“Jurava para si mesmo que, na volta, sequer ergueria os olhos para a casa esquisita onde June vivia.
Mas, duas quadras adiante, ele quebrou a promessa. Nós, homens, somos especialistas em quebrar promessas, grandes ou pequenas, isso é um fato. Assim. Na frente da ridícula casa com seu desproporcional telhado vermelho, M. ergueu os olhos. Eu diria que estava até mesmo afoito, que seu coração acelerava-se um pouco. Ele vasculhou a fachada e espiou pela janela; encontrou as persianas pacificamente cerradas, como as pálpebras de uma inocente criança que dorme.” (WIERZCHOWSKI, p.56, 2012)
Ao visitar a cidade de Neptuno para passar um veraneio na casa dos avós, M. - um belo rapaz de 19 anos - conhece June – uma moça atrevida e muito sensual apesar dos seus meros 15 anos – e se apaixona loucamente. O relacionamento dura poucas semanas, mas é o suficiente para fazer M. perder a cabeça.
Em uma sexta-feira solitária, Key – um advogado de divórcios, amante da literatura e amigo do ausente pai de M. – recebe uma ligação do jovem que confessa: “Matei alguém.”. Ao ouvir o relato de M., Key se apega ao rapaz e também acaba se envolvendo com a história e decide embarcar na aventura de narrá-la.
O ponto alto de “Neptuno” é, sem dúvida, a sua narrativa. Feita em primeira pessoa, mas não pelo protagonista e sim por Key que nos conta uma história que já aconteceu e cujo desfecho já conhecemos desde o início. Em um perfeito exemplo de como uma narração em primeira pessoa deve ser feita, o narrador contamina cada frase com a sua personalidade e nos entrega muito de quem é, mesmo que não tenha essa intenção (afinal, ele acredita que a história que realmente importa é a que se dispôs a contar, ou seja, o trágico assassinato de June por M. – não se preocupe, isso não é um spoiler), e vai conquistando o leitor tanto quanto (às vezes até mais) do que os personagens que considera importantes. Ele sabe (ou julga) que sua história particular não é importante, mas isso não o impede de se espalhar pelo relato, de forma que sua vida absolutamente comum acaba sendo contada nas entrelinhas, deixando espaços que o leitor pode vir a preencher por conta própria. Ele também se permite certas liberdades narrativas, como supor o que os personagens estavam sentindo, e esbanja figuras de linguagem.
Em muitos momentos, o narrador conversa diretamente com o leitor, o que acabava por me remeter ao estilo de Machado de Assis (em especifico a Dom Casmurro, que, diga-se de passagem, eu adoro) especialmente por se tratar de um personagem bastante desiludido da vida.
Letícia Wierzchowski é uma escritora maravilhosa e sua habilidade é tal que parece que ela sentou e escreveu o livro em um dia. Além disso, ela acerta em fazer de “Neptuno” um livro curto (apenas 174 páginas, mesmo incluindo uma letra grande e imensos espaços nos cortes que ocorrem dentro de um mesmo capítulo), pois a história não tinha muito para ser desenvolvida.
Já ficou claro que eu adorei a narrativa do livro, e a razão porque destaco isso mais do que normalmente faço em minhas resenhas é porque não pude evitar a sensação de que a história de “Neptuno” era uma mera coadjuvante de sua narrativa. Para ser sincera, a história e seus personagens não chegaram a me cativar muito e mesmo tendo lido o livro em pouco tempo, foram raras às vezes em que sentei e li várias páginas de uma vez, mas isso não desmerece de forma alguma a obra da autora. “Neptuno” é um livro bem composto, muito bem escrito, mas que deve ser lido em pequenas doses. É um livro fácil de se deixar encantar, mas não tão fácil de se envolver.
Em 2012, “Neptuno” venceu o Prêmio Açorianos de Literatura na categoria Narrativa Longa.
