“Sabia bem que devia desistir enquanto ainda podia. Mas aquela coisa dentro de mim me empurrava cada vez mais para a beira.” (CAIN, pag. 21, 2007)
Walter Huff é um corretor de seguros que em uma visita de negócios conhece e se envolve com Phyllis, a mulher do seu cliente. Logo os dois tramam um plano arriscado e perigoso: matar o marido de Phyllis e ficar com o dinheiro de seu seguro de vida que inclui uma cláusula de indenização em dobro caso a morte ocorra em um acidente de trem.
A premissa de “Indenização em Dobro” é simples e hoje poderia até ser considerada um clichê (embora não na época em que o livro foi escrito) se não fosse a maneira como o autor conduz a história.
O livro já começa jogando o leitor no meio da trama, quase como se ele tivesse perdido um pedaço do início, e a partir dali avança rapidamente dando ênfase aos diálogos e sem se ater a muitos detalhes. Nada de começar aos poucos e adquirir ritmo conforme o avançar dos acontecimentos. A expectativa já está instalada nas primeiras páginas e é desde elas que sabemos do que essa história se trata. Em alguns momentos eu tinha a impressão de que tudo estava indo rápido demais, mas nas últimas páginas compreendi a opção do autor e esta se revelou acertada.
Por ser narrado em primeira pessoa, é o lado de Huff que conhecemos e acompanhamos, mas nem por isso estamos de acordo com suas atitudes. Um dos pontos altos de “Indenização em Dobro” é justamente o fato de este ser um livro sem mocinhos. Huff decide rapidamente matar um homem e são raros os momentos em que mostra remorso e mesmo quando mostra, isso não parece afetá-lo intensamente. O protagonista é inteligente, está sempre um passo a frente e tem todas as respostas para qualquer pergunta que possa surgir. Nada lhe escapa e para tudo ele tem um plano.
Pode-se dizer que “Indenização em Dobro” tem uma linha divisória. Na primeira parte, a pergunta “eles irão mesmo cometer o crime?” rege o suspense, enquanto na segunda “eles serão pegos?” e seus derivados assumem o controle. Em qualquer ponto o leitor sente que a história irá acabar terrivelmente mal, mas nem sabe se quer que termine bem. Eu torcia contra e ao mesmo tempo a favor dos personagens, querendo que tudo desse certo e também errado. O final é exatamente do tipo que uma trama como essa merece, embora – mais uma vez - não seja o que o leitor gostaria (mas em algum momento o leitor teve certeza do que gostaria para aqueles personagens?).
Eu, particularmente, adoro a imprevisibilidade dos romances noir (porque, assim como na vida, nessas histórias tudo pode acontecer. Tudo pode dar errado a qualquer momento, com qualquer personagem), os crimes secos, desprovidos dos adornos de que fazem uso outros subgêneros policiais, e a decepção que pode estar aguardando a qualquer página. James M. Cain é um dos maiores nomes da literatura policial noir e “Indenização em Dobro” carrega todas as características do gênero: personagens cheios de defeitos, a típica femme fatale, o crime comum e a certeza de que o final não será feliz.
Em 1944, o livro ganhou uma adaptação cinematográfica dirigida Billy Wilder, cujo roteiro foi assinado pelo diretor em parceria com Raymond Chandler (outro mestre da literatura policial noir). Estrelado por Fred MacMurrey e Barbara Stanwyck o filme foi indicado a sete Oscars e no Brasil recebeu o título de “Pacto de Sangue”. Embora apresente diferenças significativas da história original, o filme é excelente e através de uma série de recursos (entre eles diálogos nada menos que geniais) consegue deixar ainda mais em evidência os defeitos dos personagens principais e intensificar o suspense. Para quem, assim como eu, gosta de filmes antigos, é imperdível. Se me permitem o trocadilho, a recomendação é em dobro.
Título: Indenização em Dobro
Autor: James M. Cain
Nº de páginas: 135
Editora: Companhia das Letras
Walter Huff é um corretor de seguros que em uma visita de negócios conhece e se envolve com Phyllis, a mulher do seu cliente. Logo os dois tramam um plano arriscado e perigoso: matar o marido de Phyllis e ficar com o dinheiro de seu seguro de vida que inclui uma cláusula de indenização em dobro caso a morte ocorra em um acidente de trem.
A premissa de “Indenização em Dobro” é simples e hoje poderia até ser considerada um clichê (embora não na época em que o livro foi escrito) se não fosse a maneira como o autor conduz a história.
O livro já começa jogando o leitor no meio da trama, quase como se ele tivesse perdido um pedaço do início, e a partir dali avança rapidamente dando ênfase aos diálogos e sem se ater a muitos detalhes. Nada de começar aos poucos e adquirir ritmo conforme o avançar dos acontecimentos. A expectativa já está instalada nas primeiras páginas e é desde elas que sabemos do que essa história se trata. Em alguns momentos eu tinha a impressão de que tudo estava indo rápido demais, mas nas últimas páginas compreendi a opção do autor e esta se revelou acertada.
Por ser narrado em primeira pessoa, é o lado de Huff que conhecemos e acompanhamos, mas nem por isso estamos de acordo com suas atitudes. Um dos pontos altos de “Indenização em Dobro” é justamente o fato de este ser um livro sem mocinhos. Huff decide rapidamente matar um homem e são raros os momentos em que mostra remorso e mesmo quando mostra, isso não parece afetá-lo intensamente. O protagonista é inteligente, está sempre um passo a frente e tem todas as respostas para qualquer pergunta que possa surgir. Nada lhe escapa e para tudo ele tem um plano.
