Espero lelo.

Jessica Lisboa.

Unknown disse...

Suas resenhas estão dos livros de suspense estão me deixando muito, muito, intrigada com o gênero!!!!
Suas resenhas são otimas, me deixam super curiosa!!!

Pam disse...

Oiie
Esse livro nao faz muito meu estilo..
Sou uma romantica assumida, entao livro de misterio, suspense, morte e tals nao me atrai em nada...
Pela sua resenha, percebi q deve ser um bom livro, pra qm gosta, por td q envolve, né...
mas acho muito provavel q eu não leia... =/
bjinhos
Pam

THE SCHUMAN PROJECT disse...

eu li obras do raymond chandler e recomendo este tal como outros do mesmo autor.algumas obras foram já aproveitadas para o cinema(the big sleep)onde podemos encontrar o personagem marlowe interpretado por h.bogart.e digo já que vale a pena.

Postar um comentário

 

Além da Contracapa Copyright © 2011 -- Template created by O Pregador -- Powered by Blogger