Título: Neptuno
Autora: Letícia Wierzchowski
Nº de páginas: 174
Editora: Record
Mas, duas quadras adiante, ele quebrou a promessa. Nós, homens, somos especialistas em quebrar promessas, grandes ou pequenas, isso é um fato. Assim. Na frente da ridícula casa com seu desproporcional telhado vermelho, M. ergueu os olhos. Eu diria que estava até mesmo afoito, que seu coração acelerava-se um pouco. Ele vasculhou a fachada e espiou pela janela; encontrou as persianas pacificamente cerradas, como as pálpebras de uma inocente criança que dorme.” (WIERZCHOWSKI, p.56, 2012)
Ao visitar a cidade de Neptuno para passar um veraneio na casa dos avós, M. - um belo rapaz de 19 anos - conhece June – uma moça atrevida e muito sensual apesar dos seus meros 15 anos – e se apaixona loucamente. O relacionamento dura poucas semanas, mas é o suficiente para fazer M. perder a cabeça.
Em uma sexta-feira solitária, Key – um advogado de divórcios, amante da literatura e amigo do ausente pai de M. – recebe uma ligação do jovem que confessa: “Matei alguém.”. Ao ouvir o relato de M., Key se apega ao rapaz e também acaba se envolvendo com a história e decide embarcar na aventura de narrá-la.
O ponto alto de “Neptuno” é, sem dúvida, a sua narrativa. Feita em primeira pessoa, mas não pelo protagonista e sim por Key que nos conta uma história que já aconteceu e cujo desfecho já conhecemos desde o início. Em um perfeito exemplo de como uma narração em primeira pessoa deve ser feita, o narrador contamina cada frase com a sua personalidade e nos entrega muito de quem é, mesmo que não tenha essa intenção (afinal, ele acredita que a história que realmente importa é a que se dispôs a contar, ou seja, o trágico assassinato de June por M. – não se preocupe, isso não é um spoiler), e vai conquistando o leitor tanto quanto (às vezes até mais) do que os personagens que considera importantes. Ele sabe (ou julga) que sua história particular não é importante, mas isso não o impede de se espalhar pelo relato, de forma que sua vida absolutamente comum acaba sendo contada nas entrelinhas, deixando espaços que o leitor pode vir a preencher por conta própria. Ele também se permite certas liberdades narrativas, como supor o que os personagens estavam sentindo, e esbanja figuras de linguagem.
Em muitos momentos, o narrador conversa diretamente com o leitor, o que acabava por me remeter ao estilo de Machado de Assis (em especifico a Dom Casmurro, que, diga-se de passagem, eu adoro) especialmente por se tratar de um personagem bastante desiludido da vida.
Letícia Wierzchowski é uma escritora maravilhosa e sua habilidade é tal que parece que ela sentou e escreveu o livro em um dia. Além disso, ela acerta em fazer de “Neptuno” um livro curto (apenas 174 páginas, mesmo incluindo uma letra grande e imensos espaços nos cortes que ocorrem dentro de um mesmo capítulo), pois a história não tinha muito para ser desenvolvida.
Já ficou claro que eu adorei a narrativa do livro, e a razão porque destaco isso mais do que normalmente faço em minhas resenhas é porque não pude evitar a sensação de que a história de “Neptuno” era uma mera coadjuvante de sua narrativa. Para ser sincera, a história e seus personagens não chegaram a me cativar muito e mesmo tendo lido o livro em pouco tempo, foram raras às vezes em que sentei e li várias páginas de uma vez, mas isso não desmerece de forma alguma a obra da autora. “Neptuno” é um livro bem composto, muito bem escrito, mas que deve ser lido em pequenas doses. É um livro fácil de se deixar encantar, mas não tão fácil de se envolver.
Em 2012, “Neptuno” venceu o Prêmio Açorianos de Literatura na categoria Narrativa Longa.
Título: Neptuno
Autora: Letícia Wierzchowski
Nº de páginas: 174
Editora: Record
16 comentários:
Mari, suas palavras me fizeram vibrar de empolgação!
Admito que não conhecia o livro, mas me senti muito instigada diante do primeiro contato. A premissa tem elementos comuns e ao mesmo tempo características que instigam e atiçam a curiosidade. A forma como você nos arremeteu ao enredo de Dom Casmurro também é algo que me chamou a atenção. Essas associações que fazemos acabam sendo importantes... um elemento muitas vezes peculiar.
Enfim... adorei a resenha! A escritora parece ter mesmo te conquistado por sua escrita, e isso é algo que realmente merece destaque. Vou pesquisar mais sobre Neptuno.