Pode-se dizer que “Indenização em Dobro” tem uma linha divisória. Na primeira parte, a pergunta “eles irão mesmo cometer o crime?” rege o suspense, enquanto na segunda “eles serão pegos?” e seus derivados assumem o controle. Em qualquer ponto o leitor sente que a história irá acabar terrivelmente mal, mas nem sabe se quer que termine bem. Eu torcia contra e ao mesmo tempo a favor dos personagens, querendo que tudo desse certo e também errado. O final é exatamente do tipo que uma trama como essa merece, embora – mais uma vez - não seja o que o leitor gostaria (mas em algum momento o leitor teve certeza do que gostaria para aqueles personagens?).
Eu, particularmente, adoro a imprevisibilidade dos romances noir (porque, assim como na vida, nessas histórias tudo pode acontecer. Tudo pode dar errado a qualquer momento, com qualquer personagem), os crimes secos, desprovidos dos adornos de que fazem uso outros subgêneros policiais, e a decepção que pode estar aguardando a qualquer página. James M. Cain é um dos maiores nomes da literatura policial noir e “Indenização em Dobro” carrega todas as características do gênero: personagens cheios de defeitos, a típica femme fatale, o crime comum e a certeza de que o final não será feliz.
Em 1944, o livro ganhou uma adaptação cinematográfica dirigida Billy Wilder, cujo roteiro foi assinado pelo diretor em parceria com Raymond Chandler (outro mestre da literatura policial noir). Estrelado por Fred MacMurrey e Barbara Stanwyck o filme foi indicado a sete Oscars e no Brasil recebeu o título de “Pacto de Sangue”. Embora apresente diferenças significativas da história original, o filme é excelente e através de uma série de recursos (entre eles diálogos nada menos que geniais) consegue deixar ainda mais em evidência os defeitos dos personagens principais e intensificar o suspense. Para quem, assim como eu, gosta de filmes antigos, é imperdível. Se me permitem o trocadilho, a recomendação é em dobro.
Título: Indenização em Dobro
Autor: James M. Cain
Nº de páginas: 135
Editora: Companhia das Letras
11 comentários:
É interessante como hoje muita coisa é considerada clichê, pela ideia ou pelo desenvolvimento da história, mas na época da escrita era algo inovador.
Neste caso, acho que a premissa se tornou batida, mas o diferencial é realmente a narrativa. Adoro ficar sem saber das coisas durante a história, ser surpreendida, etc.
Fiquei bem interessada e pretendo ler um dia.
bjs
GFC: Ana Paula Barreto
Nunca tinha lido uma resenha desse livro. É interessante mesmo ver que algo antes de ser clichê, foi algo inovador como a Ana Paula disse. A narrativa parece prender o leitor e assumo que fiquei bem curiosa e espero me surpreender com esse livro que com certeza irei adicionar a minha lista de leitura ;)
Mari, mais uma bela resenha. Fiquei super instigada. Ainda mais porque tenho essas sensações com Breaking Bad.
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
GFC: Gabriela Cerutti Zimmermann
Tem tido boas resenhas de suspense aqui no blog!! Mais um livro q eu gostei.
A capa não me atraiu muito, mas amei a resenha. A ideia de matar o marido em um acidente de trem... Incrível! Espero ler logo!!!
Li poucos dessa gênero, mas é muito bom!!!
Sério que tem um filme baseado nesse livro? :O
Eu não conhecia nenhum dos dois :O
Estou me sentindo uma completa alienada agora.(chega de carinha de espanto hehe).
Apesar de todo esse meu desconhecimento, a resenha foi bem clara e me deixou bastante curiosa. Apesar de saber bem pouco sobre o livro (apenas o que tu contou aqui) senti uma vontade enorme de lê-lo, como se eu já tivesse ouvido vários elogios sobre ele, sei que é estranho, mas senti isso. Aquela necessidade de desvendar o ocorrido, de ser envolvida pela trama!
Seg: Lê
e aeeeee
Entao, o livro nao faz meu estilo..
Vi q vc curtiu e falo bem dele na resenha,.. mas eu sou mais romantica, entao esse tipo de enredo não me atrai muito..
Nao sabia q o filme Pacto d sangue tinha saido de um livro (como milhoes q tem por ai q nao sabia)
e nao lembro se ja vi o filme... vou procurar saber ...
Acho q é bom livro pra qm gosta do estilo..
bjinhos
Pam
Meus Livros Preciosos
Não conhecia, mas daria uma chance a leitura.
Tramas imprevisíveis são uma boa pedida!
GFC: Gladys.
Falando da capa, inicialmente achei que não tinha nada a ver, mas depois que passei a ler a resenha, vi que ela está perfeita. Gosto de me jogar em tramas em que as personagens são dúbias, nos causando todos os tipos de sentimentos por elas. Esse jogo de torcer a favor e torcer contra é sensacional. Mais um que quero conhecer.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Como eu já disse antes, rs, normalmente preciso me afeiçoar a pelo menos uma personagem para gostar de um livro. Embora a história tenha me parecido muito boa, não vejo como eu poderia gostar dessas daí... rs... Mas tentaria a leitura, por parecer que a história é bem o meu tipo. Algumas vezes uma boa história me faz relevar a antipatia.
GFC: Ju
Não conhecia o livro nem o filme que gerou dele, mas fiquei muito curiosa. Pode ser um pouco clichê, mas sempre vou adorar esse planos de assassinatos!
GFC: Naty C
Diferente. sou tao acostumada a ler romances, aventuras, mas esse genero leio pouco. Associei esse livros 1989 (se nao me engano sempre me confundo com os numeros) , vou colocar na minha lista espero lelo logo!
Jessica Lisboa
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