Um abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br/
Nossa, Mari, você me deixou doida pra ler esse livro! A forma como você descreveu a narrativa me deixou super curiosa. Vou me informar mais sobre Neptuno com certeza!
Abraço!
http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/
GFC: Gabriela Cerutti Zimmermann
Não conhecia esse livro. Gostei de como a narrativa foi contada, não diretamente pelo assassino, apesar de isso não dar um maior envolvimento com o personagem é uma jeito diferente de contar a estória.
Gostei muito do livro!!
Fiquei bem curiosa com o título e a curiosidade só aumentou ao ler a resenha, quero saber porque e como ele a matou..... Preciso ler!!!
GFC: Thaynara Ribeiro
Fiquei encantada com a proposta do livro e com a narrativa em primeira pessoa, totalmente imersiva na mente e personalidade da personagem. Achei isto o ponto forte, além de ter ficado extremamente curiosa para saber os motivos e como termina a história do crime. Espero ler este livro em breve!
bjs
GFC: Ana Paula Barreto
Uau, fiquei com vontade de ler esse livro! Além de ter uma história muito legal, o fato de possuir uma narrativa que lembre Dom Casmurro (que eu também adoro, aliás) só me fez interessar-me mais ainda!
Excelente resenha, de verdade!!
Abraços!!
http://pecasdeoito.blogspot.com.br/
Confesso que já olhando a capa e o nome do livro, eles já se interagem e me chamam super a atenção. Nossa, eu adorei ainda mais quando você falou que o narrador conversava com o leitor. Adorei! Ainda mais pelo estilo Machado de Assis (esse ano fiquei tão interessado na literatura nacional <3).; Realmente eu gostaria bastante de ler esse livro; uma história sensacional!
GFC: Rodrigo Lessa ®
Nunca tinha visto nada sobre o livro e fiquei muito curiosa com ele, ainda mais sabendo que ele possui uma ótima narrativa! Estou bem ansiosa para ler, parece uma história ótima, apesar de curta
Mais um livro que eu não conhecia, mas que tu me deixou com vontade de conhecer!
Inicialmente preciso dizer que tenho uma paixão, nada secreta, por capas e esta apesar de ser simples, chamou muito minha atenção.Acho que pelo contraste do vermelho sangue com o fundo claro.
Outro ponto positivo, que me fez sentir muita vontade de lê-lo é a narrativa que tu tanto elogiou, tbm gostei bastante de Dom Casmurro ;D
Seg: Lê
Oiie
Nunca tinha visto esse livro...
E sinceramente eu fiquei bem confusa sobre ele...rs
Gostei da sua resenha e como ela fooi exclarecedora...
mas nao sei se faz meu estilo, se me agradaria a leitura...
Eu sei q a narrativa parece ser ótima, pelo q vc descreveu, mas nao sei sei se um livro onde os persongens nao cativam tanto, me agradaria.. =/
bjinhos
Pam
MEus Livros PReciosos
Não conhecia e achei essa capa tão feia!
Ainda bem que a trama é bem construída!
GFC: Gladys.
Achei interessante essa ideia da narrativa ser contada por uma personagem secundária. Não me lembro de ter lido nada parecido. O que me pareceu louco, foi sabermos quem matou e quem morreu logo no começo da história. Isso me causa a impressão de que não vai rolar nenhuma reviravolta interessante no livro. Mesmo assim, acho que deve ser muito bom.
Seguidor: DomDom Almeida
@_Dom_Dom
Eu nunca tinha ouvido falar desse livro e não sei se entendi bem o que você quis dizer... rs... acho que porque pra mim é meio impossível me apaixonar pela narrativa e não achar a história tão interessante... se a história não me conquista, ou uma personagem não me cativa, passo a leitura inteira sofrendo. Mas gostaria de fazer um teste com esse livro!
GFC: Ju
'Livro novo'! Achei muito boa a ideia, no inicio pensei que iria relatar um relacionamento e tal, mas me enganei novamente. Nao vejo a hora de poder ler.
Jessica Lisboa
Faz poucos dias que li esse livro e concordo plenamente com a tua sensação sobre a escrita da Leticia e o enredo do livro Mari. Abraço!
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